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Antonio Proost Rodovalho: as ações do fundador

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 43-48)

História da Companhia

1 História da companhia

1.2 Antonio Proost Rodovalho: as ações do fundador

O coronel Antonio Proost Rodovalho12 teve grande participação nas atividades empresariais e políticas de algumas cidades do estado de São Paulo, especialmente em Caieiras. Paulistano, nascido em 27 de janeiro de 1838, desde a infância esteve envolvido com as atividades comerciais. Seu pai, Antonio Joaquim Tavares Rodovalho era proprietário de um armazém de comissão de gêneros do país e do exterior sediado no mesmo endereço domiciliar da família e sua mãe, Henriqueta Proost Rodovalho, descendia de uma tradicional família santista ligada às atividades comissárias.

Aos 12 anos de idade Antonio Proost Rodovalho começou a trabalhar no comércio e aos 25 anos já era proprietário de seu próprio estabelecimento localizado na capital com filiais nas cidades de Santos e Campinas. Suas atividades estavam ligadas à comercialização, por atacado, de açúcar, café e sal, além das operações por comissões, consignações, importações e exportações. Era também acionista das firmas pertencentes a seus irmãos Joaquim Proost Rodovalho, na cidade de São Paulo e João Proost Rodovalho, em Campinas e no almanaque da província de São Paulo, no ano de 1878, aparece como capitalista e proprietário (VICENTINI, 2007).

Em sua pesquisa sobre a trajetória de Rodovalho, Vicentini (2007) aponta as várias referências ao sobrenome Proost nos almanaques da Província de São Paulo para a década de 1880, como a casa de importação Proost de Souza & Cia, em Santos e uma casa de comissão de café em Campinas pertencente à “Viúva Proost de Souza”. A casa era de propriedade de José Proost de Souza, vereador e representante do Banco do Brasil na cidade de Santos. A família ocupou cargos também em bancos. José Proost de Souza atuou no Banco do Brasil, em Santos, mesmo banco no qual Antonio Proost Rodovalho atuou como gerente tesoureiro na cidade de São Paulo. Antonio Affonso Proost de Souza foi subgerente do Banco Comercial, em Santos, onde Antonio Proost Rodovalho ocupou a presidência, na capital.

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Após o apoio ao Exército na Guerra do Paraguai (1865-1870), Rodovalho recebeu o título de coronel (Donato, 1990).

Vicentini (2007) aponta a primeira fase empreendedora do Coronel Rodovalho a partir da década de 1860. Entre estas ações, está a aquisição dos direitos de fornecimento de energia para iluminação e ruas de São Paulo. Diante do empenho do governo provincial e da Câmara Municipal em promover melhorias para a cidade e da falta de recursos financeiros para instalação dos equipamentos necessários para o desenvolvimento urbano de São Paulo tanto da parte do governo quanto dos particulares, Rodovalho viajou para a Inglaterra, que naquele período era exportadora de capitais e tecnologias, e conseguiu atrair o interesse de alguns investidores, que formaram a San Paulo Gas Company Limited, com sede em Londres, da qual detinha um quarto das ações. O bem sucedido investimento deteve o monopólio da iluminação pública a gás para a capital paulista até o final do século XIX, quando foi substituída pela energia elétrica.

Durante a década de 1870, Rodovalho participou da fundação de três das principais companhias de estrada de ferro do estado de São Paulo e com outros investidores13, fundou a Companhia Ituana de Estrada de Ferro, da qual foi diretor na década seguinte. O trecho inicial desta estrada ligava a cidade de Jundiaí à Itu. Posteriormente a linha foi estendida servindo Itaici, Capivari e Piracicaba. Após a inauguração do trecho completo, em 1879, houve um prolongamento até São Pedro e em 1888 a última estação foi inaugurada em São Manoel.

Em 1872, também em sociedade com outros investidores14, Rodovalho fundou a Cia. São Paulo e Rio de Janeiro, que passava pelas cidades do Vale do Paraíba: Mogi das Cruzes, Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá até chegar à cidade de Cachoeira. Os trabalhos para conclusão desta estrada ocorreram em 1877 e, na década de 1880, Rodovalho ocupou a diretoria desta empresa. Ele também estava entre os sócios organizadores15 da Cia. Bragantina em 1877. O objetivo era construir a estrada de ferro da atual cidade de Campo Limpo, passando por Atibaia até chegar a Bragança Paulista. A conclusão destas obras ocorreu em 1884 e para as três companhias foram concedidos privilégios como os de noventa anos para exploração dos serviços.

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O engenheiro responsável pela construção da ferrovia José Elias Pacheco Jordão, Antonio de Queiroz Telles e Antonio Paes de Barros estavam entre os fundadores da Cia. Ituana (VICENTINI, 2007).

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Eram eles: Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo, Clemente Falcão de Souza Filho, Joaquim Egídio de Souza Aranha e membros da família Prado compunham o quadro de fundadores da Cia. São Paulo e Rio de Janeiro (VICENTINI, 2007).

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Entre os organizadores da Cia. Bragantina estavam Luis de Oliveira Lins de Vasconcelos, Clemente Falcão de Souza Filho, Bernardo Avelino Gavião Peixoto e membros da família Dias da Silva (VICENTINI, 2007).

Donato (1990) aponta o ano de 1877 para a construção de dois fornos de barranco para produção de cal na fazenda de Rodovalho. Nesta fazenda, localizada às margens do prolongamento da São Paulo Railway para Jundiaí e às margens do Rio Juqueri, foi constatado a presença de minerais ricos em carbonato de cálcio. A fazenda foi adquirida na década de 1860, provavelmente com o conhecimento do parecer elaborado em 1863 pelo engenheiro Brunless16 que considerava o manancial localizado nesta área como o mais indicado para o abastecimento da cidade de São Paulo, já que o pai de Rodovalho pertencia à Câmara Municipal (BRUNO, 1984, v.II). Nesta mesma época, o Coronel Rodovalho juntamente com Benedito Antonio da Silva17 e Daniel Makinson Fox18 fundaram a Companhia Cantareira de Esgotos visando à extração dos recursos naturais do manancial próximo à região da fazenda para prestação de serviços de higienização na Capital. O desenvolvimento da Companhia Cantareira de Esgotos e a extensão de fabricação dos produtos como cal, manilhas, ladrilhos, guias, sarjetas e posteriormente tijolos e telhas, atraíram diversos trabalhadores para o local. Para acomodação deste contingente foram construídas originalmente, 180 residências no local, constituindo-se um dos primeiros núcleos habitacionais organizados para trabalhadores livres do Brasil (DONATO, 1990). O recrutamento dos imigrantes para o trabalho na fazenda de Rodovalho era facilitado pelo serviço da própria empresa de imigração que ele possuía na cidade de Santos (MAGALHÃES, 2002). E para suprir a necessidade de escoamento da produção, Rodovalho e seus sócios ingleses da Cantareira conseguiram a criação de uma parada de trens da São Paulo Railway na região, criando assim, em 1883, a Estação Ferroviária de Caieyras, cujo nome era uma referência aos fornos de cal (DONATO, 1990).

Atento às novas necessidades do mercado que apontava a falta de papel e também a iminente diminuição da demanda da produção de derivados da cal que eram ofertados ao município de São Paulo, Rodovalho deu início a um novo projeto: o aprimoramento de substâncias experimentais para o fabrico de papel. Com isto, iniciava-se, em 1887, o projeto para a nova fábrica e, para tanto, a empresa Gebrüder Hemmer, Neidemburg, Pfalz foi convidada. No ano de 1890, com o funcionamento da primeira das três máquinas da fábrica, iniciou a produção de papel industrializado, consolidando, neste mesmo ano, a

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Neste ano, o governo da província comissionou o engenheiro inglês James Brunless para fazer um estudo para um plano geral de abastecimento. Auxiliado pelo colega Hooper e por Fox, Brunless apresentou um relatório em que dizia ser a água do Ribeirão da Pedra Branca, na serra da Cantareira, preferida para o abastecimento da cidade de São Paulo. No mesmo ano, a utilização da água da Cantareira foi indicada também por outro especialista, o engenheiro Charles Romieu (BRUNO, 1984, v. II).

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Capitalista, prestador de serviços da província da construção civil em São Paulo, foi acionista de companhias ferroviárias (BRITO, 2000).

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Companhia Melhoramentos de São Paulo (DONATO, 1990). Participou como fundador e acionista, no ano de 1886, da Fábrica de Tecido e Fiação Anhaia, e teve participação na sociedade da Serraria a Vapor Gustavo Sydow. Na década seguinte, após o decreto 5594 de 1874 – que autorizava a criação de caixas econômicas e montes de socorro19 nas capitais das províncias – Rodovalho participou da criação e do conselho fiscal da Caixa Econômica e Monte de Socorro da Província de São Paulo, com sede situada no Pátio do Colégio. E, dentre tantos outros empreendimentos, Rodovalho, em sociedade com seu filho20 Antonio Proost Rodovalho Junior e Oscar Horta, fundou em 1889, a Casa Rodovalho que fabricava carroças, charretes, carruagens e bondes. A empresa foi contratada, em 1893, pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde Rodovalho ocupava desde o início da década de 1880 o cargo de tesoureiro, para o serviço funerário. No ano seguinte, a Casa Rodovalho adquiriu a Companhia Locomotiva Paulista (VICENTINI, 2007).

Figura 2 Propaganda Publicitária da Casa Rodovalho publicada na Revista Moderna – Anno I Nº 3 Fonte: Arquivo do Estado de São Paulo

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As caixas econômicas recebiam pequenas quantias em depósitos com finalidade de rendimento de juros que seriam capitalizados ao final de cada semestre do ano civil e os montes de socorro tinha como propósito fazer empréstimos sob penhor de pequenas somas às pessoas de classes econômicas menos favorecidas (VICENTINI, 2007).

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Rodovalho foi casado com Ana Etelvina Dutra Rodrigues Rodovalho e deste casamento nasceram os filhos: Henriqueta Rodovalho, Antonio Proost Rodovalho Junior, Maria Rodovalho, Joanna Rodovalho e Antonio Joaquim Tavares Rodovalho.

Em 1889, Rodovalho participou da constituição da Companhia Viação Paulista21 e no ano seguinte fundou a Companhia Melhoramentos Urbanos e Rurais de São Paulo que objetivava a compra e venda de terrenos na cidade de São Paulo e em alguns municípios paulistas, além de implantar melhorias. Fundou também a Companhia Industrial Rodovalho22, empresa também voltada à compra e venda de terrenos. Em 1891, Rodovalho participou da fundação da Companhia Econômica de Gás, Água e Esgoto e no ano seguinte da Companhia Ítalo-Paulista23 que importava produtos italianos e mármores. Neste mesmo ano ocupou o cargo de subdiretor da Bolsa Livre – primeira bolsa de valores paulistana, que fora criada em 1890. Rodovalho também participou do Banco União de São Paulo, fundado em 1890. Este banco adquiriu, mais tarde, grande quantidade de terras na região de Sorocaba, incluindo a fazenda Cachoeira Votorantim, onde montou uma grande fábrica de tecelagem inaugurada em 1904. Votorantim se tornou um complexo industrial com a existência de uma represa para geração de energia, uma vila para operários, uma olaria, uma fábrica de cal e atividades ligadas à extração, corte e polimento de pedras calcáreas e mármores (BRITO, 2000). Na Fábrica de Cimento Rodovalho, em Sorocaba, no início do século XX, a intensa utilização do trabalho infantil pode ser observada pela quantidade de trabalhadores: 40 eram crianças e 30 eram adultos (BANDEIRA JUNIOR, 1901).

Rodovalho teve atuação política relevante desde 1869 quando foi eleito vereador da Câmara Municipal de São Paulo pelo Partido Conservador. Ocupou o cargo até 1873, ano em que assumiu a presidência da casa. Foi nomeado membro da comissão de contas e da comissão de obras públicas. Em 1896, atuou como Intendente de Finanças e Presidente da Câmara. A carreira de Rodovalho seguiu articulando as atividades empresariais com os cargos públicos e participou de várias companhias prestadoras de serviços de abastecimento de água, iluminação pública e particular, viação pública, serviço funerário, organização de loteamentos, fabricação de material para construção, ferrovias, bancos públicos e particulares, além de ter sido um industrial inovador com a fabricação de papel à partir da celulose (VICENTINI, 2007).

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Participaram da constituição da Companhia Viação Paulista: João Batista de Mello Oliveira, Francisco Maria de Mello Oliveira, Joaquim Egídio de Souza Aranha, Olavo Egídio de Souza Aranha, Ismael Dias da Silva, Samuel Dias da Silva, Domingos de Moraes, Antonio Lacerda Franco, Joaquim Franco de Lacerda, Carlos Teixeira de Carvalho, Luis Pucci, Bráulio Gomes, Carlos de Campos e Camilo Cresta (BRITO, 2000).

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Associados à Companhia Industrial Rodovalho: Antonio Proost Rodovalho Junior, Cícero Bastos, João Pinto Gonçalves, Vitor Nothmann, Luis Pucci, Gabriel Dias da Silva, Ismael Dias da Silva, Lins de Vasconcellos, Eugenio de Carvalho, Domingos Sertório e Randolpho Margarido da Silva (BRITO, 2000).

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A Companhia Ítalo Paulista foi fundada em sociedade com Luis Pucci, João Pinto Gonçalves, Vítor Nothmann, Camilo Cresta e Tarquínio Taranti (BRITTO, 2000).

Antonio Proost Rodovalho faleceu em 30 de dezembro de 1913, aos 75 anos e segundo o Jornal do Commercio, morreu “relativamente pobre diante dos esforços que empregara conjuntamente com a fortuna que obtivera antes em negócios de vulto [...]” (DONATO, 1990, p. 31).

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 43-48)