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Ao contrário do que eu imaginava quando comecei a pesquisa, Magdalena Antunes não escreveu o Oiteiro em seus últimos anos de vida, tal como é típico dos trabalhos memorialísticos e autobiográficos, cujos autores na velhice olham para os anos de juventude e se dedicam a escrever sobre a sua própria vida, fazendo uma espécie de balanço de suas existências. Segundo Nilo Pereira (1982) em sua memorialística Rosa verde, desde a década de 1920, momento em que Magdalena Antunes chegava aos seus 40 anos de idade, que a memorialista vinha se dedicando à escrita do Oiteiro.

Segundo Gercleide Nascimento (2015), nas narrativas da obra, se misturam elementos de memória, autobiografia e ficção. Não é meu objetivo fazer um desenho minucioso desses traços na literatura escrita por Magdalena Antunes; afinal, a acadêmica referenciada acima já fez esse exercício com muito esmero em sua pesquisa de mestrado em literatura comparada.

Reconhecendo a importância dessas categorias, reafirmo a relevância da pesquisa acima para quem quiser aprofundar os estudos nessas questões. Nesta tese preferi trabalhar com a noção de escrita de si, tal como pensada por Ângela de Castro Gomes (2004). Para a historiadora, as narrativas de si compreendem as memórias, as autobiografias, entrevistas, diários, correspondências, entre outros textos que permitem ao leitor a observação da subjetividade do sujeito que escreve. Nesse sentido, Oiteiro se insere dentro da categoria de narrativas do eu.

Retomando a discussão de que Magdalena Antunes escreveu sua memorialística nos anos de maturidade, Nilo Pereira, por sua vez, salientou outra coisa importante em relação à feitura dessa escrita. Segundo ele, a autora tinha o hábito de dar festas no sobrado da família em Ceará-Mirim, sobrado este popularmente denominado de “Bahia” em alusão à opulência dos eventos ocorridos nos grandes navios da época e que, segundo se comentava na época, a mesma ostentação se via na casa de Magdalena Antunes nos dias festivos. Em uma dessas festas, Magdalena Antunes aproveitou para ler trechos do seu livro: “No sobrado de D. Magdalena [...]. A escritora leu alguns capítulos do seu livro sobre o Oiteiro [...]” (PEREIRA, 1982, p. 157).

Ou seja, a escrita de Oiteiro não foi feita em segredo, tal como aconteceu com outros textos de autoria feminina. Além disso, Magdalena Antunes tinha o hábito de mostrar os manuscritos de seu texto aos seus amigos mais próximos, entre os quais Câmara Cascudo, que fazia parte do seu ciclo de amizade. Certamente pedia a eles sugestões, orientações e direcionamentos para que a narrativa sobre o seu passado fosse feita de acordo com as devidas formalidades e em conformidade com o que o grupo achava interessante. Sobre isso, Cascudo escreveu para o jornal A República na década de 1940, texto que foi publicado no Oiteiro anos depois:

[...]. Trouxe alguns capítulos e os leu a todos ressuscitando figuras e coisas, com uma força serena de naturalidade, com uma emoção esparsa e poderosa, com uma simplicidade tão espontânea e ágil na cor, no movimento e no som que me lembrou Jane Austen. Durante o tempo em que sua voz evocou a paisagem que acercava, várias vezes senti o arrepio emocional, a alegria de rever nessa senhora tão afeita aos trabalhos de sua casa e estirpe, a magia de recompor e de reerguer do fundo da morte seres desaparecidos, fazendo-os repetir o ciclo vital na sucessão dos trabalhos e dos dias [...] (CASCUDO, 2003, p. 19-20).

Em carta datada de 16 de julho de 1947, em que Nilo escreveu a Magdalena e que também foi publicada no Oiteiro, é possível perceber alguns fios dessa rede de amizade e, acima de tudo, de solidariedade e estímulo, que unia os dois escritores em relação ao texto que a escritora finalizara:

Tia Magdalena. Pelo Cascudo, que passou dois dias comigo, dois dias de convivência esplêndida como a que ele sabe oferecer por estes ásperos tempos em que já nem se sabe onde acaba a amizade e onde começa o egoísmo, soube que está pronto o seu romance e que não tardará muito em entrar para o prelo. Creia que essa notícia me encheu da maior alegria. E tão contente fiquei que logo decidi escrever- lhe, no que concordou Cascudo, entusiasmado com seu romance louvando-o e enaltecendo-o cada momento e insistindo para que eu lhe levasse essa palavra de convicção e de fé na realização dessa obra erguida pelo coração e pela inteligência. É o que estou fazendo na certeza de que, assim, também participo do seu livro, sentindo nele a palpitação de velhos temas sentimentais da nossa terra e da nossa gente. Em linhas gerais disse-me o Cascudo o que é o seu romance. É o romance do ciclo da cana de açúcar, da paisagem rural dos engenhos, com as suas casas grandes, as suas sinhás-donas, as suas mucamas, todo um drama que nos é familiar porque é

justamente nele que temos mergulhadas as nossas raízes emocionais (PEREIRA, 2003, p. 23-24).

Associando as falas acima, de autoria de Nilo Pereira e Cascudo, observa-se que Magdalena Antunes levou por volta de vinte anos para escrever Oiteiro. Foi exatamente em 1947, data em que a carta de Nilo foi endereçada para a tia, que a memorialista colocou um ponto final na sua escrita autobiográfica, a qual era conhecida em detalhes por Câmara Cascudo, conforme sugere a carta dele a ela.

Nilo, por sua vez, se mostra entusiasmado com o resultado alcançado e reivindica para si um lugar de partícipe no projeto da tia, ao estimulá-la a dar continuidade ao projeto de torná-lo público, sobretudo porque o texto escrito dava realce ao seu próprio passado, fortemente ligado ao mundo dos engenhos de açúcar em Ceará-Mirim. Na mesma carta Nilo ainda enfatizou:

Temos esse dever para com a velha terra: reconstituir-lhe o perfil histórico, a fisionomia aristocrática, a tradição rural. [...]. Segundo me diz Cascudo, seu romance é a vida do engenho, do seu engenho. Tanto basta para ser a vida do vale, do fecundo e misterioso vale, onde mergulhamos as nossas raízes. [...]. Não quero terminar sem lhe dizer, sinceramente, que não deixe de publicar o seu livro. Cascudo me disse que é uma obra digna dos melhores aplausos; e nenhum julgamento maior do que o dele. Seria um erro abandonar ao silêncio um trabalho de tamanha emoção. Além disso, a civilização rural de Ceará-Mirim ainda não teve o seu cronista: e precisa ter (PEREIRA, 2003, p. 23-24).

Em sua carta, Nilo Pereira conclamou a tia para a missão de juntos fazerem uma espécie de desenho do Ceará-Mirim, reconstituindo assim a história e a fisionomia da aristocracia rural local, grupo no qual estavam fincadas as raízes de ambos. As vivências de Magdalena Antunes, registradas através da escrita literária, serviriam assim nas falas de Nilo Pereira como uma espécie de retrato, através do qual se enxergariam todas as demais relações vivenciadas ao longo de todo o vale açucareiro do Ceará-Mirim. Por tal motivo, era imprescindível que o Oiteiro fosse publicado, pois até então não havia qualquer texto que fizesse a conexão de Ceará-Mirim ao mundo dos engenhos que por esses idos se esvaia. O livro de Magdalena Antunes foi então o primeiro a pensar Ceará-Mirim dentro de um tipo de literatura que misturava o memorialismo e o desejo de, em certa medida saudosista, salvar da destruição um passado que vinha se perdendo.

Esse grupo se desenvolveu nas primeiras décadas do século XX, tendo como expoente o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, cujos trabalhos foram inspiradores para tantos outros autores, incluindo Nilo Pereira, com quem nutria uma relação de amizade. Todavia, só no ano seguinte à publicação do Oiteiro é que Nilo publicaria o livro Evocação do Ceará-

Mirim, em 1959 e, em 1969, Imagens do Ceará-Mirim, que seguiam essa mesma linha. Segundo o professor Raimundo Arrais:

Igualmente, um e outro são animados pelo entusiasmo de um evento mobilizador em Ceará-Mirim: as comemorações em torno do centenário de elevação de Ceará-Mirim a Vila, ocorridas no dia 30 de julho de 1958 com sessão solene na prefeitura da cidade (onde fizeram uso da palavra Nilo Pereira e outros), com festa, palanque e discurso de Câmara Cascudo na praça da matriz. Se Evocação tomou forma de livro inspirado nas comemorações que se aproximava, Imagens carregava, em boa medida, os ecos dessa comemoração [...] (ARRAIS, 2015, p. 7 ).

É possível que o Oiteiro também tenha sido incluído dentro dessas comemorações do centenário de Ceará-Mirim enquanto obra fundante, haja vista que veio a público exatamente no ano em que a cidade festava seu aniversário. Todavia, não encontrei alusão nem registros mais claros sobre esta participação. Nilo Pereira sinalizou algo nesse sentido, mas não dá maiores detalhes. Assim ele escreveu em seu Imagens do Ceará-Mirim:

Quase à véspera do centenário do Ceará-Mirim, e como a dar-lhe uma de suas melhores contribuições, Madalena Antunes Pereira publica o seu livro Oiteiro – Memórias de uma sinhá-moça. [...]. No dia seguinte, depois dessa bênção, estava eu no Ceará-Mirim para as festas do centenário, que reuniam todas as classes sociais, cujo destino, há um século, havia sido traçado (PEREIRA, 2015, p. 131).

O acadêmico Paulo de Tarso de Melo, em resposta a essa minha questão, se de fato o Oiteiro havia sido publicado como parte das comemorações do centenário de Ceará-Mirim, afirmou o seguinte:

Tenho a impressão que sim, mas eu não posso dizer com certeza. Mas eu tenho a impressão que sim, apesar que me lembro, eu era bem jovem no centenário. No centenário existia uma questão, um quiprocó político, quiprocó político este que envolvia a prefeitura que era exercida por Edgar Varela e alguns próceres da cidade, entre eles o vigário da cidade. Mas eu tenho a impressão que mesmo assim, o livro foi valorizado (MELO, 2018).

Mas o fato é que só depois de Oiteiro é que apareceram os livros de outros autores cearamirinenses, tais como Francisco Montenegro e seu livro Itinerário sentimental do Ceará-Mirim, de 1965, e outros, tais como os de Nilo Pereira, que refletiram sobre o Ceará- Mirim e sua relação com o passado rural e aristocrático, a partir do viés memorialístico e saudosista. Até mesmo no livro de Cascudo, Sociologia do açúcar, o autor discute as consequências sociais inseridas pela monocultura, fazendo referências à cidade enquanto polo açucareiro e as tradições advindas dele. Sendo posterior ao Oiteiro, publicado em 1971, nele Magdalena Antunes é descrita enquanto a “[...] última, derradeira sobrevivente da aristocracia rural do Ceará-Mirim [...]” (CASCUDO, 1971, p. 475).

Mesmo contando com o apoio de Nilo Pereira, de Cascudo e também da escritora Palmyra Wanderley, Magdalena Antunes só veio publicar sua obra de memórias em 1958, ou

seja, 11 anos depois de ter sido finalizada, o que lança uma questão: por que a escritora aguardou tanto tempo para publicar seu texto? Segundo Paulo de Tarso de Melo, pode-se pensar em duas situações que me parecem plausíveis: os receios pessoais podem ter interferido nesse atraso, segundo ele, mas também as dificuldades em relação à editoração, naqueles idos no Rio Grande do Norte quando não havia editoras. Até mesmo o fato de não haver recursos técnicos, tais como o computador, interferia, pois que o Oiteiro foi escrito primeiramente todo à mão, segundo Pereira (2014a).

O escritor local que intencionasse publicar um livro deveria procurar os grandes centros do país, tais como Recife e Rio de Janeiro, onde se encontravam as editoras mais prestigiadas (MELO, 2018). Assim nos relatou o acadêmico:

Na época dela era uma novela, uma tourada você publicar um livro. Para começar não existia computador. Além disso, outra coisa: a indústria editorial no Rio Grande do Norte nem pensar. Para você publicar um livro, você tinha que publicar numa editora no Rio de Janeiro que tivesse condições de querer publicar. No sentido de se interessar em publicar você quase fazendo uma edição de autor e quem fazia isso na época era a Editora Pongetti, a primeira edição do Oiteiro é da Pongetti. Porque a Pongetti fazia isso com várias pessoas no Brasil e no Rio Grande do Norte. Existiam vários livros editados pela Pongetti porque ela era uma editora que considerava esse nicho, ou seja, praticamente edições de autor que era uma edição financiada pelo autor ou por sua família. E então havia o seguinte: é que havia essa dificuldade, vamos dizer editorial etc. e tal. Então, talvez isso explique, além da inibição natural do escritor, explique a coisa (MELO, 2018).

Por outra via, não é de se descartar a possibilidade de ter havido algum impedimento por parte do marido de Magdalena, Olympio Pereira, no sentido de proibir a publicação do livro da esposa. Conforme salientou Ignês Antunes Lemos Santos, ele tinha um temperamento mais retraído, “[...] bem na dele; acho que ele também não gostava que ela se realçasse” (SANTOS, 2018). Olympio veio a óbito no final da década de 1950, conforme afirmou Paulo de Tarso de Melo (2018), pouco tempo antes de Oiteiro ter sido publicado.

É importante destacar que essa interdição, caso ela tenha ocorrido, pode ter sido feita de forma explícita ou de forma implícita. No que se refere à segunda, a falta de estímulo, a falta de incentivo e a presença de comentários de forma a denegrir a vontade pessoal da autora já seriam algo bem considerável diante da autoridade que o marido exercia sobre a esposa naqueles idos. Vale pontuar que o poder do esposo sobre a família e sobre sua esposa era algo inquestionável, dada a cultura de moldes patriarcais que ainda predominava, mesmo em meados do século XX, o que era respaldado pelo Código Civil de 1916 que vigorou até 1962 (PINSKY, 2014).

Essa realidade não parece tão improvável, haja vista que Etelvina Antunes, irmã de Magdalena Antunes, que também escrevia, teve sua obra literária impedida de ser publicada

pelo esposo, Vicente de Lemos Filho. O volume de poemas intitulado Violetas, de autoria dela, aguardou anos para vir a público, obra esta que foi publicada recentemente, em 2016, pela editora Azymuth, graças à iniciativa de sua filha, Ignês Antunes de Lemos Santos, que falou sobre o caso:

Muito engraçado isso que aconteceu. Meu pai não queria que publicasse nada de mamãe, não queria que mamãe se realçasse, ele era muito ciumento. Um juiz, desembargador, muito sério. Quando apareceu a primeira pessoa querendo publicar o livro de mamãe, foi um cliente meu que morava em São Paulo, Ciro Tavares, que já faleceu. Ele veio aqui e disse: Ignês, eu queria pedir uma coisa a você, somos amigos, seu cliente, meu pai era médico, foi quem lhe operou: eu queria licença para publicar o livro de Etelvina. Eu respondi: meu filho, papai nunca quis e eu já fiz de tudo para publicar, mas mamãe não queria, papai não queria, mas eu vou pensar e lhe digo se vou deixar. Passou-se, passou-se, apareceu outra pessoa querendo publicar o livro. Aí eu me disse: eu vou publicar o livro de mamãe. Mesmo se em duas vezes ele não quis. Ninguém sabe o porquê. Morreu, não disse. Gostei de ver o livro de mamãe publicado (SANTOS, 2018).

Mas é claro, em relação ao Oiteiro, tudo isso são conjecturas que fazem parte do trabalho de todo pesquisador ou pesquisadora que se debruça sobre a trajetória de escritoras do passado e, como tais, precisam lidar com “[...] as dificuldades interpostas à pesquisa de textos de autoria feminina, especialmente os mais antigos” (DUARTE, 2009, p. 11). Além das dificuldades próprias da má conservação dos arquivos públicos brasileiros, que não preservam a memória literária de autoria feminina, ainda existem outros fatores que operam destruindo os arquivos de mulheres antes mesmo que eles sejam construídos, entre eles a censura e a repressão. Talvez isso também explique a demora na publicação do Oiteiro. Assim Constância Duarte acentuou:

Pulsões de morte jogam o arquivo na amnésia, na aniquilação da memória, na erradicação da verdade. Não foram poucos os poemas de Auta de Souza que seus irmãos alteraram, antes de enviá-los para a publicação. Também não foram poucas as obras de escritoras queimadas e destruídas por filhos e maridos ciumentos de seus talentos (DUARTE, 2009, p. 15).

A historiadora Michelle Perrot (2015) também falou sobre o processo de destruição dos arquivos de mulheres. Segundo ela, o pudor inculcado ao longo dos anos pelo crivo do olhar dos familiares, impedia que as suas escritas chegassem a público, uma vez que, convencidas de que suas vidas não haviam sido interessantes, no outono de suas existências muitas mulheres destruíram e ainda destroem seus papéis pessoais. “Queimar papéis, na intimidade do quarto, é um gesto clássico da mulher idosa” (PERROT, 2015, p. 22). Ainda segundo ela:

Há poucas autobiografias de mulheres. Por quê? O olhar voltado para si, numa fase de mudança ou no final de uma vida, mais frequente em pessoas públicas que querem fazer o balanço de sua experiência e marcar sua trajetória, é uma atitude

pouco feminina. “Minha vida não é nada”, diz a maioria das mulheres. Para que falar dela? (PERROT, 2015, p. 28).

Mas o fato é que a primeira edição do Oiteiro saiu pela Editora Pongetti, editora esta com sede no Rio de Janeiro e que tinha a premissa de publicar os trabalhos de grande parte dos escritores nordestinos da época (MELO, 2018). Segundo Paulo de Tarso de Melo, ela publicava os trabalhos com o financiamento de seus próprios autores, e por tal motivo é que grande parte dos livros de autoria nordestina daqueles idos foram publicados pela editora Pongetti. O Oiteiro, quando foi publicado pela primeira vez, fazia parte da Coleção “Nísia Floresta”, estando inserido na agremiação literária “Casa Euclides da Cunha”, que tinha como presidente de honra Câmara Cascudo, e Manoel Rodrigues de Melo como secretário, ambos ligados por relações de amizade a Magdalena Antunes.

O Oiteiro foi publicado inicialmente com as seguintes dimensões: 19 cm de altura e 13 cm de largura contando com 241 páginas, cujo texto foi impresso em páginas de papel pólen. O livro de Magdalena Antunes contou ainda com capa ilustrada, mas de cujo desenho se desconhece a autoria, pelo fato de ela não ser assinada nem conter na ficha catalográfica a indicação do artista responsável. Nilo Pereira, em texto publicado na Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, em saudação à tia pelo lançamento do romance, comentou de forma apaixonada sobre os detalhes da capa que, segundo ele, antes mesmo de o leitor adentrar nas memórias de fato, já teria o poder de transportá-lo para a infância vivenciada no cenário dos engenhos. Todavia, mesmo se detendo aos detalhes da capa, que pode ser vista adiante, Nilo não trouxe informações sobre a autoria do desenho.

FIGURA 15 - Edição do Oiteiro (1958)

FONTE: fotografia do autor (2013).

Sobre a capa do Oiteiro, assim Nilo Pereira escreveu:

A edição de OITEIRO, Pongetti, 1958, com as letras verdes do título principal, sugere na côr dessa legenda o mundo encantado do vale do Ceará-Mirim; e a paisagem do canavial, dominada ainda, patriarcalmente, pelo carro de boi que é, no Nordeste, todo um ciclo histórico-sociológico, faz com que, antes de penetrarmos no mistério, dessas memórias nos detenhamos a ver e a ouvir mover-se um cenário de infância ondulando maciamente em reminiscências líricas (PEREIRA, 1959, p. 55).

A escritora Lúcia Helena Pereira, em um de seus textos publicados em blog eletrônico, deixou registrado que, mesmo sendo criança, acompanhou a movimentação dos familiares e amigos em torno de Magdalena Antunes. Lúcia Helena registrou ainda o quão emocionada ficou a avó por ver seu projeto de tantos anos ganhar forma e, acima de tudo, ter sido acolhido por outras pessoas do seu ciclo de amizade, entre os quais os principais intelectuais do Rio Grande do Norte naqueles idos e que eram assíduos na casa da avó em Natal. Veja-se abaixo a imagem fotográfica deles:

FIGURA 16: Galeria de amigos intelectuais

Assim escreveu Lúcia Helena Pereira:

Lembro-me do rebuliço desse livro, nos idos de 1956 a 1958 (os festejos anteriores e posteriores ao seu lançamento). No terraço da velha casa de vovó Madalena, na Hermes da Fonseca, nº 700, entravam e saíam os intelectuais amigos da sinhá-moça: Luís da Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Américo de Oliveira Costa, o