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Escola1 – Escola da Rede Pública Municipal de Ensino

1. Apresentação das escolas da pesquisa

1.1 Escola1 – Escola da Rede Pública Municipal de Ensino

Localizada no Bairro Mauá, na cidade de São Caetano do Sul, a Escola1 foi fundada em 1967. Em 1978, ela passou a ser uma autarquia, mas voltou a ser incorporada à rede municipal em 2004. A escola possui 160 professores e 2.400 estudantes; esse grupo – que compreende alunos do Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio regular e técnico – está dividido em três períodos letivos. Pelo ensino técnico, com duração de três semestres, a escola oferece cursos – como: Secretariado, Publicidade, Informática, Contabilidade e Administração. O trabalho realizado pela escola visa promover a potencialidade e o talento dos alunos, integrando a educação ao trabalho e à prática social, para o exercício da cidadania.

A Escola1 obteve média 6,7 no IDEB em 2009 e 7,2, em 2011, para alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. O resultado é superior à média nacional para os anos iniciais do Ensino Fundamental para 2011 (4,0) e ultrapassa a meta nacional para 2021 (6,0).

Seu rendimento foi abaixo do esperado para o Ensino Fundamental II, tendo 6,7 em 2009 e 5,7 em 2011. Mesmo assim, a escola está acima da média nacional prevista para 2011 (4,1). Ainda em 2011, a nota tirada no ENEM foi de 618,27 pontos e cresceu em relação ao ano anterior, quando os alunos conquistaram nota 589,89 – a nota média entre as escolas do País com participação superior a 75% dos alunos no ENEM foi 599 pontos. (SÃO CAETANO DO SUL, 2012)

A direção vê a formação dos professores como um dos fatores que contribui para a qualidade do ensino. Todos os professores têm formação superior e lecionam na disciplina em que são formados, sendo que aproximadamente 20% são mestres. Além disso, a rotatividade é baixa, a maioria trabalha há mais de dez anos nessa escola, como afirma CPE119: “aqui os professores são participativos, elitizados, bem formados, nós temos dez, doze mestres... Todos são formados na área que está dando aula. Isso é fundamental para a qualidade da escola. Outra questão é fundamental que o professor seja formado na área em que ele atua”.

A Escola1 tem como missão promover a potencialidade e o talento dos alunos, integrando a Educação ao Trabalho e à Prática Social, para o verdadeiro exercício da cidadania e preparação para o mundo produtivo. Os valores declarados no Projeto Político Pedagógico são: respeito sincero ao ser humano; responsabilidade nas ações; solidariedade; ética; profissionalismo; espírito de equipe; integridade e honestidade.

A Escola1 é uma escola-membro do PEA – Programa de Escolas Associadas da UNESCO, apresentado a seguir, e desde então se organiza segundo o Plano Pedagógico anual do calendário internacional proposto pela UNESCO e os quatro pilares da educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a ser; e aprender a conviver. Na escola, o planejamento pedagógico é seguido de acordo com o tema sugerido pelo PEA e os projetos solidários desenvolvidos pela escola são repensados de acordo com essa temática.

A seguir, apresentamos os quatro principais projetos desenvolvidos pela Escola1:

 Projeto 1: PEA – Programa de Escolas Associadas da UNESCO20

O PEA foi criado para estender os objetivos da UNESCO, no pós- guerra, pelo princípio de educação para a paz. Embora o Brasil tenha participado de sua criação, somente em 1997 o Programa se efetivou e, desde então, o número de escolas associadas quase triplicou, chegando a 221 escolas, das redes públicas e particulares, dos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e do Distrito Federal. (PEA, 2013)

O objetivo do PEA é criar uma rede internacional de escolas que trabalhem pela ideia da cultura da paz. Atualmente, a rede é formada por escolas em mais de 130 países. O Programa consiste, basicamente, no estímulo a projetos ligados a um tema central, proposto pela UNESCO anualmente21.

Cada uma delas recebe um certificado internacional de escola membro e tem o direito de utilizar a logomarca. Elas ainda podem receber materiais eventual ou periodicamente produzidos pela UNESCO e participar de concursos internacionais lançados com frequência pela própria UNESCO ou outras instituições a ela ligadas. O principal benefício é participar de uma comunidade que trabalha pelo mesmo objetivo, troca informações, compartilha projetos e ideais. Isso catalisa os esforços e repercute nas escolas, em todas

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Entre os principais parceiros do PEA e da UNESCO está o Instituto Faça Parte.

21 Anos Internacionais (UNESCO, 2013):

2013 - Ano Internacional da Água e da Matemática do Planeta Terra 2012 - Ano Internacional das Cooperativas (Resolução 64/136) 2011 - Ano Internacional da Química e Florestas

2010 - Ano Internacional para a Aproximação das Culturas e da Biodiversidade 2009 - Ano Internacional da Reconciliação, Astronomia e do gorila

2008 - Ano Internacional do Planeta Terra e Línguas 2005 - Ano Internacional do Desporto e Educação Física

2004 - Ano Internacional para a Comemoração da luta contra a escravidão e sua abolição 2003 - Ano Internacional da Água doce

as suas formas de trabalho pedagógico pela cultura de paz. Não há investimentos de qualquer ordem, quer seja por parte da UNESCO, quer seja por parte das escolas.

Todo ano, a Escola1 segue o calendário proposto pela UNESCO como eixo temático para realizar as atividades pedagógicas. O projeto das cooperativas, em 2012, teve como objetivo geral desenvolver ações educacionais para propiciar a construção de uma nova mentalidade nos alunos pelo princípio do cooperativismo. Como objetivo específico, pretendeu-se construir com os alunos o conceito de cooperativa, intensificar o interesse e a mobilização dos jovens em relação às cooperativas, sensibilizar a comunidade em prol do papel das cooperativas, criar situações práticas de aprendizagem para que se pudessem atuar no meio em que vivem e estruturar um fórum entre alunos, professores e a comunidade.

Como meta, pretendeu-se desenvolver os projetos com todos os alunos da escola, trabalhar os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, relacionados, sobretudo, às disciplinas de Biologia, Química, História, Geografia, Filosofia, Matemática, entre outras, para entender os elementos indispensáveis para a compreensão global e organizar um fórum de fechamento com a comunidade.

Reuniões com a participação de professores de todas as disciplinas, coordenadores, direção, alunos, pais e colaboradores foram feitas para organizar o projeto.

Entre as atividades desenvolvidas constava a participação dos alunos em visitas a cooperativas da região do ABC Paulista, inclusão do tema na gincana solidária do Ensino Médio, construção de um trabalho acadêmico por parte dos alunos, bem como vídeos e fotos das cooperativas. Esse trabalho foi armazenado num blog que os alunos apresentaram para os professores; continuidade do projeto “cientista solidário”, que inclui a produção de sabão e detergente para a distribuição em instituições de cunho social; campanhas de esclarecimentos sobre a importância das cooperativas para a comunidade.

“Todos os projetos, a gente faz questão, estão direcionados para o ano internacional das cooperativas. A gente tem um projeto e no final do ano eles têm que apresentar um TCC”, afirma a escola.

Em relação aos resultados, espera-se no Plano Pedagógico do projeto da UNESCO que o trabalho entre os professores seja mais colaborativo, que eles estejam abertos à aprendizagem e menos resistentes a mudanças e inovações. Por parte dos alunos, espera-se uma postura mais atenta, participativa e crítica. A comunidade também é convidada a participar de diferentes maneiras, entre as atividades específicas dos projetos e por meio dos fóruns organizados como espaços democráticos de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas e troca de experiências.

 Projeto 2: Gincana Solidária

A Gincana Solidária é uma atividade que acontece desde 1989, todos os anos, e envolve praticamente todos os alunos do Ensino Médio e também alunos do Ensino Fundamental. O projeto é interdisciplinar, sendo o tema gerador o proposto pelo calendário internacional da UNESCO, do qual participam, praticamente, todas as disciplinas.

A Gincana começa no início do ano letivo. É curricular, sendo que não há atribuição de notas. No início do ano são oferecidas aulas especiais, coletivas; há mostra de vídeos e materiais produzidos nas edições anteriores. São convidados especialistas para debater sobre o tema da Gincana do ano vigente. Além disso, são apresentadas todas as atividades que poderão ser desenvolvidas e os alunos são divididos em grupos que variam entre 5 ou 6 turmas (de 150 alunos, aproximadamente), para poderem se organizar e fazer o planejamento tanto das atividades, quanto do conteúdo que terão que estudar para a realização das tarefas. As pesquisas são orientadas pelos professores, que dão subsídios, orientam, avaliam, trabalham os conteúdos escolhidos durante as aulas e também em atividades nos laboratórios. Todo esse processo dura, em média, três meses.

A etapa seguinte é um fórum público, do qual participam os alunos, os professores e a comunidade. Nesse momento, tanto a pesquisa quanto as atividades são discutidas com todos.

A última fase compreende a realização das tarefas da Gincana. Tudo é feito pelos alunos, com material reciclado que precisam coletar ao longo do ano. Entre as atividades, destacam-se a campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene junto à comunidade e a campanha de doação de sangue, que juntas somam pontos para a equipe responsável.

No dia da Gincana, há uma prova de conhecimentos gerais organizada pela direção e professores da escola, da qual participam os alunos selecionados pelos grupos e um pai convidado. Para animar e envolver os alunos que estão apenas acompanhando os resultados da prova de conhecimentos gerais, o grupo precisa criar um hino de torcida (letra e música), um mascote (personagem com fantasia) e um banner de fundo (com aproximadamente 7 metros de altura por 2 de largura).

Além disso, o grupo precisa criar uma peça de teatro – sobre o tema gerador – que será apresentada no dia da Gincana: roteiro, figurino, cenário, texto, direção, trilha sonora e uma apresentação de dança (ritmo e tema livres). Ao final, a equipe vencedora recebe o título de campeã do ano.

Toda a ligação da Gincana Solidária está imbricada na questão do trabalho solidário. É um espaço de trabalho colaborativo, onde os alunos precisam negociar a realização de tarefas como relacionadas a pesquisa, teatro, dança, tudo relacionado ao tema que eles têm que desenvolver.

 Projeto 3: Cientista Solidário

A escola compreende que, entre os maiores desafios da aprendizagem de ciências e tecnologia no Ensino Médio, está a aprendizagem individual e coletiva do aluno para a iniciação científica. Para a escola, o aprendizado das ciências, além de promover aprendizagem do conceito e a capacidade de utilizar fórmulas, pretende desenvolver atitudes e valores por meio da prática de atividades, tais como discussões, leituras, observações, experimentações e projetos científicos. A ideia é desafiar o aluno para o jogo do conhecimento

científico, que deve desenvolver seu interesse pela pesquisa e sua capacidade de raciocínio e autonomia.

Neste sentido, o projeto tem como objetivo ampliar as aquisições das habilidades por meio da iniciação científica; promover ações que permitam ao aluno vivenciar estudos científicos em ambientes colaborativos e solidários, buscando projetar suas ações no campo do desenvolvimento social; gerar novas formas de participação do cientista social com compromisso ético e solidário com a cidadania, promovendo a saúde, a preservação do meio ambiente, a inclusão social e, ainda, gerar qualidade de vida para todos; introduzir na rotina escolar a experimentação científica em laboratório; aprimorar as técnicas da pesquisa científica, referendando-as como instrumento legítimo da aprendizagem; promover ações articuladas entre os alunos da escola com alunos do Ensino Médio do Brasil e do mundo, por meio das tecnologias; selecionar e utilizar ideias e procedimentos científicos (leis, teorias, modelos) para a resolução de problemas, selecionando procedimentos experimentais.

O projeto tem como meta promover ações no contraturno, ampliando a permanência do aluno no Ensino Médio, de forma a incentivar a pesquisa científica e a solidariedade. Além disso, pretende responder à demanda de alunos com problemas de aprendizagem (alunos da escola e de outras escolas da comunidade), elaborar ações de conscientização das pessoas quanto ao uso proposital e enganoso de conhecimentos das ciências e criar eventos que discutam questões sobre, por exemplo, a relação entre o meio ambiente, o consumo exagerado e a função dos cientistas.

O grupo de estudos de monitoria com alunos de outras escolas acontece aos sábados. A proposta é estudar conteúdos curriculares, produzir redação, elaborar artigos, entre outras atividades. O desenvolvimento do pensamento crítico é estimulado quando os jovens são provocados a agir como “detetives”, procurando em jornais, TV, filmes e demais produtos, afirmações ou ações que, deliberadamente, usam os conhecimentos da ciência para “enganar o consumidor”.

Há três anos, sob nova coordenação, o projeto foi reorganizado e teve uma continuidade com um grupo de alunos e professores das disciplinas de

Química, Matemática e Sociologia, tendo como objetivo a aprendizagem de conceitos de Química e Matemática relacionados à questão da solidariedade, abordada na disciplina de sociologia. Os alunos, junto com o professor, utilizam o laboratório da escola para a confecção de sabão, sabonetes, shampoo, entre outros produtos, para fazer aulas experimentais de Química. Posteriormente, eles calculam o preço (utilizando os conhecimentos de Matemática) e, por fim, parte dos produtos é levada pelos alunos e outra é doada para instituições por eles escolhidas. Esse trabalho final é acompanhado pelo professor de Sociologia.

Conceitos de Química, tais como mistura, solução (sólida, líquida, gasosa, molecular, iônica) reações, dispersões, o processo de dissolução, coeficiente de solubilidade, ácidos e bases, entre outros, são estudados. Em Matemática, são trabalhados conceitos como o de porcentagem, matemática financeira, cálculo de preço, noção de custo fixo, noções de estatística. Em relação às questões sociais, são trabalhadas e desenvolvidas noções de participação social.

 Projeto 4: Projeto Mais Vida

O projeto é uma parceria entre a Escola1 e o Parque Botânico e Escola Municipal de Ecologia Presidente Jânio da Silva Quadros. O Parque foi fundado em 25 de abril de 1992 e é uma referência em educação ambiental para a cidade e a região. Ocupa uma área de 23 mil metros quadrados, com exposição de espécies da fauna (aves e peixes) e flora (plantas ornamentais, medicinais, tóxicas, carnívoras, frutíferas, árvores nativas e exóticas) brasileiras. Abriga também a Sementeira Municipal, que produz mudas para abastecer os jardins, parques e paisagismo da cidade.

O projeto começou em 2000, quando a então coordenadora dos projetos solidários, numa visita ao parque, soube que eles gostariam de receber alunos das escolas municipais para visitação, mas não podiam fazê-lo por falta de monitores. Naquela ocasião, ela teve a ideia de oferecer ao parque que alunos do Ensino Médio poderiam se interessar por trabalhar voluntariamente no contraturno escolar e a proposta foi bem recebida.

O projeto começou com a capacitação dos alunos e a organização do trabalho. Cada aluno participante se responsabilizava por duas horas de monitoria direta ao público, além da participação dos encontros de capacitação e planejamento das atividades.

A abertura do parque para visitas monitoradas possibilitada pela parceria foi tão bem recebida pela Secretaria Municipal de Educação que incluiu a visitação no roteiro das EMEIs (Escola Municipal de Educação Infantil) e EMIs (Escola Municipal Integrada) da cidade. Conforme a necessidade das escolas, atividades lúdicas, práticas e criativas, para melhorar o aproveitamento das visitas, foram desenvolvidas pelos próprios alunos com a orientação da coordenadora pedagógica do Parque e a coordenadora da escola.

Entre as ações desenvolvidas como desmembramento desse projeto, destaca-se o grupo de teatro e o Encontro de Educadores Ambientais – que reuniam educadores, estudantes, profissionais e especialistas da área ambiental para trocar informações e experiências sobre preservação de recursos naturais da cidade de São Caetano do Sul e do Estado de São Paulo.

Também foi criada uma brinquedoteca no parque com materiais de sucata arrecadados pela escola numa grande campanha promovida pelos alunos voluntários. O objetivo da brinquedoteca era o de ser um espaço lúdico de aprendizagem e entretenimento, além de oportunizar o desenvolvimento de atividades dirigidas, inclusive nos dias chuvosos. Ao final do ano, os voluntários envolvidos recebiam um certificado pela participação no projeto. Os que continuavam, capacitavam os que estavam ingressando e, nessa configuração, o projeto se estendeu por oito anos, até a saída da coordenadora da Escola1. Hoje, o projeto consta da proposta pedagógica, mas “está hibernando”, segundo o coordenador pedagógico.