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“DIREITO DE FAMÍLIA AGRAVO RETIDO CONTRADI TA DE TESTEMUNHA IMPROVIDO RECONHECIMEN-

No documento 176rdj093 (páginas 157-161)

Tribunal de Justiça do Distrito Federal

“DIREITO DE FAMÍLIA AGRAVO RETIDO CONTRADI TA DE TESTEMUNHA IMPROVIDO RECONHECIMEN-

TO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. REQUISITOS. NÃO-CARACTERIZAÇÃO.

I - A teor do art. 405 do Código de Processo Civil, para que seja acolhida a contradita de testemunha, há que se demonstrar, de forma idônea, a sua incapacidade, o seu impedimento ou a sua suspeição. Não evidenciado.

(...)

IV - Agravo retido e apelação improvidos.”2

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO aos agravos retidos. MÉRITO

O apelante busca a compensação pecuniária de supostos danos morais decorrentes da veiculação pela internet de notícias de autoria do jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva, imputando-lhe graves acusações, com o seguinte teor:

“O senador Tião Viana (PT-AC) ouviu calado, ontem, o velho ACM (PFL/BA) debochar novamente dos negócios de Fábio Lula da Silva, o ‘Lulinha’”.

“Uma mansão em condomínio de luxo em São Bernardo (SP) é o novo foco de atenção de jornalistas investigativos (foto). Seria de filho esperto de pai idem.”

157 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Ao rejeitar a pretensão, o douto magistrado, em sua irretocável decisão, assevera que:

“No caso em tela, a matéria em si não demonstra a intenção de ferir a honra do autor. Trata-se de veiculação de notícia amplamente divulgada pela imprensa.

Dos depoimentos colhidos e acima transcritos, de igual sorte não se verifica a intenção caluniosa ou injuriosa do requerido em relação ao autor, bem como de que ela tenha, de fato, de- negrido a sua imagem perante a população, ou mesmo como empresário.

De igual sorte, tendo em vista que o autor é filho de pessoa pública (Presidente da República), e que por isso mesmo alvo dos jornalistas e várias notícias, não vislumbro como a matéria poderia ferir a sua honra subjetiva, até porque nada de ofensivo foi concretamente veiculado.

O fato de anunciar possíveis investigações sobre o patrimô- nio do autor, ainda que a residência da foto não seja de sua propriedade, não implica, necessariamente, e da forma como veiculada, em ofensa à sua honra, não estando presente, no caso, o animus injuriandi.

Trata-se de incômodo, desconforto em razão de publicação de matéria sobre focos de investigação em relação a pessoa

pública.”3

Com efeito, não há ofensa à honra quando a intenção do articulista é apenas informar o cidadão acerca dos fatos que cercam a vida da pessoa objeto da notícia. Embora na reportagem se tenha utilizado de expressões irônicas, a ótica imprimida na nota é apenas a de informar sobre possível investigação acerca do patrimônio do autor.

Desta forma, é de se concluir que a notícia tida por ofensiva não consubstancia conduta ilícita, idônea a ensejar compensação pecuniária ao autor pelo suposto dano moral. Se abalo houve, vale ressaltar, foi apenas à suscetibilidade do autor, que não chega a configurar dano moral indenizável.

De outra perspectiva, a lide em julgamento estabelece um aparente conflito de garantias constitucionalmente asseguradas, na medida em que a Carta Magna consagrou a inviolabilidade da intimidade, da honra, da vida privada e da imagem. Por outro lado, garantiu também a liberdade de pensamento, de expressão e de comunicação, independente de censura ou licença prévia.

158 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Assim, para dirimir o impasse, a doutrina mais abalizada e a jurisprudência predominante recomendam que os princípios constitucionais em confronto devam ser conciliados, pois diante da unidade sistemática, a Constituição “não pode estar em

conflito consigo mesma”. Portanto, o intérprete deve sopesar os interesses em conflito

e, amparado pelo princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, dar prevalência àquele que a própria ordem constitucional elevou como um dos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito.

No caso em apreço, não obstante o incômodo experimentado pelo autor em face da divulgação da notícia, a demanda não extrapolou os limites do exercício do direito constitucionalmente assegurado de informar. Limitou-se a divulgar, em caráter hipotético, assunto de interesse público, de sorte que não se cogita de ato ilícito ou de abuso de direito.

Versando tema semelhante ao debatido nestes autos, o eminente Des. Nívio Gonçalves obtemperou:

“A vingar o pretendido pelo apelante, findará proibida a veiculação de notícias com potencial para desagradar aquele a quem ela se refere. Todavia, inexiste óbice para que a imprensa divulgue notícias que aludam a ocorrências ne- gativas. A norma permissiva é um consectário do princípio da liberdade de expressão, de sorte que somente em casos extremos, nos quais se evidencie notório, exacerbado e específico dolo de denegrir a imagem da pessoa envolvida, pode o Poder Judiciário imiscuir-se na atividade dos órgãos de imprensa, coibindo os abusos que porventura sejam detectados. E, na espécie dos autos, as publicações não con- gregam matiz tendenciosa. São noticiários, evidentemente, de caráter negativo, mas que se subsumem ao que propugna a Carta Política, pois essa avaliza a publicação, pelos órgãos de imprensa, de fatos de iniludível interesse da sociedade. Ademais, consoante já aduzido, a reportagem conferiu o devido respeito ao autor, ao limitar-se ao relato de fatos, sem tecer qualquer pronunciamento prévio acerca da sua

efetiva responsabilidade...”.4

Por ter-se conformado com os princípios e fundamentos ora expostos, a sentença é incensurável.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. É como voto.

159 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Desa. Ana Maria Duarte Amarante (Revisora) - Senhor Presidente, por

ocasião da revisão do processo, também não vislumbrei, na curta notícia veiculada no sítio eletrônico do jornalista apelado, a intenção de mácula da honra do ora apelante.

Como já ponderava o então Procurador-Geral da República Dr. Aristides Junqueira, em inúmeras manifestações em autos de processos, há pessoas que, mercê da vida pública, se encontram em zona mais ampla de iluminação, da qual partilham seus familiares mais próximos. Daí a maior curiosidade quanto a aspectos de sua vida. Não haveria como cercear esse tipo de jornalismo investigativo, que não fez afirmação segura, inclusive utiliza o verbo no condicional, “seria” a mansão quiçá de propriedade do ora apelante. E noticia também uma troca de palavras no âmbito do Senado, que amplamente é veiculado pela televisão daquela Casa.

Assim, só vislumbrei o animus narrandi, a intenção de informar, que não atrai o dever de reparar. Nesse ponto, a balança há de pender favoravelmente à liberdade de imprensa, quando não se vislumbra esse ânimo de caluniar ou de difamar, que realmente não se extrai da notícia.

Assim sendo, também nego provimento ao recurso, subscrevendo os doutos fundamentos do eminente Relator.

Desa. Vera Andrighi (Vogal) - Com o eminente Relator. DECISÃO

Negou-se provimento. Decisão unânime. Notas

1 STJ-5ª Turma, Resp 158.093-SP, rel. Min. Felix Fischer, j. 18.6.98, não conheceram, v.u., DJU 3.8.98, p.

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2 (20070111282156APC, Relator VERA ANDRIGHI, 1ª Turma Cível, julgado em 11/02/2009, DJ 09/03/2009

p. 38)

3 (fls. 428)

4 Apc nº 1988.01.1.0001653, Rel. Des. José Divino de Oliveira, acórdão nº 177.257.

160 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

No documento 176rdj093 (páginas 157-161)