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N esta terceira e ú ltim a p arte d a tese, d ed ico-m e à leitu ra d as p eças, com p onentes d o Processo Penal, visand o a u m a m elhor com p reensão d o d iscu rso ju ríd ico d e Tribu nal d o Jú ri e d o fu ncionam ento d a argu m entação, tend o em vista as três d im ensões qu e a ancoram . De acord o com inform ações contid as nesse m aterial, o crime que deu origem à movimentação dos agentes jurídicos ocorreu na madrugada do d ia 26 d e ju nho d e 1980. Enqu anto os filhos d o casal e os em p regad os d a casa d orm iam , o m arid o assassinou a esp osa com cinco tiros, send o qu e os p rim eiros d isp aros, p ossivelm ente, atingiram -na enqu anto ela aind a se encontrava d eitad a na cam a. Este crim e chocou a op inião p ú blica, p or trazer à tona m ais u m a vez d iscu ssões referentes, no âm bito ju ríd ico, à tese d a legítim a d efesa d a honra, além d e cham ar à baila uma discussão mais ampla, relativa à violência contra a mulher.

A vítim a, m u ito com p arad a à Ângela Diniz p elos agentes ju ríd icos, no d ecorrer d o Processo, assim com o su a conterrânea, era u m a m u lher ind ep end ente. Tanto ela qu anto seu m arid o p ertenciam à elite d a socied ad e belo-horizontina. Ela era u m a em p resária bem -su ced id a, enqu anto o m arid o era engenheiro d e u m a grand e em p resa. A rotina d o casal, p elo qu e consta nas p eças p rocessu ais, era com o a d e seu s p ares: viagens, festas nos fins d e sem ana, jantares nos m elhores restau rantes, acad em ia, carros, m otos etc. Pod e-se d ep reend er d os d ep oim entos e d as d em ais p eças qu e a p artir d e su p osições fu nd ad as em situ ações d e d iversos tip os, vivenciad as p elo casal – ou sim p lesm ente criad as a p artir d e ind ícios, talvez não cond izentes com a realid ad e – vários signos se corp orificaram , o qu e cu lm inou no hom icíd io. Este trágico crim e foi

--- dissecado pelos agentes jurídicos, desde o Policial Militar até os encarregad os d a p risão e da soltura do réu.

N o p ercu rso d e constru ção d a verd ad e, resu ltante d o trabalho d esenvolvid o p or esses agentes, há d iferentes m om entos enu nciativos inter-relacionad os. Um primeiro momento seria relativo à “construção do caso”, a uma primeira visada sobre a cena d o crim e. N ele, estariam inclu íd os os textos p rod u zid os p elo Policial Militar e p elos Peritos convocad os p elo Delegad o, a voz d as testem u nhas e d o réu em seu s p roferim entos na d elegacia, além d o relatório final red igid o p elo p róp rio Delegad o e d irecionad o ao Ju iz. Em u m segu nd o m om ento, estariam inclu íd os os textos relativos à Denúncia feita pelo Ministério Público, aos novos depoimentos de testemunhas e réu, à posição do Juiz Sumariante sobre o caso, decidindo se ele deveria ser ou não julgado no Tribu nal d o Jú ri. Além d esses elem entos, fariam p arte d o segu nd o m om ento o Libelo Acu satório, o Contra- Libelo, a Alegação d as p artes – d efesa e acu sação -, e os d em ais procedimentos relativos às diligências necessárias.

O terceiro m om ento estaria relacionad o ao ju lgam ento em si e inclu iria a su stentação oral d a Defesa e d a Acu sação d u rante a sessão d e ju lgam ento, a inqu irição das testemunhas e do réu, bem como o veredicto, com a leitura da Sentença Final. Após esse m om ento, existiria aind a u m ou tro, no qu al d iversas tom ad as d e d ecisão d evem ocorrer p ara a ap licação d a p ena, bem com o p ara se tentar u m novo ju lgam ento, com o aconteceu no caso em análise. Dessa p osição, d ecorrem novos p roced im entos, qu e incluem um p osicionam ento p or p arte d e Desem bargad ores e d e ou tros ju ízes, os qu ais d evem d ecid ir ou não p ela nu lid ad e d a sentença, p or u m novo ju lgam ento ou p ela ap licação d a p ena. H á, aind a, os p roced im entos necessários p ara a p risão d o su jeito e até m esm o os p roced im entos relativos ao fim d o cu m p rim ento d a p ena. A obrigatoried ad e d e se segu ir u m a ord em nos p roced im entos ju ríd icos em u m caso d e

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162 assassinato não im p ed e qu e u m d iálogo seja travad o entre os su jeitos d esd e as p rim eiras p eças d o Processo. Cad a u m a d as p eças se entrecru za com as d em ais e é nos interstícios dessa troca que se dará o desfecho da trama.

A p artir d isso, na tentativa d e traçar, p elo m enos em p arte, u m p anoram a d o caso-crim e na Ju stiça Penal, m eu p ercu rso d a leitu ra d as p eças tem p or objetivo com p reend er a configu ração d o caso e, p or isso m esm o, foi d eterm inad o p or u m a ord em qu e se inicia p elo Boletim d e Ocorrências (BO), qu e consiste no p rim eiro olhar d a Ju stiça sobre o assassinato. Em segu id a, tom arei o texto relativo à visão d os Peritos p ara d ep ois ap resentar o Relatório Final d o Delegad o, resp onsável p elas investigações d o Inqu érito Policial (IP). Esse m om ento será encerrad o com leitu ra d os d ep oim entos256

d e algu m as d as testem u nhas e d o réu . É im p ortante d estacar qu e ap esar d e o réu e testemunhas terem sid o inqu irid os em d iversos m om entos d o Processo p elo Delegad o, p elo Ju iz antes d a Sentença d e Pronú ncia e p elo Ju iz d u rante o ju lgam ento, os textos serão lid os em seu conju nto com o intu ito d e d estacar algu ns fragm entos qu e possibilitarão uma visão mais abrangente do caso. Além disso, devo dizer que não farei u m a leitu ra d e tod os os d ep oim entos d e tod as as testem u nhas, p orqu e isso u ltrap assaria os objetivos d a tese, além d e inviabilizar su a conclu são d evid o ao grand e volu m e d e d ocu m entos. Interessa-m e p roced er a esse p ercu rso d e leitu ra p ara chegar, m ais ad iante, à p osição d os ad vogad os e encerrar com a avaliação d o jú ri sobre o caso. N esse entrem eio ou tras vozes p od erão ser convocad as. Finalm ente, com o o crim e foi ju lgad o p or m ais d e u m a vez, p retend o verificar, aind a, os p roced im entos d ecorrentes d a Sentença Final: solicitação d e novo ju lgam ento, avaliações d e Desem bargad ores, posição do Juiz; procedimentos relativos à prisão e à soltura.

256 Em sua maioria, os depoimentos das testemunhas realçados na análise foram prestados na fase policial

--- Com essa m etod ologia d e análise, qu em sabe, com o u m fio d e Ariad ne, eu p ossa ir “costu rand o u m tecid o” e, ao m esm o tem p o, d esatand o algu ns nós d essa trama. Para tanto, em cad a u m d os m om entos d estacarei fragm entos d o Processo a fim de demonstrar, através deles, as hipóteses lançadas nos capítulos anteriores.

N o qu e tange às qu estões relacionad as à transcrição d os fragm entos d estacad os d as p eças p rocessu ais, não u tilizarei qu aisqu er sím bolos, nem m esm o o “sic”, com o objetivo d e não carregar d em ais o texto e conferir d estaqu e ap enas ao qu e interessa à análise257. Em u m a tentativa d e p reservar a id entid ad e d a vítim a, d o crim inoso e d as

d em ais p essoas envolvid as d ireta ou ind iretam ente no caso, farei u so d a segu inte nomenclatura:

- V: Vítima;

- R: Réu;

- F1: filho mais velho do casal;

- F2: filho caçula do casal;

- T: Testemunha (letra T associada a um número. Ex: T1, T4 etc.);

- RMP: Representante do Ministério Público;

- D: Delegado;

- PM: Policial militar;

- AD: Advogado de defesa;

- AC: Advogado de acusação;

- P: Perito;

- E1: Empresa da vítima;

- E2: Local de trabalho do réu;

- C: Clube freqüentado pelo casal.

Além d isso, é p reciso salientar qu e a referência ao end ereço d a vítim a e d o réu , d as testem u nhas, assim com o qu aisqu er d ad os qu e p ossam rem eter à id entid ad e histórica dos sujeitos envolvidos neste Processo Penal serão apagados das peças.

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A TESSI TURA DO PROCESSO:

PASSOS I NI CI AI S DA CONSTRUÇÃO DO CASO

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CAPÍTULO 5 – A TESSITURA D O PROCESSO: PASSOS IN ICIAIS D A