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Habitação dos solteiros

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 185-187)

Habitação e Arquitetura

Figura 64 Madeiramento do telhado nas casas do

3.1.4 Habitação dos solteiros

Os solteiros costumavam ser vistos, nos núcleos fabris, como problema de ordem pública e muitas vezes eram proibidos de freqüentar as casas das famílias operárias144. Isto

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Exemplo desta condição foi descrito no item Bem estar físico e mental: as comemorações, cultura, saúde e

utilização das horas livres ao referirmos à condição dos solteiros em Pedra, no Sertão de Alagoas, onde as

moradias para solteiros se constituíam em pensões fora do núcleo – na Pedra Velha – e seus moradores tinham o acesso ao núcleo e o contato com as operárias controlados pelos vigias. A prevenção em relação ao homem solteiro se fundamentava na sua caracterização como elementos capazes de oferecer risco a si próprio e também à sociedade. O comportamento deles estaria associado à ausência de freios que uma família poderia exercer no indivíduo. Assim, estariam propensos aos excessos, às contestações e aos prazeres relacionados ao sexo, álcool e jogo (CORREIA, 1998).

não foi observado em Caieiras, onde segundo relatos de ex-moradores e ex-funcionários, havia edificações específicas para solteiros em quartos na Vila Pereira e no Monjolinho145. Na Vila Pereira os solteiros ocupavam os porões das casas de família e quartos construídos para acomodação destes rapazes que, em sua maioria, não tinha família próxima. No Monjolinho havia também estas acomodações específicas para solteiros. Alguns relatos afirmam também que algumas casas geminadas construídas após 1930 tinham acomodações intermediárias – entre duas casas - que eram chamadas de “apartamentos para solteiros” (ver figura 85).

Figura 85 Casas geminadas existentes construídas em 1946 com “apartamentos para solteiros” entre duas casas

para famílias

Fonte: Acervo da autora (2010)

Desta forma, em Caieiras, os solteiros não ficavam necessariamente segregados das famílias operárias:

No Monjolinho tinha moradia pra solteiro. Na vila Pereira também. Era igual, o mesmo sistema. Era assim, na vila Pereira, era casa com porão. As casas subiam numa escada ao lado da casa, a casa era em cima. Independente, embaixo, eram porões. Então embaixo eram os quartos de solteiro. Em cima eram famílias. Por exemplo, lá na fábrica não tinha colônias de muitas casas, era duas casas. Sempre duas. Duas-a-duas. Então tinha os porões, mas só na vila Pereira que tinha isso. Específico pra solteiro eu conheci no Monjolinho. Tinha uma construção grande, tinha os quartos assim, tinha uma entrada no centro, depois tinha um corredor e depois tinha os quartos de solteiros. Só que era assim, tinha os quartos e o banheiro era comunitário, né? Dois banheiros se não me engano. Em cada ponta. Era chuveiro, banheiro tudo comunitário. E aqui os quartos. Era bastante, viu, acho que uns 8, 10 quartos de solteiros. Porque do lado dos quartos de solteiro tinha a pensão. A pensão não era [...] um restaurante. Porque era assim, tinha a dona da pensão, a D. Argentina, depois passou pra outras

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Instalações de moradias específicas para solteiros foi observada nos núcleos de Mulhouse, Marquette, Krupp, Val-des-Bois e New Lanark. Em Val-des-Bois os alojamentos eram ocupados pelas operárias solteiras sem família (CORREIA, 1998).

pessoas, [...] eu era criança, era uma casa, uma residência da família, depois tinha um salão, e uma cozinha grande aonde elas faziam comida para o povo solteiro, e eles pagavam a pensão pra dona da pensão. Era particular. As pessoas trabalhavam por conta delas. A Companhia cedia o serviço. Tinha na fábrica essa pensão e tinha no Monjolinho. Isso desde que eu era criança. Desde 1950, vamos dizer assim, já exista essa pensão. Isso só acabou quando acabou as coisas no Monjolinho. Foi acabando gradativamente, é difícil dar uma data, né? [...] ano a ano foi acabando as coisas. A pensão era uma casa normal, lógico de dependências maiores, de condições melhores, porque também, quem era a dona da pensão? Dona não, a gente falava dona, mas era quem administrava aquilo. Sempre era uma família mais avantajada. Então, tinha até uma casa melhor, uma casa maior, né? Pois tinha a casa, era uma construção só, uma parte era a casa da família depois tinha no meio o salão onde chegavam os pensionistas que a gente falava, e depois a cozinha grande. Eles tinham a casa em um ambiente e a cozinha de trabalho. Na pensão ficava a dona da pensão e os empregados que ela contratava por conta dela [...]. Então elas serviam marmita e serviam também refeição local para os meninos, pros moços na época, né? Mas geralmente eram pessoas que não tinham família [...], moravam nesses quartos de solteiro. Meus três tios moraram nesses quartos de solteiro (EUSÉBIO, 2011).

Antônio Eusébio afirma que em Caieiras os solteiros eram bem integrados na vida comunitária:

E quem era funcionário tinha a pensão, por que? Por que eles tinham que ter aonde comer, alguém que tratasse do café, do almoço, do jantar. Como eles estavam trabalhando elas tinham empregados que levavam as marmitas até na condução pra ir pra fábrica e quando eles estavam em casa iam comer lá no local da pensão. Bom pra todos. Só que aí era assim, elas tomavam conta, elas compravam material, cobravam, sei lá, quanto queriam e os lucros eram delas, né? A Companhia cedia o local, só. E elas ganhavam pelo trabalho delas. E eram famílias que ia passando de pai pra filho. A D. Argentina era uma italiana. Ela foi dona da pensão no Monjolinho muitos anos e ela morreu ficou os filhos no lugar. A dona Irene, dona Irene, isso, não sei se é viva ainda hoje, ficou no lugar da D. Argentina [...] (EUSÉBIO, 2011).

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 185-187)