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APELAÇÃO CÍVEL Nº 2005011106689-

No documento 176rdj093 (páginas 111-116)

Tribunal de Justiça do Distrito Federal

APELAÇÃO CÍVEL Nº 2005011106689-

Apelantes - Ana Luiza da Silva Mendes e outro

Apelados - Varig S/A Viação Aérea Rio-Grandense, Terra Azul Turismo Ltda. e outros e Raymundo Pedro Pereira Pantoja

Relator Designado - Des. Angelo Passareli Segunda Turma Cível

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. NE- GATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. PRELIMINAR REJEITADA. RELAÇÃO DE CONSUMO. INOCORRÊNCIA. PRODUTO DA VENDA DE BILHETES DE PASSAGEM AÉREA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DEPÓSITO. CLÁUSULAS VÁLIDAS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INO- CORRÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA.

1 - O magistrado não está obrigado a responder todas as alegações das partes litigantes quando já tenha encontrado motivo suficiente para formar seu convencimento e tomar sua decisão.

2 - Não configura relação de consumo o contrato havido entre empresa de turismo e empresa de transporte aéreo, envolvendo o fornecimento, em consignação, de bilhetes de passagem para emissão direta pela primeira, haja vista que a contratação tem por objetivo o incremento da atividade negocial da empresa de turismo, a qual não se qualifica como destinatária final do produto, e que a contratação atribui onerosidade e risco para ambas as partes.

3 - É válida a cláusula contratual que estipula a responsabili- dade solidária da empresa e dos sócios, bem como os qualifica como fiéis depositários do produto da venda de passagens aéreas feitas pela empresa de turismo, não havendo de se falar em cláusula potestativa pura, pois dependia das partes a sua aceitação.

4 - A alegação de litigância de má-fé deve ser acompanhada de comprovação irrefutável de que a parte agiu com dolo ao praticar atos processuais ou mesmo que se utilizou do Poder Judiciário com fins ilícitos.

111 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

ACÓRDÃO

Acordam os Desembargadores da Segunda Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, J. J. Costa Carvalho - Relator, Angelo Passareli - Revisore Carmelita Brasil- Vogal, sob a presidência da Desembargadora Carmelita Brasil, em negar provimento. Maioria; vencido o Relator, redigirá o acórdão o Revisor, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 09 de junho de 2010.

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação cível deduzida por ANA LUIZA DA SILVA

MENDES e ROSÁLIA DE MOURA PANTOJA contra a r. sentença proferida pelo

d. Juízo da 2ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília em sede de

ação monitória, por meio da qual restou deferido o pedido postulado pela autora na

inicial, VIAÇÃO AÉREA RIO GRANDENSE S.A. - VARIG.

Na sentença ora recorrida, a) acolheram-se os embargos monitórios de Raymundo Pedro Pereira Pantoja, para excluí-lo da lide por ilegitimidade passiva; b) condenou-se a empresa requerente ao pagamento dos honorários advocatícios da parte excluída; c) julgaram-se improcedentes os embargos monitórios das apelantes e de Terra Azul Turismo Ltda., Frederico Sérgio Barreto da Rocha e Glória Maria

de Araújo Barreto da Rocha, para intimá-los a efetuar o pagamento da dívida de

R$ 778.934,89 (setecentos e setenta e oito mil novecentos e trinta e quatro reais e oitenta e nove centavos), além dos honorários advocatícios da parte autora e custas processuais.

Nas razões do apelo, em preliminar, apontam nulidade da sentença, sob o fundamento de negativa de prestação jurisdicional, eis que supõem ter o magistrado singular ignorado suas alegações acerca da nulidade de cláusula contratual e da desconsideração da personalidade jurídica.

Além disso, no mérito recursal, sustentam sua ilegitimidade passiva. Para tanto, as recorrentes reafirmam que compunham o quadro societário da empresa Terra Azul Turismo Ltda., a qual realizava atividade de intermediação em compra e venda de bilhetes de passagens aéreas, em decorrência da qual, aliás, surgiu a dívida objeto desta demanda. Sustentam que, à época da constituição do débito, eram sócias da empresa requerida, porém na condição de minoritárias, com 10% das quotas, cada uma, sendo os 80% restantes divididos igualmente entre Frederico Sérgio Barreto da Rocha e Glória Maria de Araújo Barreto da Rocha. Por tal estado, alegam que embora assinassem os contratos firmados pela empresa, não participavam das negociações, que se realizavam apenas por Frederico Sérgio Barreto da Rocha, de modo a não

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terem ciência de como se efetuavam as transações de repasse do valor da venda dos bilhetes de passagens aéreas para a empresa de viação que lhes vendia os bilhetes em consignação.

Deduzem que a responsabilidade pelos atos de administração era exclusiva do sócio-gerente e majoritário, Frederico Sérgio Barreto da Rocha, de tal sorte que as apelantes sequer saberiam informar se o valor pago pelos clientes pelas passagens foi, ou não, repassado à empresa aérea de quem a agência requerida comprara em consignação.

Ressaltam a condição de subordinação dos sócios minoritários, a fim de alegar a impossibilidade de as apelantes comporem o pólo passivo da demanda.

Já no mérito, reafirmam a nulidade e o abuso da cláusula quarta do contrato firmado entre Terra Azul Turismo Ltda. e Viação Aérea Rio Grandense S.A. - Varig, pela qual, apesar de se tratar de sociedade por cotas de responsabilidade limitada, os sócios da agência de turismo respondem de forma pessoal e solidária pelo valor da venda dos bilhetes aéreos, permanecendo tal responsabilidade mesmo perante eventual retirada de dirigente do quadro social.

Também alegam que constitui ocasião para emprego do artigo 47, do Código de Defesa do Consumidor, eis que, por se tratar de contrato de adesão, não havia outra opção às apelantes senão contratar nos exatos termos da referida cláusula.

Além disso, designam a cláusula como “puramente potestativa” na medida em que institui obrigação infinita ao estipular que a responsabilização dos sócios em relação a tal contrato permanece mesmo após eventual retirada da sociedade, o que acontecera com as apelantes, de tal forma a impor a “desconsideração da personalidade jurídica por antecipação”.

Por fim, requerem o reconhecimento de sua ilegitimidade passiva. Regular preparo à folha 1060.

Contrarrazões às folhas 1067/1071. É o breve relatório.

VOTOS

Des. J. J. Costa Carvalho (Relator) - Presentes os pressupostos de

admissibilidade, conheço do recurso de apelação.

Ab initio, aprecio a preliminar de nulidade da sentença por negativa de

prestação jurisdicional. Nesse aspecto, cumpre trazer a lume conclusão adotada, reiteradamente, neste Tribunal pela qual o juiz não se encontra jungido ao dever de percorrer todos os argumentos das partes se, com fundamentação suficientemente robusta, já motiva sua decisão. Portanto, não prospera o argumento recursal de que a sentença se afeta de nulidade por negativa de prestação jurisdicional. Isto é, “não

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há que se falar em nulidade da sentença por negativa de prestação jurisdicional, se o julgador apreciou, de forma satisfatória, todas as questões postas em julgamento, não havendo norma legal que lhe imponha o dever de analisar e se pronunciar sobre todos os pontos arguidos nos arrazoados das partes.” (20050111066804APC, Relator NATANAEL CAETANO, 1ª Turma Cível, julgado em 01/10/2008, DJ 06/10/2008 p. 72)

Logo, se o magistrado, por considerar lícita e não abusiva a cláusula contratual que ensejou responsabilização das apelantes e não vislumbrar suficiente prova de que não mais compõem a sociedade, as condenou, não se caracteriza a negativa de prestação jurisdicional. Com efeito, os pedidos formulados no pleito e as questões que o juiz de direito considerou necessárias para a resolução da lide foram suficientemente tratadas. Além disso, o desagrado da parte sucumbente com a motivação da sentença não constitui razão suficiente para configurar a negativa da prestação jurisdicional que tornaria nula a sentença.

Por isso, afasto a preliminar de nulidade da sentença por negativa de

prestação jurisdicional.

Superado este aspecto, já ingressando no mérito do recurso, registro o seguinte trecho do relatório da sentença:

“Narra a autora (Viação Aérea Rio Grandense S.A. - Varig) que pelo contrato entabulado entre ela e a requerida (Terra Azul Turismo Ltda.), com cláusula de responsabilidade solidária dos sócios, fornecia por meio de consignação, bilhetes de passagem aérea, cujos valores recebidos deveriam ser-lhe repassados. Todavia, a partir de 04/07/2005 a empresa deixou de quitar seus débitos, no importe de R$ 814.803,28 (oitocentos e catorze mil, oitocentos e três reais e vinte e oito centavos), que descontado o crédito de R$ 35.868,39 (trinta e cinco mil, oitocentos e sessenta e oito reais e trinta e nove centavos), perfaz uma dívida no valor de R$ 778.934,89 (setecentos e setenta e oito mil, novecentos e trinta e quatro reais e oitenta e nove centavos).”

Embasada em tais fatos, a empresa autora demandou, além da empresa de turismo contratante, os sócios que compunham esta sociedade à época da celebração do contrato, eis que, segundo a cláusula quarta do referido acordo, estes responderiam pelo contrato ainda que, futuramente, se retirassem da sociedade. Assim dispõe o preceito:

Cláusula Quarta: Do produto da venda de passagens, a agência e, solidariamente, seus dirigentes, tornar-se-ão, na forma

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da lei (C. Civil, art. 1.265 e seguintes) fiel depositária, para recolhimento de acordo com os prazos estabelecidos pela IATA/COPET, ao Banco UNIBANCO, na cidade de Brasília, Distrito Federal, oferecendo como garantia dessa liquidação, não somente a responsabilidade comercial de sua firma, como a responsabilidade pessoal e solidária dos sócios e/ou repre-

sentantes, que ao final firmam este contrato juntamente com

seus respectivos cônjuges, cujas responsabilidades perdurarão

independentemente de retirada da sociedade, ou alteração do

quadro social da agência.

Após o deferimento do pedido inicial, com a intimação dos requeridos Terra Azul Turismo Ltda., Frederico Sérgio Barreto da Rocha, Glória Maria de Araújo Barreto da Rocha, Ana Luiza da Silva Mendes e Rosália de Moura Pantoja para efetuar o pagamento da quantia devida, apresentaram as duas últimas requeridas esta apelação, sob os principais fundamentos de que não constituem partes legítimas e de que a cláusula citada resta cominada de nulidade.

Exposta a questão, examino o conteúdo recursal no atinente à alegação de ilegitimidade passiva, o que exigirá a avaliação sobre a validade da cláusula contratual que respalda a pretensão da apelada, bem como sobre a permanência da responsabilização das apelantes, considerando-se que a sociedade em comento traz em si a responsabilidade limitada dos sócios e que sustentam as apelantes terem se retirado do quadro societário.

Nesse contexto, as apelantes sustentam que, à época da constituição do débito, eram sócias da empresa requerida, porém na condição de minoritárias, com 10% das quotas, cada uma, sendo os 80% restantes divididos igualmente entre Frederico Sérgio Barreto da Rocha e Glória Maria de Araújo Barreto da Rocha. Por tal estado, alegam que, embora assinassem os contratos firmados pela empresa, não participavam das negociações, que se realizavam apenas por Frederico Sérgio Barreto da Rocha, de modo a não terem ciência de como se efetuavam as transações de repasse do valor da venda dos bilhetes de passagens aéreas para a empresa de viação que lhes vendia os bilhetes em consignação.

O fato de terem as recorrentes se retirado da sociedade, com a cessão de suas cotas ao sócio-gerente, não implica, de imediato, a não responsabilização pelos atos da empresa praticados à época em que a compunham, por força da determinação do parágrafo único do artigo 1003, do Código Civil. Por tal preceito, o sócio que se retira da sociedade mediante cessão de suas quotas mantém responsabilidade solidária com o cessionário em relação às obrigações que tinha como sócio, por até dois anos após a averbação do ato de cessão.

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O emprego do dispositivo carece da identificação da forma de contagem desse lapso de dois anos. Nessa tarefa, sigo a jurisprudência deste Tribunal, no fito de afirmar que o que se submete ao prazo bienal é o ato de exigibilidade de crédito perante a sociedade que fora composta pelo cedente, em concordância com o seguinte julgado:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SOCIEDADE COMERCIAL

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