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E o Céu Uniu Dois Corações é uma obra dramatúrgica de autoria do brasileiro Antenor Pimenta, fundador do Circo de Teatro Rosário, escrita em 1942 para ser realizada nos circos-teatros. Esta peça foi encenada no Circo Nerino no ano de 1949, e em diversos circos do período, sendo representada até hoje, com muito sucesso. O texto utilizado para esta análise é a versão original do autor, publicada no livro de Daniele Pimenta, Antenor Pimenta: circo e poesia: a vida do autor de – E o céu uniu dois corações.

3.1 – A trama

O primeiro ato se passa no bar de Velasco, um senhor surdo, e a história se inicia com suspense e a instauração de uma crescente tensão. De La Torre, o vilão da trama, e Francisco, seu comparsa, entram em cena para esperar por Perdinari, um rico industrial e dono de muitos imóveis na cidade. Sabem que neste dia Perdinari está recolhendo seus aluguéis, dentre eles o de Velasco, além de ter sacado uma grande soma de dinheiro do banco para realizar uma viagem. De La Torre planeja roubar e matar Perdinari, e culpar Fernando, seu antigo chofer. Este último fora demitido devido a um acidente em que pegou o carro do patrão sem autorização, pois sua filha, Neli, precisava ser levada às pressas ao médico. Na volta do consultório, Fernando bateu em um poste, que caiu em cima do carro,matou sua esposa e deixou sua mãe cega. Por isso teve a carteira de motorista cassada, foi despedido, não consegue mais emprego na cidade e deve cuidar sozinho de sua mãe e da filha pequena. Velasco se apieda com a triste situação da família e lhes serve comida todos os dias. De La Torre, sabendo disso, arma uma cilada para Fernando.

O chofer chega ao bar antes do antigo patrão, acompanhado de sua mãe e filha, ainda criança. De La Torre lhe oferece, cinicamente, um emprego e também

pede para guardar uma arma, pois vai a uma reunião e não gostaria de levá-la. Fernando prontamente aceita a proposta e pega o revólver, sem imaginar que este o incriminará mais à frente.

Em seguida Perdinari entra em cena e revela que, além de trazer muito dinheiro, está com seu testamento, no qual indica seu filho, Alberto (na época uma criança), para ficar com toda sua fortuna depois de se casar. Este dado aumenta ainda mais o interesse de De La Torre em concretizar seus planos, principalmente através da possibilidade de ficar com a guarda do menino. Há uma cena cômica entre Velasco e Perdinari que gera certa descontração antes do assassinato eminente e da crescente tensão. De La Torre se aproveita deste momento, saca um revólver e atira no industrial, sob protestos e contestações de Fernando.O plano do vilão é bem sucedido, Perdinari é morto e seu antigo chofer vai preso injustamente. De La Torre, além de roubar o dinheiro de Perdinari, toma posse do testamento e diz ao policial que o italiano, antes do assassinato, lhe confiara a guarda de seu filho.

O segundo ato ocorre na casa pobre de Neli e D. Santa, onze anos se passaram. Fernando continua preso e Neli, sua filha, tornou-se uma moça que trabalha e cuida da avó. Ao começar o ato estão em cena D. Santa e Marli, sua ajudante nos serviços domésticos e companheira. As duas, através de uma conversa despretensiosa, informam o público sobre os principais acontecimentos ocorridos nos anos que se passaram. Juca, principal personagem cômica da peça, gago e irmão de Marli, interrompe o diálogo e se apresenta em uma cena engraçada que será analisada mais adiante.

Avó e Marli se retiram para o quarto, então Neli e Alberto entram em cena. Comentam sobre o plano de se casarem, ele lhe entrega um presente e diz que só poderia abrir caso ela lhe contasse um sonho que tivera. Neli narra com detalhes um sonho premonitório das desgraças que se sucederão e em seguida se surpreende com um lindo vestido de noiva, porém os dois devem esperar a formatura de Alberto para se casarem. Mesmo conscientes das dificuldades existentes para o casamento, principalmente pelo fato de serem filhos de dois supostos inimigos e por pertencerem a classes sociais distintas, prometem lutar por esta união.

Juca interrompe a conversa do casal e Alberto sai de cena. Ao ficar sozinha com a avó, Neli confidencia sobre seu namoro e o acordo dos dois em se casar dali a cinco meses, também menciona que ele pretende curar os olhos da avó, pois está

terminando o curso de medicina, e quer soltar seu pai. D. Santa fica feliz por Neli e esperançosa com as novidades trazidas por esta união. O ato termina com muita expectativa de que as injustiças serão reparadas.

O terceiro ato se passa alguns meses depois, na casa de Alberto, durante sua festa de formatura. De La Torre planeja casar Alberto com Adélia, cujo passado é de condutas duvidosas, porém se trata da filha de um rico português, Benevides, o que desperta a ambição do tutor. Ele se diz arruinado financeiramente e pede um empréstimo ao português que, em virtude do casamento, concede o dinheiro. O comparsa Francisco é substituído pelo seu neto, também Francisco, pois o avô, devido a remorsos pelos crimes praticados, resolveu se mudar para Portugal. Durante todo este ato, De La Torre, com a ajuda do comparsa, fará o que estiver ao seu alcance para concretizar o casamento.

Na abertura do ato, o vilão comenta sobre uma carta endereçada a Francisco, o avô, em que menciona o crime de Perdinari e lhe faz algumas recomendações. Francisco Neto percebe a imprudência de mandar a missiva porque poderia ser interceptada, De La Torre concorda e a deixa sobre a mesa. Seu criado lhe traz outra carta, de Neli endereçada a Alberto. Ele aproveita a oportunidade para adulterar a carta, mudando seu destinatário, como se a mesma fosse destinada a seu comparsa. De La Torre insinua que a moça já se entregara a Francisco e mostra a carta a Alberto. Ele fica muito decepcionado e acredita cegamente nas palavras de seu tutor, dessa forma, consente com o casamento proposto.

Enquanto isso, Juca, emissário de Neli, espera por uma resposta e, por não obtê-la, entra à força na casa e se encontra com Benevides. Em uma cena cômica, os dois não reconhecem qual das duas cartas é a resposta, por isso Juca pega ambas (a adulterada e a endereçada a Francisco). É perseguido pelo criado, mas consegue fugir com as provas. Por isso, De La Torre arranja o casamento às pressas e decide mandar Alberto para Portugal no dia seguinte. Com aparente desapontamento diante do casamento arranjado, Alberto confirma aos convidados seu noivado com Adélia.

O quarto ato se passa depois de cinco meses, perto do retorno de Alberto de Portugal. De La Torre está muito preocupado em recuperar as cartas para que o rapaz não as veja e saiba a verdade a seu respeito. Por isso, procura Neli e sua avó, acompanhado de seu comparsa Francisco Neto, e as ameaça para conseguir as

provas que o incriminariam. Ao longo dos meses transcorridos ele perseguira a heroína a ponto de deixá-la desempregada e mendigando na porta de uma igreja com a avó cega. Este ato todo se passa na porta desta igreja.

Neli, apesar das inúmeras desgraças, se mostra esperançosa em relação ao amado e entra na igreja para rezar. Sua avó permanece do lado de fora e pede uma esmola para Alberto, que regressara antes do esperado. Ele a reconhece e pergunta pela neta, então a avó revela todas as injustiças sofridas. O rapaz examina seus olhos e lhe promete operar no mesmo dia, ela fica muito grata pela ajuda, porém não o enxerga e desconhece quem seja. Em seguida, Alberto se encontra com Juca e Marli e finalmente conhece a verdadeira versão dos fatos transcorridos, além de ter provas, através das cartas que o gago lhe entrega. O herói pede que não contem à amada sobre seu retorno, pois pretende lhe fazer uma surpresa.

A avó sai com Juca para operar e deixa Neli sozinha em cena. Ela está desolada, pois o amigo prometera entregar as cartas para o vilão, mediante um pagamento. Ao se deparar com De La Torre, e novamente sofrer ameaças, conta-lhe que vai se matar, então pela primeira vez ele se mostra solícito e lhe oferece uma arma. Durante o diálogo tenso entre os dois, ele menciona o possível regresso de Alberto e reacende o amor e a esperança na heroína. Assim, com a mesma arma que lhe dera, Neli o ameaça. Francisco neto interrompe a conversa e a apunhala pelas costas, porém, antes de morrer, Marli lhe conta que Alberto já regressara e as surpresas que pretendia fazer para a amada. Neli pede para ser enterrada com o vestido de noiva que o amado lhe dera e diz que o esperará no céu. Este é o fim do quarto ato, muito dramático e tenso.

O quinto ato é ainda mais trágico, pois no momento em que tudo é resolvido para esta triste família, realiza-se ao mesmo tempo o velório de Neli. Alberto traz D. Santa recém-operada, ela ainda está vendada e por isso não vê a neta no caixão, então ele pede a Marli que a leve para o quarto para poupá-la do sofrimento. Fernando sai da cadeia e ao entrar na casa não consegue conter seu desespero diante do ocorrido, dessa forma D. Santa toma conhecimento da morte. Alberto pede para ficar a sós com a amada e, neste momento, o vilão e seu comparsa entram na casa, os dois discutem e Francisco sai de cena. A polícia prende De La Torre e perguntam pelo comparsa, para prendê-lo também. Ele aparece na janela, atira em Alberto e sai fugido, porém os policiais e Juca conseguem capturá-lo. Alberto morre

feliz por ver que Neli veio buscá-lo. Em seguida, há uma bonita apoteose em que o casal sobe uma escada de nuvens e se encontra finalmente no céu.