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Escola2 – Escola da Rede Pública Estadual de Ensino

1. Apresentação das escolas da pesquisa

1.2 Escola2 – Escola da Rede Pública Estadual de Ensino

A Escola2 foi construída em 1988, ainda com nome provisório, para atender o crescimento da demanda de alunos, pois só havia uma escola no local e estava superlotada. Esse excedente de alunos compôs o seu corpo

discente. Foram convidados professores que residem na região para formar o quadro de professores.

Quando inaugurada, a escola contava com quatro salas de aula, banheiros masculino e feminino para os alunos e professores. A diretoria, a secretaria e os professores dividiam a mesma sala. Havia também a cozinha, que é a mesma até hoje.

Em 1990, a escola foi nomeada em definitivo, uma homenagem ao fundador de uma empresa da região que colabora com esta escola. Com o crescimento da demanda, em 1991 a escola teve que ser ampliada. Foi construída uma sala, ocupando parte do pátio. Em 1996, com a reorganização, a escola passou a funcionar em dois períodos; antes, funcionava em quatro períodos, atendendo apenas a alunos das séries iniciais (Ciclo I).

A escola atende a quase 900 alunos e tem um quadro de 32 professores. Segundo a Coordenadora Pedagógica (CPE2), todos são formados e é baixa a rotatividade, o que é compreendido como um dos fatores de qualidade da execução do projeto pedagógico: “nós temos 32 professores, pelo menos 20 tem pós. A maioria dos professores já é da casa e estão aqui há algum tempo. Digamos que 20 professores já estão aqui há muito tempo. [...] Nossa rotatividade é muito pequena e isso garante um padrão de qualidade melhor na educação oferecida”. Quanto às instalações, na parte externa da escola há uma quadra poliesportiva, atualmente reformada, sala de Educação Artística, jardim, horta, playground, uma casinha do conto feita de madeira de reflorestamento e uma grande parte do terreno acidentado, com árvores de diversas espécies, sendo que a grande maioria são eucaliptos.

Sobre a comunidade, constatou-se que as famílias, em média, residem no bairro entre 2 a 10 anos e algumas entre 10 e 15 anos. Um grande número da comunidade atendida pela escola mora nos apartamentos do CDHU e conjuntos habitacionais cedidos pelo Governo do Estado e pela Prefeitura (movimento iniciado em 1990), além de 38% possuírem casa própria e 22% viverem de aluguel.

Quanto à média de renda familiar: 30% estão desempregados; 10% ganham até quinhentos reais por mês; 20% recebem mais de mil reais por

mês; e 40% ganham até mil reais. Em relação à escolaridade: 60% possuem o Ensino Médio completo; 30%, o Ensino Fundamental completo; 5% possuem Ensino fundamental incompleto; e 5%, ensino superior22.

A Escola2 tem como missão construir uma sociedade mais justa, autêntica, solidária e saudável, na qual os sujeitos sejam mais conscientes dos acontecimentos gerais. Entre seus objetivos, destaca-se assegurar ao educando a formação para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir em estudos posteriores; proporcionar o conhecimento do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, da arte, do esporte e dos valores em que se fundamenta a sociedade; fortalecer os vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social; incentivar a elaboração e implementação de projetos que possibilitem o aperfeiçoamento da ação educativa; buscar a interação entre escola e comunidade de forma contínua, favorecendo a compreensão dos fatores políticos, sociais, culturais e psicológicos que se expressam no ambiente escolar, ficando demarcada pelas atribuições e responsabilidades.

Vale pontuar que a escola está situada na região de Perus, onde a questão dos aterros sanitários23 é marcante. O Aterro Bandeirantes se localiza

no sentido SO do Distrito de Perus, já na divisa com o Distrito do Jaraguá, local caracterizado por grandes trechos de áreas protegidas do Parque do Jaraguá a oeste e do Parque Estadual da Serra da Cantareira, a leste.

Com uma área total de 1.400.000m², o Aterro Bandeirantes está desativado desde março de 2007, tendo operado durante 28 anos e recebido, até 2006, cerca de 36 milhões de toneladas de resíduos. Nesse período, recebia metade de todo o lixo produzido diariamente em São Paulo. (CALIXTO, 2012)

Esse trabalho já valeu à Prefeitura de São Paulo, uma das participantes do projeto, o equivalente a 800 mil toneladas de créditos de

22 Fonte: Projeto Pedagógico da escola.

23 Aterros sanitários são locais para onde os resíduos sólidos urbanos podem ser destinados. Diferentemente dos lixões (depósitos a céu aberto), nos aterros sanitários existe toda uma preparação do solo para que não haja contaminação do lençol freático e das áreas de entorno, assim como o monitoramento do ar para que sejam verificadas as emissões de gases provenientes dos resíduos ali enterrados.

carbono, de acordo com as normas do Protocolo de Quioto (acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa), que deve render aos cofres municipais quantia próxima R$ 40 milhões (PEDROZO, 2008).

No entanto, a população local não participou do processo decisório dos investimentos, recebendo uma parte ínfima dos benefícios gerados pelos contratos: alguns parques revitalizados, alguns mutirões de limpeza urbana e uma cota de energia elétrica. Além disto, em alguns casos, a população foi pressionada a deixar os perímetros de intervenção dos projetos quando se encontraram no caminho dos projetos urbano-ambientais (RIZZI, 2011).

O principal projeto desenvolvido pela Escola2 é o Projeto Reciclar. O projeto começou para se resolver um problema interno da escola. Após o recreio, percebia-se que o pátio ficava muito sujo. Mesmo disponibilizando cestos por todo o ambiente, o lixo era jogado no chão e, por causa disso, muitos pombos começaram a aparecer.

Buscando resolver tal situação, a coordenação da escola começou a conversar com os alunos, mostrando que jogar o lixo no chão não estava certo e ainda ajudava na proliferação dos pombos, que transmitem doenças. Aproveitando o momento, a escola começou a trabalhar de fato a questão do lixo como um projeto interdisciplinar. A conscientização começou com a exibição da série O mundo de Valentina24, que trata de questões referentes ao

desenvolvimento sustentável, consumo consciente, destino do lixo, a vida dos catadores, a reciclagem e a reutilização, os aterros sanitários, entre outros temas.

As professoras de todas as séries foram estimuladas a incluir, de acordo com a série/ano, uma atividade curricular referente à reciclagem, de acordo com o conteúdo que estivessem desenvolvendo. No 1º ano, os alunos fizeram listas dos materiais que podem ser reciclados, o que colocar em cada cesto colorido, confeccionaram cartaz ilustrando o que aprenderam com

24

O Mundo de Valentina é uma série de televisão exibida pela Rede Globo, durante a programação do Fantástico, em junho de 2007. Foram 5 episódios onde o casal de jornalistas Gabriel Moojen e Fran Zanon tentou descobrir como seria o mundo da filha deles, a Valentina, quando ela fizer 36 anos, a idade do pai. A série trata de meio ambiente e das questões da água, do lixo, do clima, dos alimentos e do consumo. A série pode ser assistida na Internet, em vários canais disponíveis no Youtube. (O MUNDO DE VALENTINA, 2013)

pequenos textos de produção oral com destino escrito; nos 2º anos, fizeram um painel "Você sabia..."; os alunos do 3º ano produziram folhetos explicativos para distribuir para a comunidade com informações sobre a importância da reciclagem; o 4º ano elaborou sínteses, resumos e pesquisas diversas; e o 5º Ano produziu um jornal mural.

Para destinar corretamente o material arrecadado com a reciclagem, a escola fez uma parceria com uma cooperativa do bairro, que passou a recolhê- lo toda semana. As famílias foram incentivas a separar o lixo em casa e trazer para a escola, contribuindo com a cooperativa e também a educação das crianças. Com o desenvolvimento do projeto, percebe-se na escola uma melhor limpeza do pátio após o recreio. A comunidade está, aos poucos, aderindo ao projeto e a escola já virou ponto de coleta seletiva do bairro. A cooperativa reconhece a relevância do projeto, uma vez que depende da doação das escolas da região como principal fonte de entrada de material, portanto, de renda.

Entre os objetivos da escola em desenvolver esse projeto está a intenção de se trabalhar com situações de aprendizagem pensadas a partir de propostas de intervenção na realidade. Segundo o Plano Pedagógico, a escola busca desenvolver estratégias onde os alunos possam compreender as consequências ambientais de suas ações nos locais onde estudam e convivem, considerando que a solução dos problemas ambientais deve ser em âmbito local. O projeto envolve a comunidade escolar (professores, alunos, pais, funcionários e direção) e a comunidade (empresas, cooperativas, organizações sociais e vizinhos), criando um clima de trabalho colaborativo, baseado na responsabilidade e na solidariedade.

Entre os principais objetivos, destacam-se:

• possibilitar aos alunos oportunidades para que modifiquem atitudes e práticas pessoais, adotando posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a interações de cuidado e atenção com a sociedade;

• observar e analisar fatos e situações sobre os tipos de lixo do ponto de vista ambiental, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar para se produzir menos lixo;

• instrumentalizar os alunos na compreensão da realidade e na busca de soluções para questões sociais, possibilitando participar dos problemas fundamentais e urgentes da vida social; e

• conscientizar o aluno para a necessidade de pensar na questão do lixo, na reciclagem, nos comportamentos responsáveis de “PRODUÇÃO" e "DESTINO" do lixo, na escola, casa e espaços em comum.