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Quando Oiteiro foi lançado, em 1958, a obra obteve bastante repercussão na cidade do Natal, segundo Paulo de Tarso de Melo (2018), e ainda segundo ele, enquanto desdobramento de tudo isso, Magdalena Antunes e seu Oiteiro foram notícia na revista O Cruzeiro, periódico este do Rio de Janeiro destinado ao público em geral (masculino e feminino) e que circulou nacionalmente entre 1928 e 1975 (PINSKY, 2014). Sendo resultado de entrevistas concedidas por Magdalena Antunes à jornalista Maria Tereza, a matéria intitulada “A criatura e seu destino” veio num texto curto de meia página, saiu na edição de número 032 da referida revista, em 23 de maio de 1959. Sobre isso nos fala Lúcia Helena Pereira:

Antes da noite de autógrafos, em 1958, no auditório da Fundação José Augusto (antiga Escola de Jornalismo de Natal), vovó recebeu a visita da redatora-chefe da Revista, “Da mulher para a mulher”, Sra. Maria Tereza e depois em sua casa. Assisti essa cena, no velho terraço, com os olhos de menina, olhos de amor e olhos de encantamento. Eu tinha 12 anos de idade e guardei essa entrevista em minha memória (eu tinha uma edição dessa revista...) (PEREIRA, 2014a).

Ao contrário do que escreveu Lúcia Helena, “Da mulher para a mulher” não era o nome de um periódico, mas uma coluna da revista O Cruzeiro que era assinada pela colaboradora Maria Tereza, na qual ela tinha o cuidado de responder com conselhos e direcionamentos leitores e leitoras, alguns sob a alcunha de pseudônimos, sobre os mais diferentes assuntos: casamento, namoro, corpo, trabalho etc. A nota escrita sobre Magdalena Antunes fez parte de uma das muitas seções que compunham o periódico, entre elas uma especialmente voltada para o público feminino, intitulada “Para a Mulher”, onde eram publicados contos, matérias sobre culinária, propagandas de produtos de beleza, dicas de comportamento, moda feminina e comportamentos capazes de atrair a atenção masculina, além de matérias sugerindo estratégias às mulheres casadas a fim de que elas conseguissem manter a paz no lar e no casamento.

Em relação ao texto onde se faz referência a Magdalena Antunes, observei que ele não é assinado por qualquer jornalista, nem vem numa coluna demarcada por um título. O artigo em questão foi publicado entre uma propaganda de cosmético voltado para o público masculino e por fim a coluna “Da mulher para a mulher” da colunista Maria Tereza que não assina com sobrenome. O texto propriamente dito, ao contrário do que eu esperava, não dá maiores informações sobre quem é Magdalena Antunes nem sobre a obra publicada por ela. A matéria que é feita gira em torno da “arte de envelhecer” e Magdalena Antunes é citada como emblema nesse sentido. Eis o texto na íntegra:

SABER envelhecer é uma arte das mais difíceis e por isso mesmo das menos cultivadas. Entretanto, as pessoas que a ela se aplicam, com firmeza de convicção, encontram resultados altamente compensadores. Cada idade tem as suas características próprias, e é preciso que se saiba viver plenamente dentro de cada uma, para que haja um ajustamento perfeito entre nós e o mundo que nos cerca. Inútil é querer contrariar a marcha do tempo. Inútil é querer ter, nos quarenta anos, o aspecto físico – e as reações mentais – que se tinha aos quinze. Mas tanto pode ser agradável o aspecto da mulher agora, como dantes. Aos quinze anos, tudo nela exala juventude, e é justamente isto que a faz parecer bela. Entretanto vemos meninas bonitas ao natural, “fantasiadas” de mais idade, com cabelos cortados a tarada, saltos muito altos, pinturas exageradas. E não raro vemos também uma mulher madura, usando penteados e modas de brotinhos – o que a torna ridícula. Falta nas duas, senso de equilíbrio que consiste justamente em viver dentro da própria idade, com seus modos e modas peculiares. Do ponto de vista espiritual, também, não raro há grandes desajustes. Môças que, à primeira decepção, tornam-se combalidas, cépticas, desencorajadas. Envelhecem precocemente. É natural que uma pessoa madura não tenha mais os rasgos de entusiasmo dos jovens. Mas se tem um espírito forte, sabe reagir contra os inevitáveis golpes da vida e leva sempre a melhor. Há pouco, tivemos oportunidade de conhecer uma senhora que é um exemplo vivo da nossa afirmativa. Quase aos oitenta anos e após ter feito a amputação de uma perna, D. Madalena Antunes Pereira, de Natal, escreveu o seu primeiro livro de memórias – “Oiteiro”, Edições Pongetti. Conversar com ela é desfrutar momentos de prazer. Seus olhos são cheios de vida – a velhice não lhe pesa. Imóvel! Numa cadeira de rodas, distrai-se conversando e escrevendo. “Olhe, gosto muito dessa mangueira, já está velha como eu. Mas ainda abriga os pássaros e dá sombra!”. Mulheres como essa sabem cultivar a arte de envelhecer – ou a arte de viver? Criaturas como D. Magdalena sempre viveram em perfeita harmonia com a vida, aceitando, confortavelmente e sem esmorecimento o quinhão que a sorte lhes concedeu – bom ou mau. Não deixaram que o desengano lhes envenenasse o coração. É a perfeita harmonia do homem com o seu destino ou, para sermos mais precisos, com a sorte que Deus lhe deu (O Cruzeiro, 23 de maio de 1959, p. 100; grifos meus).

O que pode se depreender do texto acima é que o tema central da matéria girou em torno das expectativas sociais em termos de aparência (vestimenta, maquiagem, corte de cabelo, comportamento) para as mulheres dos anos cinquenta, que deveriam saber o que era apropriado conforme as suas idades, para não incorrerem em equívocos que as fizessem paradoxais. A matéria é elogiosa em relação a Magdalena Antunes, mas nem tanto assim, uma vez que os atributos dela que chamaram atenção da revista giraram em torno daquilo que era identificável como condizente ao esperado para uma mulher que chegara à velhice.

Magdalena Antunes com seu Oiteiro rompeu paradigmas. Afinal de contas, ela foi esposa, mãe e avó, mas também foi escritora ainda na primeira metade do século XX. Segundo Alda de Britto Motta (2013), nesse contexto os avanços femininos que viriam com a segunda onda feminista da década de 1960 não haviam se processado. Na verdade, Magdalena Antunes nem chegou a ver essas mudanças que, tal como a pílula anticoncepcional, contemplariam muito mais as mulheres jovens. Ademais, ela poderia ter vivido a sua vida exercendo tão somente os papéis femininos tradicionais de gerência doméstica; no entanto, o

querer participar no espaço da intelectualidade a diferenciava das demais mulheres de seu grupo social.

A reportagem desviou seu olhar para este fato, preferindo enquadrá-la dentro de uma representação aceitável de mulher idosa no contexto da década de 1950, os chamados anos dourados que foram estudados por Carla Pinsky (2014) a partir de periódicos, entre eles O Cruzeiro. Na matéria da revista não é dado maior destaque ao feito da publicação do Oiteiro, que é meramente mencionado. A tônica da reportagem está em afirmar que os efeitos da velhice sobre o seu corpo não lhe pesavam, citando inclusive o fato de ela não ter uma perna, o que fisicamente a limitava numa cadeira de rodas, mas, por outra via, seu espírito mostrava- se tranquilo, pois mesmo com tantas dificuldades ela aceitava confortavelmente aquilo que o destino havia lhe reservado.

Tal como observou Alda Britto da Motta, a esperança de vida para as mulheres da década de 1950 se concentrava em torno dos 50 anos. Aquelas que ultrapassavam essa idade eram vistas como socialmente mortas, uma vez que já não tinham tanto vigor para exercer as funções que outrora exerciam, limitavam-se à convivência no seio da família “consideradas „velhas‟ e, frequentemente, viúvas ou „solteironas‟, não eram objetos de atenção no terreno da sociabilidade” (MOTTA, 2013, p. 92).

Simone de Beauvoir (2018), por sua vez, em seu livro A velhice, publicado originalmente em 1970, observou que essa fase da vida dos indivíduos traz consigo limitações físicas que são próprias do processo de perecimento do corpo ao longo dos anos, acarretando sobre ele uma progressiva degradação, um verdadeiro desgaste, minando sua força de trabalho e sua fertilidade. O corpo velho passa a ser desprezado também em termos sexuais, sobretudo o corpo feminino. A condição de velho, segundo a filósofa, nunca é a mesma em toda a parte, nem em todas as épocas, mas há constantes que igualam a todos, tais como a sua baixa ou nenhuma produtividade em termos econômicos, o que os tornam “descartáveis”, meros refugos em termos sociais. E com isso em mente, afirmou:

A velhice denuncia o fracasso de toda a nossa civilização. É o homem inteiro que é preciso refazer, são todas as relações entre os homens que é preciso recriar se quisermos que a condição do velho seja aceitável. Um homem não deveria chegar ao fim da vida com as mãos vazias e solitário (BEAUVOIR, 2018, p. 563).

Além disso, acrescentou que sua condição nunca depende simplesmente dos fatores biológicos, uma vez que razões de ordem cultural intervêm, ditando uma dada imagem de incapacidade e debilidade além de “[...] regras com relação ao vestuário, uma decência de maneiras e um respeito às aparências” (BEAUVOIR, 2018, p. 230). Foi exatamente essa

ditadura o que o texto da matéria “A criatura e seu destino” da revista O Cruzeiro tentou fixar para os seus leitores e leitoras, utilizando Magdalena Antunes como modelo. Além disso, chama atenção a forma como, já no título da matéria, a escritora é desprestigiada deixando de ser enfatizada como a criadora, que ela de fato era, para ser colocada como criatura, possivelmente, de um destino do qual ninguém estava isento, ou seja, a velhice.

Segundo Alda Britto da Motta (2013), a partir do final da década de 1960 foi inventada a “terceira idade” em países democráticos da Europa, e com ela, a velhice passou a ser ressignificada, inclusive no Brasil, o que desembocaria na efetivação de políticas especificas para idosos a partir dos anos de 1990. Ao longo do século XX, e ganhando mais fôlego ainda no século XXI, foram sendo oferecidos, nesses países, uma gama de serviços aos idosos nas áreas de lazer e de educação. A partir de então, a palavra velho/velha passou a ser reabilitada da interdição legada pela “[...] ânsia da sociedade de consumo em eufemizar a „idade‟ e disfarçar a fobia social a essa etapa da vida” (MOTTA, 2013, p. 96).

Todas essas mudanças contemplaram sobretudo, as mulheres da classe média, aposentadas ou viúvas, detentoras de pensões e livres das demandas familiares: “[...] filhos criados, adultos ou casados; maridos menos exigentes ou envolventes, rotina doméstica consolidada – entram no afã do „agora, afinal pensar em mim‟” (MOTTA, 2013, p. 94). Nesse sentido, a velhice foi se modificando ao longo do século XX e os idosos e as idosas passaram a ter outras experiências; todavia, na época de Magdalena Antunes, ser idoso era estar fadado à dependência familiar e limitado ao espaço privado.

Magdalena Antunes viveu seus anos de velhice em Natal, para onde se muda por volta da década de 1940, estabelecendo morada na Avenida Hermes da Fonseca, n. 700, que ficava próxima da residência do filho Abel Antunes Pereira (MELO, 2018). Possivelmente essa mudança tenha se dado principalmente por motivos de cuidados com a saúde, pois em Natal ela e seu marido, ambos já idosos, estariam muito melhor amparados do que em Ceará-Mirim. Com essa mudança o engenho Oiteiro ficou sob a administração dos filhos, passando por ele Abel e em seguida Ruy, que por sua vez se tornaria não somente administrador, mas também dono do engenho e de toda a propriedade (MELO, 2018). Na casa da Avenida Hermes da Fonseca, a presença da família se fazia de forma bastante assídua, conforme afirmou Paulo de Tarso de Melo (2018).

Foi nesse endereço que Paulo de Tarso, ainda muito jovem, exatamente aos quinze anos, teve a oportunidade de conviver com Magdalena Antunes, testemunhando e fazendo parte de momentos da vida dela junto aos familiares e amigos. Mesmo acometida de trombose e já sem uma perna, segundo ele, nada disso mudaria seu humor e gosto pela vida, pois se

divertia, junto aos entes queridos, com as coisas mais simples e banais do cotidiano. Magdalena Antunes possuía uma verve que o impressionava, “[...] apesar dessa situação de limitação física, ela tinha aquilo que os americanos chamam de gusto pela vida, um gosto pela vida. Um tipo de atitude positiva diante da vida que era um negócio da chamar atenção” (MELO, 2018; grifo do autor). E assim enfatizou:

A família era muito presente na vida dela, ou seja, no sentido de dizer assim. Primeiro que ela morava naquele espaço que hoje é o espaço correspondente ao edifício Antônio Montenegro eu acho, a parte que hoje a entrada do edifício se faz pela Jundiaí, mas a parte da casa de Magdalena era a parte que dava para a Hermes da Fonseca, essa residência dela, que era um beleza, que tinha um jardim onde tinha um pinheiro e era embaixo desse pinheiro onde nós passávamos tardes maravilhosas. Então acontece o seguinte é que essa casa era vizinha à casa de Abel e Áurea, Abel filho dela, Áurea irmã do meu tio afim e que eles tinham essas cinco filhas: Marilene, Gipsy, Suely, Iara e Lúcia Helena, eram cinco filhas. Eles não tinham filhos. Pelo fato da vizinhança, elas eram super presentes e eu fui levado lá por uma das filhas. Então elas eram super presentes. E pessoas outras da família. Eu me lembro muito de uma vez que eu estava visitando ela nessa semana e quem estava fazendo essa visita também era Elenir Varela na época casada com um neto dela, Roberto Varela e é muito interessante essa coisa porque Elenir já era essa figura, socialite etc. e tal e estava-se discutindo o quê? A eleição de Miss Rio Grande do Norte que havia sido Terezinha de Maria Bastos. Magdalena era tão remoçada espiritualmente, tão jovial que ela tomava conhecimento dessas coisas da cidade, desses assuntos da sociedade na cidade e aí se discutia a eleição de Terezinha, a Miss Rio Grande do Norte e etc. Pronto. Eu me lembro disso (MELO, 2018).

Em outro momento, Paulo de Tarso falou mais sobre o quanto Magdalena era espirituosa e divertida:

Eu lembro também, um aspecto vividamente que eu lembro é o seguinte: uma vez passou um filme aqui: Os Barretts da Wimpole Street, era sobre a família Barrett, Elizabeth Barrett, Robert Browning. Era o drama de Elizabeth Barrett e Robert Browning. E esse filme passou no Nordeste e nós estávamos comentando o filme etc. e tal. E ela chegou e disse assim: eu agora vou mostrar para você como é que eu me ponho em pé e ai ela se pôs em pé, entendeu? E aí eu cheguei: Dona Magdalena, para que a senhora precisava desta perna? Ela disse: para ir ao cinema. (Risos). Resultado: nós estávamos discutindo o filme, falando eu e alguém mais sobre o filme, e ela dizendo o quanto gostava de cinema. Aí eu disse assim: Dona Magdalena, para que a senhora precisava dessa perna? Para ir ao cinema, imediatamente. Ela tinha uma verve assim. Uma perspectiva impressionante (MELO, 2018).

Ignês Antunes de Lemos Santos, sobrinha de Magdalena Antunes por parte de Etelvina, em entrevista a mim concedida assim afirmou sobre a tia:

Eu era pequena, mas eu lembro que tia Magdalena era uma pessoa que nos recebia muito bem, escrevia muito bem e isso é o que ela deixou na minha memória. Eu tive pouco contato pelo fato de eu ser bem jovem. As lembranças são bem longínquas. Ela já estava na cadeira de rodas, ela e mamãe conversavam muito. Era muito divertida e espirituosa. Eu não tenho muita recordação de tia Magdalena porque eu era pequena, mas eu lembro dela conversando com minha mãe, com o marido dela, com Darquinha, sua filha. A relação com os irmãos era muito boa, principalmente com minha mãe (SANTOS, 2018).

Em relação às experiências vivenciadas com os irmãos Juvenal Antunes e Ezequiel Antunes, assim afirmou ainda Paulo de Tarso de Melo (2018):

Olhe, uma coisa interessantíssima era ela contar para mim, vamos dizer, anedotas, coisas anedóticas em relação a Juvenal que era uma pessoa que tinha uma série de coisas anedóticas. Por exemplo, eram quatro filhos, era ela, Ezequiel, que era médico, era Juvenal e era Etelvina e então acontece o seguinte: Ezequiel era médico e se tornou um grande médico militar que viveu a maior parte do tempo no Rio de Janeiro e teve uma vez, e Juvenal era impiedoso em relação ao que ele considerava limitação intelectual, e a grande identificação dele era justamente com Magdalena, pelo fato de Magdalena ser aquela pessoa de amplitude intelectual e ele achava Ezequiel mais limitado, era aquele médico militar e etc. e tal e tudo, e um dia Ezequiel passa um telegrama para ele dizendo: comunico agora que tenho quatro galões, isso significava que ele havia tido uma promoção. Né?! Quatro galões na farda. E você sabe qual foi a resposta que ele deu? Aí ele mandou um novo telegrama: parabéns, agora tens um galão em cada pata. (Risos). Ela me contava essas coisas. Tem outra coisa interessante que ele era uma pessoa, Juvenal Antunes, ele tinha uma tendência a ser, tendência muito comum na época, de uma tendência assim meio eugênica etc. e tal, aí uma pessoa chegou, e ela dizia, me lembro da expressão dela: meu filho, você sabe como é o Brasil, o tipo físico do brasileiro é uma coberta de taco, ela usava essa expressão, é uma coberta de taco e aí uma pessoa chega para Juvenal e ele ironizando assim os traços físicos das pessoas e etc. e tal, aí uma pessoa diz assim, mas doutor Ezequiel, o senhor diz isso, mas o doutor Ezequiel tem um tipo diferente do senhor, ele tem um tipo mais chegado, mais amorenado e etc. e tal. Aí disse que ele ficou louco. Quem? Ezequiel? Ezequiel é filho natural de meu pai, resultado, e o pai dele, o José Antunes, era um cidadão exemplar. Era esse tipo de conversa bem humorada que eu me lembro. Ela contando fatos da vida deles (MELO, 2018).

Como visto acima, Magdalena ocupava lugar de centralidade em meio à sua família, inclusive entre os mais jovens, que se faziam presentes em sua casa em Natal. Netos, netas, sobrinhos, sobrinhas e aparentados faziam dela uma referência em suas vidas, ouvindo-a, consultando-a, vendo-a em sua cadeira de rodas, seguir o curso da sua vida com bastante humor. Isso é interessante e me leva a pensar nos lugares que muitos idosos estão ocupando nas sociedades modernas. Alguns são abandonados em asilos, enquanto outros estão sendo violentados pelos próprios familiares, sobretudo por netos que os olham com desprezo, certamente pensando: eles não têm nada o que contribuir comigo, suas vidas não me interessam – pensamento que se alinha com as discussões feitas por Simone de Beauvoir (2018) no livro A velhice.

Provavelmente a fotografia que pode ser vista logo abaixo, de Magdalena Antunes com sua neta Lúcia Helena Pereira, filha de Abel e Áurea, e datada de 1955, seja um indício dessa convivência tão aquecida dela com a família, a qual a cercava de atenção e cuidados, conforme afirmaram o acadêmico Paulo de Tarso de Melo e a sobrinha Ignês Antunes de Lemos Santos, meus interlocutores.

FIGURA 14 – Magdalena Antunes e Lúcia Helena Pereira em 1955

FONTE: Divulgadora Lítero-Cultural (2010)38.

Além do Oiteiro, a escritora almejava escrever um livro sobre o irmão Juvenal Antunes, a quem muito estimava; todavia, ela não teve tempo para colocar em prática tal projeto, haja vista as complicações do seu problema de saúde terem se agravado e a levado a óbito no dia 11 de junho de 1959, sendo sepultada no cemitério do Alecrim, no túmulo de Ruy Antunes Pereira, filho dela (MELO, 2018).

Segundo Paulo de Tarso de Melo (2018), após a amputação da perna direita, entre os anos de 1957 e 1958, devido ao agravamento de uma trombose, Magdalena Antunes começou a viver uma vida normal, dentro de suas limitações de pessoa amputada, e cuja fisionomia pode ser contemplada na primeira figura deste capítulo. E viveu bem, em certo sentido, até o momento em que teve um problema cardiorrespiratório, falecendo subitamente. Sua morte foi lamentada não somente pelos familiares, mas pelos amigos e admiradores (MELO, 2018).

Em alusão à morte da escritora, Câmara Cascudo publicou uma nota de pesar intitulada Réquiem por Magdalena Antunes, no dia 12 de junho de 1959 na coluna “Acta Diurna”, seção esta que manteve durante anos no Jornal A República, órgão noticioso oficial do estado do Rio Grande do Norte, conforme já expliquei anteriormente. Anos depois, a