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Aprendizagem e serviço solidário: denominações e principais

Aprendizagem e serviço solidário é o nome de atividades pedagógicas de intervenção social onde o aluno aprende a pensar e a utilizar os saberes escolares para resolver problemas sociais reais. Com isso, espera-se que o conhecimento acumulado seja aplicado e ampliado em favor da tomada de consciência de que é preciso assumir a responsabilidade pela construção de outra ordem social possível. Tal prática tem sido difundida em diversos países e pode ser reconhecida em diversos nomes, tais como “aprendizagem e serviço solidário”, ou “aprendizagem-serviço” ou “aprendizagem e serviço” (comum entre os países ibero-americanos); “voluntariado educativo”, na Itália e no Brasil; “service-learning”, nos EUA. Podem ocorrer situações em que há diferentes nomenclaturas dentro do mesmo país. No entanto, para os especialistas, as diferentes ocorrências não querem dizer nem que se tratam da mesma proposta nem a descaracterizam (TAPIA, 2001). Isso porque há adequações regionais para o seu desenvolvimento, que consiste, a priori, em estimular os alunos a participarem de um projeto de intervenção na comunidade para que aprendam a ser solidários utilizando os conhecimentos aprendidos na escola. Neste sentido, “é uma proposta educativa que combina processos de aprendizagem e de serviço à comunidade em uma só atividade, na qual os estudantes se formam ao implicar-se em atender as necessidades reais identificadas na comunidade” (ZERBIKAS, 2013).

Nos Estados Unidos, o service-learning integra a aprendizagem formal ao desenvolvimento de projetos sociais, onde os alunos aprendem e se desenvolvem por meio da participação em atividades educativas organizadas para atender às necessidades de uma comunidade, promovendo a responsabilidade cívica69. Programas de service-learning envolvem os alunos em um compromisso mútuo, em atividades que atendem às necessidades locais durante o desenvolvimento das habilidades acadêmicas e, como resultado, espera-se um melhor desempenho educacional e um impacto na

69“Learn and Service America” é o nome do Programa de Governo que estimula o desenvolvimento de projetos de service-learning.

qualidade de vida da comunidade atendida, numa combinação de serviço oferecido à comunidade com a aprendizagem da sala de aula70. Desta forma,

os estudantes não somente aprendem sobre democracia e cidadania, mas efetivamente contribuem como cidadãos visando melhorar a vida da comunidade71.

No Brasil, o termo “voluntariado educativo” remete a uma experiência formativa onde o aluno é estimulado a se envolver em uma atividade de intervenção social. O nome não sugere uma repetição do voluntariado adulto, mas, sim, um engajamento político voltado à formação para a cidadania, fortalecendo o vínculo escola – comunidade (SBERGA, 2001; MORI e VAZ, 2006).

ExCE1 - Nós convidamos os nossos alunos do Ensino Médio para serem monitores voluntários no Parque que cuida da arborização da cidade. Graças a esse trabalho o Parque pode ser aberto para visitas e acabou entrando no calendário das escolas municipais da cidade. Os alunos- voluntários dispunham do tempo deles para passar conceitos de Educação Ambiental para crianças menores, num ambiente que era perfeito pra isso. Eles faziam a pesquisa sobre o tema, estudavam o conteúdo, preparavam a atividade, selecionavam o material, partia tudo deles e a gente dava a orientação. Assim, aprendiam muito mais sobre o tema, mas aprendiam a organizar uma atividade, a estudar, a preparar uma peça de teatro, encenar, falar em público...

O voluntariado educativo é uma experiência educativa voltada para a formação do jovem, um espaço planejado de aprendizagem, em que os alunos aprendem a contribuir socialmente, assumindo a responsabilidade de estudar e trabalhar para uma causa comum, utilizando para isso os saberes acumulados.

Considerando a realidade sociocultural e os muitos desafios e situações conflitivas em que o jovem vive, o

70 A principal diferença percebida no desenvolvimento de práticas de service-learning e aprendizagem e serviço está na concepção do que é “solidariedade”. Para os norte americanos, ela está mais no campo assistencial do que de conscientização, portanto os projetos de tendem a ter um foco assistencialista. Além disso, espera-se como resultado das intervenções o desenvolvimento eficaz do projeto (etapas, cronograma e metas cumpridas) e não a transformação social propriamente dita (Anotações de palestras conferidas no XIV e XV Seminário Internacional de Aprendizagem e Serviço Solidário, Buenos Aires, 2011 e 2012). 71http://www.learnandserve.gov/about/lsa/index.asp

voluntariado se apresenta como espaço alternativo não só de inserção social e compromisso de cidadania responsável, mas também como proposta formativa que ajuda o jovem a conhecer a si mesmo e a descobrir suas potencialidades profundas, sua vivacidade e seu entusiasmo. Por essas suas qualidades, o voluntariado sempre foi considerado relevante no setor juvenil, seja pela significatividade das suas experiências educativas, seja pelo valor do seu empenho. (SBERGA, 2001, p. 158)

Trata-se, portanto, de uma experiência preparatória, necessariamente voltada para a formação do jovem e para a intervenção social. No Brasil, milhares de escolas que desenvolvem atividades de voluntariado educativo foram reconhecidas pelo Selo Escola Solidária72. Ao se conhecer as experiências dessas escolas, pode-se perceber a diversidade de possibilidades de adequação de acordo com as expectativas e necessidades locais, daí a necessidade de se ter clareza do que se quer fazer e o que pode ser feito em relação ao planejamento pedagógico.

Segundo Tapia (2001, p. 28), as atividades de aprendizagem e serviço solidário (ou voluntariado educativo) se caracterizam dentro de um universo de quatro ocorrências:

a) quando a atividade é desenvolvida com pouca intervenção social e tais ações são desvinculadas do contexto educativo (por exemplo, uma atividade assistencialista, como uma ação de arrecadação de agasalhos conduzida pela direção da escola);

b) quando a questão da aprendizagem é valorizada, mas não há intervenção social (por exemplo, pesquisas e projetos de estudo do meio sobre a desigualdade social, a pobreza, a violência, que são desenvolvidos com os alunos, verificados nas avaliações escolares, mas não sugerem intervenção social);

c) quando a escola desenvolve um projeto social para resolver um problema da comunidade, porém não há planejamento para utilizar a experiência como uma intervenção formativa para os alunos (por exemplo,

a escola oferece à comunidade um curso de alfabetização de jovens e adultos no período noturno); e

d) quando há planejamento de um projeto de intervenção social e esta prática é pensada enquanto experiência formativa (por exemplo, os alunos participarem como monitores de um curso de alfabetização de jovens e adultos oferecidos pela escola). Desta forma, têm que estudar e, ao mesmo tempo, contribuem para o processo de aprendizagem dos alunos do EJA e aprendem a se engajar em projetos comunitários.

Atividades de aprendizagem e serviço solidário, portanto, são aquelas em que o trabalho pedagógico tem como objetivo melhorar a qualidade de vida da comunidade e esta própria experiência ensina o aluno a ser solidário. Em outras palavras, são propostas pensadas a partir da articulação dos conteúdos e saberes que se desejam ensinar, permitindo o estreitamento da escola com a comunidade. Tais atividades são pensadas enquanto uma metodologia de trabalho, proposta de organização curricular ou ainda uma prática educativa. No entanto, essa prática pode variar de acordo com o que a escola compreende por solidariedade, como dissemos no início deste capítulo.

Se a atividade for conduzida sem uma consciência crítica, ela pode reforçar o conhecimento-regulação ao invés de promover o conhecimento- emancipação. Portanto, ao analisar a qualidade das experiências de aprendizagem e serviço ou voluntariado educativo é necessário considerar as diferentes compreensões sobre solidariedade, pois elas podem levar a atividade a seguir propostas formativas completamente diferentes, uma vez que a visão que se tem sobre solidariedade altera a qualidade da própria formação.

Nesse sentido, vimos a necessidade de se criar uma tipologia para a solidariedade desenvolvida como prática curricular educativa, visando contribuir para a compreensão das diferentes nuances que podem ocorrer de acordo com a percepção do educador e o desenvolvimento das atividades. Não pretendemos com isso delimitar exclusivamente aos eixos apresentados as ocorrências de solidariedade. A tipologia sugere um recurso didático para facilitar a compreensão do tema, sem querer esgotá-lo.