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CONSIDERAÇÕES DE ORDEM TÉCNICO-PERICIAL A existência de instalações provisórias permitindo a ligação de

No documento 176rdj093 (páginas 92-95)

Tribunal de Justiça do Distrito Federal

APELAÇÃO CÍVEL Nº 2004011101211-

4. CONSIDERAÇÕES DE ORDEM TÉCNICO-PERICIAL A existência de instalações provisórias permitindo a ligação de

corrente elétrica no interior da residência aos postes metálicos de iluminação posicionados ao redor da piscina; as condições da instalação elétrica encontrada no local, bem como o fato de estar chovendo no momento em que teria ocorrido o evento, conforme informação prestada aos peritos, nos levam a considerar os aspectos a seguir descritos:

- a falta de isolação dos condutores no trecho de conexão junto à base dos postes metálicos, permitindo o contato direto dos condutores de energia com a estrutura metálica destes ou indireto através da água residual proveniente da chuva ou da piscina quando usada, estando acumulada em área adjacente aos postes;

- falta de luminária de proteção (globo) para os postes, deixando ex- postos lâmpadas, base da lâmpada e conexões, permitindo o acúmulo de água nesta área que poderia permitir a fuga de corrente elétrica para a estrutura do poste metálico e consequente descarga elétrica em qualquer pessoa que viesse a ter contato com este.”

Em declarações, prestadas em inquérito policial, à fls. 51/52, o responsável pela organização do Comitê Jovem do PMDB, Alisson Gonçalves Domingos, afirmou o seguinte:

“(...) QUE: no ano de 1998, a casa situada na QSA 05, lote 03, Taguatinga, era usada pelo candidato a deputado distrital CHICO CRUVINEL, eis que lá funcionava o comitê do partido do referido

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candidato; QUE como CHICO CRUVINEL não ganhou a eleição, emprestou para o declarante a residência, pois este pretendia montar uma comitê jovem, informando que na época as eleições para Go- vernador estavam em segundo turno; QUE o declarante recebeu a casa, como estava sendo utilizada por CHICO CRUVINEL e não fez nenhuma alteração ao recebê-la; QUE ao receber o imóvel, por empréstimo, colocou uma placa do comitê jovem, quer era coordenado pelo declarante; QUE o comitê era voltado para os jovens, sendo que a vítima F. era uma das voluntárias do comitê; QUE em data que não se lembra, o declarante e várias pessoas participaram de um evento visando divulgar o nome do Governador Roriz, sendo que pessoas do partido adversário arremessaram ovos contra os participantes e várias pessoas ficaram sujas, sendo que ao término deste evento foram para o comitê; QUE as pessoas que foram atingidas pelos ovos chegaram ao comitê e passaram a fazer brincadeiras na piscina existente no lo- cal, sendo F. uma das pessoas que tomou banho na piscina; QUE no momento do acidente ocorrido com F. o declarante encontrava-se no interior do comitê, porém logo tomou conhecimento de que ela havia saído da piscina e estando com o corpo molhado e descalça encostou em um dos postes de iluminação que existiam ao redor da piscina, quando levou um choque; QUE de imediato o declarante providenciou socorro de F., levando-a para o HRT; QUE F. foi atendida naquele nosocômio, sendo depois transferida para o Hospital Universitário, onde veio a óbito;”

Nada obstante, o proprietário do imóvel, Rogério de Sousa Braga, em interrogatório policial, asseverou o seguinte:

“(...); o interrogando ratifica na íntegra suas declarações prestadas nesta Delegacia no dia 24.08.99, conforme fls. 46/47 dos autos, por serem a expressão da verdade, acrescentando que atualmente encontra-se residindo no endereço do fato, após ter feito uma nova casa no local; QUE informa que não tinha nada a ver com a reunião do pessoal do seu partido político, que naquele dia estavam retornando de uma manifestação, da qual o declarante não estava presente,

inclusive não estava presente na mencionada reunião, apenas havia emprestado a cada para ALLISON DOMINGOS, neto de Benedito Domingos, para que realizassem reuniões e comí- cios; QUE, quando emprestou a casa, a mesma estava vazia,

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sem móveis, mas o pessoal do partido de Benedito Domingos, fez algumas pequenas alterações na casa, como pintura carac- terizando o comitê jovem do partido PPB, bem como fizeram as gambiarras em torno da piscina, sem conhecimento e autorização do Interrogando; QUE não sabe quem fez as gambiarras e nem quem

mandou fazer as gambiarras; QUE, ALLISON, após a morte de F., disse que se responsabilizaria pelo ocorrido.”

Em depoimento prestado no mesmo inquérito policial, a irmã da vítima, T. L. M. confirmou que, no dia e no local dos fatos descritos na petição inicial, esta sofreu eletrocussão ao tocar na luminária próxima à piscina, vindo a morrer no dia seguinte, no HUB (fls. 27/28).

Destaco que não há razões para que não se dê verossimilhança às declarações de Rogério, porquanto, além de coerentes com os demais elementos probatórios, não se demonstrou qualquer fato capaz de elidir a sua idoneidade.

Como se vê dos elementos de informação, colhidos no inquérito policial de nº 572/98, havia fios desvestidos de isolamento em contato com o piso e com a luminária, próximos à piscina, além da existência de ligações precárias de energia, eis que desvestidas de devido isolamento. Vale dizer, houve ato omissivo culposo, uma vez que o Partido Progressista, inobstante soubesse do estado das luminárias e do perigo iminente aos frequentadores, permitiu que jovens e crianças fizessem uso do imóvel, inadvertidamente, não se podendo falar, assim, em culpa recíproca, ainda mais porque não demonstrado que a vítima tenha posto a sua incolumidade física voluntariamente. Sequer há prova de que tenha, de fato, entrado na piscina, tal assertiva, feita na contestação, não restou corroborada nos autos e, ainda que se assim fosse, o que se diz ad argumentandum, isto, por certo, não ilidiria a culpa, porquanto, da mesma forma, não tinha ciência, muito menos previsibilidade do risco.

Aliando tais circunstâncias, aos referidos laudos, elaborados pela perícia técnica da polícia civil do Distrito Federal e que não foram objeto de controvérsia, conclui-se que, de fato, a vítima faleceu em decorrência de eletrocussão ou eletroplessão, ao estabelecer, involuntariamente, contato com a luminária, não sabendo que esta matinha contato direto com a rede elétrica.

Quanto à possibilidade de uso, no processo civil, dos elementos probatórios colhidos na esfera criminal, esta Corte de Justiça alberga entendimento em sentido positivo, como se vê do seguinte aresto, in verbis:

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - AFOGAMENTO - PROVAS - CULPA CONCORRENTE.

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I - Não produzidas provas, sequer testemunhais, para esclarece- rem devidamente os fatos, o julgador há que se valer das provas colhidas na esfera criminal carreadas aos autos.

II - Falecendo a vítima por afogamento, restando demonstrado que mesmo advertida, entrou no poço onde ocorreu o evento, em local profundo, embora não soubesse nadar perfeitamente, e que a Ré não tomou as devidas providências para impedir o acesso ao local, cercando-o ou colocando avisos, reconhece-se a ocorrência de culpa recíproca.

III - Recurso conhecido e parcialmente provido. Unânime.” (20020111005529APC, Relator HAYDEVALDA SAMPAIO, 5ª Turma Cível, julgado em 27/05/2004, DJ 30/09/2004 p. 50) Determina a Lei 9.504/97, art. 6º que os partidos da coligação eleitoral funcionam como um só partido no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos interesses intrapartidários. Nesse passo, é razoável entender que, no trato dos interesses privados, cada partido responde de per se. Tal é o entendimento do c. STJ, a exemplo do seguinte aresto, in litteris:

“CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.

1. PARTIDO POLÍTICO QUE DEIXA DE REGISTRAR NO

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