• Nenhum resultado encontrado

As imagens de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 97-101)

PARTE I – A CONSTRUÇÃO DO OBJETO

3 A DEVOÇÃO A SÃO LONGUINHO

3.2 A presença da devoção a São Longuinho no Brasil

3.2.3 As imagens de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada

Na Igreja Nossa Senhora da Escada, até março de 2007, encontram-se três tipos de imagens referentes a São Longuinho. No oratório localizado no altar- mor, conforme já mencionado, ficava a imagem “achada”, cultuada pelos moradores e motivo da presença constante de visitantes, excursionistas, de curiosos, de devotos, enfim, motivo da devoção em Freguesia.

Localizadas em uma mesa, também no altar principal, observam-se as imagens de São Longuinho como soldado romano. Estas imagens, segundo informações de pessoas que zelam pela Igreja, foram feitas com a autorização do padre, uma vez que São Longuinho era um soldado e “a imagem existente do santo no Vaticano é referente a um soldado romano”. Esta era a imagem vendida na Igreja com a autorização do padre. As pessoas que compareciam à Igreja, devotos, curiosos, começaram a solicitar uma imagem de São Longuinho para comprar, para levar para casa e assim surgiu a idéia de ser colocada à venda uma imagem de São

Longuinho como “soldado”, uma vez que assim é a imagem do Vaticano – “São Longuinho como Guarda”.

Próxima à imagem do oratório, algumas vezes é encontrada uma pequena imagem que consta ser de São Longuinho como monge ou franciscano, que é trazida à Igreja por devotos em cumprimento de promessas. Esta imagem, que contém a inscrição do vocábulo “profeta” gravada nela, em Freguesia, é vendida em uma lojinha próxima à Igreja.

Em 2004, na Festa de São Longuinho, réplicas da imagem do oratório foram colocadas à venda após terem sido benzidas pelo padre. A confecção dessas imagens foi encomendada por um “político de Guararema”17, o qual afirmou que, há tempos, ele aguardava autorização do clero para fabricar tal imagem (Anexo nº 4, Entrevista V 3).

Ao ser entrevistado, ele relatou que pretendia comercializar a imagem na Festa de São Longuinho de 2004, o que se concretizou. Segundo ele, houve autorização do bispo para que a imagem fosse vendida, mas antes deveria ser “benta”.

Na referida festa, em março de 2004, as peças chegaram a Freguesia pouco antes de a procissão sair da Igreja. Membros da comunidade e da pastoral esperavam ansiosos pela chegada das imagens. Ao chegarem, foram embaladas uma a uma em sacos plásticos e levadas para o local onde seriam “bentas”. Em seguida, ficaram expostas na barraca de venda de artigos religiosos e pôde-se observar que muitos se aproximavam para conhecê-la e poucos a adquiriram. A procura se dava pela imagem de São Longuinho conhecida como frade, monge ou franciscano, que não era comercializada no local. A loja próxima da Igreja, que comercializava tal imagem, estava fechada, mas a imagem podia ser encontrada numa barraca ambulante, montada em rua próxima à Igreja, mas fora do local apropriado para o comércio da Festa de São Longuinho.

Apesar de existirem três tipos de imagens de São Longuinho, a devoção existente lá se dá em torno da imagem do oratório, a imagem “achada”. A esta imagem “achada” e a sua trajetória em Freguesia foi dedicada a segunda parte desta pesquisa.

17

João Augusto Figueredo da Silva (Assessor da Secretaria de Cultura de Guararema / candidato a vereador em 2004).

SÍNTESE

Nesta primeira parte – A Construção do objeto –, abordou-se o referencial teórico para o suporte do estudo, que foi constituído por três capítulos.

No primeiro capítulo – O processo da pesquisa –, justificou-se a escolha do tema pesquisado e dos objetivos da pesquisa, mostrando a intenção de se fazer uma análise da devoção a São Longuinho em Freguesia, estudando a dinâmica, sentidos e interesses que compõem tal devoção, enfim, estudando a construção e reconstrução da devoção existente na Igreja de Nossa Senhora da Escada, em Guararema, no Bairro Freguesia da Escada.

Apresentaram-se também as características gerais da pesquisa e trabalho de campo, em que se mencionou que o referencial metodológico que embasou a pesquisa foi a abordagem socioantropológica, a metodologia qualitativa, utilizando-se das técnicas: observação participante, entrevista, história oral, análise de documentos.

A pesquisa teve por base a concepção de Eliade (1992, p. 17) sobre o sagrado, pois, para ele, o homem só toma conhecimento do sagrado porque este se mostra totalmente diferente do profano e a esta manifestação do sagrado ele denomina Hierofania. A concepção de religião adotada foi a da religião como construção cultural, baseada em Geertz (1987, p. 104-105).

Apresentaram-se, em seguida, os autores cujos textos sobre religião, catolicismo popular e devoção permitiram uma reflexão sobre o surgimento e fatores propícios à devoção. Finalizando, no item observações sobre o campo da pesquisa, foi feita uma tentativa de se apresentar todo o processo da pesquisa com os ensaios e possíveis erros cometidos e também com os impasses etnográficos ocorridos durante a realização do trabalho de campo.

No segundo capítulo – A Construção da devoção –, o objetivo foi de levantar aspectos da dinâmica da participação do devoto na construção do santo. Abordaram-se algumas considerações sobre o catolicismo brasileiro, situando aí o catolicismo popular, e conceituando-o como catolicismo popular devocional, o catolicismo do devoto que cultua o santo de sua devoção, caracterizado pela intensa participação do leigo e cujo núcleo central da devoção é o santo. Apresentaram-se, em seguida, algumas características desse catolicismo popular devocional, com

reflexões sobre cultura, relações devocionais entre o santo e o devoto e abordando a questão “Santos em Construção”.

O terceiro capítulo – A devoção a São Longuinho – foi também descritivo, o qual mostrou os aspectos da devoção a São Longuinho em geral e especialmente no Brasil, onde é conhecido como o santo dos três pulinhos ou três gritinhos. Abordaram-se os aspectos históricos da devoção a São Longuinho, que é uma devoção popular e antiga, cujo nome é Longinus, que, com o passar dos anos, se transformou em Longuinho. Este teria sido um soldado romano que esteve presente na crucificação de Jesus, reconheceu Jesus como “Filho de Deus”, sendo também identificado como o soldado que perfurou Jesus com uma lança, provavelmente pelo fato de o nome dele significar “lança”.

Mencionou-se, ainda, neste item, a presença do nome Longinus no Novo Testamento, no Martirológio Romano, apresentando a hagiografia de São Longuinho segundo alguns autores, ressaltando que a presença de uma imagem de São Longinus em Roma, datada de 1639, também é um dado histórico importante.

Em seguida, elementos da história da devoção no Brasil foram apresentados, mostrando a devoção existente em Guararema, cidade do interior paulista que tem uma imagem de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada, no Bairro Freguesia. Citaram-se também as três imagens de São Longuinho, das quais se tomou conhecimento durante a realização do estudo, com a explicitação de que a pesquisa refere-se à imagem do oratório da Igreja de Nossa Senhora da Escada, pois esta é o motivo da irradiação de uma devoção no local e região, e é da trajetória dessa imagem, encontrada em um armário e levada para o altar, que trata a segunda parte desta tese.

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 97-101)