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O impacto da experiência de trabalho nos processos vocacionais de exploração, tomada de decisão e compromisso de carreira

4.3. O impacto da experiência de trabalho na exploração vocacional

4.3.2. Os antecedentes da exploração vocacional

4.3.2.1. Antecedentes individuais da exploração vocacional

Começando por considerar o efeito dos atributos individuais de natureza sócio- demográfica - como o género, o nível de escolaridade e a idade, na exploração vocacional, a maior parte dos estudos sugerem que são os indivíduos do sexo feminino (Creed, Patton & Hood, 2010; Kracke & Schmitt-Rodermund, 2001; Stumpf & Lockhart, 1987), mais velhos (Blustein & Phillips, 1988; Rogers, Creed & Glendon, 2008; Taveira et al., 1998) e de nível de escolaridade mais elevado (Jepsen & Dickson, 2003; Taveira et al., 1998), que reportam maiores níveis de exploração vocacional. Contudo, apesar desta tendência global, interessa destacar algumas das particularidades encontradas no âmbito das relações estudadas entre os atributos individuais e a exploração vocacional, as quais acabam por sublinhar a relativa complexidade desta relação. Assim, no estudo de Ketterson e Blustein (1997), são de facto os alunos mais

focaliza no self, não se verificando igual tendência quando a pesquisa de informação se orienta para o meio. No estudo de Taveira e colaboradores (1998), os alunos mais velhos apresentam crenças menos favoráveis no âmbito do processo de exploração, sobretudo no que se refere à probabilidade de virem a conseguir emprego na área pretendida e na possibilidade da exploração do meio contribuir para a concretização dos objectivos vocacionais. Ainda neste estudo, o ano de escolaridade apresentou um efeito diferenciador nas crenças relativas à exploração, uma vez que os alunos do 11º ano de escolaridade apresentam valores médios mais elevados na instrumentalidade interna do que os seus colegas do 9.º ano. Tomando agora o efeito da variável género, Taveira e colaboradores (1998) constataram que as raparigas apresentam crenças menos favoráveis, no que se refere ao estatuto do emprego e à certeza dos resultados da exploração; mais favoráveis, no que diz respeito à instrumentalidade do processo de exploração; e níveis mais elevados de exploração do self, no âmbito da dimensão comportamentos de exploração. Os rapazes, pelo seu lado, apresentam maior satisfação com a informação obtida e menos ansiedade perante os processos de exploração e de tomada de decisão. Por último, quanto à intencionalidade da exploração, aqueles autores encontraram uma interacção significativa entre a idade e o ano de escolaridade, a qual se deve ao facto de os valores da intencionalidade decrescerem com a idade, no caso dos alunos do 9º ano, observando-se a tendência inversa, para os colegas do 12º ano. A propósito da idade, convém ainda referir que, no estudo de Rogers e colaboradores (2008), esta variável explica apenas 4 % da variância da exploração vocacional. Assim, relativamente aos atributos sócio-demográficos, a maior parte dos estudos reporta relações significativas com a exploração vocacional, embora nos pareça evidente a necessidade de se continuar a estudar o efeito diferenciador destes atributos individuais nas diferentes dimensões e conteúdos da exploração vocacional.

Como vimos no capítulo anterior, alguns dos modelos teóricos da Psicologia Vocacional, como a abordagem sócio-cognitiva da carreira (e.g., Lent et al., 1994, 1996, 2002), têm vindo a enfatizar a importância dos determinantes pessoais de natureza sócio-cognitiva no desenvolvimento da carreira, principalmente o papel da auto- eficácia, das expectativas de resultado e dos objectivos. De acordo com esta perspectiva, estas três variáveis poderão constituir importantes preditores da actividade exploratória, sendo que alguns dos estudos empíricos por nós consultados sugerem, de facto, relações nesse sentido. Kracke e Schmitt-Rodermund (2001) e Kracke (2002) encontraram uma relação significativa entre auto-eficácia e exploração vocacional, em amostras de estudantes do 9º ano de escolaridade. Blustein (1989), com uma amostra de adolescentes e jovens adultos, encontrou na auto-eficácia para a tomada de decisão o preditor mais robusto da actividade exploratória. No mesmo sentido surgem os resultados das investigações de Gushue e colaboradores (2006) e de Rogers e colaboradores (2008), nas quais os níveis mais elevados de auto-eficácia para a tomada de decisão aparecem associados a um maior envolvimento na actividade exploratória dos alunos do ensino secundário. A relação entre auto-eficácia e comportamento exploratório também encontra suporte no estudo longitudinal de Millar e Shevlin (2003), no qual o comportamento exploratório anterior foi o mais importante determinante da exploração vocacional. Este último resultado encontra suporte no modelo sócio-cognitivo da carreira, segundo o qual uma experiência bem sucedida melhora a auto-eficácia nesse domínio e aumenta a probabilidade de envolvimento numa experiência semelhante. Por seu turno, Nauta (2007), quando recorreu a medidas de auto-eficácia para cada um dos tipos do RIASEC, verificou que apenas a auto- eficácia no domínio Artístico se revelou um preditor significativo da exploração do self. Ainda no âmbito dos determinantes sócio-cognitivos, também as expectativas

1997; Creed, Fallon & Hood, 2009; Rogers et al., 2008; Ochs & Roessler, 2004), assim como as medidas associadas aos objectivos ou planos de carreira (e.g., Blustein, 1989; Kracke & Schmitt-Rodermund, 2001; Rogers et al., 2008). No que se refere às expectativas, entendidas como a crença antecipada relativamente ao resultado de determinado comportamento, este factor surge significativamente associado às intenções de exploração de carreira, denotando o cariz motivacional deste construto. Quanto aos objectivos, a terceira variável sócio-cognitiva (Lent et al., 1994, 1996, 2002), a maior parte dos estudos empíricos por nós consultados operacionaliza-os como os planos, as intenções, as aspirações e também a persistência na realização de uma determinada actividade. Numa investigação de Blustein (1989), já referida anteriormente, a formulação clara e estável de objectivos prediz significativamente a variância da actividade exploratória, quer na que se orientou para o self, quer na que se focalizou no meio. Rogers e colaboradores (2008), num estudo levado a cabo com estudantes do ensino secundário (10º, 11º e 12º anos), concluíram que a posse de um conjunto claro de objectivos de carreira prediz significativamente a variância da exploração vocacional. De igual modo, Creed e colaboradores (2009) confirmaram que os objectivos orientados para a aprendizagem determinam um maior envolvimento na actividade exploratória. Num estudo longitudinal com duas recolhas de dados, intervaladas por seis meses, Kracke e Schmitt-Rodermund (2001) procuraram conhecer o efeito dos planos, assinalados em T1 (primeiro momento), nas mudanças ocorridas na intensidade da actividade exploratória. Os resultados sugerem uma interacção significativa entre a natureza dos planos e a mudança observada na exploração, a qual fica a dever-se ao facto de os alunos que pretendem prosseguir estudos no ensino superior reduzirem a actividade exploratória, enquanto os restantes alunos mantêm os seus níveis de exploração.

Tendo em linha de conta o conjunto de estudos anteriormente apresentados, concluímos que os resultados suportam a proposição de que as variáveis auto-referentes como a auto-eficácia, as expectativas e os objectivos, constituem importantes preditores das variações individuais observadas na exploração vocacional.

Além das variáveis acima referidas, muita da investigação que se debruçou sobre o efeito das diferenças individuais no envolvimento na exploração vocacional incluiu medidas relativas à personalidade (estrutura e funcionamento) e ao funcionamento motivacional. De um modo geral, características individuais que reflectem uma abordagem activa e construtiva às questões da carreira, como a abertura à experiência, a baixa irratibilidade, a iniciativa para o crescimento pessoal, e a capacidade de resolução de problemas, estão associadas a níveis elevados de envolvimento na exploração vocacional (Blustein & Phillips, 1988; Kracke, 2002, Kracke & Schmitt-Rodermund, 2001; Nauta, 2007; Solberg, Good, Fischer, Brown & Nord, 1995). No estudo que conduziram com uma amostra de 205 estudantes universitários, Robitschek e Cook (1999) concluíram que a iniciativa para o crescimento pessoal prediz a exploração do meio, enquanto os estilos de coping (reactivo, reflexivo ou evitante) se relacionam sobretudo com a exploração orientada para o self. Por sua vez, Berman, Schwartz, Kurtines e Berman (2001) verificaram que o estilo sócio-cognitivo adoptado no processamento da informação se relaciona significativamente com a exploração vocacional. Neste caso, o estilo informativo apresenta uma correlação positiva e moderada com a exploração vocacional, enquanto nos estilos normativo e difuso/evitamento a relação é de sinal negativo. Mais recentemente, Rogers e colaboradores (2008) concluíram que dos cinco factores que utilizaram para avaliar a personalidade dos participantes, apenas a extroversão e a conscienciosidade se revelaram preditores da exploração vocacional. Nauta (2007), por sua vez, encontrou

investigação de Luzzo, James e Luna (1996), verifica-se que os alunos que acreditam ter controlo sobre as suas decisões de carreira se envolvem mais na exploração vocacional do que os colegas que crêem que o desenvolvimento de carreira depende de factores externos à sua vontade. São também os indivíduos mais organizados e com uma abordagem mais racional ao processo de tomada de decisão que investem mais frequentemente na exploração vocacional (Blustein & Phillips, 1988). Ainda neste domínio, Blustein (1988) procurou estudar o efeito da orientação motivacional no processo de exploração vocacional, tendo concluído que os indivíduos mais motivados apresentam níveis mais elevados de exploração do self e crenças mais positivas no que se refere à instrumentalidade do processo de tomada de decisão. Também no âmbito das facetas do funcionamento motivacional, Taveira (1997) verificou que os jovens que experienciam algum sentido de urgência face às escolhas vocacionais incrementam a sua actividade exploratória, o que de certa maneira confere suporte às proposições de Jordaan (1963), segundo o qual a expectativa de ter de tomar uma decisão altera o comportamento exploratório. Ainda neste âmbito, Cheung e Arnold (2010) procuraram estudar a associação entre dois tipos de orientação motivacional (motivação para a realização socialmente orientada e motivação para a realização individualmente orientada) e a exploração vocacional. Os resultados encontrados apontam no sentido de uma correlação positiva e significativa entre a motivação para a realização socialmente orientada e a exploração do meio.

Partindo da proposição de que os interesses são uma expressão da personalidade e, nesse sentido, um guia do comportamento vocacional (e.g., Holland, 1997), Nauta (2007) estudou o efeito dos interesses vocacionais na exploração do self, tendo concluído que, com excepção dos interesses Sociais, todos os outros tipos do modelo RIASEC se revelaram preditores significativos daquele construto.

Em termos gerais, os resultados dos estudos que relacionaram as características da personalidade com a exploração vocacional sugerem que são os indivíduos mais sociáveis, organizados, persistentes, com o comportamento orientado por objectivos e com um claro sentido das tarefas vocacionais, que apresentam níveis mais elevados de actividade exploratória.

No cômputo geral, os resultados dos estudos relativos aos factores individuais, permitem concluir que a exploração vocacional está relacionada com atributos pessoais como a idade, o género e o nível de escolaridade, e pode ser facilitada por factores intrapessoais, como a auto-eficácia, as expectativas de resultados e os objectivos. No que se refere a estas variáveis sócio-cognitivas, os resultados são particularmente relevantes e sugerem, na linha das recomendações de Blustein (1992), o desenho de intervenções vocacionais que promovam o sentimento de controlo dos indivíduos sobre as questões de carreira e que desenvolvam as competências relativas à exploração do

self e do meio. No âmbito dos estudos que investigaram o efeito das características de

personalidade e do funcionamento motivacional na exploração vocacional, os resultados apontam para um conjunto de facetas que, grosso modo, reflectem o construto de adaptabilidade de carreira proposto por Savickas (1997, 2002, 2005) e por Savickas e colaboradores (2009), o qual se traduz na capacidade de responder adequada e construtivamente às exigências das tarefas de desenvolvimento vocacional e às, cada vez mais frequentes, transições de carreira.