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Do crime ao rol dos culpados: a dinâmica do Tribunal do Júr

Um triângulo, portanto: poder, direito e verdade. Michel Foucault.

Consid erand o qu e o fu ncionam ento d o Tribu nal d o Jú ri não se restringe à situ ação d e ju lgam ento p rop riam ente d ita, é p reciso d izer qu e antes m esm o d esse m om ento há d iversas etap as a serem segu id as p ara qu e os d ad os necessários sejam d evid am ente colhid os e organizad os.52 De acord o com Menezes, a “Denú ncia” ou a

“qu eixa” p od em ser resp onsáveis p or d esencad ear o Processo no jú ri, p ois o Ju iz, ao recebê-la, cita o réu e o intim a a com p arecer ao Tribu nal, a fim d e interrogá-lo. 53 Se o

réu não com p arecer p or qu aisqu er m otivos, o Ju iz p od erá nom ear-lhe u m d efensor. Ap ós o interrogatório e/ ou a nom eação d o d efensor, ocorrerá u m a d efesa p révia. Dep ois d e três d ias (havend o ou não d efesa) os au tos d evem chegar às m ãos d o Ju iz qu e d esignará a d ata p ara ou vir oito testem u nhas ind icad as p ela acu sação e analisará as d iligências solicitad as p ela d efesa. As d iligências p or p arte d a acu sação, norm alm ente, são d eterm inad as no ato d e recebim ento d a Denú ncia, m as é p ossível bu scar os d ad os em ou tro m om ento p rocessu al. Ap ós as testem u nhas d e acu sação, ouvem-se também oito testemunhas por parte da defesa. Depois de concluir essa fase, a acu sação terá cinco d ias p ara oferecer alegações p or escrito. Em segu id a, a d efesa p od erá falar, em igu al p razo. Caso a ação se inicie p or m eio d e qu eixa, ap ós a fala d o qu erelante, falará o Ministério Pú blico. Se hou ver Assistente, ele p od erá se p ronu nciar d ep ois d o Prom otor tam bém no m esm o p razo. O Processo, então, d everá p erm anecer em cartório p ara qu e p ossa ser consu ltad o tanto p elo Prom otor qu anto p elo Assistente.

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O fato de trabalhar com um corpus complexo, constituído de diversos tipos de textos, preocupa-me e ao mesmo tempo aguça minha curiosidade e minha vontade de me aventurar. Como não faço parte do quadro da área jurídica, desde já, peço desculpas aos mais entendidos, caso cometa algum abuso nessa trajetória.

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--- N essa fase nenhu m d ocu m ento p od erá ser inclu íd o, m as isso não é d efinitivo. Isto p orqu e se a p arte requ erer o acréscim o d e algo, o p ed id o será ap reciad o p elo Ju iz e poderá ser aceito.

Term inad as as alegações, o Processo conclu íd o é entregu e ao Ju iz p ara d esp acho. N esse m om ento aind a é p ossível qu e ele d eterm ine algu m a d iligência p ara averigu ar algo qu e lhe p areça d u vid oso. Caso haja investigação, ap ós su a realização, o Ju iz d eterm inará qu e as p artes se p ronu nciem e p roferirá a “Sentença d e Pronú ncia”. Só d ep ois d essa sentença d ecid e-se se o acu sad o será ju lgad o p elo jú ri p op u lar no Tribu nal d o Jú ri (hom icíd io d oloso) ou p or u m Ju iz no Tribu nal d e Ju stiça (hom icíd io cu lp oso, latrocínio, etc). Isto p orqu e som ente os crim es d olosos contra a vid a com p etem ao Tribu nal d o Jú ri. Estes crim es são p raticad os, teoricam ente, p or algu ém qu e ataca u m a p essoa, qu erend o ou assu m ind o o risco d e p rod u zir u m resu ltad o efetivo (m orte). Os crim es p raticad os d e form a cu lp osa, p or negligência, im p ru d ência ou im p erícia não serão ju lgad os p elo jú ri, m as no Tribu nal d e Ju stiça, p or Ju ízes. O qu e vale p ara os ju lgam entos no jú ri é a intenção d e m atar, p or isso se algu ém com ete u m assassinato d u rante u m assalto (latrocínio), não será ju lgad o p elo Tribu nal d o Jú ri. O crim e d e rou bo, ju ntam ente com o crim e d e m orte, form and o o latrocínio, é d e com p etência d o Ju iz Singu lar, d esd e qu e fiqu e com p rovad a a intenção d o agente criminoso.54

A verd ad e ju ríd ica, não m enos p olêm ica qu e as ou tras, ap resentará su a p alavra final a p artir d o jú ri, m as terá com o su p orte os fatos narrad os p or p oliciais, p elas testem u nhas com u ns, p elos Peritos, legistas, servid ores com u ns, Delegad os, Prom otores, os qu ais serão resp onsáveis, com o se verá a segu ir, p ela constru ção d o texto p rocessu al. Tod as as inform ações, tu d o qu e concerne ao crim e d eve sem p re

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46 p assar p elo crivo d o Ju iz, resp onsável p or “p ronu nciar” o ind iciad o.55 Com o é p ossível

observar, na constru ção d essa verd ad e, há m arcas d e d iversos su jeitos e, conseqü entem ente, d e d iversos d iscu rsos veicu lad ores d e crenças, valores e p reconceitos d istintos. A p artir d o m om ento em qu e o réu é lançad o no rol d os cu lp ad os tanto a Defesa qu anto a Acu sação iniciam u m a em p reitad a p ela constru ção d e u m a visão sobre o caso, a qu al será ap resentad a a p artir d os d ad os d as p eças p rocessu ais e d e ou tros qu e p ossam ser anexad os a elas, na sessão d e ju lgam ento. Por fim , com essas consid erações, p artirei agora p ara u m a leitu ra d o Tribu nal d o Jú ri sob a luz da Teoria Semiolingüística.

55 Até esse momento processual o indivíduo é assim denominado. Após a “Sentença de Pronúncia” passa

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O TRI BUNAL DO JÚRI

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