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Observações nos concertos

2.2 Procedimentos de coleta de dados

2.2.3 Observação participante

2.2.3.2 Observações nos concertos

A maioria dos concertos oficiais da temporada de 2013.2 ocorreu na Escola de Música da UFRN, apresentando obras contemporâneas, como “A paixão segundo Alcaçus”, do compositor Danilo Guanais e obras de compositores como Beethoven, Brahms, Mendelssohn e Mozart. Os concertos observados, em ordem cronológica, foram: XXIII Abertura do Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música – ANPPOM, sediado pela EMUFRN em 22 de agosto de 2013; Abertura do IV Festival Internacional de Música de Câmara, EMUFRN, em 10 de setembro de 2013; Encerramento do Festival Semana da Música, EMUFRN, com participação de alunos inscritos no festival em 12 de outubro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas em Currais Novos/RN em 14 de outubro de 2013; Concerto OSUFRN e Orquestra de Câmara de Karlsruhe, Teatro Riachuelo – Natal/RN, em 21 de outubro de 2013 e João Pessoa/PB, UFPB, em 23 de outubro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas na Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura – CIENTEC/UFRN em 25 de outubro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas no Teatro Riachuelo, Natal/RN em duas récitas, em 28 de novembro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas em Mossoró/RN em 03 de dezembro de 2013; IV Concerto Oficial da OSUFRN na Semana do Violino, EMUFRN, em 12 de dezembro de 2013 e Concerto do Parcerias Sinfônicas em Caicó/RN em 16 de dezembro de 2013.

Observei que em momentos antes do concerto, os músicos se preparam nos camarins e nas cochias do teatro/auditório ou nas laterais e por trás do palco aberto, afinando e aquecendo seus instrumentos, se concentrando, alguns músicos individualmente, outros em grupos. Para o concerto, seguem-se todos os procedimentos comuns a uma orquestra sinfônica, os rapazes vestem-se de terno preto e gravata, enquanto as moças de vestidos e roupas pretas, quando o repertório é erudito. Quando o concerto fazia parte do espetáculo popular que neste ano homenageou Vinícius de Moraes, a vestimenta foi coerente com o contexto do poeta carioca, em cores claras – branco ou marfim – para lembrar as praias do Rio de Janeiro/RJ, cidade onde viveu aquele compositor.

Figura 9: Concerto erudito no auditório Onofre Lopes (EMUFRN)

Fonte: A autora (2013)

Figura 10: Concerto com repertório popular em Currais Novos/RN

O concerto didático planejado para o semestre 2013.2 não aconteceu por impossibilidade de concordância em uma data comum entre as escolas convidadas e a direção da orquestra. Por isso, o concerto foi transferido para o mês de abril do ano seguinte. Para que as escolas participem do concerto didático é necessário que os interessados se comuniquem com a direção administrativa da orquestra e realizem o agendamento previamente. A partir dessa solicitação observa-se a disponibilidade de ambos, escolas e orquestra (maestro e músicos).

No concerto didático observado a orquestra recebeu mais de duzentas crianças, número que preencheu o auditório com capacidade para duzentos e cinquenta pessoas. Nesse tipo de concerto, os músicos estão mais à vontade, usam vestimentas como calças e camisetas, conversam entre si no palco, sorriem entre si e com as crianças ou jovens, contudo, percebi que esse comportamento não sinaliza que os músicos dão menos importância ao concerto didático, e sim significa que há um diálogo mais próximo com o público. De acordo com os dados coletados no campo, descrevo como aconteceu o concerto didático:

O concerto inicia com as boas vindas da diretora administrativa da orquestra, sua função é dar orientações gerais de como se comportar em uma sala de concerto, em quais situações é preciso manter o silêncio, informando que terão oportunidade de tirar dúvidas e fazer perguntas em momento oportuno, indicado pela direção. Nesse momento a orquestra está disposta no palco e após as informações iniciais, há a entrada do spalla para afinar o grupo, as crianças aplaudem e ele agradece. Em seguida os músicos levantam-se para receber o maestro e as crianças aplaudem novamente, após o agradecimento do mesmo, cumprimenta o spalla e inicia-se a execução musical com o primeiro movimento da quinta sinfonia de Beethoven. Após a execução com muitos aplausos das crianças, a diretora administrativa conduz o diálogo entre orquestra e crianças. A partir desse momento um representante de cada naipe levanta-se e apresenta o seu instrumento, identificando o nome, quantidade de cordas, posição ao tocar, contexto histórico, comparações com outros instrumentos, vários instrumentos diferentes na mesma família, informando dados gerais que os caracterizam como pertencentes a uma família específica dentro da orquestra, além de tocar individualmente para que o público perceba o som de cada instrumento. Durante a execução individual alguns músicos receberam aplausos calorosos da plateia, principalmente quando a canção tocada fazia parte do repertório infantil, como canções folclóricas ou temas de filmes e desenhos animados. Embora alguns músicos estivessem, aparentemente, um pouco tímidos, era perceptível que se sentiam bem em apresentar seus instrumentos, principalmente por interagirem com as crianças. A cada apresentação das grandes famílias – cordas, sopros e percussão – a orquestra executou uma obra musical, em algumas delas o maestro pediu que as crianças observassem aspectos de dinâmica, maior exposição de famílias ou a representação da ideia do compositor, exposta para eles antes da execução. Por fim, o maestro dialogou com as crianças sobre o seu fazer, sobre a

condução do grupo por meio do gesto, exemplificando com a obra “El toreador” da ópera Carmen – Bizet, modificando o andamento e a dinâmica por vezes. Para que as crianças vivenciassem, chamou um menino e uma menina para reger e os músicos tocaram de acordo com o andamento estabelecido pela criança. Uma das crianças se destacou conseguindo manter precisão e andamento, modificando de acordo com sua vontade, com bastante firmeza, este foi reconhecido pelos colegas com muitos aplausos. Em seguida, o maestro agradeceu aos professores das escolas convidadas e a parceria do SESC/RN, finalizando o concerto com música e sendo aplaudidos de pé pelas crianças (DIÁRIO DE CAMPO, 10.04.2014).

Este concerto didático foi bastante dinâmico e interativo. Todos estavam à vontade no espaço, caracterizado como sala de concerto. Embora as orientações que antecederam o concerto tenham chamado atenção para a seriedade do ambiente, as crianças estavam deslumbradas com a música e com a orquestra. Elas naturalmente, se comunicavam com seus colegas, sorriam, apontavam para o grupo, aplaudiam, queriam responder as perguntas feitas pelo maestro, entre outros gestos de satisfação em participar daquele momento. E esse clima de descontração e encantamento contagiou a todos, músicos, maestro e pesquisadora.

Figura 11: Concerto didático

Fonte: A autora (2014)