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As funções atribuídas ao professor de pós-graduação

CAPÍTULO 6 – DISCUSSÃO E RESULTADOS DAS ANÁLISES DE DADOS

6.4. As funções atribuídas ao professor de pós-graduação

Elencamos na Tabela 6.7 as funções atribuídas ao professor de pós-graduação, de acordo com cada tipo de atividade exposto no capítulo de metodologia.

TABELA 6.7 – Tipos de atividades e as funções atribuídas ao professor de pós-graduação

Atividades Funções atribuídas

Ensino 1. Professor de graduação 2. Professor de pós-graduação

 Subfunções

1. Avaliador, leitor/ouvinte crítico 2. Selecionador de textos

3. Planejador de disciplinas 4. Prescritor da ação do aluno 5. Estudioso, leitor, pesquisador Projetos 3. Pesquisador

 Subfunções

1. Divulgador da própria pesquisa 2. Estudioso, leitor

Orientação 1. Orientador de iniciação científica 2. Orientador de mestrado e doutorado

 Subfunções

1. Avaliador/leitor crítico

2. Prescritor da ação do orientando 3. Corretor de texto

4. “Preenchedor” de formulário Bancas 1. Membro de banca de qualificação e defesa

 Subfunções 1.Leitor e ouvinte crítico

2. Escritor da argumentação/arguição 3. Avaliador e expositor

Eventos 1. Produtor de artigos/resumos científicos 2. Participante de congresso 3. Organizador de congresso 4. Expositor Técnica 1. Parecerista  Subfunções 1. Leitor

2. Avaliador de projeto e de currículos 3. “Preenchedor” de formulários diversos Conselhos,

comissões e assessorias

1. Membro de colegiado 2. Participante de reunião Fonte: elaborada pela autora.

Percebemos na Tabela 6.7 a pluralidade de funções atribuídas ao professor, tematizadas no texto analisado, o que confirma a necessidade de saber gerenciar o tempo para realizá-las. A atividade de ser usuário de computador perpassa todas elas.

Diante de tantas funções, faz parte do métier do professor a mobilidade, a circulação, pois ele se desloca para dar aula, para ir a congressos em seu país e fora dele, para ir a reuniões na universidade etc., realizando, ainda, diversas atividades em sua casa. Da mesma forma, não há uma jornada de trabalho fixa e formal, pois vimos representações de que a professora trabalha durante o dia, à noite e até quando está viajando a lazer.

Desse modo, o trabalho do docente é constituído de certa autonomia em relação ao planejamento e ao controle de algumas de suas atividades, pois é ele quem gerencia os dias e horários para realizar muitas delas, por exemplo, preparar aulas, responder e-mails. Porém, essa é apenas uma aparente autonomia, pois para algumas atividades há prazos a cumprir, como a elaboração de parecer para as agências de fomento; para outras há dia e horário marcado, como aulas, reuniões e congressos. Avançando na discussão, mesmo para as atividades em que não há prazos prescritos para cumprir, essa aparente autonomia gera expectativa ao professor, pois os dados analisados revelam, por exemplo, que é preciso ver os e-mails até em viagens pessoais, pois, de acordo com os dados, “nem todos que enviam e-mail gostam de esperar para ter respostas”. Essa expectativa pode causar ansiedade, associada a um estado emocional negativo.

Evidenciamos, em seções anteriores, o desejo da professora de se dedicar mais às atividades avaliadas como prazerosas. Esse desejo está relacionado a atividades contrariadas e reprimidas, já que não há tempo para desenvolvê-las em virtude das outras atividades desagradáveis. Trata-se de uma amputação do poder de agir, que pode ser considerada um desenvolvimento impedido (CLOT, 2006). Para Dejours (2009), a satisfação está relacionada ao sentido, à significação do trabalho, aos desejos, às motivações. Quando acontece o inverso, ou seja, quando o trabalhador precisa executar tarefas que não têm sentido para ele, não estando ligadas aos seus desejos e motivações, haverá insatisfação, que leva ao sofrimento psíquico, pois o trabalhador está reprimindo os seus desejos, sendo impedido de realizar as atividades agradáveis, que lhe dão prazer.

Percebemos, ainda, que as atividades administrativas, para as quais se gasta muito tempo em sua realização, não são reconhecidas como fazendo parte do trabalho do professor. O que é reconhecido oficialmente são as atividades que constam dos currículos, dos

formulários, dos relatórios, e que são avaliadas pela Capes e não o trabalho de fazê-los. Perde- se tempo com o preenchimento desses instrumentos de controle e de outras atividades administrativas, tendo o professor de deixar de lado atividades que poderiam ser reconhecidas, como atividades ligadas à pesquisa. Segundo Dejours (2009), o reconhecimento desempenha um papel fundamental na possibilidade de transformar sofrimento em prazer nas situações de trabalho, contribuindo para a construção da identidade.

Consideramos que o sofrimento identificado no texto analisado não está relacionado apenas ao fato de o professor ser bastante controlado pela Capes, mas ao fato de ter de consumir tempo com atividades que não estão ligadas com os seus interesses, objetivos, motivações, mas a finalidades e motivações postas por determinações externas, com pouca possibilidade de nelas interferir.

Confirmamos também a ideia de que há dois sistemas de funcionamento que o professor precisa regular (ALVAREZ, 2000) para que possa realizar as atividades, de acordo com os interesses dessas instâncias, e não com seu próprio:

a. da universidade, com toda a sua estrutura hierárquica e administrativa; b. das agências de fomento.

Cada uma dessas instâncias tem a sua própria forma de funcionamento, suas normas, regras, valores, objetivos, sendo que o professor precisa conhecer as estruturas de funcionamento de cada uma delas, acompanhando suas regras, prescrições, suas mudanças, a fim de atingir seus objetivos (ALVAREZ, 2000). O que o professor faz para conhecer as diferentes estruturas institucionais? Observamos que é o aprendizado profissional, ou seja, a experiência que torna isso possível, sendo uma questão de sobrevivência nesse métier. Observamos que, assim como há uma multiplicidade de atividades que o professor tem de desenvolver, há também uma multiplicidade de elementos que o professor precisa regular. Pensando nos três elementos do trabalho do professor representados por Machado (2008), temos um determinado sujeito que age sobre o meio, em interação com diferentes “outros”, utilizando artefatos materiais ou simbólicos construídos sócio-historicamente, dos quais é necessário se apropriar e transformá-los em instrumentos para o seu agir e sendo por eles transformados, visando a um determinado objetivo, como ilustra a Figura 6.2.

1. Professor 2. Pesquisador 3. Orientador 4. Membro de banca 5. Produtor de artigos 6. Participante de congresso 7. Parecerista 8. Membro de colegiado

FIGURA 6.2. As múltiplas funções atribuídas ao professor de pós-graduação.

Fonte: elaborado pela autora, com base em Machado (2010).

A Figura 6.2 representa as múltiplas funções desempenhadas pelo professor de pós- graduação, sempre mediado por artefatos materiais ou simbólicos, em interação com diferentes outros, visando a um determinado objetivo específico. Isso mostra que para cada função desempenhada, os elementos do trabalho são diferentes, o que indica que o professor terá de regular diferentes objetos, em interação com diferentes outros, apropriando-se de diferentes artefatos e transformando-os em instrumentos, o que evidencia a complexidade do trabalho do professor, como ilustra a Figura 6.3. em relação à atividade de orientação.

1 Outro 1 Objeto 2 Objeto 2 Outro 3 Objeto 3 Outro 4 Objeto 4 Outro 5 Objeto 5 Outro 6 Objeto 6 Outro 7 Objeto 7 Outro 8 Objeto 8 Outro

Contexto sócio-histórico particular Sistema Educacional Sistema de Ensino Professor Objeto Outrem

FIGURA 6.3. Elementos constituintes da atividade de orientação.

Fonte: adaptada de Machado (2010).

Para cada função desempenhada, o contexto sócio-histórico também tem as suas peculiaridades. Por exemplo, em relação à atividade de elaboração de parecer, Muniz-Oliveira (2010), em um artigo oriundo dos estudos iniciais desta tese, considera o contexto sócio- histórico o século XXI, tendo como instituição científico-tecnológica o CNPq, que envia os projetos aos professores para avaliação, e como comunidade científica, pesquisadores da área de estudos da linguagem. Instrumento Alunos, colegas de trabalho, autores, os outros interiorizados Construir meios para o

desenvolvimento de novos conhecimentos, novas pesquisas dos orientandos

Materiais ou

simbólicos

(programas de

computador, teorias, textos dos alunos)

Entretanto, o trabalho do professor é ainda mais complexo do que imaginamos, pois para cada função a ser desempenhada há várias tarefas profissionais envolvidas. Por exemplo, em relação à função de professor temos as seguintes tarefas envolvidas:

a. elaborar programa de disciplina; b. elaborar planejamento de aula;

c. preparar cada aula, tendo em vista a aula anterior e a posterior, o que pode significar escolher texto para discussão, reler texto, planejar atividades para a aula e tarefas para os alunos fazerem em casa;

d. avaliar textos de alunos, apontando os problemas; e. atribuir nota final ao aluno etc.

Diante disso, podemos compreender o quão complexo é, para o professor de pós- graduação, ter de mobilizar o seu ser integral para desempenhar todas as funções elencadas, em que estão envolvidas diferentes tarefas, tendo de conviver com os mais diferentes artefatos que precisam ser apropriados. Por exemplo, em relação aos gêneros textuais que precisam ser apropriados, identificamos no texto analisado parecer, projeto de pesquisa, artigo científico,

currículo, tese de doutorado, dissertação de mestrado, relatório, formulário, programa de curso. Estes são colocados como gêneros que fazem parte da profissão do docente de pós- graduação, tendo este, portanto, de dominá-los.

Em vista dos resultados das análises, consideramos necessário repensar as formas de organização da profissão do docente de pós-graduação, pois detectamos dificuldades do professor para realizar todas as atividades a ele atribuídas. Como poderíamos repensar essas dificuldades e o que fazer para solucioná-las? A seguir, nas considerações finais, faremos uma reflexão sobre os nossos resultados, a fim de discutir essa problemática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

[...] então é muita coisa controlada mesmo viu... então é um controle muito maior com data com prazo com dia com não sei o que por isso que eu sofro...

(Instrução ao sósia, Unicamp, 29/10/2008)

Nesta última parte apresentaremos algumas reflexões sobre os resultados das análises da instrução ao sósia e do segmento de entrevista e as contribuições teórico-metodológicas em que nos apoiamos e aquelas que a pesquisa pode trazer para os pesquisadores que adotam as mesmas vertentes teóricas ou semelhantes.

Relembrando, aliamos os pressupostos do interacionismo sociodiscursivo (ISD) com os da Ergonomia da Atividade e da Clínica da Atividade, como já vem fazendo as pesquisas dos integrantes do grupo Análise de Linguagem, Trabalho Educacional e suas Relações, vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Alter/CNPq) (ABREU-TARDELLI, 2004, 2006; LOUSADA, 2004, 2006; MAZZILLO, 2006; CORREIA, 2007; BUENO, 2007; BARRICELLI, 2007, BUZZO, 2008, TOGNATO, 2009; entre outras). Como essas pesquisas têm mostrado, a aliança entre esses pressupostos teóricos tem trazido contribuições para o quadro teórico do ISD a partir das análises de textos sobre o trabalho educacional, ampliando suas categorias de análise, contribuindo para a identificação da morfogênese do agir em textos. Da mesma forma, contribui com as pesquisas da Ergonomia da Atividade e da Clínica da Atividade no que se refere à identificação das representações sobre o trabalho realizado e o real da atividade do professor, a partir de análises linguístico- discursivas detectadas nas análises da instrução ao sósia e da entrevista.

Nas próximas seções, em primeiro lugar, abordaremos a multiplicidade de atividades e os elementos do trabalho do professor de pós-graduação identificados no texto analisado. Em segundo lugar, trataremos das avaliações e das dificuldades representadas, sendo enfocada a importância do papel do coletivo de trabalho. Em terceiro lugar, trataremos da relação entre o trabalho do professor e o papel das agências de fomento. Finalmente, abordaremos as contribuições teórico-metodológicas que este trabalho pode trazer para outros pesquisadores, com algumas sugestões para pesquisas futuras.

A multiplicidade de atividades e os elementos do trabalho do professor de pós- graduação

Como pudemos observar em nossas análises, o professor de pós-graduação desempenha múltiplas funções referentes a diferentes tipos de atividade: ensino; projetos de pesquisa; orientação de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado; bancas de qualificação e defesa; eventos (p. ex., congressos); técnica (parecerista); conselhos, comissões e assessorias. Para cada atividade, há diferentes elementos envolvidos no trabalho do professor (objetos, os outros, artefatos), o que significa uma multiplicidade de elementos que precisam ser gerenciados. Assim, o professor precisa saber gerenciar o seu tempo para desenvolver todas essas atividades a ele prescritas.

Um dos actantes mais tematizados no texto analisado foram os alunos, identificados nos segmentos referentes à atividade de ensino, orientação e participação em bancas de defesa, sendo o outro com quem o professor mantém uma interação mais frequente. Os alunos são de graduação, de iniciação científica, de pós-graduação – mestrado e doutorado. Observamos, ainda, que há representações de diferentes estilos para lidar com cada tipo de aluno, por exemplo, em relação aos alunos de pós-graduação, é necessário um tipo de relação em que o aluno seja mais autônomo. Como vimos, é bastante recorrente, também, a professora recriar uma situação de sala de aula em que é trazida não somente a voz da professora em interação com os alunos, mas, também, a voz destes em interação com a professora. A maior ocorrência do actante aluno no texto evidencia que o aluno é o principal outro com quem o professor se relaciona. Porém, o que não esperávamos foi a menção a diferentes tipos de alunos com os quais o professor de pós-graduação tem de lidar, já que se é docente de pós-graduação esperávamos que ele seria professor apenas desse nível de ensino. Mas, como consta nos documentos oficiais e, consequentemente, na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), espera-se que o professor de pós-graduação também lecione na graduação, mantendo vínculos com esse nível de ensino, com orientandos de iniciação científica. A nosso ver, trabalhar com diferentes tipos de alunos, de variados níveis de conhecimento e capacidades, com objetivos diferenciados, deve ser algo mais trabalhoso, sujeito a maiores conflitos e dificuldades.

Outro actante bastante tematizado no texto analisado são os professores de pós- graduação stricto sensu genéricos, que também são outros com quem a professora estabelece contato, sendo abordados em diferentes segmentos temáticos. Com maior frequência, observamos que esse tipo de professor é colocado em cena, sobretudo, no segmento temático

“atividades/prescrição dos órgãos de fomento”. A nosso ver, isso se relaciona ao fato de que as atividades e as dificuldades trazidas à cena, que retomaremos a seguir, não são apenas vistas como sendo da professora participante de pesquisa, mas sim do coletivo de trabalho em geral, principalmente, a nosso ver, de seu programa de pós-graduação.

Como vimos, em relação aos objetos da atividade do professor de pós-graduação, eles também são múltiplos, de acordo com cada atividade desenvolvida, tendo o docente de saber chegar a diferentes objetos, como, por exemplo, construir meios para o desenvolvimento de conhecimentos de novos pesquisadores, no caso da orientação de alunos. Além disso, para cada objeto, há diferentes tarefas a serem desenvolvidas. Por exemplo, para a elaboração de parecer para os órgãos de fomento é necessário analisar o projeto, verificando se as suas partes estão coerentes; analisar o currículo do autor do projeto; comparar o currículo com o projeto de pesquisa, analisando se o projeto e o currículo estão coerentes; verificar se o auxílio financeiro solicitado pelo autor (pesquisador) está coerente com o projeto; responder as pesquisas do formulário do site da agência de fomento; emitir o parecer, aconselhando ou não o projeto (MUNIZ-OLIVEIRA, 2010). Assim, vemos que o trabalho do professor de pós- graduação é muito complexo, já que ele tem de saber lidar com uma multiplicidade de atividades e de diferentes objetos, diferentes outros, diferentes instrumentos, tendo variadas capacidades.

Os dados revelam, ainda, os diferentes espaços que fazem parte do trabalho do professor, como a universidade, a casa do professor, outras cidades e até outros países, quando o professor se desloca para participar de congressos ou de outros eventos. Assim, a vida profissional está imbricada na vida pessoal, pois, em casa, o professor realiza várias atividades, como preparação de aulas e elaboração de pareceres, lembrando, ainda, de um trecho do texto analisado em que há representações de que a professora responde e-mails até em viagens pessoais.

A seguir, abordaremos as avaliações e as dificuldades representadas no texto, considerando essa complexidade do trabalho docente.

As avaliações e as dificuldades representadas: o papel do coletivo de trabalho

Os resultados das análises evidenciam, ainda, que, além das atividades previamente enumeradas no e-mail enviado pela professora (vide procedimentos metodológicos) há muitas outras que foram colocadas em cena no momento da conversação. A partir das instruções para

a realização das atividades docentes, foi possível detectar as ações que são realizadas para cada atividade instruída, as dificuldades para a realização delas, alguns conflitos vividos pelo professor e as formas encontradas para solucioná-los, o que faz com o que o professor busque alternativas para resolver esses conflitos, readaptando as prescrições ou autoprescrições à nova situação vivenciada.

Em vista da multiplicidade de atividades prescritas ao professor, evidenciam-se, nos dados, representações de conflitos que não são resolvidos, pois há uma sobrecarga de trabalho, não havendo tempo suficiente para dedicação às atividades consideradas fundamentais, como o estudo, a pesquisa, a leitura de novos autores em vista dos textos das pesquisas dos alunos ou do próprio professor. Os dados revelam que esses conflitos não resolvidos levam a professora a desejar se aposentar por ser impedida de se dedicar às atividades que lhe trazem prazer, e que são por ela consideradas essenciais. Entretanto, a professora parece estar superando esses conflitos, já que, mesmo podendo se aposentar, opta por continuar trabalhando.

Os dados também evidenciam conflitos da professora ao ter de realizar atividades que exigem muito conhecimento de informática, considerando que a professora tem mais de trinta anos de experiência, tendo iniciado seu trabalho em uma época em que o computador, e ainda menos a internet, não eram disseminados, já que a expansão do computador e da internet na educação se deu na década de 1990. Isso nos mostra as dificuldades e os conflitos gerados pela introdução de novos artefatos às situações de trabalho sem que seja dado suporte eficiente ao trabalhador.

As dificuldades elencadas parecem-nos motivadas pelas transformações do mundo do trabalho acadêmico e, dentre elas, a exigência de uma produtividade máxima vista como negativa. Elas são apresentadas a seguir:

 relatórios e formulários que devem ser preenchidos pelo professor como forma de prestação de contas a Capes;

 diferentes tipos de currículos que devem ser preenchidos/atualizados pelo professor para cada uma das agências de fomento;

 aumento do número de orientandos;

 aumento do número de projetos enviados pelas agências de fomento aos professores Bolsistas de Produtividade, visando à elaboração de pareceres;

 leitura semestral de muitos relatórios de alunos de Iniciação Científica;

 novas atividades que tomam muito tempo do professor, proporcionadas pela era da informatização, como, por exemplo, responder e-mails (de alunos, universidades etc.);

 normas diferentes para a elaboração de resumos para os variados congressos, com explicações duvidosas nos sites dos próprios eventos.

Considerando os elementos do trabalho do professor discutidos no Capítulo 1 (sujeito, outro, objeto, artefatos e capacidades), observamos que a maioria das dificuldades representadas refere-se a novos objetivos prescritos à realização das atividades que ele precisa aprender a atingir. Além disso, o que também nos chamou a atenção são representações construídas sobre o aumento da quantidade dos textos que devem servir de instrumentos para o trabalho do professor (relatórios de alunos e projetos de pesquisas para elaboração de parecer) e o aumento do número de orientandos.

Ainda em relação aos elementos de trabalho do professor, observamos dificuldades oriundas das relações com os outros com os quais o docente interage. Por exemplo, no caso das normas prescritas pelos organizadores de congressos, já que, em geral, cada congresso estipula uma norma específica para a elaboração de resumos. Além disso, as explicações sobre a inscrição para participação em eventos encontradas nos sites de alguns congressos são representadas como duvidosas.

Assim, o conjunto de atividades avaliadas negativamente aparece como elemento inibidor das atividades de ensino e pesquisa, avaliadas positivamente, como estabelece a Resolução n. 5/83 (BRASIL, 1983), mencionada no Capítulo 2. Essa contradição também vai de encontro ao artigo 43 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que estabelece algumas finalidades para o ensino superior, sendo que uma delas é justamente a de incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica. Ao contrário, os dados revelam que a forma real de organização do trabalho do professor de pós-graduação não está contribuindo com o desenvolvimento da pesquisa e da investigação científica, já que há pouco tempo para o desenvolvimento dessas atividades.