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Como era esperado para uma moça da aristocracia rural do Nordeste de sua época, Magdalena Antunes também se casou e constituiu uma numerosa família, e para isso foi devidamente preparada com os ensinamentos do colégio. É importante frisar que a atuação na escrita pública, seja na imprensa (nos anos de juventude), seja na literatura (nos anos de maturidade), aconteceram concomitantes à sua vida de esposa, mãe e dona de casa. Nesse sentido, para se constituir enquanto escritora, Magdalena Antunes não se furtou das funções sociais atribuídas às mulheres de seu tempo.

Outra coisa que também é importante enfatizar é que muito pouco foi falado sobre a vida matrimonial de Magdalena Antunes. Nos trabalhos que consultei e que trouxeram como ponto de discussão a vida da escritora, entre eles os de Gercleide Nascimento (2015) e Suzete Silva (2013), poucas são as linhas que dão realce a esse momento de sua vida, apenas meras menções e muito breves. Neles faltam detalhes importantes, tais como informações sobre a sua rotina doméstica e convivência familiar.

Acredito que essa ausência de informações se deu certamente porque os estudiosos que deram ênfase à sua vida não viram esses dados como sendo relevantes em relação à biografia de Magdalena Antunes, preferindo ampliar a discussão em outros pontos. Ou ainda,

a impossibilidade de obtenção de tais dados pode ter acontecido devido a diferentes fatores, entre eles a não adesão da família da biografada ao trabalho do pesquisador, tal como colocou Suzete Silva (2013), o que lamentavelmente interfere de forma negativa no aprofundamento da pesquisa e, consequentemente, do conhecimento de uma forma mais ampla.

Algumas informações ligadas à vida privada de Magdalena Antunes, bem como sobre seus anos de maturidade, eu tinha a intenção de buscar com sua neta, a também escritora e poeta Lúcia Helena Pereira que, de forma muito sensível e engajada, havia se prontificado em colaborar comigo. Todavia, antes que pudesse me conceder qualquer entrevista, Lúcia Helena veio a falecer, lamentavelmente. Com a morte da escritora, que estava alçada à condição de importante interlocutora, passei a ser acometido, tal como tantos outros pesquisadores que se dedicam a pesquisar sobre a vida de pessoas e grupos, dos “imponderáveis da vida real”, tal como discutiu o antropólogo Bronislaw Malinowski (1978).

Para o antropólogo, ao se fazer pesquisa com pessoas, os fenômenos comuns e da ordem do corriqueiro podem interferir, uma vez que “[...] não há um código de leis escrito ou explicitamente expresso”, e “[...] toda a estrutura de uma sociedade encontra-se incorporada no mais evasivo de todos os materiais: o ser humano” (MALINOWSKI, 1978, p. 48). Em outras palavras, o pesquisador que se dedica ao estudo de grupos humanos e que para tal se embasa na fala de indivíduos está sujeito a certas situações práticas e incertas da própria vida, que o levam a enfrentar dificuldades que podem imperar mudando completamente o rumo da sua pesquisa. A morte de interlocutores ao longo do processo é um desses eventos.

A morte de Lúcia Helena ocorreu no dia 11 de julho de 2016. A autora foi vítima de complicações advindas de problemas renais. Somado ao agravamento desse problema de saúde, Lúcia Helena ainda sofreu um infarto fulminante, vindo consequentemente a óbito. Contudo, sua fala sobre a avó está presente neste trabalho através dos textos que publicou em diversos blogs na internet. A partir dessas publicações, foi possível extrair algumas informações significativas que me ajudaram a compor esta narrativa sobre Magdalena Antunes. Além do que foi publicado por Lúcia Helena, também utilizei textos de outras autorias, de igual relevância, que também foram publicados em blogs, locais onde também encontrei fotografias da parentela de Magdalena Antunes, conforme pode ser visualizado ao longo desta tese25

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No desenvolver da pesquisa, tive a oportunidade de conhecer o escritor Paulo de Tarso Correia de Melo, o qual atualmente é membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e

25 Entre os blogs eletrônicos que consultei, cito: letrasecanaviais.blogspot.com.br, aclablog.blogspot.com.br, ihgrn.blogspot.com.br e gibsonmachadocm.blogspot.com.br.

da Academia Cearamirinense de Letras e Artes. De forma bastante entusiasmada, Paulo de Tarso me concedeu uma entrevista, na qual me falou sobre os anos de velhice de Magdalena Antunes, com quem teve a oportunidade de conviver no momento em que ele era adolescente. Em maio de 2018, quando então tinha 74 anos, o acadêmico contou-me alguns detalhes da vida pessoal de Magdalena Antunes, cuja casa, na Avenida Hermes da Fonseca, em Natal, tinha o hábito de frequentar semanalmente, devido à admiração que ele dispensava à mulher e com quem possuía uma ligação familiar e de amizade. O escritor confidenciou que desde os quinze anos nutria interesse por literatura, e foi justamente por causa disso que se aproximou de Magdalena Antunes, que passou a discutir com o adolescente, na varanda de sua casa, sobre livros e autores, colaborando assim para a sua formação enquanto leitor e consequentemente enquanto intelectual.

Outro depoimento de suma relevância que tive a oportunidade de colher foi o de Ignês Antunes de Lemos Santos, sobrinha de Magdalena Antunes por parte de Etelvina Antunes, cujo acesso me foi facilitado graças aos préstimos do escritor Antônio Stélio. Em uma divertida conversa na área de sua casa em junho de 2018, Ignês, então com 90 anos, falou-me sobre a convivência que teve com a tia idosa e já amputada devido o agravamento da trombose, doença de que Magdalena Antunes era acometida. A originalidade de seu depoimento se dá principalmente pelo fato de ela ser um dos últimos remanescentes vivos do tronco Antunes e que se liga diretamente a Magdalena Antunes por isso.

Magdalena Antunes casou-se com Olympio Varella Pereira, senhor de engenho na cidade de Ceará-Mirim, passando a adotar civilmente o sobrenome Pereira, oriundo da família de seu marido. A partir de então, ela passou a assinar Maria Magdalena Antunes Pereira (PEREIRA, 2008). Olympio era irmão de Fausto Varella Pereira que, por sua vez, era casado com Beatriz de Oliveira Pereira, sendo estes pais do escritor Nilo Pereira, cearamirinense, mas que se radicou em Recife. A mãe de Nilo era neta de Manuel Varella do Nascimento, o barão de Ceará-Mirim (PEREIRA, 1982). Ou seja, o cunhado Fausto era pai do escritor Nilo Pereira e a esposa de Fausto era neta do barão de Ceará-Mirim e por tal motivo os escritos de Nilo Pereira são também importantes.

Michelle Perrot (2015) salienta que o fato de as mulheres perderem seu sobrenome ao adotar o sobrenome da família do marido também é um fator prejudicial para o estudo da história das mulheres. Segundo ela, “[...] o „recuo‟ do casamento, a possibilidade de escolher seu patronímico, tanto quanto aquele que se lega aos filhos” (PERROT, 2015, p. 21), torna bastante difícil, verdadeiramente impossível, como ela reforça, o trabalho futuro dos

demógrafos e genealogistas no momento de reconstruir as linhagens femininas. Ou seja, tal realidade configura-se em um apagamento que dificulta os estudos de trajetórias de mulheres.

Embora Lúcia Helena traga esse dado da origem de seu avô, nada mais falou em seus textos a respeito dele, haja vista que todas as suas atenções se voltam para a querida vó “Lhene”, tal como ela chamava Magdalena (PEREIRA, 2014a). Dessa forma carinhosa de se reportar à sua avó Lúcia Helena fez o registro em vários de seus textos, tanto eletrônicos quanto impressos. Sobre a representação da mulher idosa pelos seus descendentes, nos diz Michelle Perrot (2015):

A morte das mulheres é tão discreta quanto suas vidas. Os testamentos, as despedidas das câmaras mortuárias, põem em cena chefes de família, proprietários, agricultores, empresários ou homens públicos. Os “grandes” enterros sãos os dos homens. [...]. Uma mulher que desaparece não representa muita coisa no espaço público. Mas no coração dos descendentes, é quase sempre a avó, que sobrevive por mais tempo, que é lembrada. Como a testemunha mais antiga, a ternura mais presente (PERROT, 2015, p. 49).

Não encontrei referência à data de casamento de Magdalena Antunes com Olympio Varella Pereira: todavia, a partir de dois indícios, acredito que esse fato aconteceu por volta do ano de 1900 ou 1901. O primeiro deles é a foto que foi feita do casal, a qual é datada do dia 28 de maio de 1900, segundo Machado (2010), e que pode ser visualizada logo abaixo. Penso que, mesmo a fotografia não sendo do casamento, o fato de estarem posando, um ao lado do outro, já sugere que ambos possuíam um elo estreitado naqueles idos.

FIGURA 9 - Magdalena Antunes e Olympio Varella Pereira

FONTE: Machado (2010)26.

Por essa época Magdalena residia em Ceará-Mirim, após ter regressado definitivamente de Recife, em 1896, momento em que já tinha completado 16 anos, estando, inclusive, instruída para o casamento com os ensinamentos do Colégio de São José. Ou seja, Magdalena estava apta para a vida conjugal conforme as expectativas para uma moça da sua classe social naquela época. Outro indício que me serviu para estimar a data do casamento de Magdalena com Olympio Varella Pereira é a data de nascimento do primeiro filho do casal, Ruy Antunes Pereira, em 22 de junho de 1902, segundo Denise Gaspar (1995). Ou seja, levando em consideração a data da fotografia do casal e a data do nascimento do primeiro filho, acredito que Magdalena e Olympio contraíram núpcias de fato entre os anos de 1900 e 1901.

Possivelmente, o casamento tenha ocorrido no mês de maio, tendo em vista a tradição muito antiga de as famílias católicas brasileiras casarem suas filhas nessa época do ano. Esse mês é dedicado à Virgem Maria, no catolicismo, tida como mãe de Jesus. No devocionário católico, o chamado mês mariano é comemorado com a celebração de novenas e missas do dia 1º. até o dia 31, tradição essa que ainda se perpetua, sobretudo nas cidades do interior do Rio Grande do Norte, onde as tradições de doutrinação católica permanecem mais vivas se

26 Imagem disponível em: http://gibsonmachadocm.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html (acesso em: 22 set. 2016).

comparadas aos grandes centros urbanos do litoral. Vale pontuar também que Magdalena Antunes era devota de Nossa Senhora da Conceição que, por sua vez, desde meados do século XIX, já havia sido escolhida para ser padroeira do município de Ceará-Mirim (PEREIRA, 2014b).

Magdalena teria se casado por volta dos vinte anos, fato este atípico para o contexto, uma vez que as moças da aristocracia costumavam casar muito jovens, entre os doze e quinze anos (FREYRE, 1998). Mas vale salientar também que a noção de infância enquanto uma fase de formação física e psicológica do indivíduo é muito recente; ela demorou a ser gestada acompanhado o desenvolvimento de estudos nas áreas da pedagogia, enfermagem, medicina e psicologia. Até mesmo a percepção da criança enquanto um indivíduo que precisa de cuidados especiais e que, por tal motivo, passou a ocupar o centro da família, também foi um processo demorado, o que foi estudado de forma pioneira pelo historiador e medievalista francês Philippe Ariès ainda na década de 1960 (ARIÈS, 1981).

Anos mais tarde, a historiadora Mary Del Priore (2013), ao organizar a coletânea História das crianças no Brasil, demonstrou que as discussões sobre a história da criança também estavam sendo realizadas por pesquisadores e pesquisadoras brasileiras. Sobre o casamento das meninas e moças da elite do Nordeste brasileiro, assim nos diz Gilberto Freyre:

Foi geral, no Brasil, o costume de as mulheres casarem cedo. Aos doze, treze, quatorze anos. Com filha solteira de quinze anos dentro de casa já começavam os pais a se inquietar e a fazer promessas a Santo Antônio ou São João. Antes dos vinte, estava a moça solteirona (FREYRE, 1998, p. 346).

Magdalena já possuía uma idade avançada para o casamento se os moldes descritos por Gilberto Freyre forem levados em consideração. É provável também que o seu casamento tenha sido arranjado pelos pais, como era o costume da época. Os casamentos das moças da elite daquele contexto não eram fruto de sentimentos entre os jovens, mas um negócio articulado por seus pais visando somar fortunas e fortalecer acordos políticos entre as famílias. “Os casamentos arranjados facilitavam a manutenção da linhagem e asseguravam a concentração de terras e demais propriedades nas mãos de poucas pessoas e grupos. Também evitavam que estas se dispersassem ao serem divididas entre os diversos herdeiros” (HAHNER, 2013, p. 48). Esta mesma autora observa que, ao longo do século XIX, houve uma evolução dos costumes sociais no seio das famílias brasileiras. Segundo ela:

[...] no fim do século XIX, poucas mulheres de classe alta pareciam admitir que os pais pudessem arranjar casamentos sem consultar a noiva. Havia então espaço para o amor romântico e o sentimento no matrimônio e as convenções do namoro e do casamento arranjado poderiam misturar-se” (HAHNER, 2013, p. 56).

É importante notar que Magdalena Antunes casou-se com um importante empresário do ramo açucareiro do vale do Ceará-Mirim, cuja família possivelmente já tinha ligações de amizade com os Antunes. As mulheres, ao se casarem, passavam automaticamente da autoridade do pai para a do marido (HAHNER, 2013). O Código Filipino, que foi compilado em Portugal e que vigorou no Brasil até a promulgação do Código Civil de 1916, designava que o marido era o “chefe da casa” e somente após a morte dele é que a mulher ascendia a essa posição27.

Sob a vigência da lei civil do século XIX, as mulheres estavam subalternizadas à figura do marido, em decisões tais como a educação e criação dos filhos, a escolha do local de moradia, entre outras resoluções práticas que afetavam a vida da família. Às mulheres era negado “[...] o direito de comercializar, alienar propriedade móvel por venda ou arrendamento, ou mesmo administrar tal propriedade sem o consentimento do marido” (HAHNER, 2013, p. 50). Só após a morte dos esposos é que as mulheres poderiam assumir os negócios da família, pois esperava-se que elas preservassem os bens familiares.

Segundo Roderick J. Barman (2005), em seu trabalho sobre a princesa Isabel, existiam várias atribuições conferidas a uma mulher casada no contexto do século XIX. Assim ele comenta:

No século XIX, uma mulher casada de classe média ou alta tinha cinco obrigações principais. A primeira e mais importante era servir ao esposo, dando-lhe apoio, afeição, fidelidade e proteção irrestritos. Em segundo lugar, tinha de governar o lar, tornando-lhe a vida confortável. O terceiro dever era desempenhar o papel de mediadora e facilitadora no interior da malha familiar, conciliando os quatro pais e outros parentes mais velhos que ela. Quarto, devia construir um círculo de amigos e conhecidos a fim de empenhar atividades sociais tanto para proclamar o status do marido como para criar uma rede de amizades gratificantes. A última e não menos importante das cinco obrigações da esposa consistia em parir os filhos do esposo (BARMAN, 2005, p. 120-121).

Na passagem do século XIX para o século XX, época em que Magdalena Antunes se casou, houve poucas mudanças para a mulher de elite casada, ou seja, não houve transformações radicais no que concerne às expectativas para as suas ações e obrigações dentro do espaço doméstico (PINSKI, 2014). A partir de 1916, passou a vigorar um novo

27 Pelo fato de a maioria das mulheres da elite serem analfabetas e não possuírem noções de matemática, sobretudo as nordestinas, nesse contexto de mudança de século, muitas não conseguiam levar à frente a administração da fortuna familiar, conforme afirmou Miridan Falci (2013). Elas se viam obrigadas a deixar os bens familiares nas mãos de advogados que, muitas vezes, as enganavam sem nenhuma dificuldade, fazendo com que a fortuna familiar ruísse com o tempo. Por exemplo, o caso da família da escritora potiguar Auta de Souza (1876-1901) que, após a morte do pai (Eloy Castriciano de Souza) e do avô (Francisco de Paula Rodrigues) teve os bens dilapidados e levados a leilão pela má administração do então sócio, que ficou a cargo de cuidar da empresa Paula Eloy & Cia, uma vez que a avó Silvina de Paula Rodrigues, a Dindinha, era completamente analfabeta (FARIAS, 2013; 2018).

Código Civil que, em linhas gerais, reforçava a família como um dos pilares que animava o sistema jurídico guarnecendo ao mesmo tempo o sistema econômico e político do Brasil (PINSKY, 2014).

Embora com o tempo a legislação dessa época comece a ficar mais branda em relação às exigências para a mulher casada, esta lei continuava concedendo à esposa um grau de autonomia muito limitado e, em nenhum momento, a lei rompeu com o modelo tradicional de família, que delimitava através de barreiras bastante rígidas as desigualdades entre os gêneros (PINSKY, 2014). Além disso, esta legislação não concedia a mulher poder algum de decidir questões relativas ao patrimônio familiar e aos filhos.

Conforme a historiadora Carla Pinsky (2014) atesta, o Código Civil de 1916 vigorou até 1962. Quanto ao Estatuto da Mulher Casada, este reconhece a mulher como “companheira consorte”, podendo colaborar com o esposo no orçamento da família; todavia, reafirmava que o homem continuava a ser o chefe da casa e principal provedor. Foi obedecendo a essas normas de gênero que Magdalena Antunes viveu, foi esposa e teve filhos. Abaixo é possível observar a árvore genealógica da família Antunes Pereira.

FIGURA 10 - Árvore genealógica da família após o casamento da escritora

FONTE: Elaboração do autor com base em Pereira (2008; 2011a), Machado (2010), Gaspar (apud MACHADO, 2013) e Gaspar (1995).

Do enlace matrimonial com Olympio Varella Pereira, nasceram os cinco filhos. A seguir, apresento uma fotografia da família, cuja data de produção também é desconhecida, mas que possivelmente seja da década de 1910, década essa em que as crianças já estavam crescidas, pois nasceram logo após o casamento de seus pais, por volta do ano 1900, tendo

1902 - 1995 Ruy Antunes Pereira 93 ? - ? Olympio Varella Pereira 1880 - 1959 Maria Magdalena Antunes de Oliveira 79 ? - ? Abel Antunes Pereira 1906 - 1990 Maria Antonieta Pereira 84 ? - ? Vicente Ignácio Pereira ? - ? Joana D'arc Pereira

seu primeiro filho Ruy Antunes Pereira nascido em 1902 e a terceira, Maria Antonieta Pereira, nascida em 1906.

O hábito de fotografar teve início entre os brasileiros ainda no Segundo Império, momento em que houve uma grande migração de fotógrafos europeus para o Brasil. Esse costume foi bastante influenciado e valorizado pelo imperador Dom Pedro II, que facilitou a vinda desses profissionais para o país (MAUAD, 1997). Alguns eram especializados na arte da fotografia, executando com propriedade seu trabalho e atendendo a população em estúdios devidamente organizados e equipados com o que havia de mais moderno na época. “Além da família imperial, a clientela dos estúdios era formada pela classe senhorial agrária e pela população urbana, enriquecida pelo comércio e serviços prestados à burocracia imperial” (MAUAD, 1997, p. 198).

As pessoas que se deixavam retratar procuram ostentar modos que fossem socialmente aprovados, mas que acima de tudo retratassem boas maneiras, de forma que os distinguisse dos demais membros da sociedade. Uma demanda de status. O fotógrafo, quando exercia sua função no seu próprio estúdio, ordenava a cena toda, complementada com mobiliário, como cadeiras, mesas, piano de cauda, cortinas, colunas e objetos que denotavam status social para os fotografados. Outros objetos ainda eram adicionados às cenas montadas para as fotografias, como leques, sombrinhas e livros para as moças, cartolas e bengalas para rapazes. A vestimenta também era outro ponto importante, pois a partir dela era possível visualizar os sinais da prosperidade e da fortuna dos indivíduos fotografados ou, pelo menos, a imagem que se queria construir de uma pretensa ascensão.

FIGURA 11 - Magdalena Antunes e Olympio Varella Pereira com os cinco filhos

FONTE: Gaspar (1995).

Não tenho informações se a fotografia acima foi feita em estúdio; no entanto, existe uma paisagem por traz da família, cuja composição é bem semelhante aos cenários reproduzidos pelos estúdios. É possível ver folhagens, uma parede estampada e possivelmente janelas. Todavia, mesmo que a fotografia não tenha sido produzida em estúdio, aqui também se percebe uma preocupação em passar uma imagem positiva ao expectador, haja vista que todos estão bem trajados, devidamente calçados e em posição solene. Da esquerda para a direita: Maria Antonieta, Olympio Varella Pereira (pai), Ruy Antunes Pereira, Joana d‟Arc Pereira, Maria Magdalena Antunes Pereira (mãe), Abel Antunes Pereira, e Vicente Ignácio Pereira (GASPAR, 1995).

A posição dos fotografados nas fotos de família, naquela época, dizia muito sobre o lugar social que cada um ocupava na estrutura familiar e na sociedade. A figura do pai deveria