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O impacto da experiência de trabalho nos processos vocacionais de exploração, tomada de decisão e compromisso de carreira

4.4. O impacto da experiência de trabalho na tomada de decisão de carreira

4.4.1. O construto de tomada de decisão de carreira

Silva (2004a), reportando-se ao construto de decisão de carreira, afirma existirem tantas definições quantos os autores que se têm dedicado a estudar de forma séria e sistemática esta temática. Com efeito, a exemplo do que tem acontecido com outros construtos do âmbito da Psicologia Vocacional, a delimitação conceptual da decisão de carreira (ou da indecisão) não tem sido tarefa fácil, apesar da centralidade que lhe é reconhecida no âmbito do comportamento vocacional (Sauermann, 2005; Silva, 1997; Tinsley, 1992). Segundo Herr e colaboradores (2004), “decisions are the conjunctions between self and the environment. Decisions are public testimonies people make about how they view themselves, and how they view their opportunities and the

not describe all of the hidden meanings of a choice, the factors that shape it, or the hope or despair that attended the particular decision maker” (p. 178). Na perspectiva contida na definição destes autores, as decisões de carreira traduzem a actualização dos compromissos públicos que, ao longo da vida, o indivíduo estabelece entre os seus atributos e as oportunidades que julga existirem no seu contexto social. Além disso, os autores advertem ainda para a complexidade deste processo, quando referem que toda a decisão deriva de múltiplos factores, uns relativos ao self, nem sempre acessíveis, e outros respeitantes à valoração que o decisor faz das alternativas de escolha presentes na estrutura de oportunidades, tendo em vista a selecção daquela que o conduza a uma melhor solução de compromisso com o mundo ocupacional.

Silva (1997), referindo-se à definição de decisão de carreira que Herr e Cramer apresentaram em 1992, que em tudo é idêntica à que acabámos de transcrever, afirma que a posição destes autores remete para o carácter relacional da decisão, uma vez que este processo vocacional parece resultar da transação entre o self (o decisor) e o contexto em que este se insere. Do nosso ponto de vista, esta perspectiva reflecte a adopção de um posicionamento teórico e metodológico particularmente interessante para os estudos empíricos que se apresentam na segunda parte desta tese. Pois como tivemos oportunidade de esclarecer logo na introdução, estudar o impacto das qualidades do estágio curricular nos processos de tomada de decisão está entre os nossos principais objectivos. É neste sentido que uma abordagem relacional ao processo de tomada de decisão nos surge como uma importante infra-estrutura conceptual para a análise da interacção entre as características dos alunos e algumas das dimensões contextuais das suas experiências de aprendizagem em contexto real de trabalho.

Neste contexto, existem igualmente os contributos que a abordagem desenvolvimentista da carreira ofereceu para a edificação do construto de tomada de decisão, nomeadamente através do enfoque que colocou na sua natureza processual

(e.g., Super, 1953, 1980; Super et al., 1996). De facto, à luz destes modelos teóricos, a tomada de decisão está presente em todas as transições, previsíveis ou não, que o indivíduo experimenta ao longo da vida. Neste mesmo sentido, surge a posição de Osipow (1999)10, que reforça a natureza desenvolvimental e construtiva deste construto, quando lembra que ao longo do ciclo de vida são cada vez mais frequentes os acontecimentos que implicam uma revisão das decisões vocacionais já tomadas. Por sua vez, Phillips (1997) expande a amplitude do construto de tomada de decisão, procurando adequá-lo aos novos contextos de desenvolvimento da carreira. Pois de acordo com este autor, é cada vez mais difícil antecipar os pontos de tomada de decisão e organizar de forma sistemática a informação relativa ao mundo ocupacional, a qual, na maior parte das vezes, se encontra dispersa por várias fontes ou agentes. Ao mesmo tempo, assiste-se a uma actualização permanente das preferências dos indivíduos, em resultado das diferentes experiências de vida que estes vão acumulando.

Num artigo de revisão que explora, com grande profundidade, a matriz dos significados contidos na concepção dominante de decisão de carreira, Brêda (2001) refere que “a decisão é frequentemente encarada como actividade do sujeito na sua posição de agente e de centro integrador de percepções de si mesmo e do meio, de dados, de critérios, devendo chegar a uma estruturação unitária da situação, resolver conflitos e superar barreiras externas conduzindo ao compromisso ou identificação com uma certa localização numa estrutura ocupacional ou de oportunidades” (p. 106). Deste ponto de vista, a decisão de carreira envolve, na sua essência, uma deliberação relativa ao futuro escolar e profissional, de carácter normativo, na qual o decisor, no âmbito da

10 Para sublinhar o carácter processual da tomada de decisão (indecisão) ao longo do ciclo de vida, Osipow afirma que: “we have come to see career indecision as a state which comes and goes over time as

sua auto-determinação, faz depender a escolha da valoração pessoal produzida para cada uma das diferentes alternativas consideradas.

No entanto, embora relevantes, as definições que apresentámos até agora carecem de alguma operacionalidade, tal como acontece com a maior parte das propostas surgidas na alçada da literatura vocacional11.

A teoria da tomada de decisão, por seu turno, tem proporcionado um conjunto de modelos (normativos, descritivos e prescritivos) que procuram aumentar o nosso conhecimento no que se refere aos processos envolvidos na tomada de decisão (e.g. Amir & Gati, 2006; Phillips, 1997; Gati & Asher, 2001a; Gati, Krausz & Osipow, 1996), sendo de destacar o contributo dos modelos prescritivos, uma vez que estes parecem incorporar as vantagens dos modelos normativos e descritivos e, ao mesmo tempo, minimizar, ou ultrapassar, as suas desvantagens (Gati & Tal, 2008).

De acordo com Saka e Gati (2007), a teoria da decisão aplica-se a situações que se caracterizam por envolver: a) um indivíduo que tem uma decisão para tomar, b) um conjunto de objectivos que o indivíduo procura concretizar, c) um conjunto de alternativas que podem ser escolhidas, d) um conjunto de atributos que o indivíduo deve ter em consideração quando compara as alternativas, e e) a necessidade de recolher e de processar informação, ainda que sob condições de alguma incerteza. No domínio vocacional, a crescente complexidade que marca os percursos formativos e grande parte dos actuais contextos trabalho, converteu a tomada de decisão, até muito recentemente tida como pontual e previsível, num processo marcado por múltiplas e nem sempre antecipadas decisões. Neste contexto, revestem-se da maior importância os processos de ajuda à tomada de decisão de carreira, pelo que psicólogos e conselheiros devem dispor

11

A este propósito Gati e Asher (2001a) referem que “most of the research and discussions on career decision making have not focused on how career decisions are actually made (i.e., how the information is collected and processed by individual), nor on how they should be made. Rather, they have focused on issues indirectly related to the process of career decision making, such as career indecision and