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Organização e análise de dados

Após a realização das entrevistas e transcrições iniciei a organização dos dados coletados separando-os em notas de campo, fruto das observações. As fotografias foram datadas e relacionadas com o evento registrado (ensaios, concertos e viagens), assim como as filmagens dessas atividades. As entrevistas gravadas em vídeo e as transcrições do maestro e músicos da OSUFRN também foram organizadas, pois em concordância com Teixeira (2003, p. 194),

as pesquisas de natureza tipicamente qualitativa geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos, requerendo assim um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Esse processo é complexo, não-linear e implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados.

Com essa organização inicial, realizei a leitura das transcrições para a análise de dados, destacando os elementos que favoreceram a identificação de temas centrais nas falas dos alunos. Segundo Bardin (2011, p. 97), para o tratamento das entrevistas transcritas “pode utilizar-se canetas marca-texto, trabalhar com um código alfabético ou numérico, marcas simbólicas, sublinhar, assinalar com um círculo, ou então tirar partido do tratamento de texto de um computador... conforme a necessidade”.

Em concordância com o autor, em cada transcrição destaquei com cores de realce diferentes aspectos relacionados à aprendizagem no contexto orquestral, visto que havia repetições de frases e palavras direcionadas para a delimitação de temas centrais. Em seguida, separei as informações destacadas em outro arquivo de documento pareando por cores os dados similares, originando outros arquivos, cada um de uma cor, especificando um tipo de tema relacionado à aprendizagem. Desse modo, foi possível realizar a categorização dos dados através das entrevistas, apropriando-me dos fundamentos da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

Com esse procedimento de análise inicial, algumas frases foram definidas e classificadas como unidades de análise, foram elas:

a) Aprendizagem no estudo individual b) Aprendizagem entre músicos c) Aprendizagem durante o ensaio d) Aprendizagem nos concertos

e) Aprendizagens e interações por meio das viagens f) Aprendizagem com o maestro

g) Aprendizagem com músicos convidados h) Aprendizagem para a formação profissional

Cada unidade de análise nomeou um arquivo que continha as falas dos participantes da orquestra relacionadas ao tipo de aprendizagem determinado. Após essa seleção e organização dos dados foi possível agregar as unidades semelhantes ou afins e estabelecer quatro categorias que resultaram de um roteiro de entrevistas que direcionou os investigados para o objetivo da pesquisa. As categorias definidas foram nomeadas abaixo:

1. Convivência e aprendizagem em grupo – Contemplando os dados relacionados à aprendizagem entre músicos nos ensaios e concertos, diante do relacionamento interpessoal dos participantes da OSUFRN presente na coletividade;

2. Estratégias de formação e interações – Considerando as unidades correspondentes à aprendizagem individual, aprendizagem com o maestro e aprendizagem com músicos convidados;

3. Concertos, viagens e intercâmbios – Abrangendo a aprendizagem nos concertos locais e concertos realizados em outros municípios e estados, decorrentes das viagens e intercâmbios;

4. Perspectiva de futuro e profissionalização dos músicos – Contemplando aspectos relacionados à aprendizagem integral dos participantes da OSUFRN diante da formação e do futuro profissional do músico.

Essas categorias foram descritas e examinadas de acordo com a análise de conteúdo, considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema, uma vez que ao trabalhar com o instrumento da entrevista, cada uma deverá ser tratada em profundidade. De acordo com Bardin (2011, p. 48), a análise de conteúdo compreende

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

A organização da análise apresenta três etapas cronológicas no trabalho com o exame de conteúdo, são elas: a) pré-análise, b) a exploração do material e o tratamento dos resultados, c) a interferência e a interpretação. A pré-análise consiste na organização do material, adquirindo-se o embasamento necessário para desenvolver o tema proposto. Nessa etapa, inicialmente selecionei a literatura que tratava de grupos musicais com foco em grupos orquestrais. A partir das leituras percebi que a temática da interação, jovens e música e a formação instrumental seriam necessárias para a compreensão do objeto estudado. Esse material selecionado me conduziu à próxima fase, correspondente à exploração do material e ao tratamento dos resultados.

A exploração do material é iniciada na primeira fase, resultando na aplicação das decisões tomadas, pois o material já se encontra organizado e estruturado, iniciando-se assim, o aprofundamento do tema proposto e na fase do tratamento dos resultados. Nessa fase, foi possível definir e destacar citações com cores de realce nos textos e no material coletado durante a pesquisa, categorizando-os.

A interferência e a interpretação são apoiadas nos materiais de informação detectados, onde a análise é feita com maior intensidade, pois se o analista tiver à sua

disposição resultados significativos pode propor interferências e adiantar as interpretações a propósito dos objetivos previstos ou de descobertas inesperadas (BARDIN, 2011, p.131). Nesse sentido, as unidades orientaram a análise dos dados e favoreceram o diálogo com a literatura e a interpretação dos mesmos.

Sendo assim, os procedimentos metodológicos escolhidos para esta investigação foram relevantes para orientar o olhar da pesquisadora na direção do objetivo central da pesquisa, promovendo a visualização do contexto orquestral estudado e oferecendo contribuições significativas para a compreensão da aprendizagem dos músicos da OSUFRN nas suas diversas atividades. Nesse sentido, ao considerar a experiência vivenciada no campo e a literatura existente, discute-se a seguir sobre as relações entre a prática orquestral e a educação musical a partir das contribuições teóricas.

CAPÍTULO 3

Este capítulo apresenta as bases teóricas da pesquisa sobre o conceito de aprendizagem, dialogando com trabalhos que tratam da aprendizagem musical nas práticas coletivas e das relações existentes nesse meio de formação, onde os sujeitos interagem entre si, tornando-se mediadores da aprendizagem na coletividade. Nesse sentido, ressalta a relevância do meio social e cultural presente no cotidiano das pessoas. Além disso, com interesse em obter conhecimento sobre o público-alvo dessa investigação, o capítulo apresenta definições sobre as faixas-etárias dos jovens e suas relações com a música no contexto da formação musical instrumental em um grupo de prática musical.