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Aprendizagem nos concertos

4.3 Concertos, viagens e intercâmbios

4.3.1 Aprendizagem nos concertos

abertos como praças públicas, na capital e no interior do estado do Rio Grande do Norte. O público presente nessas apresentações de repertório popular poderá ser composto por amigos e familiares dos músicos, estudantes e professores de música, mas com maior participação de pessoas comuns, sem vínculos e laços fraternais com a OSUFRN.

4.3.1 Aprendizagem nos concertos

Em dias de concertos eruditos ou populares é perceptível o zelo dos músicos com a roupa, o cabelo – meninos e meninas, com a maquiagem, pontualidade, a preocupação em fazer alongamentos corporais e aquecimentos com os instrumentos. O momento que antecede o concerto é destinado para a concentração e ao mesmo tempo para a descontração, pois os músicos interagem, conversam, tocam (aquecimento) e aguardam o momento de adentrarem ao palco, para assim, ocuparem seus lugares. Esse cuidado e apreço com a aparência e com o corpo nos conduzem a pensar que os músicos consideram o concerto como um momento importante, significativo, que faz jus a um comportamento diferenciado, entretanto, para além do que é visto aparentemente, durante a pesquisa identifiquei as concepções desses músicos sobre esse momento das apresentações.

Para alguns instrumentistas, o concerto é um momento de prova emocional, um teste de adrenalina, pois muitos ficam apreensivos e nervosos por estarem no palco e sendo vistos por muitas pessoas, dentre elas, músicos, estudantes e docentes, principalmente em concertos apresentados no auditório da Escola de Música da UFRN por contemplar esse público específico e especializado. Os músicos se sentem pressionados a fazer um bom trabalho e essa cobrança pessoal poderá reverter-se em aprendizagem e experiência ou em ansiedade, a qual “poderá provocar um impacto negativo na qualidade da execução” (GRINGS; HENTSCHKE, 2013, p. 25) caso não consigam controlar as sensações desse momento, no palco, porém são situações que também geram aprendizagens. Sobre os concertos, Roberto (2014) reflete:

Eu acho que a coisa mais importante do concerto é a experiência de subir no palco. É uma experiência que a gente só tem no palco porque é no palco que você aprende a controlar a adrenalina que você vê o que de fato é suar frio. No seu estudo individual e no ensaio não tem isso e às vezes se tem é muito pouco. Mas no concerto é o momento em que a experiência do palco faz com que aprendamos a controlar a adrenalina e a gente começa saber o que funciona no palco e o que não funciona no palco e a gente coloca essa

experiência inclusive no nosso estudo individual seja para as coisas da orquestra, seja para o meu repertório como solista (informação verbal)53. O músico considera importante experimentar e vivenciar o momento do concerto, mesmo que seja necessário controlar e ultrapassar barreiras e/ou oscilações emocionais. O concerto também é visto como uma avaliação, o momento de colocar à prova o trabalho desenvolvido durante os estudos com concentração e disciplina. Nesse sentido, para Rosa (2014) o concerto é uma cobrança, “você tem que fazer tudo que já fez, sem cometer os erros. Cometa tudo certo dessa vez!” (informação verbal)54, corroborando com ela, Marcos (2014)

entende o concerto como uma prova da música de câmara, uma espécie de avaliação de tudo que se fez durante os ensaios. No entanto, mesmo com esse pensamento de cobrança ambos consideram que toda vez que sobem ao palco vivenciam algo diferente, reconhecendo que sempre têm algo para aprender (informação verbal)55.

Para outros músicos, os concertos são considerados ainda, como oportunidades para um momento de reflexão e constatação, visto que, teoricamente, acontece no concerto aquilo que foi trabalhado anteriormente nos ensaios, tanto no aspecto positivo quanto negativo. Assim, Maria (2014) afirma que:

O que não sai no ensaio não vai sair nos concertos, não adianta você achar que é mágico e vai sair no concerto, da mesma forma que você toca nos ensaios, você provavelmente vai tocar no concerto, isso eu aprendi [...] Então eu tenho me disciplinado muito, porque o concerto é o retrato do ensaio, você tem que se concentrar muito também (informação verbal)56. Diante disso, percebeu-se que, na visão de alguns músicos, para alcançar um bom desempenho nos concertos é necessário valorizar os processos que o antecedem, como o estudo individual e os ensaios. Desse modo, aos poucos a performance, a concentração e a calma será estabelecida durante os ensaios e aplicada similarmente nos concertos. A vivência no grupo promove reflexões a partir das experiências adquiridas, as quais estão relacionadas com as mudanças de comportamento durante os processos de aprendizagem musical, pois “a aprendizagem que advém das relações sociais ajuda a construir os conhecimentos que dão suporte ao desenvolvimento” (LEITE, et al., 2009, p.205). Além disso, os concertos oferecem outro tipo de sensação aos músicos, como exemplifica Elias (2014):

53 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 54 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 55 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 56 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

Acho que o calor humano, a plateia, a vibração faz muitíssimo bem e no ensaio não tem isso! Eu sinto falta disso nos ensaios. O pessoal se levantando pra lhe prestigiar, batendo palmas pra você, eu acho que isso é muito gratificante. A cada vez, eu termino o concerto e o público aplaudindo, parabenizando, isso faz com que eu estude cada vez mais, procure mais oportunidades como essa. Após o concerto eu procuro estudar mais, pra ter mais oportunidades como essa, porque é muito bom, me estimula a estudar mais (informação verbal)57.

Elias (2014) menciona sua expectativa, enquanto artista, sobre o recebimento do reconhecimento pelos seus estudos e esforços manifestado em aplausos a cada execução. Sobre isso Hikiji (2006, p. 93) apresenta que

na análise de projetos de arte-educação realizada pela UNESCO, afirma-se que a arte permite que os jovens revelem seus talentos para a sociedade, e que a “interação entre a auto-apreciação e a gratificação pelo reconhecimento social” é uma referência para a construção da auto-estima”. Desse modo, os concertos oportunizam a apreciação do público quanto à obra musical, a interpretação conduzida pelo maestro e a execução instrumental dos componentes da orquestra, os quais podem apresentar publicamente o seu desempenho musical e instrumental positivamente, se estiverem preparados e/ou negativamente se não conseguiram solucionar dificuldades técnicas e emocionais, contudo, além dos concertos e apresentações oficiais, os músicos mencionaram a importância dos concertos didáticos para a formação do público (plateia), assim como para a formação dos músicos que compõem a OSUFRN.

De acordo com os músicos, o concerto didático oferecido por uma orquestra sinfônica é significativo para os alunos convidados, visando à formação de apreciadores musicais conscientes e críticos, pois para Roberto (2014), “se a gente não forma plateia [...] a gente não tem quem assistir o concerto oficial, então uma coisa depende da outra, o concerto didático tem que ser tão bom quanto o concerto oficial. Mesmo que sejam crianças, a gente educa musicalmente essas crianças” (informação verbal)58. Sobre a formação do músico,

enquanto instrumentistas da orquestra, Tásia (2014) afirmou que os concertos didáticos são oportunidades de aprender como dar aula, “porque você dar aula pra criança é diferente de você dar aula pra adolescente e pra adulto, são abordagens diferentes” (informação verbal)59.

A aluna comparou o concerto didático a uma aula porque nestas apresentações da orquestra,

57 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 58 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 59 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

os músicos têm a oportunidade de ir à frente do palco e explicar sobre seus instrumentos, tocar para a plateia e aproximar-se do público.

Ao explicar sobre seus instrumentos, os músicos poderão descobrir inclusive, outras maneiras de ensinar e de dialogar com as crianças e jovens, participantes dos concertos didáticos. Esses concertos oportunizam aos músicos aproximar-se do público favorecendo que assumam uma postura diferenciada, se comparados aos concertos oficiais/eruditos, crítica e reflexiva ao mencionarem a importância desse trabalho para o publico e para si. Assim, em concordância com Demo (2013, p. 297) para encontrar significado nas aprendizagens durante as experiências coletivas é salutar que as pessoas aprendam a conduzir seu estudo, pois não importa a mera repetição, mas que consigam dirigir seus pensamentos, reflexões e aprendizagens.