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Organização Social e Espacial de Caieiras 1 A organização das vilas

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 65-82)

Organização Social e Espacial de Caieiras

2 Organização Social e Espacial de Caieiras 1 A organização das vilas

Os núcleos fabris constituídos por empresas costumavam oferecer ao trabalhador uma estrutura complexa que compreendia muito mais do que apenas as moradias. Estes lugares seriam, nos dizeres de Correia (1998), concebidos para produzir mercadorias e reproduzir uma força de trabalho capacitada para o trabalho industrial. Ali, a fábrica seria o centro da vida local. O cotidiano e o tempo dos operários estariam controlados e moldados pelas necessidades produtivas. Em comum, estes lugares tinham a preocupação com a segurança, higiene, saúde e economia. Correia (1998) aponta que os núcleos tendiam à hierarquização e divisão funcional dos espaços. Essa idéia estaria associada ao controle dos comportamentos individuais que seriam percebidos também na organização do interior das casas, que teriam espaços com dimensões e estrutura compatíveis com a separação das funções, dos sexos e idades. Abordamos aqui a organização estabelecida no núcleo fabril da Companhia Melhoramentos, que era formada a partir das unidades produtivas e oferecia ao trabalhador uma complexa estrutura composta por vilas residenciais, escolas, armazéns, lazer, serviços e assistência médica. Além da distribuição destes elementos que compunha o núcleo fabril de Caieiras trataremos ainda dos primeiros grupos de moradores que se fixaram na região.

2.1.1 1877-1920: primeiras ocupações

Desconhecemos algum plano oficial40 para o traçado urbano de Caieiras que tenha sido elaborado para sua implantação a partir do século XIX. Entretanto, pode-se observar que a estrutura espacial de Caieiras seguiu um plano, mesmo que informal, ao começar a se desenvolver ao redor das principais unidades produtivas estabelecidas, inicialmente, nos

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Em outros exemplos, alguns núcleos fabris tiveram planos urbanísticos elaborados por profissionais e outros seguiram implantações informais. Entre os núcleos que seguiram planos elaborados por profissionais, Correia (1998) destaca, na França, a ampliação de Mulhouse, projetada por Émile Muller, em 1852; o núcleo da fábrica têxtil de Marquette, projetado pelo arquiteto Tierce, em 1846 e a ampliação do núcleo de Noisel, projetada pelo arquiteto Jules Salnier. Na Inglaterra, destacou o plano geral para o núcleo de Saltaire – fábrica e partes dos projetos de arquitetura de casas e equipamentos coletivos – que foi projetado pelos arquitetos Henry Lockwood e William Mawson; a contratação de muitos arquitetos para projetar moradias e prédios em Port Sunlight; os planos e projetos de arquitetura elaborados pelo arquiteto Alexander Harvey para Bournville; o plano urbano e os primeiros prédios de New Earswick concebidos por Raymond Uwin e Barry Parker; a criação na década de 1840 por indústria têxtil de Copley, projetado pelo arquiteto George Scott e Julian Hill que projetou Bromborough Pool. No Brasil a ocorrência de núcleos fabris com planos projetados por profissionais construídos até a década de 1930 é rara. Em Santa Catarina existe informação sobre plano elaborado por engenheiro-arquiteto alemão em 1925 para a Fábrica Renaux e no Rio Grande do Sul, há informações de projetos elaborados por arquitetos uruguaios para prédios construídos pelo Frigorífico Armour (HERING, 1987; ALBORNOZ, 1997).

diversos sítios, terras que por continuidade do território formavam a Fazenda Cayeiras. As primeiras ocupações da Companhia Melhoramentos, ao que tudo indica, deram continuidade à ocupação das casas de colonos que já existiam nas propriedades formadoras da Fazenda Cayeiras na ocasião da consolidação da Cia. Melhoramentos, ou foram construídas posteriormente ampliando-se o número de unidades existentes para abrigar o contingente de trabalhadores.

Deste modo, a formação das vilas durante os últimos anos do século XIX foi iniciada com as casas de colonos existentes e seguiu este modelo durante os primeiros anos do século XX. Este fato pode ser comprovado com a observação da construção de casas de aspecto rural nas proximidades da estação de trem, durante primeira década do século XX (ver figuras 57,59 e 60 - item As casas operárias até a década de 1920). As casas de colonos estavam locadas nas proximidades dos setores produtivos e assim, através de fotos e relatos, observamos que existiram, neste período, em pelo menos oito localidades: Rua dos Coqueiros, Sobradinho, Calcária, Bonsucesso, Cerâmica, Fábrica de Papéis, Caieiras e nas proximidades do Tancão.

Figura 3 As casas de colonos no bairro da Cerâmica Fonte: Donato (1900)

As casas de colonos da Fazenda Cayeiras receberam grande número de famílias de trabalhadores imigrantes que deram impulso ao povoamento e desenvolvimento da região ainda antes da implantação do núcleo, assunto que será abordado no item O povoamento das vilas. Dando início aos relatos sobre as primitivas vilas que compuseram o núcleo de

Caieiras, Antonio Eusébio (2011), ex-morador do núcleo, retrata algumas lembranças sobre as colônias:

Tinha a Cerâmica que eram casas mais antigas, bem antigas, não sei te dizer de quando que era. (Os habitantes das colônias) que vieram de tantos lugares, né? Vinham de Campinas, deste interior de São Paulo. Tinha o pessoal que veio assim como imigrantes, foram pra roça, pra lá e depois vieram da roça trabalhar na Melhoramentos. E aí começaram a “colonizar” estas pessoas que vinham do interior pra ser funcionários ali...então tinha uma colônia ali embaixo, mas isso eu era muito criança...tinha 6 ou 7 anos...eu lembro bem dessa colônia. Agora lá em cima na Vila Floresto41, lá pra frente, os bairros eram todos antigos, porque depois do Floresto tinha a Aldeia [...] Ficava perto do Horto, entre o Horto e o Tancão tinha uma vila que ficava afastada assim, no mato assim, né, chamava Aldeia. Lá era que nem uma aldeia, chamava aldeia porque era uma aldeia mesmo. Porque era assim, uma vilinha de casas que tinha uma casa aqui, uma casa aqui, no centro tinha um poço comunitário. Então tinha aqui uma vilinha de casas que morava meu avô. Uma vila, uma outra vila de casas de outras pessoas, devia ter umas três ou quatro casas e aqui uma outra vila de casas que tinha mais duas ou três casas...é...tudo grudado, mania de fazer tudo grudado, até parece que não tinha espaço, tanta terra, né?Então era assim aqui tinha uma vila, meu avô morava aqui, aqui tinha mais duas ou três casas, o pessoal dos Silveira moraram nestas casas aqui e formava que nem uma aldeia, e a gente nem falava aldeia, né? Era “ardeia, ardeia” (EUSÉBIO,2011).

O relato de Eusébio trata da existência desta vila pouco lembrada atualmente pelos antigos moradores, cujo nome Aldeia foi aplicado devido à configuração da implantação dos grupos enfileirados de casas dispostos em “U” ao redor do poço de água. A descrição das moradias desta vila nos pareceu seguir modelo semelhante ao das casas de colônia.

O núcleo de Caieiras, em 1920, já mostrava porte e tomava dimensões surpreendentes. Já era um prenúncio da nova estrutura que se instalaria nos próximos anos partilhando o espaço com as antigas instalações rurais:

Possue Cayeiras 650 casas, para operários e administração; 4000 alqueires de terra, quasi todos plantados de especies vegetaes proprias para a industria do papel, como sejam eucalyptos, cruptomea japonica, casuarinas, etc; linha férrea na extensão de 30 kilometros corta a propriedade em diversas direcções; possue 7 escolas com media de frequencia de 40 alumnos e um grupo de 100 escoteiros, filiados á Associação Brasileira de Escoteiros; 1500 operarios e suas familias; pharmacia; templo religioso, theatro, hospital em construção, associações recreativas e desportivas, jornal publicado por auxiliares da Companhia, etc. (A MARCA D´ÁGUA NO PAPEL DE IMPRENSA E A INDUSTRIA NACIONAL DE PAPEL s.d., p.38 apud CORREIA, 1998, p.94-95).

O relato acima mostra que a estrutura de Caieiras já estava se definindo como um grande núcleo fabril que tendia a crescer ainda mais nas décadas seguintes, principalmente com o aumento de moradias e com instalação de armazéns e igrejas para atender às novas

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Alguns ex-moradores tratam o lugar como Vila Floresto e outros como Vila Foresto. À exceção da transcrição dos relatos, adotaremos Vila Foresto.

demandas. Podemos associar o porte da indústria de Caieiras neste ano a um reflexo da I Guerra. A importação de celulose havia sido suspensa colocando as indústrias do setor papeleiro em dificuldades. Diante desta suspensão, Caieiras assumiu uma posição produtiva privilegiada devido à sua auto-suficiência em relação à matéria-prima, chegando a produzir em 1919 cerca de 240 toneladas de papel. O período de ausência do produto estrangeiro competidor permitiu o crescimento da Companhia Melhoramentos ainda durante a primeira década do século XX. Em 1916 foi fundado o primeiro grêmio, o Melhoramentos Futebol Clube e no ano seguinte, foi inaugurada a Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Rua dos Coqueiros. A produção de papel, neste período, contrabalanceava a produção de cal e cerâmica que foram bastante reduzidas com a diminuição das obras públicas. Com isso, em 1918, o número de trabalhadores da fábrica de papel superava o de outras atividades. Foi também a dificuldade de encontrar papéis no mercado durante o período de guerra que motivou a Weiszflog Irmãos a procurar uma parceria que resolvesse esta dependência do mercado de matéria-prima, culminando na incorporação das duas empresas, em 1920 (DONATO, 1990). O gráfico demonstrativo da produção de papel referente ao período compreendido entre os anos de 1892 e 1950 mostra que a fábrica manteve um ritmo sempre positivo e crescente (figura 4).

Entretanto, nas imagens dos mapas consultados que correspondem às datas de 1901, 1908, 1912 e 1925, não foi possível constatar o crescimento da estrutura física do núcleo de Caieiras. Os mapas mostram pequenos aglomerados na Rua dos Coqueiros e nas proximidades da fábrica (ver Anexos A, B, C, D).

Durante a década de 1920, o consumo de madeira para abastecimento dos maquinários e dos fogões à lenha das casas, levou as florestas na Companhia a uma situação preocupante em relação à quantidade de áreas ainda cobertas por matas. Um levantamento feito neste período mostrava que dos 4000 alqueires de terra da empresa, apenas 30% estavam recobertos por matas, 66% eram campos e 4% estavam ocupados com plantações. Isso levou a Companhia a investir em experiências e na criação do viveiro de mudas, nascendo, neste período a vila do Horto Florestal. Assim, um estudo feito em Caieiras mostra que

Emquanto iamos colhendo os dados theoricos e praticos, iniciamos a construcção de casas operárias para podermos atacar com vigôr este problema, e não tardou para que cerca de 200 operarios estivessem empregados na plantação dos primeiros Eucalyptus, cujo número com o tempo elevou-se a quase 1.000.000 pés (O PROBLEMA DA MATERIA PRIMA DO PAPEL NO

BRASIL - ESTUDO E REALISAÇÕES FEITOS EM CAYEIRAS PELA COMPANHIA MELHORAMENTOS DE SÃO PAULO, [19-]).

A descrição da implantação desta vila coincide exatamente com a explicação de Joel Csernik (2011), ex-morador do núcleo, sobre a forma de implantar as vilas operárias nas proximidades dos setores produtivos:

[...] tinha o setor de plantio, então existia um grupo de casa ali. Tinha um setor de produção, então eles faziam as casas mais próximas daquele setor. Então assim eles foram fazendo. Então cada setor, tinha seu pessoal especializado [...] eles foram dividindo, né? Que nem lá no Monjolinho mais era quem trabalhava no cal, na plantação pra fazer mudas de eucalipto, então, eles pegavam por setores (CSERNIK, 2011).

Figura 4 Demonstrativo do crescimento da produção do papel, 1950

Fonte: Companhia Melhoramentos de São Paulo–Indústrias de Papel–1890-1950

As figuras 5,6,7,8, mostram um aumento de habitações de aspecto rural no entorno da fábrica e o surgimento de novas edificações tanto fabris como habitacionais. Na figura 5, temos uma vista da fábrica, referente ao período entre 1888-1889, durante a construção da barragem para elevar o rio Juqueri com intuito de fornecimento de energia hidráulica. Notamos no canto superior esquerdo uma pequena casa implantada na declividade do terreno, que segue os padrões das casas rurais. De certo, trata-se de um grupo de casas enfileiradas já existentes no local quando da construção da fábrica ou construído nos mesmos moldes das anteriores para moradia das famílias dos trabalhadores que ali se estabeleceriam. O panorama da figura 6 mostra grande quantidade de casas rurais implantadas nas imediações da fábrica de papel, que neste momento, ano 1900, já estava

em funcionamento. À medida que os trabalhos na fábrica foram aumentando, ampliou-se o número de moradias no local. A figura 7 nos permite uma avaliação mais detalhada do local. Nela temos uma vista geral do bairro da fábrica em 1920, ano que marca a posse da diretoria pela família Weiszflog. Observa-se a ampliação das edificações fabris e a formação do entorno cercado, de pelo menos 21 unidades de moradias alinhadas, enfileiradas e que obedeciam em suas implantações à declividade do terreno. A arquitetura destas casas será analisada, posteriormente, no item Moradia em Caieiras. Observamos à esquerda da chaminé uma edificação isolada (figura 7). Sabemos que durante a administração dos alemães esta casa foi destinada à moradia de gerente. Junto dela, nos anos seguintes, também na administração Weiszflog outras foram construídas com a mesma finalidade: abrigar as famílias de gerentes e chefes. Assim, esta faixa de terrenos altos do bairro da fábrica formou um aglomerado de residências caracterizado pela moradia de funcionários que ocupavam os cargos mais altos da empresa, a exceção dos Weiszflog. Estas casas são perfeitamente visíveis na figura 8, datada de 1926. Os depoimentos dos antigos moradores apontam que moraram nestas casas os Faltin, os Khoeller, os Satrapa, os van Bellen, os Glaser, os Kohl, todos funcionários da chamada “alta chefia” em meados do século XX. Os patrões alemães42 implantaram suas residências em locais amplos e isolados, que garantia certa distância das casas de operários e mesmo de chefes, como a casa conhecida por Sobradinho, no bairro de mesmo nome, e as chácaras, como a conhecida hoje por chácara da Dona Bertha, formada por um amplo terreno que garantia o isolamento da moradia próxima à estação.

[...] eles tinham uma casa lá, do outro lado do rio [...] mas a gente, os “mortais”, não íamos lá, a casa ficava lá no meio do mato, meio escondida, mas eles não estavam sempre lá, tinha um sobradão, uma casa grande, e tinha também uma pessoa meio diferenciada que morava perto da estação de trem mesmo [...] tinha perto da fábrica, você descia, ali do outro lado do rio tinha um casarão também mas era onde os “mortais” não chegavam. Você chegava perto, mas os seguranças não deixavam você ir para lá. Na minha lembrança aquela casa era dos Weiszflog (BELLEN, 2011).

A descrição de Bonno van Bellen (2011), ex-morador do núcleo, refere-se provavelmente à casa de Walther e Bertha Weiszflog, que era próxima à estação e a outras propriedades da família nas proximidades da fábrica.

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Alguns membros da família Weiszflog não residiam em Caieiras. De acordo com os relatos dos antigos trabalhadores, eles residiam no Alto da Lapa, em São Paulo.

Figura 5 O bairro da fábrica, 1888-1889 Fonte: Donato (1990, p. 37)

Figura 6 O bairro da fábrica por volta de 1900. Nota-se à direita, o enfileiramento das casas Fonte: Donato (1990, p. 40)

Figura 7 O bairro da fábrica, 1920. Fonte: Donato (1990, p. 64)

Figura 8 O bairro da fábrica, 1926 Fonte: Donato (1990, p.85)

Ao analisarmos o quadro da tabela 5, notamos que alguns dados são incompatíveis em relação a um crescimento contínuo do núcleo habitacional constituído na Companhia Melhoramentos. Notamos que em 1920, foi declarado haver 650 casas em Caieiras. Entendemos que nas 650 casas já estariam incluídas moradias ocupadas por solteiros. Seis anos depois, o número de famílias somado ao número de solteiros era de 588. Se cada

família e cada solteiro ocupavam uma habitação computada, considerando que os solteiros ocupavam quartos e não casas, e mesmo assim, somando um quarto individual para cada solteiro, o número de habitações que temos ainda é menor àquele declarado em 1920. Pode-se supor que a declaração de 1920 sugeriu números aproximados de habitações ou que começava, naquele momento, algumas demolições. A tabela ressalta também que entre nos anos de 1926 e 1957 a média de moradores dentro de uma casa de família foi alterada. Em 1926 a média estabelecida era de 4,83 moradores por casa e em 1957, ocorreu uma pequena redução, passando a 4,56. Os relatos de antigos moradores afirmam que a ocupação das casas muitas vezes ocorria com números bem maiores que os números aferidos na média do quadro resumo, chegando a ter 5, 6, 7 até 11 moradores de uma mesma família em casas de quatro cômodos.

2.1.2 1930-1960: surgimento das novas vilas

A partir da década de 1930, Caieiras passou por ampliação e renovação de suas vilas. Entretanto, a falta de registros na Prefeitura acerca de demolições e novas construções e a perda, devido à enchente de 198743, dos registros referentes às construções, dificultaram a identificação exata do surgimento e demolição de vilas. Tomamos como referência as fotos encontradas, as placas de inscrição da data da construção das poucas casas remanescentes e os relatos feitos por moradores e de literatura, que se tornaram importantes documentos para esta investigação.

Pode-se dizer que o núcleo fabril de Caieiras chegou ao início da década de 1950 estruturado em três comunidades principais que se desdobravam em pequenas vilas: Caieiras/Cerâmica, Fábrica de Papel e Monjolinho. Desta forma, as comunidades continuaram a se organizar ao redor dos setores produtivos que havia dentro do núcleo. Cada comunidade era formada por vilas que, muitas vezes, eram identificadas apenas pelos nomes das ruas e a nomenclatura destas ruas estava, muitas vezes, relacionada aos sobrenomes das primeiras famílias que chegaram ao local ou faziam referência aos serviços ali prestados. Assim, propusemos com base nos levantamentos citados uma estrutura aproximada sobre a organização das vilas dentro das principais comunidades e sua situação no ano de 2010 (ver tabela 1).

É interessante notar que mesmo durante o período de renovação das casas para trabalhadores, que fez surgir novas vilas no núcleo fabril da Companhia, ainda era

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Motivo justificado pela assessoria jurídica da Companhia Melhoramentos quando solicitamos consulta a tais arquivos.

permitido ao trabalhador a construção autônoma de sua residência. Ao mesmo tempo em que começavam a surgir, durante as décadas de 1930 e 1940, vilas inteiras padronizadas, com construção gerenciada pela Cia., como as vilas do Barreiro, Barreirinho,Vila Chic, Vila Leão, parte da Rua dos Coqueiros, surgiam também construções autônomas, construídas por funcionários que, autorizados pela Companhia, erguiam suas casas utilizando a taipa como técnica construtiva produzindo nas vilas um cenário mesclado entre a simplicidade de alguns agrupamentos e certa sofisticação de outros44. Izidro Gabrielli (2011), ex-morador do núcleo, se lembra de ter visto algumas casas de barro, entre elas a ocupada pela família de Benedito Furquim, serem demolidas na Vila Chic, onde já havia na mesma época casas novas construídas com tijolos queimados e acabamento aparente desde a década de 1930. No terreno da casa da família Furquim foi construído no final da década de 1940 o Grupo Escolar Alfried Weiszflog. Antonio Eusébio (2011) relata que a casa de barro construída pelo pai, em 1936, foi a primeira da Vila Foresto, quando nesta ocasião

[...] (a Companhia) cedeu o terreno, Naquele tempo era fácil, né? Eles davam o terreno e a pessoa construía como podia. Tinha que fazer, mas não era casa de alvenaria não, era de barro (EUSÉBIO, 2011).

Uma matéria publicada em 1935 pelo jornal O Estado de São Paulo, mostrava que o núcleo fabril

[...] possue uma das maiores fabricas de papel da America do Sul, pertencendo à Cia. Melhoramentos de São Paulo; possue ainda 3 escolas publicas, uma escola particular, agencia de correios, 2 cinemas, 3 alfaiatarias, 3 sapatarias, 1 pharmacia, 1 gabinete dentario, 4 emporios, 3 olarias, 2 egrejas, salões de barbeiro, 1 açougue, 1 fabrica de cal com 7 fornos contínuos; tem ainda (...) diversas organisações recreativas, 2 bandas de música, o Club de Melhoramentos de São Paulo, com mais de 300 socios, com um patrimonio de 70:000$000; a União Recreativa Melhoramentos de São Paulo, com 368 socios e um patrimônio de 35:000$000; o Italo Brasileiro Futebol Clube, com 165 sócios e um patrimonio de 12:000$000. A população é de mais de 6.000 habitantes. Só a Companhia Melhoramentos de São Paulo dá emprego a mais de 1.000 operarios, todos alli residentes, o que é uma grande demonstração da vitalidade daquella empreza que gosa de justos titulos de benemerencia, entre seus trabalhadores, attestando ainda as grandes possibilidades daquella prospera população que tão bem corresponde ás esperanças daquelles bandeirantes modernos da industria nacional (O Estado de São Paulo publicado em 3/12/1935).

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Situação semelhante foi observada no núcleo fabril constituído por indústria têxtil em Paulista (PE). Neste núcleo até a década de 1930 as casas construídas pela fábrica abrigavam apenas funcionários especializados, como gerentes e técnicos e parte dos operários. A maioria dos trabalhadores operários morava em mocambos

No documento Caieiras: núcleo fabril e preservação (páginas 65-82)