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Entrevistas Semiestruturadas

2.2 Procedimentos de coleta de dados

2.2.5 Entrevistas Semiestruturadas

A entrevista foi o último procedimento metodológico utilizado para a coleta de dados nesse estudo. Vista por Gerhardt e Silveira (2009, p. 72) como “uma técnica de interação social, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte de informação”. Esse instrumento foi adotado por considerar a possibilidade de recolher dados que não seriam viabilizados por outros instrumentos como o questionário ou formulário, por exemplo, pois a subjetividade pode ser transmitida através do silêncio, de um gesto, de uma expressão, e poderá ser elucidativa e nos dizer muito a respeito da temática pesquisada.

No entanto, segundo Queiroz (2013, p. 13),

antes da preocupação com o sucesso do trabalho realizado, é preciso buscar a adequação dos instrumentos utilizados e da sua forma de aplicação ao universo de pesquisa, refletindo se as perguntas apresentadas e a condução do trabalho não são invasivas e agridem os pesquisados, violando aspectos relacionados ao seu contexto cultural, às suas crenças, ideais e princípios. Nesse sentido, e com essa preocupação, o tipo da entrevista foi definido como entrevista semiestruturada, caracterizada como flexível. As questões não têm ordem obrigatória para serem realizadas e podem se apresentar através de uma base de tópicos guia ou roteiro de questões formuladas pelo pesquisador (APÊNDICE F e G), além de abrir a possibilidade de se colher novas informações no decorrer da entrevista a respeito do tema em questão (MATTOS; LINCOLN, 2005). Neste estudo, desenvolveram-se dois roteiros diferenciados, um voltado para o maestro e diretor artístico do grupo e outro direcionado aos estudantes, instrumentistas da orquestra.

O roteiro de entrevista destinado ao maestro pretendeu conhecê-lo enquanto professor e regente, colher informações sobre a formação do grupo, a sua visão artística e administrativa acerca da prática orquestral, e compreender o olhar pedagógico do mesmo sobre as práticas desenvolvidas pelo grupo. O roteiro das questões relacionadas aos músicos buscou as concepções dos mesmos sobre sua aprendizagem no contexto orquestral, visando saber um pouco mais sobre suas reflexões, sensações e sentimentos, sobre o relacionamento em grupo com os colegas e obter informações sobre situações que não foram claras apenas

por meio da observação, pois “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN; BIKLEN, 2010, p. 134).

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com vinte e cinco membros da orquestra, incluindo o maestro André Muniz, no período entre março e abril de 2014. Devido à rotatividade anual comum ao grupo, defini como critério de seleção para a realização da entrevista, convidar todos os músicos que tivessem participado das temporadas de 2013 e 2014, indicando ter vivenciado os fazeres da OSUFRN por minimamente um ano. A partir dessa definição, identifiquei que seria possível contemplar músicos de todos os naipes e com tempo de permanência no grupo diferenciados, dado que considerei significativo para a pesquisa. Assim, para resguardar os pensamentos e reflexões dos músicos e garantir a liberdade de expressão aos mesmos, optei pelo uso de pseudônimos, solicitando que os próprios músicos os escolhessem. Alguns entrevistados assim fizeram, outros preferiram deixar sob minha escolha. Esse procedimento não foi adotado para o maestro e diretor artístico da orquestra por considerar que o estudo de caso revelaria sua identidade independentemente da possibilidade de anonimato.

As entrevistas foram agendadas com cada participante, especificando data, hora e local em que aconteceriam. Todas foram realizadas individualmente na Escola de Música da UFRN, geralmente em duas salas do primeiro andar, sendo que uma delas não possuía tratamento acústico, dificultando um pouco a audição da gravação da entrevista, visto que a câmera capturou também o som de alunos que frequentemente estudam nos corredores da EMUFRN. Isso, contudo, não impediu de ouvi-los durante as transcrições.

De acordo com Queiroz (2013, p. 13),

outro aspecto importante a ser considerado na realização das entrevistas é a obtenção de autorização para a inserção da “voz” do pesquisado na divulgação do trabalho, explicitando qual o uso que será feito desse material, de que forma será utilizado, em que formato será apresentado etc. [...] É recomendável que todo pesquisador tenha o respeito e o cuidado devido, solicitando autorização tanto para realizar os registros, durante a coleta, quanto para utilizá-los em publicações resultantes do processo investigativo. Assim, para cada entrevistado tive o cuidado de iniciar a entrevista apenas quando expliquei que se tratava de uma pesquisa de mestrado, deixando claro o objetivo da mesma, solicitando a permissão dos entrevistados para gravar em vídeo e para utilizar as informações

cedidas para fins acadêmicos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Não encontrei oposições nesse sentido, iniciando a entrevista como uma conversa para que pudessem expressar suas impressões sobre o contexto orquestral e sobre suas experiências no grupo, pois segundo Bogdan e Biklen (2010, p. 136), “as boas entrevistas caracterizam-se pelo facto de os sujeitos estarem à vontade e falarem livremente sobre seus pontos de vista”.

Para análise das entrevistas, realizei transcrição total dos depoimentos que tiveram uma média de trinta e oito minutos por entrevistado. Procurei transcrever exatamente o que foi dito, em seguida tratei da textualização de cada entrevista suprimindo alguns vícios de linguagem sem interferir no significado da ideia descrita pelos investigados, para posteriormente, iniciar a categorização, a qual foi etapa fundamental para o entendimento dos dados coletados, identificando elementos relevantes e pontos em comum nas falas dos alunos entrevistados.