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CAPÍTULO 2 – O TRIBUNAL DO JÚRI SOB A ÓPTICA DA SEMIOLINGÜÍSTICA

2.2 A ancoragem do contrato

Tod os os atores ju ríd icos envolvid os nas su cessivas transform ações sofrid as p elos fatos através d as várias versões oferecid as estão p ostos na situ ação em qu e se encontram no m om ento em qu e os observo, cad a u m em seu lu gar com o p eças d e u m jogo d e xad rez, m as se m ovem . As regras qu e p resid em seu s

m ovim entos form ais são

p red eterm inad as, m as há u m certo nú m ero d e op ções p ossíveis e cad a u m irá escolher u m a estratégia d e ação d entro d os lim ites qu e lhe são p róp rios e d e acord o com a situ ação qu e se apresenta.

Marisa Correa.

A m etáfora d o jogo d e xad rez u tilizad a na ep ígrafe em d estaqu e, p or Marisa Correa, m e leva a refletir sobre o esp aço d e p ressões e ao esp aço d e estratégias, d eterm inantes d o contrato d e com u nicação, elem ento-chave d a Teoria Sem iolingü ística. De acord o com os p ressu p ostos d essa teoria, os su jeitos são cond icionad os, p ressionad os p or d iversas im p osições, m as p ossu em tam bém u m a m argem d e m anobras. Se, p or u m lad o, eles são im p ingid os a agir d e d eterm inad o m od o, p or ou tro, p od em fazer u so d e recu rsos d iversos p ara efetivar seu p rojeto d e fala. É p or isto qu e a situ ação d e com u nicação é fu nd am ental p ara a Sem iolingü ística, u m a vez qu e nela se institu em as restrições e as d eterm inações d os enjeux d a troca. Tais restrições decorrem da id entid ad e e d o lu gar qu e os su jeitos ocu p am , d a finalid ad e qu e os u ne em term os d e visées, d o p rop ósito qu e p od e ser convocad o e d as circu nstâncias m ateriais nas qu ais a troca se realiza59. Charau d eau60 alerta p ara o fato d e qu e as

restrições d iscu rsivas não corresp ond em a u m a obrigação d e em p rego d e u m a ou d e

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CHARAUDEAU, 1999.

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Optei nesta tese pela manutenção dos termos enjeux e visées em francês, uma vez que acredito não haver algo equivalente em português que possa substitui-los.

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52 ou tra form a textu al, m as a u m conju nto d e com p ortam entos d iscu rsivos p ossíveis d entre os qu ais o su jeito com u nicante escolhe aqu eles su scep tíveis d e satisfazer às cond ições d os d ad os externos. São d ad os fixos os cond icionantes d a atu ação d o su jeito qu e fala e d o su jeito qu e ou ve, ou qu e escreve e qu e lê; m as há tam bém as restrições e as estratégias.

O contrato d e com u nicação situ a-se, nessa p ersp ectiva, na conflu ência d e três níveis: situ acional, d iscu rsivo e sem iolingü ístico, send o qu e a cad a u m d eles corresp ond e u m tip o d e com p etência (situ acional, d iscu rsiva e sem iolingü ística), d eterm inante d e tod a a m ovim entação d o su jeito. O contrato consiste no eixo d a articu lação entre u m esp aço interno e u m esp aço externo, os qu ais d eterm inam encenações d o ato d e lingu agem p or su jeitos d istintos. N o esp aço interno encontram -se os seres d e p alavra, os enu nciad ores – su jeito enu nciad or e su jeito d estinatário – e no esp aço externo estão os seres d e ação, os actantes – su jeito com u nicante e su jeito interp retante. Essa visão d os su jeitos d a lingu agem ancora-se na id éia d e su jeitos cindidos, polifônicos. Inclusive uma das fontes citadas refere-se aos escritos de Bakhtin, que constituem, por assim dizer, textos-fundadores da noção de polifonia. Os discursos são produzidos, então, na confluência de várias vozes.

O ato d e lingu agem se realiza, d esse m od o, no d u p lo circu ito, sob a p ressão d as restrições, m as com a p ossibilid ad e d o u so d e estratégias. É p or isso qu e ele consiste em u m a aventu ra; o su jeito lança os d ad os, segu ind o as norm as regentes d a troca, e faz u so d e estratégias qu e su p õe serem ad equ ad as p ara m elhor atingir seu d estinatário. N esse jogo, a intencionalid ad e constitu i u m im p ortante elem ento, u m a vez qu e é ela a resp onsável p ela m ovim entação d o su jeito, no sentid o em qu e é a p artir d e u m a intenção qu e a ação se organizará. Tod avia, é im p ortante d estacar qu e essa intenção relaciona-se não a u m ind ivíd u o, m as ao ato d e lingu agem . Trata-se d e d estacar a

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--- finalid ad e d o ato d e lingu agem , através d e recu rsos d iversos, e não d e su p or o qu e o su jeito qu is d izer. O ato d e lingu agem se caracteriza, nesses term os, p elo sentid o qu e resu lta d e u m a relação d e recip rocid ad e entre o externo e o interno, p ois tanto os atributos p sicológicos e sociais qu anto os atribu tos lingu ageiros constitu em elem entos essenciais d a troca. Este m esm o ato se realiza em u m esp aço aberto e reversível, p ois se caracteriza p or não ser u nid irecional. É a ação d os p arceiros, qu e os obriga a u m a constante regu lação. Su a finalid ad e não é a ação, m as levar à ação; trata-se d e u m fazer

fazer.

Ao d iscorrer sobre ação e lingu agem ou ação e d iscu rso, Charau d eau61

d istingu e alvo/ objetivo d e visée, d estacand o qu e, enqu anto o p rim eiro se realiza através d a ap licação d e regras p ré-d efinid as, exteriores ao su jeito, o segu nd o se realiza na invenção e no cálcu lo sobre o ou tro, sem jam ais ter a priori a certeza d o su cesso. Se, p or u m lad o, objetivo e visée se op õem em su a finalid ad e e em seu m od o d e realização, por ou tro, é d ifícil conceber as relações sociais com o não d eterm inad as p ela im bricação d e p rojetos d e ação e d e com u nicação. Assim , é no esp aço fechad o d os objetivos e no esp aço aberto d as visées qu e o ato d e lingu agem se realiza. É a interligação d o objetivo com a visée qu e articu la o p róp rio entend im ento acerca d e ação e d e lingu agem , o qu al tem su as bases nos níveis rep resentacional, p ragm ático e interacional. Esses três níveis fu nd am entam a p róp ria concep ção d e Patrick Charau d eau acerca d e seu p onto d e vista sócio-semio-com u nicacional. Sob su a óp tica, o enjeu d a troca não é ap enas a intercom p reensão, m as tam bém as relações d e influ ência recíp rocas. Em qu alqu er qu e seja a situ ação, nossa fala nu nca é d esinteressad a; sem p re d esejam os obter algo. Esse d esejo é d eterm inante d e nossa p erform ance, ind ep end entem ente d e nossas escolhas racionais/ acionais, p ois com o afirm am Mari e Mend es, “d everíam os bu scar, em cad a

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54 gênero, ou form ato d iscu rsivo p róp rio, algu m p ad rão qu e o faz d iferente d os ou tros: aqui registraríamos o desejo como condição necessária”.62

É p ossível notar qu e Charau d eau , valend o-se, d e u m lad o, d e Bou rd ieu e, d e ou tro, d e Fou cau lt situ a a d iscu ssão acerca d e ação e visée em term os d e p od er e d e linguagem.63 Para ele, o p od er qu e em ana d a au torid ad e e d a legitim id ad e – os qu ais

são d ep end entes d a situ ação d e com u nicação – é essencial p ara d eterm inar os ru m os d o ato d e lingu agem . Tal p od er vincu la-se, a m eu ver, não som ente a u m a qu estão institu cional, m as a u m d esejo, p ois não legitim a o su jeito d e u m a vez p or tod as. É p reciso qu e em cad a situ ação o su jeito aja d e m od o a corroborar a legitim id ad e qu e lh e foi conferid a, send o qu e ele o faz p or d esejar se m anter nesse lu gar d e p od er e p or u m d esejo d e alcançar o su cesso d e seu ato d e lingu agem . Agind o d esse m od o, além d a legitim id ad e, ele alcançará a cred ibilid ad e, u m a vez qu e esta d ep end e d e su a performance.

A p artir d e agora farei u m a breve incu rsão p elos níveis sob os qu ais se situ a o contrato d e com u nicação p ara, em segu id a, p roced er a u m a leitu ra d o contrato regente d o Tribu nal d o Jú ri. É p reciso d estacar qu e consid erarei o esp aço contratu al d e u m m od o geral, sem levar em conta, no m om ento, os su b-contratos existentes entre as d iversas instâncias d e p rod u ção e recep ção d os d iscu rsos. Isto p orqu e há u m contrato geral, regente d a sessão, qu e d eterm ina restrições p ara o Ju iz, os Ad vogad os, o réu , os ju rad os; e ou tros, com o p or exem p lo, aqu ele d eterm inante d a p erform ance d a Acu sação conju ntam ente. Se existem regras a serem segu id as tanto p ela d efesa qu anto p ela acusação, há, por outro lado, regras específicas para cada uma das partes.

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Nível situacional

N o p rim eiro nível tem os a p róp ria situ ação d e troca, relativa às restrições e às d eterm inações. A p erform ance d o su jeito é regid a p ela ciência acerca d as id entidades, d as circu nstâncias, d os p rop ósitos e d as finalid ad es. Em u m a situ ação d e u m ju lgam ento no Tribu nal d o Jú ri, p or exem p lo, é p reciso qu e os su jeitos envolvid os sejam cap azes d e com p reend er em qu e contexto eles se encontram , d e reconhecer a hierarqu ia regente (Ju ízes, Prom otores, Ad vogad os, Conselho d e Sentença, servid ores), d e com p reend er o qu e fazem ali naqu ele m om ento e d e p erceber qu al é o tip o d e troca estabelecid a com o ou tro (m onolocu tiva, interlocu tiva, ju lgam ento d a Ju stiça Penal no Tribunal d o Jú ri). O statu s d o su jeito, conseqü ência d o lu gar qu e ocu p a na hierarqu ia social (Ju iz, Ad vogad o, servid or, ju rad o), é d eterm inad o p or su a id entid ad e na troca lingu ageira. É a id entid ad e qu e estabelecerá “qu em fala a qu em ” a fim d e qu e o ind ivíd u o seja/ esteja legitim ad o. Vale lem brar qu e, segu nd o Patrick Charau d eau64, a

legitim id ad e não é fixa, m as consiste em u m estad o. O su jeito p od e estar legitim ad o p ara agir com au torid ad e no Tribu nal d o Jú ri, m as não nas reu niões d e cond om ínio d o edifício em que reside.65

Assim , em u m a sessão d e ju lgam ento, u m Ad vogad o p od e se d irigir a u m Ju iz no m om ento d a troca p ara solicitar u m ap arte, m as u m m em bro d o Conselho d e Sentença não. O réu , ap esar d e ser a “estrela” d o encontro, nad a p od e d izer ali, m esm o qu e p ertença a setores d a elite. Até m esm o os ind ivíd u os qu e ocu p am u m alto nível na hierarqu ia social não p od erão fazer o qu e d esejam d u rante u m a sessão d e ju lgam ento,

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Para saber mais sobre a discussão ver: CHARAUDEAU, 2004 a. É preciso salientar que Charaudeau não explicita através de citações ou de outras marcas o recurso às idéias de Foucault e Bourdieu, porém é possível perceber marcas da contribuição fornecida por esses autores na discussão apresentada por ele.

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CHARAUDEAU, 2004a.

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Há uma história recente que teve muita circulação na mídia acerca de um Juiz que desejava obrigar a todos os moradores do edifício em que reside e, com mais rigor ainda, ao porteiro, a se referirem a ele

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56 sobretu d o se forem os acu sad os. Eles p od em até saber qu e não serão cond enad os, m as precisam cumprir o protocolo e não podem se manifestar verbalmente.66

A finalidade d a troca é a resp onsável p or d eterm inar com qu e intenção o su jeito d iz algo em algu m lu gar, referind o-se, p ortanto, à exp ectativa d o ato d e com u nicação. Evocand o novam ente os ju lgam entos d e Tribu nal d o Jú ri, d e u m a form a geral, a finalid ad e d a troca consiste no ju lgam ento d e u m acu sad o d e u m crim e contra a vid a. Em ou tra instância d a Ju stiça Penal, com o o Tribu nal d e Ju stiça, os ind ivíd u os p od em estar reu nid os p ara ju lgar u m ou tro tip o d e crim e. Segu nd o Patrick Charau d eau67, o

nível d e generalid ad e d a finalid ad e será resp ond id o em term os d as visées discursivas as qu ais p od em ind icar solicitação, p rescrição, instru ção, incitação etc. A finalid ad e resp ond erá à p ergu nta “Para qu e estam os aqu i?”, a qu al p od erá obter com o resp osta: “Para ju lgar a cu lp abilid ad e d e u m acu sad o”. É p reciso consid erar, aind a, o d om ínio temático – p rop ósito d a troca – em torno d o qu al tu d o se realizará. Em u m Tribu nal d o Jú ri, não faz sentid o u m Ad vogad o contar su as aventu ras am orosas d u rante u m ju lgam ento, a não ser qu e isso faça p arte d e su as estratégias argu m entativas. H á algo qu e o p ressiona a agir lingu ageiram ente d e d eterm inad a m aneira. Ele d eve ter em m ente a p rop osta d o encontro: falar sobre u m crim e qu e ocorreu , sobre o acu sad o, sobre a vítima etc.

Por ú ltim o, as circu nstâncias m ateriais, referentes aos d ad os m ateriais d o qu ad ro d e troca, p erm item saber qu ais são su as características – interlocu tiva e m onolocu tiva, d e Tribu nal d o Jú ri, d e Tribu nal Eleitoral, d e Tribu nal d e Ju stiça etc. Em u m a situ ação d e troca interlocu tiva, a interação ocorre face a face e o su jeito, d etentor d o d ireito à fala, p recisa lu tar p or ela. Ele d everá p erceber, através d os signos qu e o usando os pronomes de tratamento usados na tribuna. O caso foi a julgamento e a posição desse sujeito recriminada.

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Infelizmente, não se pode desconsiderar que a elite sempre determinou e ainda determina o que deve ser dito e quem deve dizê-lo até e, talvez, sobretudo, na Justiça Penal. Assim, os sujeitos, nesses casos, mantêm uma aparência de adequação, através da manutenção de determinados ethé.

--- ou tro em ite, se está agrad and o, se está send o com p reend id o, se está p restes a ser su bm etid o a u m “assalto d e tu rno”. Em sessões d e ju lgam ento d e Tribu nal d o Jú ri, ap esar d e não d ever haver u m d iálogo68, no sentid o corrente d o term o, em algu ns

m om entos, os Ad vogad os assaltam o tu rno d e ou tro Ad vogad o, estabelecend o, m esm o qu e tem p orariam ente, u m a interlocu ção.69 Em situ ações m onolocu tivas, o ou tro não

está p resente ou não p od e ou não d everia se p ronu nciar d u rante a troca. Porém , m esm o não p od end o se m anifestar verbalm ente é p ossível antecip ar, com o ocorre no Tribu nal d o Jú ri, argu m entos d o ou tro e sim u lar u m d iálogo efetivo ou m esm o u m a refutação por antecipação.70

O p róp rio Patrick Charau d eau salienta a p ossibilid ad e d e haver ou tras circu nstâncias m ateriais d e troca.71 Isto p orqu e, na Teoria Sem iolingü ística, o aspecto

interacional consiste em u m p rincíp io fu nd ad or d o ato d e lingu agem . Assim , p od e-se pensar em uma relação de troca entre Juiz, Promotor, Advogado e texto processual, por exem p lo. Além d isso, é p ossível p ensar tam bém nos d iferentes tip os d e d iálogos p resentes no and am ento d as qu erelas na Ju stiça Penal Brasileira. A p artir d isso, sinto- m e livre p ara refletir sobre tod os os tip os d e cam inhos e d e su jeitos: qu and o o Processo está em and am ento, qu and o o acu sad o é ju lgad o no Tribu nal d e Ju stiça, qu and o é julgado no Tribunal do Júri, quando a defesa pede um novo julgamento, quando ocorre um novo julgamento, quando o caso chega ao Supremo Tribunal e assim por diante.

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CHARAUDEAU, 2000: 06.

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Parto do pressuposto de que mesmo em trocas monolocutivas há um diálogo sendo travado, pois tomo como base a idéia do dialogismo bakhtiniano.

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Essa interlocução refere-se aqui a trocas verbais imediatas.

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Nível discursivo

O nível d iscu rsivo é d eterm inad o p elo u so d os p roced im entos d e ord em enu nciativa, sem ântica e enu nciva, os qu ais são resp onsáveis p ela mise en scène d iscu rsiva d o su jeito. O p rim eiro p roced im ento d iz resp eito às atitu d es enu nciativas, à m od alização enu nciativa, a qu al se constrói em fu nção d os d ad os id entitários e relacionais d a situ ação d e com u nicação, bem com o d a im agem d e si m esm o qu e se d eseja ap resentar e d aqu ela qu e se d eseja atribu ir ao ou tro. As regras d e ord em elocu tiva, d elocu tiva e locu tiva são tam bém fu nd am entais nesse nível, assim com o os rituais linguageiros.

Os p roced im entos d e ord em enu nciva, p or su a vez, referem -se aos Mod os d e Organização d o d iscu rso (MOD) – narrativo, d escritivo, enu nciativo e argu m entativo. Cad a u m d esses MOD é resp onsável p or organizar o d iscu rso d e d eterm inad a m aneira e eles au xiliarão o su jeito a atingir seu s objetivos, send o qu e cad a u m d eles é resp onsável p or cu m p rir d eterm inad as finalid ad es d iscu rsivas. Enqu anto o d escritivo p erm ite a constru ção d e u m a verd ad e, através d e u m a visad a m ais d em orad a sobre o objeto, o narrativo p erm ite recu p erar, com u m a intencionalid ad e, u m a d eterm inad a seqü ência d e eventos. O enu nciativo, p or su a vez, p erm ite através d os m eios lingü ísticos d a m od alização, cap tar a relação qu e o su jeito estabelece com os fatos e verificar com o ele se p osiciona na troca. Por ú ltim o, o argu m entativo visa a p rovocar o interlocu tor fazend o-o refletir sobre u m a d ad a p rop osição, com o objetivo d e ap resentar u m a verd ad e. É p reciso salientar qu e o su cesso d o ato d e lingu agem só será alcançad o se o su jeito for cap az d e saber m anip u lar os MOD d evid am ente. Tod avia, não se p od e p erd er d e vista o fato d e qu e nad a, em term os d e lingu agem , é u niversal e absolu to, além d o fato d e qu e cad a com u nid ad e tem seu s p rincíp ios, seu s valores e

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--- su as crenças. N esse sentid o, p ossivelm ente p ou co resu ltaria se u m Ad vogad o acostu m ad o a d efend er acu sad os em u m Tribu nal Eleitoral u tilizasse as m esm as estratégias em um julgamento de Tribunal do Júri.

Continu and o esse breve p ercu rso, na com p etência d iscu rsiva há, aind a, os p roced im entos d e ord em sem ântica, os qu ais se referem aos saberes m u tu am ente p artilhad os entre os ind ivíd u os. Tais saberes são d e d u as ord ens – d e conhecim ento e d e crenças. Tom and o novam ente com o base o Tribu nal d o Jú ri, os m em bros d o Conselho d e Sentença p od em não ter conhecim ento ap rofu nd ad o d as leis p enais brasileiras, m as p ossu em conhecim entos básicos acerca d o qu e significa ser Ad vogad o, Ju iz, acu sad o e em qu e consiste u m ju lgam ento. Esse saber refere-se ao conhecim ento, ao qu e é fato e corresp ond e, d e acord o com a Teoria Sem iolingü ística, às p ercep ções e definições mais ou menos objetivas sobre o mundo.

Em qu alqu er lu gar u m Ju iz é u m Ju iz, u m Ad vogad o é u m Ad vogad o, m esm o qu e eles ajam d e form a d iferente, d e acord o com su a cu ltu ra. Ou tro tip o d e saber d eterm inante d e nosso olhar sobre as p essoas e sobre o m u nd o refere-se ao saber d e crença, qu e d iz resp eito aos sistem as d e valores qu e circu lam na vid a em socied ad e, alim entand o os ju lgam entos d e seu s m em bros. São as op iniões coletivas sobre tu d o o qu e nos rod eia, entre as qu ais acred ito ser p ossível d estacar os clichês e os estereótip os. Estes ad vêm d o olhar su bjetivo d o hom em p ara avaliar e ap reciar o m u nd o e, id ealm ente, os com p ortam entos, segu nd o as p ráticas sociais.72 O estereótip o, na visão

d e Am ossy73, tem u m lu gar p rivilegiad o d entre essas p ráticas sociais relativas ao nosso

olhar sobre nós m esm os e sobre os ou tros, p ois é a p artir d e im agens cristalizad as, socialm ente aceitas e rep rod u zid as no p lano ind ivid u al, qu e constru ím os nossos textos

72 CHARAUDEAU, 1997: 45. 73

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60 e p erp etu am os os p reconceitos74. É p reciso consid erar, aind a, com Charau d eau , qu e

esse saber é m u ito com p lexo, p orqu e a ord em sem ântica se exp rim e nele d e form a implícita ou explícita. 75 Além d isso, o lingü ista alerta p ara a d ificu ld ad e em d elim itar a

fronteira entre os valores d e conhecim ento e d e crença, p ois am bos são constru íd os d entro d o p rocesso d e rep resentação, d and o à troca social u m a ilu são d e com p reensão da crença e do conhecimento. 76

Nível semiolingüístico

A exigência m ínim a neste nível é a d e qu e tod o su jeito (com u nicante e interpretante) saiba m anip u lar e reconhecer os signos. Trata-se d e o su jeito constru ir seu texto (resu ltad o d o ato d e lingu agem ), aju stand o-o à su a intenção, a p artir d as p ressões d efinid as p reviam ente. Esse aju ste se faz a p artir d e ou tros três níveis, cad a