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3. A REGULAÇÃO INTERNACIONAL DE OGM

4.2. A DINÂMICA DO CASO ENVOLVENDO OGM NA OMC

4.2.1. Apresentação do caso envolvendo OGM na OMC

Segundo Varella (2005), a primeira e importante discussão envolvendo barreiras comerciais aos transgênicos deu-se em maio de 2003, através de uma consulta e posterior instauração de um painel na OMC tendo como Reclamantes os Estados Unidos, Canadá e Argentina, e como Reclamada a Comunidade Europeia, atualmente designada União Europeia73.

Foram três reclamações específicas contra a Comunidade Européeia identificadas sob os códigos WT/DS29174 (Estados Unidos), WT/DS29275 (Canadá) e WT/DS29376 (Argentina), analisadas em um único painel.

O painel tinha ainda como terceiros interessados: Austrália, Brasil, Chile, China, Colômbia, El Salvador, Honduras, México, Nova Zelândia, Noruega, Paraguai, Peru, Tailândia e Uruguai.

Os Reclamantes se insurgiram contra medidas restritivas impostas pela Comunidade Europeia a produtos oriundos de modificação genética, sendo que alguns países membros da Comunidade Européia, como Áustria, França, Grécia e Itália, chegaram a proibir totalmente a importação dos referidos produtos.

Essas medidas restritivas caracterizaram-se não só pela proibição das importações por parte destes países, como também pela excessiva demora na aprovação do comércio de produtos biotecnológicos impossibilitando as importações de produtos agrícolas e alimentos.

O desenvolvimento do caso, desde a sua instauração até o encerramento, encontra-se sintetizado em ordem cronológica a seguir:

72 Os dados cronológicos e demais informações contidos neste tópico foram extraídos da página oficial da OMC – www.wto.org, com acesso em 18 de julho de 2011.

73 Apesar de atualmente utilizar-se a expressão “União Européia”, por questões históricas utilizar-se-á neste tópico do trabalho a expressão “Comunidade Européia”, por ser este o termo utilizado à época e que consta nos arquivos da OMC a respeito do caso.

74 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Disponível em:

<http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds291_e.htm>. Acesso em 18 jul. 2011.

75 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Disponível em:

<http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds292_e.htm>. Acesso em 18 jul. 2011.

76 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Disponível em:

1 – Em 18 de agosto de 2004, após a instauração da disputa, o Presidente do painel informou ao Órgão de Solução de Contovérsias - OSC que o relatório final seria emitido até o final de março de 2005, justificando o atraso em virtude do pedido das partes de tempo adicional para preparar suas contestações, bem como a decisão do painel de procurar aconselhamento de peritos científicos e técnicos nos termos do artigo 11 do Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias.

2 – Em 02 de novembro de 2004, o Presidente do Painel informou ao OSC que, em virtude do tempo dispendido para identificar e selecionar os especialistas e tendo-se em vista o pedido conjunto das partes da disputa para concessão de mais prazo para preparar outros esclarecimentos ao painel, não seria possível emitir o relatório final até o final de março de 2005, mas apenas em junho de 2005. Houve novos comunicados de prorrogação de prazo em 11 de agosto de 2005, 21 de dezembro de 2005 e 30 de março de 2006, com estimativa final de entrega do relatório final até o final de setembro de 2006.

3 – Em 29 de setembro de 2006, os relatórios do painel foram distribuídos aos membros. O painel concluiu que a Comunidade Europeia aplicou uma moratória sobre a aprovação de produtos biotecnológicos. Antes do painel, a Comunidade Europeia negou categoricamente a existência de tal moratória. O painel considerou ainda que, em virtude da moratória, a Comunidade Europeia não atendeu aos termos do Anexo C (1) (a), cláusula primeira, e artigo 8º do Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias77, com atrasos injustificados na conclusão dos processos de aprovação dos produtos biotecnológicos.

4 – Em 21 de novembro de 2006, o OSC aprovou os relatórios do painel. Como não houve recurso ao Órgão de Apelação, o processo passou à fase de implementação das recomendações do relatório do painel.

5 – Em 19 de dezembro de 2006, a Comunidade Europeia anunciou sua intenção de implementar a decisões do OSC. No entanto, devido à complexidade das questões envolvidas, houve solicitação de um período de tempo para discutir a adoção das recomendações com a Argentina, o Canadá e os Estados Unidos.

6 – Em 21 de junho de 2007, as partes reclamantes informaram ao OSC que haviam concordado com o período de tempo razoável à Comunidade Europeia para implementar as recomendações e decisões do painel. Ajustou-se um prazo de doze

meses a contar da data da aprovação dos relatórios do painel. O prazo expirou em 21 de novembro de 2007, ocasião em que as partes informaram ao OSC que tinham concordado em prorrogar o prazo para 11 de janeiro de 2008.

7 – Em 14 de janeiro de 2008, apenas os Estados Unidos informaram ao OSC que tinham chegado a consenso com a Comunidade Europeia sobre os procedimentos para implementação das medidas recomendadas no relatório do painel, consistente na solicitação pelos Estados Unidos de autorização do OSC para suspender concessões e outras obrigações para com a Comunidade Europeia. Em 08 de fevereiro de 2008, o OSC decidiu que o assunto deveria ser submetido à arbitragem. Em 15 de fevereiro de 2008, a Comunidade Europeia e os Estados Unidos solicitaram ao árbitro a suspensão dos trabalhos para fins de nova tentativa de composição. Até a presente data, de acordo com consulta à página oficial da OMC – www.wto.org – persistem as negociações entre as partes, mantendo-se o pedido de retaliação por parte dos Estados Unidos78.

Apesar de a controvérsia entre Estados Unidos e Comunidades Europeias ainda não ter encerrado até a presente data, um desfecho diferente ocorreu com o Canadá e a Argentina.

O prazo de 11 de janeiro de 2008 que esse dois países haviam ajustado com a Comunidade Europeia para implementar as medidas do painel foi prorrogado sucessivamente até que o Canadá, em 15 de julho de 2009, e a Argentina, em 19 de março de 2010, notificaram o OSC informando que haviam alcançado uma solução mutuamente acordada com o objetivo de estabelecerem um diálogo bilateral sobre temas agrícolas na área de biotecnologia, encerrando-se a disputa.

Em resumo, mais de 20 (vinte) anos se passaram desde o início da moratória imposta pela Comunidade Europeia em 1998, passando pela consulta inicial na OMC em 2003, instauração do painel em 2004, relatório final em 2006 e a implementação parcial das medidas pela Comunidade Europeia a partir de 2008, o que demonstra e comprova a complexidade de um assunto que ainda comporta mais debates e reflexões. As peculiaridades do caso, bem como a ordem cronológica dos acontecimentos expostos neste tópico, permitem agora comentar os argumentos delineados por ambas as partes na disputa, bem como os fundamentos do relatório final e suas consequências.

78 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Disponível em:

4.2.2. Argumentos sustentados pelos reclamantes: Estados Unidos, Canadá e