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O impacto da experiência de trabalho nos processos vocacionais de exploração, tomada de decisão e compromisso de carreira

4.3. O impacto da experiência de trabalho na exploração vocacional

4.3.2. Os antecedentes da exploração vocacional

4.3.2.2. Antecedentes contextuais da exploração vocacional

Percorrendo a literatura vocacional podemos constatar que, desde as teorias clássicas (e.g., Krumboltz, 1979; Super, 1963, Super et al., 1996), até aos modelos teóricos mais contemporâneos (e.g., Lent et al., 1994, 1996, 2000; Savickas, 2005;

Vondracek et al., 1986; Young et al., 1996, 2002), sempre se reconheceu a importância das características contextuais no desenvolvimento vocacional7.

No que à exploração vocacional diz respeito, tem vindo a ser salientada a necessidade de se estudar melhor a contribuição dos factores contextuais para a predição da variação no comportamento de exploração vocacional (Blustein, 1997b; Flum & Blustein, 2000; Taveira, 1997; Taveira & Moreno, 2003), ainda que Jordaan (1963) e posteriormente Blustein e Flum (1999) salientem a ideia de que o contexto por si só não conduz à emergência do comportamento exploratório no domínio vocacional. Phillips e Blustein (1994) sublinham a importância da dimensão contextual nas questões da carreira, argumentando que a consideração do contexto altera a natureza do desenvolvimento e muda o significado de conceitos nascidos no âmbito das perspectivas mais normativas do desenvolvimento vocacional, como o de prontidão para a tomada de decisão ou o de maturidade vocacional. Nesta linha de pensamento, uma análise contextualizada da exploração vocacional deve contemplar o efeito de um conjunto alargado de factores familiares, organizacionais, relacionais, políticos, e culturais, na explicação da variação da actividade exploratória (e.g., Blustein, Prezioso & Schultheiss, 1995; Kalakoski & Nurmi, 1998; O’Brein, 1996; Silbereisen et al., 1997). A relevância da dimensão contextual na exploração vocacional também se encontra claramente reflectida na perspectiva apresentada por Blustein, em 1997b, quando este autor refere – “context-rich perspective seeks to attend to relevant historical and cultural factors as well as those factors emerging from one’s educational, vocational, relational, and psychological world that influence the antecedents, process, and outcomes of career exploration” (p. 267). Deste ponto de vista, a exploração vocacional influencia e sofre

7 Em 2009, Patton e McIlveen publicam um artigo no Career Development Quarterly, o qual resulta de uma síntese feita aos contributos apresentados na sessão “Models for the analysis of individual and group needs”, no âmbito do encontro da IAEVG (International Association for Educational and Vocational Guidance) que teve lugar em Pádua, em Setembro de 2007. Neste artigo os autores definem contexto nos seguintes termos: “context can be conceptualized as an abstract dimension extending from local to global; with local contex at the level of the individual person and his or her proximal environment that imbues the individual with a range of influences” (p.327).

influência das facetas relevantes dos contextos, nos quais os indivíduos estão a operar, sejam elas mais distais, como o sistema cultural e político; ou proximais, como a família, a escola e os amigos. Importa, ainda, acrescentar, que esta visão alargada da noção de contexto admite, na linha da abordagem desenvolvimentista-contextualista, a influência que a actividade exploratória tida num determinado sistema, por exemplo na escola, pode ter num outro sistema da estrutura de vida do indivíduo, como, por exemplo, no contexto de formação.

Além dos contributos das teorias da aprendizagem social (e.g., Lent et al., 1994, 1996; Krumboltz, 1979, 1994, 1996; Mitchell & Krumboltz, 1996) e das perspectivas desenvolvimentistas-contextualistas (Vondracek et al., 1986; Young et al., 1996, 2002), muita da base teórica dos estudos que têm procurado esclarecer a influência dos factores contextuais na exploração vocacional resulta da aplicação das teorias relacionais ao domínio vocacional e da carreira (e.g., Blustein & Noumair, 1996; Blustein et al., 1995; Blustein, Schultheiss & Flum, 2004; Flum, 2001; Flum & Blustein, 2000; Schultheiss, 2003), as quais salientam o papel facilitador do suporte social, da vinculação e do apoio emocional, na exploração vocacional.

Os resultados dos estudos empíricos sugerem que relações fortes e seguras com as figuras parentais (Amundson & Penner, 1998; Araújo, 2007, Dietrich & Kracke, 2009; Ketterson & Blustein, 1997; Kracke, 1997, 2002; Kracke & Schmitt-Rodermund, 2001; Ryan, Solberg & Brown, 1996; Schmitt-Rodermund & Vondracek, 1999; Vignoli, Croity-Belz, Chapeland, Fillipis & Garcia, 2005) estão positivamente associadas com a exploração vocacional, com a adaptabilidade na carreira e com o desenvolvimento vocacional, em geral. Nos estudos de Kracke (1997; 2002), os resultados indicam que um estilo parental que denote abertura à experiência,

com a actividade exploratória dos filhos. A investigação de Schmitt-Rodermund e Vondracek (1999), por seu turno, remete para o papel das actividades conjuntas pais- filhos no favorecimento da abertura à experiência e da actividade exploratória dos adolescentes. No trabalho de Vignoli e colaboradores (2005), o efeito do estilo parental e da vinculação aos pais na exploração vocacional variou em função do género. De facto, de acordo com os resultados deste estudo, pode-se afirmar que a vinculação aos pais determina significativamente a frequência e a diversidade da pesquisa de informação efectuada pelas raparigas, não se observando a mesma relação no caso dos rapazes. No que se refere ao estilo parental, os pais mais negligentes surgem associados a menores índices de exploração da informação, sendo que esta relação apenas se observa nas raparigas.

Se quisermos ancorar os resultados deste conjunto de estudos empíricos nas proposições teóricas das abordagens relacionais do desenvolvimento vocacional, os maiores níveis de envolvimento na exploração vocacional advém do sentimento de segurança que os indivíduos experimentam relativamente aos pais ou a outros adultos significativos. Nesta linha de pensamento, estas figuras de vinculação, ou de suporte, constituem como que um porto seguro, a partir do qual o “explorador” se sente capaz de enfrentar a vulnerabilidade que a abertura ao mundo, interno e externo, quase sempre acarreta. Assim, e embora esta relação tenha relevância ao longo de todo o ciclo de vida (e.g., Ryan, Solberg et al., 1996), a vinculação aos adultos significativas é particularmente expressiva no período da adolescência, uma vez que são os ambientes familiares seguros e responsivos aqueles que melhor encorajam a acção individual no âmbito dos processos de escolha, compromisso e implementação de uma determinada opção vocacional (Blustein et al., 1995).

Se nos detivermos sobre o efeito dos pares na exploração vocacional, os resultados dos estudos demonstram que conversar frequentemente com amigos acerca da carreira está significativamente associado com a intensidade da pesquisa de informação (Kracke, 2002), e que o apoio de amigos e colegas contribui para a adaptabilidade na carreira (Kenny & Bledsoe, 2005) e para a exploração vocacional (Gamboa, Vieira & Taveira, 2010), sobretudo na que se orienta para o meio (Felsman & Blustein, 1999). Neste âmbito, importa ainda referir que no estudo de Pereira e Garcia (2007), cerca de trinta por cento dos jovens reconhecem a influência dos amigos nas suas escolhas vocacionais. Este conjunto de resultados é consistente com a literatura relativa ao papel dos pares no desenvolvimento vocacional, sendo de salientar a relevância que, na adolescência, os processos de validação assumem, particularmente em períodos de transição na carreira, quando quase sempre tem lugar uma importante reestruturação do self (Flum, 2001). De acordo com a perspectiva relacional da carreira (e.g., Blustein & Noumair, 1996; Blustein, et al., 1995; Blustein et al., 2004; Flum, 2001), a validação ocorre “when individuals see aspects of themselves that are known by the other” (Flum, 2001, p. 5). Mais precisamente, é nas interacções com os pares que o adolescente torna públicos e actualiza os seus interesses, aspirações, valores e competências, sendo que neste contexto os processos de validação horizontal8 lhe permitem, por um lado, o desenvolvimento do sentimento de pertença ao grupo de amigos e, por outro, a afirmação da sua própria individualidade. Além disso, tendo em conta a incerteza, a confusão, as exigências e o stresse que normalmente estão associados ao processo de exploração, conversar com os amigos sobre as questões de carreira e obter o reconhecimento e o apoio dos mesmos, poderá servir para validar a

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experiência exploratória do indivíduo e, nesse sentido, promover uma mais ampla e complexa integração do self.

Por sua vez, o apoio e acompanhamento dos professores também surgem significativamente associados às expectativas e ao planeamento da carreira (Kenny & Bledsoe, 2005) e à exploração vocacional (Rogers et al., 2008; Cheung & Arnold, 2010). Interpretação semelhante oferece os resultados de um estudo de Kenny, Blustein, Chaves, Grossman e Gallagher (2003). Estes autores, recorrendo a medidas do suporte percebido, concluíram que esta dimensão contextual está associada a um maior envolvimento na vida escolar, à formulação de objectivos de carreira e ao nível de aspirações profissionais dos estudantes. Creed e colaboradores (2009) demonstram, com recurso a procedimentos confirmatórios, que o suporte social percebido prediz a exploração do self. No mesmo sentido surgem os resultados do estudo longitudinal de Hirschi (2009), com uma amostra de 330 alunos do 8º ano de escolaridade, no qual o suporte social surge como um preditor significativo do incremento da actividade exploratória, no decurso do período considerado. Se nos reportarmos a este último conjunto de estudos, podemos sublinhar que as relações de suporte representam um importante recurso relacional no âmbito da exploração vocacional, o qual deve ser acedido pelos indivíduos sempre que precisem de ultrapassar os desafios que surgem nas diversas etapas da vida escolar e profissional. A actividade exploratória parece beneficiar do apoio emocional, do encorajamento, da orientação e da segurança sentida, no âmbito das relações interpessoais de maior proximidade. Neste contexto, a influência dos professores na exploração vocacional pode ser compreendida à luz das perspectivas ecológicas ou contextualistas do desenvolvimento de carreira (e.g., Vondracek et al., 1986; Young et al., 1996, 2002), as quais têm vindo a sublinhar a importância das actividades desenvolvidas nos diferentes contextos de vida, designadamente na família e

no sistema escolar. Além disso, se considerarmos que o desenvolvimento da maior parte dos jovens se faz, hoje em dia, por referência à vida escolar (e.g., Helwig, 2004; Patton & McMahon, 2006), então o apoio do professor surge como um importante preditor da exploração vocacional dos adolescentes. Neste sentido, pensamos ser de todo o interesse que estes profissionais passem a constar no leque dos facilitadores relacionais da actividade exploratória, sempre que a intervenção vocacional é organizada em contexto escolar.

Em síntese, e tendo por base o conjunto de estudos anteriormente referidos, são diversos os atributos individuais e as dimensões do contexto que parecem ter um efeito significativo na exploração vocacional. Consistentes com muitas das proposições teóricas presentes na literatura, os resultados dos estudos empíricos analisados suportam a ideia que a exploração vocacional pode ser favorecida por uma grande diversidade de factores individuais e contextuais. No âmbito dos factores individuais, gostaríamos de destacar as variáveis sócio-cognitivas, como a auto-eficácia, as expectativas e os objectivos (e.g., Lent et al., 1994, 1996, 2002), pelo seu potencial enquanto facilitadoras da exploração vocacional e por se tratar de atributos individuais que respondem à intervenção vocacional. No que se refere aos factores contextuais, importa sublinhar a relevância das relações interpessoais de apoio, orientação e suporte, na predição da actividade exploratória, sobretudo naquela que ocorre nos processos de transição para novos contextos de trabalho ou de aprendizagem. Por conseguinte, o apoio de professores, psicólogos e colegas deve ser um aspecto a considerar, quando se estuda a exploração vocacional de adolescentes em idade escolar (e.g., Schultheiss, 2003, 2007; Schultheiss, Palma & Manzi, 2005), principalmente naqueles que se encontram nos anos mais avançados da escolaridade (e.g., Helwig, 2004).