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Modernização da moradia nas décadas de 1930 e

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 173-181)

Habitação e Arquitetura

Figura 64 Madeiramento do telhado nas casas do

3.1.2 Modernização da moradia nas décadas de 1930 e

A modernização das casas de Caieiras, como vimos, ocorreu entre as décadas de 1930 e 1940. Entretanto construções em barro autônomas, erguidas por funcionários, continuaram a ocorrer mesmo neste período. Não conseguimos saber se estas casas erguidas de forma autônoma obedeciam a um padrão estabelecido pela Companhia ou se havia liberdade para construção. Sabemos que a Companhia cedia o terreno e autorizava a moradia.

Onde meu avô morava eram casas de barro, mas eu não sei se foram por eles feito ou se já era feita, isso eu não posso dizer, porque eu não lembro. Porque quando eu era criança em 50, que meu avô morreu, ainda ele morava nesta casa. [...] meu pai fez a casa do lado da casa do meu avô que ainda era tapera...era de barro. A casa do meu avô aqui, pai da minha mãe do lado da casa do meu pai, também era de barro. Só que depois foi demolida. Em 46, mais ou menos, foi construído um grupo de casas que tava lá até pouco tempo que a Companhia derrubou. [...] eu morava numa casinha sozinha. Minha casa era espaçosa...tinha quintal de um lado, quintal do outro, quintal pra frente, pro fundo, porque foi a primeira ali do bairro, então, foi meu pai que construiu uma casa de barro e ficou lá a vida inteira [...] na época que meu pai construiu, isso foi em 1935. No início do ano ele começou a fazer a casa. Em 1935..não foi em 1936, no começo do ano ele começou a fazer a casa. E em 36 em dezembro ele se casou. Ele fez a casa pra casar (EUSÉBIO, 2011).

Sobre a possibilidade de utilização de recursos próprios ou da Companhia para construção da casas, Eusébio, tentando riscar a distribuição da casa, supõe que a abundância de material – barro e madeira – na região favorecia a utilização da matéria prima pertencente à Companhia e mão-de-obra particular:

[...] a minha casa era [...] com cômodos de 3x4, no máximo. Com certeza não posso te dizer, não posso garantir, mas [...] acho que era barro que tiravam dali, a madeira eles tinham liberdade de cortar e mão-de-obra ele mesmo fazia. E meu pai falava: eu e meus irmãos fizemos esta casa. Os irmãos dele, ou seja, eles eram moços na época, né? [...] E a minha casa era uma casa assim: era um terreno bem amplo...era um terreno bem amplo e meu pai construiu uma casinha no meio...o terreno tinha uma horta aqui...aqui era uma passagem, tal, e o meu pai construiu uma casa aqui no meio. A minha casa era muito simples. Ela era assim..era uma cruz, na verdade...minha casa era isso aqui...quatro cômodos...aqui tinha uma janela, aqui era a porta da sala no canto..aqui a sala...aqui da sala saía pro quarto da minha mãe que era aqui, tinha a janela e aqui era a rua...depois aqui nesta mesma porta tinha a porta que entrava para a cozinha...do lado da cozinha tinha a porta ela era assim...sala, quarto, quarto, aqui é a sala e aqui é a cozinha, e tudo muito pequenininho, pequeno mesmo (EUSÉBIO, 2011).

Uma matéria publicada no jornal Regional News, afirma que plantas definiam os detalhes das casas oferecidas aos funcionários e mostra as fichas que constam nas figuras 69 e 70 como projetos que definiam estas casas. Julgamos que estas fichas podem ser levantamentos feitos pela empresa acerca do arcabouço de moradias existentes dentro da Companhia e não necessariamente, os projetos. Estas fichas podem ter sido utilizadas para ajudar a compor a classificação das moradias, questão que será abordada no item Princípio da não gratuidade.

Figura 66 Casa construída em barro, telhado de sapê, bairro do Barreiro, 1940, demolida Fonte: Peres (2008)

Estes novos modelos que começavam a emergir após a década de 1930, eram inspirados nos bangalôs americanos. Surgiam casas isoladas, geminadas duas-a-duas ou em blocos. Pequenas varandas apareciam em localizações diversas, ora nas fachadas frontais, nos fundos das moradias, ou nos modelos geminados, lado a lado com a casa vizinha ou na extremidade oposta. Porém a varanda não surgia como elemento compartilhado entre duas casas, pois a divisória em alvenaria ou o distanciamento entre elas garantia certo isolamento. Os programas destas casas variavam quanto à quantidade de dormitórios. Foram observadas casas construídas com sala, cozinha, dois ou três dormitórios. As coberturas destas edificações eram geralmente compostas por quatro águas de telha de barro capa-canal ou tipo francesa.

Figura 67 Planta elaborada pela autora a partir de croqui feito por Antonio Eusébio. Casas enfileiradas com três

cômodos, Vila Foresto, construídos no final da década de 1940. Grupo com 6 casas. Nota-se a diferenciação pelo alpendre das casas das extremidades. Legenda: A=alpendre, S=sala, C=cozinha, D=dormitório, T=tanque, B=banheiro. Casas em cinza apenas para facilitar a visualização das unidades.Casas demolidas

Fonte: Acervo da autora (2010)

Figura 68 Planta elaborada pela autora a partir de croqui feito por Antonio Eusébio. Casas enfileiradas com

quatro cômodos, Vila Foresto, construídos no final da década de 1940. Grupo com 6 casas. Nota-se a diferenciação pelo alpendre das casas das extremidades. Legenda: A=alpendre, S=sala, C=cozinha, D=dormitório, T=tanque, B=banheiro. Casas em cinza apenas para facilitar a visualização das unidades.Casas demolidas.

Figura 69 Ficha da casa E48 ou E49. Casa no bairro da Calcárea ocupada pela família de Afonso Alves da Silva

A correção do nome parece ser a atualização dos ocupantes. A casa de pau-a-pique tinha dois quartos (ou 1 quarto e uma sala), 1 cozinha com fogão simples, porta simples, soalho de tijolo em todos os ambientes. Janelas de escuro feitas de tábuas

Figura 70 Ficha da casa C232. Casa do bairro da Chic, pertencente à fábrica, ocupada pela família de Matias

Rodrigues Gil. A correção do nome parece ser a atualização dos ocupantes. A casa de tijolo construída em 1938 tinha dois quartos com forro de estuque, porta simples janela guilhotina e escuro feito em tábuas, soalho de cimento; sala com as mesmas descrições do quarto; cozinha com fogão classificado como econômico, forro de estuque e ripa, pia sem água, soalho cimentado; 1w.c. contendo 1 chuveiro, soalho cimentado, forro de estuque, bacia com tampa, caixa d’água; corredor com soalho e forro de madeira; terraço com soalho e forro de estuque; porão com soalho de tijolo e forro de madeira.

Figura 71 Planta casa para operários geminadas duas-a-duas, construída em 1938 (atual Rodovia Tancredo Neves) Fonte: Levantamento da autora (2010)

Figura 72 Planta casa para operários geminadas duas-a-duas,construída no bairro do Charco Fundo, feito a partir

de croqui de Sirlei Bertolini Soares, filha de ex-moradores do núcleo

Figura 73: Vista da casa para operários geminadas

duas-a-duas, atual Rodovia Tancredo Neves.

Fonte: Levantamento da autora, 2010.

Figura 74 Casas geminadas construídas em 1933, na

Vila Chic. Casas existentes

Fonte: Levantamento da autora, 2010.

Figura 75 Casas do Barreiro, construída em 1940.

Fonte: Acervo da autora (2010) Figura 76 Casa construída na década de 1940 em grupo de quatro unidades. Extremidades com casas maiores. Casas existentes

Figura 77 Planta de casas duas-a-duas elaborado pela autora a partir da publicação A Obra Social da Companhia

Melhoramentos – Transcrições do Sr. Luis Carlos Mancini, 1940. Fachada elaborada à partir de levantamentos da autora

Fonte: Acervo da autora (2009)

[...] e a casa que nós morávamos [...] a Companhia fez 2 casas novas aí já era tijolo à vista, era uma casa melhor, tinha 3 quartos, sala cozinha, só tinha duas casas, que era a nossa e a dos Gardin. [...] Moramos a vida inteira lá, e quando me casei eu vim aqui pro Bairro da Cerâmica [...] até 81. Casas boas, tudo tijolo à vista, isto no Bairro da Vila Kohl [...] tinha a fábrica de madeira ali [...] então esse bairro onde eu morava quando me casei, eram casas boas, tudo tijolo à vista, bem conservado, a própria Melhoramentos dava manutenção pra casa: fechadura, torneira, o probleminha que tinha na casa, ligava e já vinha um mecânico, carpinteiro, seja lá quem fosse e fazia a manutenção [...] (PRANDO, 2011).

Embora diferentes em vários aspectos, como por exemplo, na distribuição e tamanho dos ambientes, as casas que surgiram neste período de renovação da arquitetura das vilas do núcleo fabril da Companhia Melhoramentos construídas em tijolos aparentes geminadas duas-a-duas parecem ter configurado um padrão reconhecido para as moradias da Companhia. O “padrão Melhoramentos” para casas dos funcionários é freqüentemente referenciado nestes modelos desconsiderando as diferenças existentes.

[...] as casas dos funcionários já era um padrão, né? A Vila Leão era geminada. [...] onde era a Vila Kohl, eram todas iguais, era um padrão, é de 30, 40, 42. A arquitetura era a mesma. Eles usavam um padrão e montavam. Tanto na vila Eduardo, quanto na Vila Pansutti. A minha família, os meus tios, moraram na Vila Pansutti. Vila Eduardo era uma vila mais retirada, foi uma das últimas a ser feita. Não sei por volta de quando, porque a gente saiu de lá muito novo e a gente não guardou muita coisa assim de datas, essas coisas (CSERNIK, 2011).

Com o passar do tempo, as casas dos operários começaram a ser modificadas, principalmente quando as instalações sanitárias passaram a fazer parte dos programas domésticos.

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 173-181)