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O caso sob o viés dos envolvidos ou afetados: réu e testemunhas 1 O réu

CAPÍTULO 5 – A TESSITURA D O PROCESSO: PASSOS IN ICIAIS D A CONSTRUÇÃO DO CASO

5.2 O caso sob o viés dos envolvidos ou afetados: réu e testemunhas 1 O réu

O d ep oim ento p restad o p elo réu ao Delegad o, na Delegacia Esp ecializad a em H om icíd ios, p ossu i p ontos d e convergência e d e d ivergência em relação àqu eles p restad os p or ele ao Ju iz d e Direito d o Tribu nal d o Jú ri, tanto no m om ento qu e anteced e ao p rim eiro ju lgam ento qu anto no qu e se refere ao segu nd o. Em u m p rim eiro instante, em u m longo p roferim ento, ele d iscorre acerca d e seu casam ento com V, d esd e o m om ento em qu e a conheceu até o d ia d o crim e. É p ossível d ep reend er d esse p rocesso d e d iscu rsivização várias m arcas qu e ind icam u m cam inho p ara a constru ção d e u m a im agem acerca d e si e d e su a esp osa. Evid entem ente, há u m enorm e esforço p ara se p roteger enqu anto qu e, m esm o d e form a calcu lad am ente d iscreta, verifica-se uma tentativa de arranhar a face da vítima.

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--- Através d e seu d iscu rso, valores relativos àqu eles cu ltu ad os p ela trad icional fam ília m ineira são retom ad os, com o a referência d iscreta ao fato d e não ter se casad o na Igreja p or cau sa d e V, qu e era esp írita e p referiu ap enas o registro civil d a u nião. Ou aind a ao fato d e qu e ele alm oçava em casa tod os d os d ias, a fim d e acom p anhar a esp osa e os filhos, com exceção d a sexta-feira, m om ento em qu e V estava no salão d e beleza. Ou aind a ao fato d e qu e ele chegava m ais ced o em casa, ap ós o serviço, enqu anto a esp osa nem sem p re jantava na com p anhia d a fam ília. Estes e ou tros elem entos foram su rgind o, com o se a esm o, no relato d o crim inoso, contribu ind o com a ed ificação d a im agem d e u m a m u lher p ou co afeita ao p ad rão d eterm inad o p ara u m a esp osa e p ara u m a m ãe. Tal relação se com p rova logo nas p rim eiras linhas d o p rim eiro d ep oim ento, m om ento em qu e R afirm a não freqü entar a casa d a esp osa, d u rante o namoro, de modo a atender a seu próprio desejo:

(...) encontravam-se todos os dias ‘sempre em barzinhos’ (...)

(...) perguntado porque o declarante não freqüentava a casa de V, ‘porque ela preferia se encontrar em barzinho’(...).

(...) perguntado, novamente, porque o declarante, em dois meses de namoro que chegou a ponto de relações sexuais, não freqüentou uma só vez a casa de V, respondeu ‘porque ela não gostava de namorar em casa’(...)

Tais d eclarações, não d iretam ente relacionad as ao crim e com etid o, refletem bem a im agem qu e o réu d esejou criar: su a m u lher era, no m ínim o, avançad a d em ais, d esd e o início d a relação. A id éia em jogo d e qu e ela “não era u m a vestal”273 se

confirm a no relato acerca d a longa viagem à Eu rop a qu e fizeram e d a freqü ência assíd u a aos m otéis d a cid ad e. Tod avia, se se p od e p erceber su a m ão, d irecionand o os cam inhos na constru ção d e u m p erfil d e V, é p ossível notar tam bém u m a valorização d e u m d eterm inad o p ad rão d e vid a, qu e se exp licita na m enção ao consu m o d e d eterm inad os p rod u tos – cigarros, bebid as, carros e m otocicletas im p ortad as, ao valor

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194 d e seu salário em d ólar, a seu s vários hobbies. Ou , aind a, ao afirm ar qu e, qu and o a esp osa m orava no Rio d e Janeiro, p ara lá ele sem p re ia, d e avião. O p róp rio su jeito, através d esses índ ices, foi ind icand o, m esm o sem qu erer, cam inhos p ara u m a leitu ra acerca d e p ossíveis traços com u ns entre ele e Doca Street, o qu e foi, com o se viu , m u ito explorado pelo Delegado e fez parte da sustentação oral da Acusação.

Todavia, o p erfil d e u m a m u lher ind ep end ente, em ocional e financeiram ente, evidencia-se p au latinam ente, com o p or exem p lo, na referência ao fato d e qu e, ao se conhecerem , cad a qu al d irigia seu carro, ou qu and o afirm ou ter a esp osa feito vários cu rsos e, aind a, ter trabalhad o com o babá no p eríod o em qu e ele fazia m estrad o em N ova Iorqu e. Ao lad o d esse p erfil d e m u lher, ele se esforçou p or constru ir o p erfil d e um homem sério, competente, dedicado à família e bem-sucedido.

N esse p rocesso, a im agem criad a é d e u m su jeito altam ente cap az, d e m u ita resp onsabilid ad e e inteligência: “su p ervisiono tu d o”; “eu sou o resp onsável p elos trabalhos gerad os”. O fato d e realçar seu estatu to p arece se relacionar à intenção d e refu tar a tese d e qu e, atolad o em d ívid as, ele p recisaria d a esp osa p ara se livrar d elas e, p or isso m esm o, não teria aceitad o a sep aração. Entretanto, o tom am eno d a ap resentação d a im agem d a esp osa, u tilizad o até a p ágina 13 d e seu p rim eiro d ep oim ento, m od ificou -se a p artir d o m om ento em qu e teve início a d em onstração d e d ad os p ara a tese d a legítim a d efesa d a honra e d e u m a coerção incontrolável. Assim , d e boa m ãe, boa am ante, boa com p anheira, a vítim a p assa a ser ap resentad a com o u m a m u lher fria, d istante, negligente com os filhos e com as obrigações m atrim oniais. As d ú vid as acerca d e seu com p ortam ento su rgiram d e m od o a criar a im agem d e qu e haveria um motivo de força maior impelindo-o a cometer o crime.

273 Este enunciado ficou conhecido a partir de sua utilização pelo advogado de defesa de Doca Street, no

--- Ao m encionar a p resença d e u m corrim ento vaginal em V, afirm ou ter d u vid ad o d ela, o qu e foi enu nciad o d e form a a revelar u m p erfil d e hom em tranqü ilo e até m esm o abnegad o: “eu fiqu ei chatead o”. Ele não se revoltou , não brigou nem m esm o agred iu a vítim a, ficou ap enas chatead o. Com isso, p arece ter d esejad o ap resentar a id éia d e qu e em su a vid a u m crescente d e em oções se avolu m ou aos p ou cos, form and o u m verd ad eiro vend aval e im p elind o-o a com eter o hom icíd io. Do corrim ento, p assou a u m p ossível relacionam ento hom ossexu al entre a esp osa e a am iga d o Rio d e Janeiro. E, em segu id a, ap resentou d ad os acerca d e u m a viagem feita p or V a São Pau lo, m om ento em qu e d esconfiou d o fato d e ela ter atend id o a seu telefonem a na casa d a am iga ond e se hosp ed ara, sem qu e ele a tivesse cham ad o (com o se se ad iantasse): “só não achei norm al”. N ovam ente, através d a incitação d a d ú vid a em relação à esp osa, cria, nesse p ercu rso, a im agem d e u m su jeito p acato qu e é, aos poucos, atingido pelo mau comportamento da vítima, como em:

(...) perguntou a sua irmã se V havia ido à ginástica e soube que não; perguntado se a partir daí o declarante criou, como idéia fixa, uma dúvida sobre sua mulher respondeu “não era uma idéia fixa. Era uma pequena dúvida sobre mentira ou não” (...).

A modalização da atitude desconfiada (“pequena dúvida”) serve mais uma vez para p roteger su a face d e u m a im agem d e u m su jeito d escontrolad o em ocionalm ente. Ele tudo fez para se mostrar equilibrado a fim de, como já afirmei, levar seu interlocutor a crer na hip ótese d e u m a coação irresistível. O p seu d o-elogio: “V com o m ãe era m u ito boa ‘só tinha u m senão; às vezes ela era u m p ou qu inho im p aciente” lançou m ais u m d ad o, agora relativo ao cu id ad o com os filhos. Desse m od o, constrói-se estrategicam ente a im agem d e u m a m ãe negligente, sob a falsa ap arência d e u m a afirmação descomprometida, assim como em:

(...) na sexta feira o declarante saiu como de costume para o trabalho e V, acha o declarante que foi jogar Tênis no C e foi ao salão, como costumava fazer às sexta feiras, quando nem almoçava em casa (...)

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196 Em outro momento de seu depoimento, R afirmou ter a vítima passado a trabalhar no período da tarde, a fim de ficar menos cansada e, sobretudo, de ficar com as crianças em casa, durante as manhãs. Por isso, ao mencionar suas atividades esportivas e de “embelezamento”, desqualificou V, a qual em vez de cuidar dos filhos, cuidava primeiro de si. Indo um pouco mais longe, pode-se mesmo pensar que essa informação aliada ao fato de que ela nem era católica, demonstra bem que essa jovem senhora estava longe de se assemelhar ao perfil de mulher nos moldes da mineiridade. O conector “nem” na linha 3 serviu para destacar mesmo esse caráter negligente. Ao lado disso, há o fato de que, embora o relacionamento do casal não estivesse bem e a frieza de V fosse cada vez maior, ela não se furtava o direito de se embelezar às sextas- feiras no salão e de se exercitar na academia de ginástica e em aulas de tênis. O enunciado conduz o leitor à imagem dessa personagem feminina que é apresentada, maliciosamente, como uma “mulher” e não como “mãe”:

(...) que perguntado se ele batia nas crianças respondeu que ‘ela batia, eu batia, dona T6 batia, porque eu acho que bater é educar’; que o problema de V é que ela batia ‘antes da hora certa.

É interessante qu e su a p ersonalid ad e ativa só não se verifica nas relações sexu ais com o m arid o, m om ento em qu e tinha u m com p ortam ento “p assivo” ao lad o de um comportamento “altamente ativo” do esposo:

(...) perguntado se depois do problema ocorrido em setembro e do esfriamento afetivo de V o casal teve alguma relação sexual respondeu “tivemos, normalmente”, que esse

relacionamento sexual era como que passivo por parte de V e altamente ativo por parte do declarante (...)

(...) quando a outros hobs, o declarante tem o de fotografias, filmes e som, tendo bons equipamentos para tudo isso; que maior parte dos filmes que fez, ou de fotografias, são das crianças e de V, durante as viagens, embora ela não gostasse (...)

O retrato qu e se d elineia é d e u m su jeito voltad o p ara a fam ília, enqu anto d a esp osa tem os a im agem d e u m a qu ase au sência d e em oção. Consid erand o qu e em nossa socied ad e, aind a hoje, o qu e se esp era d a m u lher é qu e ela d em onstre, m esm o

--- com su as ativid ad es fora d o lar, d ed icação e interesse qu ase exclu sivos à fam ília, V estava longe d e se p arecer ad equ ad a. Além d isso, estes índ ices ap ontam p ara u m a avaliação sobre o crescente desamor de V.

De acord o com a narração d esse su jeito-enu nciad or, a p assivid ad e sexu al foi, p au latinam ente, crescend o ju nto com su as d ú vid as acerca d e u m a p ossível traição. Então, várias p istas d essa p ossibilid ad e são ap resentad as reforçand o essa id éia qu e p assa a consistir m esm o em u m a tese. O au ge d a narrativa se d á no m om ento em qu e ele apresenta informações acerca do dia do crime, momento em que encontrou a esposa no carro d e u m antigo nam orad o. Segu nd o R, ap ós conversar com V, ou viu a confirmação do romance, que é negado por ele mesmo em outro trecho do depoimento:

(...) perguntado sobre como estava V respondeu ‘sêca, fria’; que conversaram, discutiram, lamuriaram-se, não chegaram a ofensas nem agressões físicas; que nessa ocasião V disse que a pessoa não era o T7, o declarante nem perguntou porque ‘tinha certeza’; como tem agora; que o declarante criou esta certeza só porque viu os dois no mesmo carro em movimento sem qualquer atitude amorosa (...)

A negação d a atitu d e am orosa não visa à p roteção d a face d a vítim a, m as, ao contrário, agind o assim ele reforça aind a m ais su a cu lp a, p ois se ap resenta com o u m m arid o traíd o qu e não d eseja afirm ar u m a efetiva traição d a esp osa. Ao d ep or no Tribu nal d o Jú ri, o crim inoso retom a grand e p arte d e seu d iscu rso anterior, m as é p ossível p erceber, através d os enu nciad os e d o u so d e d eterm inad os itens lexicais, a reafirmação de uma tese elaborada pela defesa. Assim, se antes R afirma não ter certeza d e qu e o am ante d a esp osa seria m esm o T7, no segu nd o m om ento já lança a id éia d e qu e ela d esejaria convencê-lo não ter estad o em com p anhia d esse su jeito, no Shop p ing, m as sim d e u m a ou tra p essoa. Isto serve p ara reforçar a p ossibilid ad e d a traição e a cau sa d o d escontrole qu e o levou ao crim e. Além d isso, se esse terceiro d ep oim ento274

274

Os dados relacionados ao segundo depoimento do réu não serão apresentados porque, de certo modo, eles confirmam as idéias presentes no primeiro momento. Apenas no terceiro momento foi possível observar elementos que marcariam diferenças significativas entre eles. O segundo depoimento ocorreu em

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198 tem a ap arência m ais enxu ta, traz, p or ou tro lad o, d ad os m ais concretos ou p assíveis d e serem p rovad os p ela d efesa, com o p or exem p lo, a referência ao convite p ara jantar feito p elos am igos T1 e T3275, o qu al tinha sid o ap enas ventilad o anteriorm ente e agora

ganha outra conotação:

(...) perguntou à vítima se ela queria jantar fora, ao que ela recusou; que o convite foi feito a V para jantar em companhia do declarante e de um amigo, por nome T1 e a namorada do mesmo (...)

Ao enu nciar os d ad os sobre esse convite, o su jeito-enu nciad or m ostra-se conform ad o, tranqü ilo, equ ilibrad o, enqu anto d em onstra a frieza e a obstinação d a esp osa p ela sep aração d o casal. Com o se vê, ele p od e se valer d as vozes d e seu s am igos p ara a confirm ação d essa nova inform ação. Ele afirm a, nas entrelinhas, qu e tentou até o fim reatar o casam ento, m esm o em face d e u m a p ossível traição. O convite p ara com er o m acarrão, feito p or ele, só ap arece tam bém em u m terceiro d ep oim ento. Isso contribu i p ara criar a id éia d e qu e o crim e não fora p rem ed itad o, d e qu e a rotina d a casa continu ou a m esm a ap ós a d escoberta d a traição. Por fim , em su a em p reitad a, o crim inoso re-encena o m om ento d o crim e d e ou tro m od o, u m a vez qu e, ao d ep or na Delegacia, afirm a categoricam ente não ter qu alqu er d ú vid a sobre a p aternid ad e d o filho mais novo:

(...) respondeu que são idênticos e que realmente se parecem com o declarante e com V, não pairando qualquer dúvida quanto à paternidade deles ser do declarante. 1o

depoimento.

(...) que nesta altura, percebeu que tratava-se de V, que estava gritando; que a vítima gritava, reclamando que a televisão estava alta que aí, nova discussão se travou; que no auge da discussão, perdendo a cabeça, acionou o gatilho de sua arma, não sabendo quantos tiros foram disparados; que o declarante, em meio à discussão, que antecedeu os tiros, perguntou à vítima, se ela já estava com relacionamento sexual com T7, por ocasião da concepção do filho F2; que a isto, a vítima lhe respondeu: ‘não é da sua conta’, que foi nesta hora, que o declarante começou a disparar os tiros (...) 3o momento destacado.

31 de julho de 1981, praticamente um ano após o crime, já o terceiro data de 1983, já quase três anos após a morte de V.

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Tal inform ação acerca d o filho é m antid a no terceiro m om ento d o Processo, conforme se verifica em:

(...) voltaram a discutir e perguntou a V desde quando ela estava mantendo aquele

relacionamento; que também perguntou se o 2o filho, F2, era seu filho ou não, que V, neste momento, lhe respondeu que o interrogado não tinha nada com aquilo e que era

responsabilidade dela (...)

Este d ad o, encenad o estrategicam ente, serve p ara corroborar a tese d a em oção incontrolável qu e será u sad a em su a d efesa e, aliás, bem aceita p elos ju rad os.276 Além

d esse d ad o, o crim inoso enu ncia aind a algo relativo à p osição em qu e se encontrava a vítim a no d ia d o crim e: “(...) qu e não se lem bra ao certo qu al a p osição d a m esm a; qu e V, não estava d eitad a e estava d e frente p ara o interrogad o (...)”. Se à p rim eira vista esta referência p od e p arecer irrelevante, p ercebe-se qu e constitu i u m a p eça fu nd am ental nesse Processo, u m a vez qu e visa a d erru bar u m a d as qu alificad oras d a tese d a acu sação: “a vítim a não estava em cond ições d e se d efend er”. Isto não foi enu nciad o nem na Delegacia, nem no m om ento em qu e foi interrogad o, d u rante o p rim eiro ju lgam ento. Aind a no 2o d ep oim ento em p lenário (e no 3º no total), este

su jeito afirm a qu e V d isse a ele ter tid o u m relacionam ento sexu al com T7 e qu e, no d ia do crime, a viu no carro, com esse sujeito nos arredores do BH Shopping:

(...) desceu do carro e procurou em várias lojas do shoping, pela vítima e inclusive na E1 e em lojas de comida, como não encontrou a vítima, retornou ao carro, com a intenção de ir embora, mas avistou a vítima que vinha com uma sacola de compras do J na direção do carro dela, que neste, se dirigiu à V e convidou-a a entrar no seu carro (...) perguntou a V: “por que estava fazendo aquilo com o interrogado?”; que V, nesta oportunidade, lhe disse: “que não dava mais para esconder” e que a alguns meses, vinha tendo um relacionamento amoroso e sexual com T7(...)

Com isso, ele constrói, a p artir d e u m su p osto u niverso d e crenças e d e conhecim entos, u m a figu ra fem inina estereotip ad a e estigm atizad a p or nossa

276

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200 socied ad e, ju stificand o a “coerção irresistível” a qu e foi su bm etid o. É interessante qu e, através d a p atem ização, ele d eseja levar o seu interlocu tor a se id entificar com su a história, p ois tu d o é relatad o d e m od o a ap resentar u m cid ad ão com u m qu e se via, a todo momento, diante de uma tragédia iminente.

5.2.2 Outras vozes: algumas testemunhas

A constru ção d e u m a im agem p ositiva acerca d e si m esm o ad qu ire u m caráter d e im p ortante estratégia na p rod u ção d iscu rsiva d as testem u nhas nos Processos Penais, u m a vez qu e consiste em u m a form a d e p roteger a p róp ria face, em virtu d e d o p erigo qu e essas interações p ressu p õem . Perigo d e se exp or, p erigo d e se d eixar levar p elo inqu irid or, p erigo d e se ver ligad o ao crim e d e algu m m od o. Perigo d e exp licitar, além d a m ed id a, se se está d o lad o d o crim inoso ou d o lad o d a vítim a. Assim send o, as testem u nhas constroem seu s d iscu rsos d e m od o a se p roteger e, nessa em p reitad a, ora ap resentam e d estacam u m caráter p ositivo d e si m esm as, ora ap resentam u m a boa im agem d a vítim a, ora ap resentam u m a im agem p ositiva d o crim inoso, e, aind a, ora arranham a face da vítima ou do criminoso.

De u m m od o geral, no qu e concerne aos d ep oim entos exam inad os, tod os os su jeitos qu e d ep u seram seja na Delegacia seja no Tribu nal, m obilizaram estratégias d iversas referentes a vários elem entos, com o, p or exem p lo, o ap elo à estereotip ização, o u so d e d eterm inad os recu rsos lingü ísticos p ara se ap agar a m od alização d iscu rsiva. Consid erand o, aind a, qu e a m aioria d eles, na ép oca d o crim e, fazia p arte d o rol d os escolhid os e circu lavam na elite belo-horizontina, nad a m ais natu ral qu e a tentativa d e ap arentarem m anter u m certo d istanciam ento com a situ ação d esencad ead ora d o assassinato e com o assassinato em si. Qu ase tod as as testem u nhas se encontravam ,