• Nenhum resultado encontrado

O valor da indenização deve ser fixado considerando-se a lesão sofrida, a condição financeira do réu e caráter pedagógico

No documento 176rdj093 (páginas 99-105)

Tribunal de Justiça do Distrito Federal

APELAÇÃO CÍVEL Nº 2004011101211-

2. O valor da indenização deve ser fixado considerando-se a lesão sofrida, a condição financeira do réu e caráter pedagógico

e punitivo da medida, preponderando-se pela proporcionali- dade e razoabilidade, evitando-se o enriquecimento sem causa do autor.

3. Recurso conhecido de improvido” (2008.09.1.0141414ACJ, Relator Rafael ASIEL HENRIQUE, Primeira Turma Recursal dos Juizados Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 23.06.2009, DJ 27/07/2009, p. 207) (g.n)

Ainda de acordo com o entendimento sufragado por esse Egrégio Tribunal:

“...A INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL NÃO TEM, CONSOANTE A DOUTRINA, CARÁTER TIPICAMENTE INDENIZATÓRIO, DE MOLDE A QUE SE ESTABELEÇA

99 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

EXATA CORRESPONDÊNCIA ENTRE A OFENSA E O

QUANTUM DEFERIDO PELA OCORRÊNCIA DESTA,

ATÉ PORQUE A DOR ÍNTIMA NÃO TEM PREÇO, NEM PODE CONSTITUIR FATOR DE ENRIQUECIMENTO. 02. “O VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DEVE SER ARBITRADO COM RAZOABILIDADE, COM OBSERVÂNCIA DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS DO OFENSOR E DA VÍTIMA.” (APC 2000.01.1.10.011166-0)...” (APC 2004.0110794300 - DF, 5ª Turma Cível, Rel.: ROMEU GONZAGA NEIVA, DJU: 01/09/2008, pág. 100)”

Sob esse prisma e tendo por base o princípio da razoabilidade, hei por bem fixar os danos morais no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), na linha da iterativa jurisprudência do c. STJ, a exemplo do seguinte aresto:

“HOSPITAL PSIQUIÁTRICO. PACIENTE. MORTE. DANOS MORAIS. MONTANTE. EXAGERO. REDUÇÃO. POSSIBI- LIDADE

1 - Nos termos do entendimento pacificado desta Corte, o montante indenizatório, fixado a título de danos morais, só se submete ao crivo deste Superior Tribunal de Justiça se for ínfimo ou exorbitante. 2 - No caso concreto, afigura-se exagerada a indenização em 1600 salários-mínimos para cada recorrido, marido e filho da vítima, morta por outro paciente psiquiátrico, enquanto encontrava-se internada no hospital.

3 - Redução para o valor global de R$ 255.000,00 (duzentos e cinquenta e cinco mil reais) com juros da data do evento e correção desta data.

4 - Recurso especial conhecido e parcialmente provido.” (REsp

825.275,4ª Turma, Min. Rel. Fernando Gonçalves, DJe 08/03/10)

Quanto aos juros de mora, tem-se que deve ser fixado no percentual de 6% (seis por cento) ao ano, até a vigência do novo Código Civil, a partir do que passa a incidir o percentual de 1% (um por cento) ao mês, vez que o art. 406, do CC/2002 prevê o percentual correspondente à taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional e, que, conforme construção jurisprudencial dominante, foi estipulado em 12% ao ano.

100 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

“CIVIL. DANOS MORAIS, MORTE DE FILHO ÚNICO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANO MORAL CONFIGU- RADO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE REJEITADA.

QUANTUM ARBITRADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS.

MANUTENÇÃO. TAXA DE JUROS ANTES DA VIGÊNCIA DO CC/2002. CORREÇÃO MONETÁRIA.SUCUMBÊNCIA PARCIAL. INEXISTÊNCIA.

I - A autora é parte legítima para requerer danos morais decor- rentes da morte de seu único filho. Preliminar rejeitada.

II - A perda do único filho e de outros entes (nora e netos) em trágico acidente de trânsito, ocorrido de forma abrupta e violenta é causa de profundo sofrimento e dor moral.

III - Quanto ao valor indenizatório, a r. sentença não merece reparos, visto que, bem fundamentada, observou a capacidade econômica das partes, a gravidade da repercussão do dano e reprovabilidade do requerido.

IV - Os juros de mora quando da vigência do Código Civil de 1916 são devidos no percentual de 0,5%. Contudo, a partir da

vigência do Novo Diploma Civil, esse percentual deve ser majorado porá 1% ao mês.

V - Tratando-se de indenização por danos morais, a correção monetária é devida da partir da sentença.

VI - O valor pleiteado nas indenizações por danos morais é mera- mente estimativo, devendo a sucumbência ser verificada de acordo com a procedência ou não do pedido de condenação.

VII - Recurso do réu parcialmente provido para fixar a correção monetária a partir da sentença e recurso da autora provido (g.n).”

A correção monetária deve incidir a partir da fixação, ocorrida neste ato, consoante súmula 362 do STJ.

Inverto o ônus da sucumbência, condenando o réu a pagar as custas processuais e os honorários advocatícios, estes no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), destacando que assim o fiz em razão de que o pedido de condenação a título de danos morais tem valor meramente estimativo, não, podendo, portanto, ser considerada a fixação em valor abaixo do pedido inicial como sucumbência.

Necessário, agora, analisar a denunciação da lide.

O posicionamento jurisprudencial que adoto é no sentido de que a denunciação da lide só deve ser admitida quando o denunciado esteja obrigado, por

101 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

lei ou por contrato, a garantir o resultado da demanda, caso o denunciante resulte vencido. Portanto, não é cabível, na hipótese de mero direito regressivo eventual, em que o denunciante requeira a análise de fundamento novo não constante da lide originária, e que possa ser pleiteado em ação própria.

No caso em análise, trata-se de eventual direito de regresso que o réu, eventualmente, tenha contra os coobrigados, em caso de diminuição patrimonial, que pode ser perseguida em ação autônoma, não havendo contrato ou imposição legal de dever de garantia, motivo pelo qual a denunciação da lide mostra-se mesmo incabível.

A propósito, trago à colação precedente de minha relatoria, expressis

verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA - DENUNCIAÇÃO À LIDE - DESCABIMENTO - DECISÃO MANTIDA.

01. A denunciação da lide só deve ser admitida quando o de- nunciado esteja obrigado, por lei ou por contrato, a garantir o resultado da demanda, caso o denunciante resulte vencido, não sendo cabível na hipótese de mero direito regressivo eventual, que requer análise de fundamento novo não constante da lide originária, e que pode ser pleiteado em ação própria.

02. Recurso desprovido. Unânime.” (AGI - 2009002011139-6, DJe. 16/11/2009)

Com base no princípio da causalidade, deve o denunciante arcar com os ônus da sucumbência, conforme, aliás, está expresso na r. sentença guerreada.

Feitas estas considerações, DOU PROVIMENTO ao apelo, julgando procedente em parte o pedido inicial para condenar o Réu a pagar R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de indenização de danos morais, acrescidos de juros e correção monetária conforme acima exposto, porém JULGO IMPROCEDENTE a denunciação da lide oferecida, ressalvado manejo das vias ordinárias para buscar o que entende ser de direito

É como voto.

Des. Lecir Manoel da Luz (Revisor) - Presentes os pressupostos de

admissibilidade, conheço dos recursos.

Volta-se o apelo formulado por ROBERVAL EUSTÁQUIO MACHADO e OUTRO contra a r. sentença de fls. 382/391, que julgou improcedentes os pedidos

102 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

formulados na ação de reparação por danos materiais e morais ajuizada pelos ora apelantes em desfavor do PARTIDO POPULAR - PP, e condenou os autores ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.000,00 (hum mil reais), restando suspensa a cobrança ante o deferimento da gratuidade da justiça.

Inconformados, apelam os requerentes (fls. 394/398), aduzindo, em síntese, que a r. sentença desconsiderou a verdade dos fatos e a documentação colacionada aos autos, focando-se, apenas, nas sucessivas denunciações à lide efetuadas pelo requerido; que não apreciou qual dos denunciados seria o responsável pela morte da menor, filha dos apelantes, já que, se não fora o apelado, um dos denunciados haveria de sê-lo; que restou comprovado, inclusive pelo depoimento do dono do imóvel palco dos acontecimentos, ter sido o local cedido gratuitamente para uma agremiação política, ou a uma coligação partidária, entidades que devem ser responsabilizadas pelo fato danoso decorrente da morte da menor; que o evento danoso está comprovado, bem como o nexo de causalidade.

Requerem, assim, a reforma da r. sentença, dando-se provimento ao recurso, para que o requerido, ou alternativamente, os litisdenunciados, sejam condenados ao pagamento indenizatório de danos morais, renunciando expressamente à composição dos danos materiais (fl. 398).

Apela, de igual forma, o Partido Popular - PP (fls. 402/408), pugnando pela reforma da r. sentença a fim de que seja excluída a condenação em custas processuais e honorários advocatícios relativamente à denunciação a lide.

Eis a suma dos fatos.

Primeiramente, examino o recurso dos requerentes.

Os apelantes buscam a reparação de danos morais fundada em evento danoso consistente na morte por eletrocussão de sua filha menor, em dependências cedidas ao requerido para suas atividades políticas, imputando a este responsabilidade extracontratual, porquanto praticara ato ilícito consistente em negligenciar as instalações elétricas do local, ante a precariedade verificada pelos laudos juntados aos autos.

Com efeito, a responsabilidade extracontratual, também chamada de aquiliana, resulta de inadimplemento normativo, por força da violação de um direito de outrem, por omissão voluntária, negligência ou imprudência, causando-lhe dano, sem que as partes estejam ligadas por uma relação obrigacional preexistente.

Entretanto, a obrigação de indenizar proveniente de ato ilícito pressupõe a existência de requisitos, quais sejam: a existência de conduta ilícita, fundada na ação ou omissão do agente; o nexo causal, ou seja, a relação de causalidade entre a conduta do agente e o resultado danoso; a existência do dano e, por fim, o dolo ou a culpa do agente.

103 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

O cenário dos autos, amparado por prova robusta, demonstra que a menor, filha dos apelantes, voluntária do Comitê político no qual atuava o recorrido, após participar de passeata em favor de candidato apoiado pela coligação partidária, para lá se dirigiu, vindo a falecer nas dependências daquela agremiação política por força de “edema agudo do pulmão por parada cardiorrespiratória consequente de choque elétrico” tal como comprova o laudo de exame cadavérico (fl. 14), uma vez exposta a local com instalações elétricas precárias, com fios desencapados e ligações elétricas a descoberto, fato também comprovado pelo laudo de exame em local (fls. 33/38), cenário que, por tudo que se apurou, convidava a uma tragédia, infelizmente concretizada.

De outra parte, verificou-se que o recorrido recebeu o imóvel em comodato verbal (fl. 56) o que, nos termos do artigo 582 do Código Civil, o obriga a conservar, como se sua fosse, a coisa emprestada. Nesse passo, sobressai a sua responsabilidade em manter o imóvel em condições seguras de uso, máxime quando ali se instalara o Comitê Jovem da campanha política, com grande frequência de jovens voluntários.

Nesse passo, observa-se a presença dos requisitos indispensáveis à configuração da responsabilidade civil, consistente na culpa omissiva do requerido em não zelar pelas condições de segurança do local, a ocorrência do evento morte da filha menor dos apelantes por eletrocussão, e o nexo causal estabelecido entre a conduta omissiva e o resultado, conforme já examinado.

Presente, pois, o ato ilícito (art. 186/CC) a ensejar a responsabilidade civil, cumpre fixar a indenização por danos morais, com arrimo no artigo 927, caput, do Código Civil.

Na hipótese dos autos, o dano moral é presumido, sendo desnecessária a prova direta do dano, adotando-se a teoria do dano in re ipsa, tal como reconhecido pela jurisprudência deste e. Tribunal.

Nesse passo, a indenização por dano moral deve proporcionar à vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem provocar o enriquecimento sem causa, produzindo, no causador do dano, efeito preventivo-pedagógico.

Na fixação da verba indenizatória, diante da ausência de critérios legais, deve o julgador agir com prudência, bom senso, proporcionalidade, razoabilidade e adequação, levando-se em conta as circunstâncias fáticas, a gravidade do dano e seu efeito lesivo, bem como as condições sociais da vítima e do ofensor, de modo que reprima o causador do dano e amenize a dor moral que provocou.

Os abalos emocionais experimentados pelos autores em decorrência da perda de sua filha são consideráveis e capazes de justificar a fixação de valor indenizatório em patamar que atenda aos princípios e finalidades postos em relevo.

104 R. Dout. Jurisp., Brasília, (93): 45-490, maio/ago. 2010 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Destarte, tenho que o valor indenizatório de R$ 100.000,00 (cem mil reais), em benefício dos apelantes, é suficiente e adequado à compensação dos danos morais discutidos.

No documento 176rdj093 (páginas 99-105)