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As casas operárias até a década de

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 167-173)

Habitação e Arquitetura

3 Habitação e Arquitetura 1 Moradia em Caieiras

3.1.1 As casas operárias até a década de

O início do desenvolvimento industrial em Caieiras, marcado pela construção dos fornos em 1877, está inserido no contexto de expansão das fazendas cafeeiras do interior paulista e da expansão ferroviária. Neste período, como vimos anteriormente, as fazendas contavam com vasta mão-de-obra assalariada – os colonos imigrantes - que chegavam para suprir a demanda de trabalho nas lavouras. Longas fileiras de casas de colonos caracterizavam o interior destas fazendas. As construções mais comuns eram compostas de casas de pequenas dimensões, com telhados de duas águas, com quatro cômodos

divididos por divisórias dispostas em cruz (BENINCASA, 2003). No Brasil, foi comum no período entre o final do século XIX e início do XX a incidência de construções urbanas nos núcleos fabris e vilas operárias:

Na arquitetura de vilas operárias e núcleos fabris, no período entre 1880 a 1950, surge freqüentemente exemplares inspirados em modelos tradicionais brasileiros de moradia urbana. Nesse momento foi bastante comum nestes lugares a ocorrência do padrão urbano de casas térreas de porta e janela, dispostas em renque, desprovidas de recuos frontais ou laterais. Os telhados em duas águas [...] são cobertos com telhas cerâmicas do tipo canal ou francesa (CORREIA, 2008, p.70).

A composição padrão de algumas das casas de colonos do interior paulista era formada por dois quartos, sala e cozinha, às vezes conjugados. Algumas apresentavam uma extensão nos fundos, um “puxado” e desta forma liberavam o espaço do retângulo interno para acomodação de mais um dormitório (BENINCASA, 2003). As edificações de Caieiras que surgiram neste período apresentam peculiaridades presentes nas casas de colonos do interior do estado. Nas casas enfileiradas construídas em 1904 próximas à estação de trem140, por exemplo, (ver figuras 55, 56 e 57) notamos a divisão em cruz na faixa anterior da construção e nos fundos uma ampliação, possivelmente posterior à construção original, para acomodação da cozinha e instalações sanitárias. Desta forma o retângulo anterior, fica liberado para mais um dormitório ou sala. À exceção da casa da extremidade esquerda deste conjunto, que comentaremos no item Casas para a chefia, as casas erguidas em tijolos de barro cozido e taipa de mão apresentavam um acabamento simplificado. A condição da empresa como produtora de tijolos de barro cozido e telhas cerâmicas facilitava a disponibilidade de materiais para construção. Os antigos moradores contam que o barro utilizado na produção dos materiais e na execução das casas de taipa era retirado dos Bairros do Barreiro e Barreirinho. O uso de telhas de barro tipo capa e canal e telhas do tipo francesa – que imitavam as telhas de Marselha – foi muito comum nas casas do núcleo fabril de Caieiras. A antiga moradora de uma unidade deste conjunto, Inês Martins, afirmou que entre os anos de 1940 e 1960, período que a família ocupou a casa, não havia forros internos. Durante o levantamento que fizemos no ano de 2009, notamos que forros em condições muito precárias, existiam. Francisca Doratiotto, ex- moradora da vila Charco Fundo, declarou que muitos forros foram construídos nas casas de Caieiras por iniciativa de cada família na tentativa de prevenir de insetos que surgiam

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entre as telhas aparentes. Esta condição, anterior à execução dos forros, motivava as famílias a higienizarem os telhados, internamente, com uma tocha de fogo antes de dormir. Com autorização da Companhia, cada família executava, quando possível, o forro da casa. O piso de cimentado vermelho, descrito também por Inês Martins, seria uma inovação aos pisos originalmente em terra.

Figura 55 Levantamento métrico do conjunto construído nas proximidades da estação de trem, atual bairro de

Nova Caieiras

Fonte Levantamento da autora (2009)

Figura 56 Fachada do conjunto próximo à estação Fonte Levantamento da autora (2009)

Figura 57 Conjunto próximo à estação. À exceção da casa da esquerda, todas foram demolidas em 2010 Fonte: Acervo da autora (2009)

Estes tipos de casas tinham privacidade mínima, devido à proximidade entre as unidades e as janelas – destituídas de vidros – que permaneciam a maior parte do tempo abertas (GARCEZ MARINS, 2008). Muitas das casas observadas em Caieiras tinham vidros desde pelo menos a década de 1920 (ver figuras 12 e 13). Outras, como o conjunto observado na figura 57, permaneceram até a década de 2000 como janelas de escuro - apenas com as folhas de madeira.

Tinha o bairro do Monjolinho, um pouquinho pra cima tinha outro bairro, chamava Sobradinho [...] que era uma vila que nem uma colônia que tinha no Sobradinho [...] uma rua de casas, casinhas tudo geminadas assim e moravam muitos italianos [...]. O Monjolinho também era um bairro que tinha umas casinhas, era toda ela geminada, quase toda ela. Eram várias. No Sobradinho era exatamente uma colônia [...], exatamente [...] era amarela, janela azul, pintada de azul... Aquelas caidinhas da casa, casinha simples, mas era casinha boa. Tinha o Bairro do Bonsucesso, era só colônia; tinha o Bairro da Calcárea, só colônia; tinha o Sobradinho, só colônia; tinha também ao redor da fábrica, não me lembro o nome do bairro ali, ah...era Rua da Pensão, ali era uma colônia! Era tudo janelão pintado de azul e quando a casa não era branca era amarela e a janela era azul! Quando eu me conheci como gente, já existia! [...] e na Rua dos Coqueiros [...] era do Rosário pra frente, ali era tudo geminado, era tudo as casas juntas ali, de colônia, mas eram casas boas também: 3 cômodos, 4 cômodos, 5

cômodos. Quando era uma casa de encarregado, aí era uma casa um pouquinho melhor, pouquinho maior, então tinha vários cômodos, conforme o grau do funcionário, né? E do lado esquerdo, aí já era de duas em duas. Hoje tem um escritório lá, [...] Este escritório existia. Seguindo tinha mais duas casas, casas de chefes, casas boas, depois tinha mais duas, passando aquelas duas, tinha mais uma coloniazinha de 4 ou 5 casas, do lado esquerdo, aí terminava. Aí era só do lado direito, aí era aquele colonião que ia até lá embaixo, do lado direito. Me parece que demoliram tudo agora, né? Era branco e azul [...]. Aí onde é o Federzoni141 ai, era tudo colônia, tudo casinha junto. Nós chamávamos de Vila das Cabras lá [...] dos dois lados era Melhoramentos. Tinha uma Paineira grande ali, um pouquinho pra cá do Federzoni, mais ou menos ali, era uma Paineira enorme ali, e o resto era tudo as casinhas, tudo emendado, as casinhas amarelas... (PRANDO, 2011).

Figura 58 Casas amarelas geminadas (já demolidas) na Rua dos Coqueiros nas proximidades da Igreja do

Rosário

Fonte: AcervoPaulo Polkorny

O aspecto externo das casas de Caieiras era também bastante simplificado. Tratava- se de casas de fachadas com porta e janela dispostas em blocos que recebiam acabamentos em reboco, com ou sem ornatos, pintura de cor branca ou amarela para alvenarias e azuis para portas e janelas. Geralmente, eram cobertas por duas ou quatro águas de telhas de barro tipo canal ou francesa com beirais paralelos ao alinhamento da rua.

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Figura 59 Data da empena conjunto Nova Caieiras Fonte: Acervo da autora (2009)

Figura 60 Detalhe da taipa de mão nas casas do

conjunto próximo à estação, no bairro de Nova Caieiras

Fonte: Acervo da autora (2009)

Figura 61 Renques de casas, já demolidas, no bairro

da fábrica

Fonte: Peres (2008)

Figura 62 Em Caieiras, casas de porta e janela,

demolidas

Fonte: Jornal Regional News (2002, p.2C-2, 13 de dezembro, 2002)

Figura 63 Renque de casas na Rua dos Coqueiros demolidas depois do ano de 2004 Fonte: Acervo da autora, 2003

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 167-173)