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Transcrição das entrevistas

Entrevista 2 Walmir dos Santos

Walmir - Ela ficou na cidade esperando a hora de ir para a maternidade. E eu com a responsabilidade de ligar para o Roger para ele vir, porque o circo estava numa cidade vizinha. E desse encontro, dessas visitas que eu tinha frequente com ela, para saber se ela precisava de alguma coisa, chegou no final do ano e eles me convidaram para passar as férias. Eu estava de férias da escola, estava terminando o primeiro ano do ensino médio e trabalhava na secretaria da escola. Estava de férias dos dois lados, né? Aí fui passar essas férias com eles, e essas férias durou quinze anos. Aí o circo acabou aqui, em Cruzeiro. E já tem cinquenta. Tinha quinze, eu fiquei no circo, trinta. Mais cinquenta aqui, oitenta.

Moira – E o senhor sempre voltava para a sua cidade natal, Maceió?

Walmir – Voltei pouquíssimas vezes. Na época do circo, eu fui duas ou três vezes. E minha mãe veio, meus irmãos vieram também. Aí ficamos aqui em Cruzeiro, daqui de Cruzeiro eu fui duas vezes só a Maceió. Depois eu nunca mais fui.

Moira - E tem parentes lá?

Walmir – Tenho primos que eu nem me lembro mais, que já nem devem estar vivos. Que quantos anos eu saí de Maceió?

Mas foi uma aventura muito gostosa. Foi muito bom! Deixou muitas saudades em todos os lugares. Ele funcionou um mês e meio seguindo. Quando nós chegamos aqui eles já estavam com aquela ideia de fechar o circo, encerrar as atividades. Já havia um tempo que eles estavam querendo, e veio vindo, veio vindo, chegou aqui em Cruzeiro, eles resolveram.

Aí, a maioria dos outros artistas foram para outros circos, eu não tinha intenção de ir, porque eu fui praticamente criado com eles. Com quinze anos eu fui morar com eles né? E fiquei por aqui.

Aí, fui estudar, porque eu tinha parado de estudar. Não tinha ensino médio à noite. O único ensino médio à noite era o técnico de contabilidade. Aí eu fui fazer. E quinze dias depois que o circo acabou entrei na fábrica. Eu casado já e com três filhos,

Moira – E o circo sustentava todos, não é?

Walmir – Sim, tinha salário, todo mundo era assalariado, tinha seu. E eu fiquei de pé e mão amarrada, porque era eu, a esposa, três filhos, minha mãe e irmã; estavam comigo. Mas logo, como diz o ditado: Deus é muito generoso e muito bom, e não despreza ninguém, né? Me arrumou um emprego logo. Com treze dias e eu estava trabalhando. E fiquei na fábrica quase trinta anos, me aposentei na fábrica. Aí terminei o técnico e fui fazer faculdade, terminei administração. Depois fui dar aula no CEMA, de contabilidade. Depois mandei uma proposta e fui para Jundiaí, trabalhar em uma empresa em Jundiaí. Lá eu fiz pós-graduação. Tudo que dava para eu fazer, eu estava fazendo. Até que um filho quis montar uma empresa e pediu para que eu viesse para cá. Eu fiquei dez anos em Jundiaí. Aí ele falou pai eu quero o senhor aqui, aí eu vim, né? O que é que a gente não faz pelos filhos? Mas tudo foi válido, não posso reclamar de nada. De vez enquanto tinha as voltas, né? Mas muito bom! Eu estou feliz, porque os quatro, todos bem. A minha filha que é a segunda, primeiro é o marido daquela menina, depois é a minha filha. Ela é psicóloga, trabalha muito, tem consultório em Salvador. Teve aqui comigo por três anos, montou consultório aqui, trabalhou muito. Foi embora agora para Salvador, todo mundo querendo segurar ela, ninguém queria que ela fosse embora. Trabalhou em um Instituto em São José, o Instituto VOCE. Nossa foi um show! Mas está na Bahia, ela gosta de lá. Em Salvador mesmo. Tem apartamento, é solteira, não quis saber de casamento, não quis saber de filhos. Ela falou: Meus filhos são meus sobrinhos, acabou. Esta bem.

O Jerônimo foi, quando eles montaram o Jerônimo, eu não trabalhava. Quem trabalhava era um outro ator, que era até um cantor, Paulo Sobral. Aí quando Paulo Sobral saiu, aí na última hora me jogaram o papel. Porque eu fazia a Mestiça, Tico- Tico. Fazia ...E o Céu Uniu Dois Corações, o gago, o Juca. E depois que o Paulo Sobral saiu, é que eu fui fazer o moleque Saci, no Jerônimo. Até o tipo físico era parecido, só que era branco, ele que bem claro. Ele era cantor, ele cantava músicas em castelhano, sabe? Era um bom cantor brasileiro. O moleque Saci ele fez poucas vezes, porque a peça foi montada e logo ele saiu.

No livro Circo Nerino não tem nada sobre o Garrafinha. O meu nome foi dado devido a um personagem, que era o Garrafinha. Que era uma peça de estreia, não me lembro o nome agora, eu sei que o personagem se chamava Garrafinha. Foi eles cismaram que eu ia ser, o Roger ficou doente, foi para São Paulo fazer um tratamento, ficou alguns meses fora, então me jogaram essa fria. Eu fiquei uns quatro ou cinco meses fazendo o palhaço principal, até o Roger voltar. E depois que ele voltou eu continuei trabalhando com ele, mas não como palhaço, eu fazia o clown que eles chamam. Cada vez que ele precisava sair, ou estava cansado, ele falava: hoje você vai. E nas matinês era eu que fazia.

Moira – O pai dele já não estava mais atuando?

Walmir – Não, o pai dele morreu em 62. Ele morreu uma semana antes de minha filha nascer.

Moira – E o senhor era muito próximo dele?

Walmir – Muito próximo, muito mesmo, era como se fosse o meu pai. Eu cuidava muito dele, tudo que ele precisava era eu. Às vezes a filha dele fala: “Papai o Walmir não está aqui.” “Tudo bem eu espero”. Ele fazia um curativo, ele tinha um eczema, ele fazia curativo. Esse curativo era eu que tinha que fazer. Alguém fazia quando eu não estava, às vezes eu saia com o Roger para ver praça, fazer a visita na cidade para poder montar o circo, e ele tinha que fazer o curativo e a filha: “Pai vou fazer o curativo.” “Não, quando o Walmir chegar...” “Pai, o Walmir vai chegar tarde”. “Não tem problema, a hora que ele chegar”. Mas terminava fazendo, porque não podia ficar esperando. Mas eu chegava e tinha que desmanchar o estava feito e fazer de novo. Ele não ficava satisfeito, tudo, tudo, tudo, a medicação, tudo. A dona Ivone, que era filha, a própria Armandine, que era esposa, ele queria que eu fizesse. E eu fazia, aquilo ali foi muito bom, foi uma coisa assim que até hoje eu sinto, porque foi um paizão para mim. E o meu filho mais novo era pequeninho, nossa ele era apaixonado por criança! Então já tinha mais alguma coisa para me ligar, né?

Quando ele foi para o hospital, lá em Itabira, fui eu e o Roger. Na hora de ficar lá, eu tinha que ficar. O Roger falava: “Pai, o Walmir está cansado. Eu fico aqui e ele vai embora”. “Não, ele tem que ficar”. Aí ficava eu e o Roger. Mas sempre assim, até a última hora. No domingo que ele faleceu foram dois espetáculos, o espetáculo da

matinê e o da noite. Eu estava morto de cansado, a minha filha era novinha, não dormia direito, eu estava morto de cansado, aí eu falei para o Roger: “Hoje eu não vou ficar, to muito cansado”. Aí ele falou assim: “É, você pode ir embora”. Aí eu fui falar com ele, não adiantou, ele começou a chorar. “Não, não vai, não vai”. Aí eu falei para o Roger: “Avisa lá que eu não vou”. Aí ele mandou o sobrinho para ficar lá também comigo. Naquela noite ele faleceu.

Moira – Foi durante o espetáculo?

Walmir – Não, foi após o espetáculo, foi bem... Eu já acabado o espetáculo, tinha ido para lá pra ficar, pra dormir e não ia ficar, e terminei ficando, mandei só avisar em casa que eu ia ficar. E naquela noite ele faleceu.

Moira – E a sua escola foi o Circo Nerino?

Walmir – Foi, a minha história de circo e teatro foi no Circo Nerino, eu não conheço outra.

Moira – Em Maceió o senho teve contato com algum outro circo?

Walmir – Não foi o único circo. O primeiro contato que eu tive com o circo, de assim me aproximar, foi o Nerino em 1951.

Moira – E você então aprendeu sobre palhaço e criou o Garrafinha. Ele tinha um figurino específico?

A maquiagem era diferente do Roger, a vestimenta também era diferente. O meu era uma calça preta e um paletó xadrez. Eu até tenho fotografia, né? Tudo no Nerino e até hoje a família... Eu me ligo muito. E até hoje o Roger, ele e a esposa são os padrinhos do meu primeiro filho. E o menino que faleceu era meu afilhado. Quer dizer a gente estava muito ligado, muito ligado.

Moira – O senhor atuou com os dois, com o casal, muitas vezes, não é?

Walmir – Nossa muitas vezes. Eu me lembro que no teatro sempre trabalhamos juntos. Quando ele fazia o Jerônimo, eu fazia o moleque Saci. Ele fazia o feitor da Mestiça e eu fazia o Tico-Tico. No Céu Uniu DoisCorações eu fazia o gago, a mãe dele era a velha cega e a Anita era a menina que cuidava da velha. Então a gente

estava sempre ali, né? E no dia a dia também. No dia a dia tudo a gente estava junto. Moira – O senhor lembra como era que chegava uma nova peça para a companhia? Walimir – Olha, quando eu comecei com o circo, ele já tinha um repertório. E esse repertório permaneceu muito tempo, algumas foi ensaiado A pecadora, mais duas ou três peças que foram ensaiadas, porque na época que eles montaram o teatro era o pai da Anita que era o responsável. Era o ensaiador, o senhor Agenor Garcia. Então, essas peças permaneceram por muito tempo, todas, que foi montada por ele. E depois disso, depois que ele saiu, foi montada mais duas ou três peças e não teve mais continuidade com outro repertório.

Moira – Ele saiu em função do que?

Walmir – Porque ele estava querendo descansar, então ele foi embora para São Paulo. Ele saiu do circo, não foi morar em outro.

Moira – O senhor chegou a ensaiar as peças com ele também?

Walmir – Não, quando eu comecei as peças já estavam montadas. Quando saia um eu entrava na vez dele, sabe? Eu substitui muito o Paulo Sobral. Os papeis de cômico, geralmente era o Paulo Sobral que fazia. Quando ele saiu eu assumi todos os papeis do Paulo Sobral. Eu estava ali, eu era o ponto, né? Na época eu era o ponto, então eu sabia a cena. A Mestiça, por exemplo, eu pontuei a Mestiça muito tempo. Aliás, todos os papeis que ele fazia, quando ele saiu eu já fui eu que assumi, todos eles. Inclusive no Deus lhe pague ele fazia o mendigo junto com o Roger, esse mendigo fui eu que fui eu fazer. O Juca, o gago, o Tico-Tico, o moleque Saci. O moleque Saci ele fez na ocasião em que a peça foi montada, logo ele saiu.

Moira – E quem monta essa peça foi o Joaquim Silva ou o senhor Agenor?

Walmir – Não, teve algumas peças que foram montadas pelo Joaquim Silva, mas a maioria foi pelo seu Agenor.

Moira – Acho que o Jerônimo foi pelo Joaquim Silva, não foi? Walmir – O Jerônimo foi.

Moira – Ele veio de outro circo?

Walmir – Não sei, porque quando vinha alguém assim, já vinha com alguma referência ou... Eu não tenho bem noção como que foi que ele começou. Eu lembro que ele veio para lá, começou a montar as peças e eu não sei qual foi a referência dele para o Nerino.

Moira – Ele ficou pouco tempo? Só o tempo de ensaiar essas peças? Walmir – Sim e depois saiu.

Moira – Como vocês ensaiavam?

Walmir – A gente lia o texto, inclusive era eu que datilografava toda a peça por papel de cada personagem. E depois nós íamos fazer a leitura, né? Cada um recebia a sua fala e o ponto, a pessoa que ia pontuar, ficava ali para acompanhar, não é? Então a gente fazia toda a leitura, cada um com o seu papel, até ir para a cena treinar para a apresentação. Aí já sem o papel, só ouvindo o ponto.

Moira – E isso duravam muitos dias?

Walmir – Não, não, não, durava o quê? Uns quinze dias no máximo. Nós ensaiávamos todos as tardes, né? Às duas horas começava o ensaio, ia das duas às cinco.

Moira - E o seu Agenor, que ensaiou muitas peças, orientava os atores, dizendo o que fazer?

Walmir – O ensaiador interferia sim, na maneira de você falar, como você devia estar em cena. Tudo isso o ensaiador tinha que passar. Quando já estava entrosado já não tinha mais problema. Como eles ensaiavam as peças.

Às vezes saía uma pessoa e tinha que ensaiar outra pessoa para substituir, mais aí era rápido, porque um personagem só. Não tinha muito trabalho todo o elenco, era só um, era mais rápido.

Eu, por exemplo, fui ponto muito tempo, eu não tinha problema, eu sabia as peças todas. Quando eu ia para a cena, se faltava um e tinha que substituir, eu já não tinha problema. Ensaiava, porque era indicado o ensaio, para você ter mais ou menos

noção da posição em cena, aquela técnica toda que nós temos, né? Mas o texto mesmo eu não tinha mais problema.

Moira - Tinha algum espaço para improvisação? Ou vocês se atinham ao texto mesmo?

Walmir – Por exemplo, as comédias, comédia você tem muito espaço para improvisar alguma coisa, né? Às vezes um personagem que é o cômico da peça, você não pode fugir muito, mas você tem a chance de sair com alguma coisa na hora, né? Improvisar alguma coisa, sempre tem. Nos dramas não, você tem que seguir à risca o texto, né? O público vibra muito. Nós tínhamos um público sensacional, o Nordeste inteiro era muito bom para teatro. E a esposa do Roger foi uma excelente atriz, ela era muito conhecida no Nordeste. Fortaleza, eu lembro, quando nós chegamos em Fortaleza ela não estava, ela estava em São Paulo esperando uma filha e ela ficou em São Paulo na casa dos pais. Ela ficou quatro meses em São Paulo. Quando ela voltou, a peça de estreia dela, porque ela era conhecida porque ela tinha sido do Garcia. Quando ela entrou em cena, a primeira vez na peça, a plateia aplaudiu assim que foi uma coisa fantástica. Só na apresentação dela. Quando ela retornou, a estreia dela nessa volta, foi com A Mestiça. E nós levamos a semana inteira a peça. Todos os dias a casa cheia. E ficou uma coisa muito bacana, porque eu já tinha muito entrosamento com ela, né? E quando ela voltou foi justamente A Mestiça que eu também já estava entrosado e a primeira aparição dela, ninguém esperava, porque ela estava fora e quando estreou o circo ela não estava. Mas ela era conhecida, tinha muito recorte de jornal na cidade falando dela com o Garcia, quando ela estava no Garcia. Então foi uma apoteose a aparição dela. E cada vez que ela entrava em cena, podia repetir a peça todos os dias, a primeira aparição dela era um aplauso. Foi fantástico! Muito bom. A montagem da peça era muito boa, muito boa.

Moira – Nos dramas o público chorava? Walmir – Chorava, chorava.

Walmir – Não, as comédias sim a turma gosta muito, mas o pessoal, a plateia de circo e do teatro é uma plateia mais sentimental. A paixão de Cristo, por exemplo, você via a plateia chorando na apresentação. Tinha uma peça, por exemplo, o próprio O Mundo Não Me Quis a gente chorava em cena, na plateia. Porque a turma vibrava mesmo na apresentação, era muito bom! Eu vivi muito isso aí, era muito bom! E a família ainda está marcada em mim. Porque a minha adolescência, eu cresci lá. O seu Nerino, pai do Roger, era muito preocupado, ele conversava muito comigo, dava muito conselho, porque eu sem pai e sem mãe lá. Meus pais no Nordeste e eu viajando com o circo. Eu não podia pôr o pé fora da calçada. Valeu muito.

Moira – Era um circo bem família, não é?

Walmir – Bem familiar. Eu me considerava um da família, porque eles sempre falavam: era parte da família, você faz parte da família. E eu me sentia assim.

Moira – Tinham outras pessoas que vieram de outros lugares assim como o senhor? Walmir – Não tinha não. Tinha os artistas contratados que formavam a família, né? Mas não tinha esse elo que eu tive, assim de ficar ligado mesmo à família.

Moira - E era comum terem artistas contratados? Ou foi mais no final?

Walmir – Ah sim, sempre teve artista contratado. Por exemplo, na época que eu entrei no circo tinha a família da Anita que tinha um irmão que trabalhava, uma cunhada que trabalhava, os mais próximos eram eles. A maioria era contratado. Tinha o Hernani que era o sobrinho do seu Nerino, da família, mas eram poucos da família. A maioria era contratado. Quando contratava o artista já contratava para viajar com o circo.

Moira – E geralmente eram artistas da primeira parte do espetáculo?

Walmir – Não, como ator também. Nós tivemos alguns contratados que trabalhavam no teatro. O Jurandir, o Wilson Moia, tinha bastante, mas é que nome assim eu não me recordo.

Walmir – Eram o Roger, Anita, Armandine (que era mãe do Roger), o Gaetan (que era o tio), quatro. Enquanto esteve lá o Willy (que era sobrinho do Roger), cinco, a esposa Ivani, seis, e depois eles saíram do circo, né? Saíram e foram para outro circo. Aí tinha três irmãs do Willy, uma casou nova, casou com 17 anos com um bancário e ficou na Bahia numa cidade. Era a Alice e a Teresa, as duas irmãs. Todas as duas trabalhavam no teatro e no picadeiro. A Alice fazia acrobacia, fazia balé, fazia arame, fazia trapézio. Ela era estrela. A Alice era uma estrela no picadeiro. No teatro ela participava também, fazia papeis muito bons! Na época que a dona Anita esteve em São Paulo de licença, ela fez alguns papeis que a dona Anita fazia. Só que ela não tinha muito tamanho, era baixinha, mas era uma grande artista. Hoje não está trabalhando mais porque ela tem duas filhas e as duas são artistas do Cirque du Soleil. Elas moram em Las Vegas, a Alice fica seis meses lá e seis meses no Brasil, porque ela não pode morar definitivamente. As meninas têm casa lá, ela vai e fica com as meninas. Tinha também na época o pai dessas meninas, ele foi do circo, ele trabalhava no circo também, no Nerino. Trabalhava ele e o pai dele também, o pai dele era ator, o Belmiro, chamavam ele de Babi. Muito tempo ele trabalhou no teatro também.

Moira – E o público gostava das duas partes? Tinha alguma preferência?

Walmir – Gostava sim, gostava muito das duas partes. O circo chamava mais atenção por causa disso, porque nós tínhamos a primeira parte, de variedades, com o trapézio, acrobacias, o palhaço. E terminava a primeira parte, a banda ficava tocando alguma coisa, para preparar o palco, até começar o teatro. O espetáculo era separado em duas partes: o picadeiro e o palco. As duas agradavam muito, muito. Só A Mestiça que nós não tínhamos a primeira parte, porque eram dez atos. Tinha uma outra que tinha muito, mas assim mesmo tinha uns dois ou três números, que era O Direito de Nascer. Era muito longa a peça, então a variedade era muito pequena. Era um número, o palhaço e mais um outro número e já começava o teatro, né?

Moira – O senhor lembra de quem foi a adaptação da peça ...E o Céu Uniu Dois Corações?

Walmir – Quem ensaiou foi o seu Agenor, mas o texto eu não sei de quem que era. Porque quando eu entrei no circo o Agenor já estava saindo do circo, né? Já estava chegando um outro ensaiador. Não me lembro o nome dele agora... Era um senhor baixinho e gordo. Depois ele casou com uma moça que trabalhava no circo. Agora não me lembro o nome dele. Ele foi há algum tempo o ensaiador das peças de teatro. Montaram algumas outras peças. Eu não me recordo o nome dele. Você me desculpa, porque hoje eu estou com a memória fraca, porque a gente passa, né? Aí você não tem uma frequência de falar sobre isso, então...

Moira – Como era a reação do público com as suas personagens cômicas?

Walmir – O público ria muito, gostava muito. Tem pessoas que vão ao circo e não gosta do drama, gosta mais da parte cômica, né? Então sempre existe o pessoal que gosta mais do drama do que da comédia. Mas a gente não dá para perceber, porque a gente sabe que está agradando. Porque embora ele não goste muito, mas não desagrada. Agora a parte cômica a turma ria muito, ria muito. Isso é uma coisa que a