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Hagiografia de São Longuinho

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 78-81)

PARTE I – A CONSTRUÇÃO DO OBJETO

3 A DEVOÇÃO A SÃO LONGUINHO

3.1 Aspectos históricos da devoção a São Longuinho

3.1.3 Hagiografia de São Longuinho

Hagiografia é uma palavra derivada do grego. Hagio significa santo e graphein é equivalente a escrever. É parte da história que se preocupa em estudar e pesquisar a vida e as lendas criadas em torno dos santos.

Segundo Pontes (2002, p. 9-10), a "hagiografia pode ser crítica e acrítica. A crítica aparece no início do século XX, por um grupo de jesuítas belgas, denominados bolandistas, com a finalidade de eliminar toda a parte lendária e historicamente falsa da vida dos santos católicos, que a hagiografia acrítica sempre incentivou".

Segundo Pontes, a hagiografia crítica concluiu que alguns santos, mesmo de grande devoção popular, não tiveram existência na história, sendo figuras lendárias, como São Cristóvão, Santa Filomena, São Jorge. O Papa João XXIII, sob a influência deste tipo de hagiografia mandou retirar em 1960, do "Breviário", relatos da vida dos santos que foram tidos como inverídicos, mas a tradição popular continuou mantendo suas crenças e devoções.

Entre essas devoções populares encontra-se a de São Longuinho, que não depende da comprovação histórica de dados para comprovar sua santidade para os seus devotos. É um santo que tem sua história e graças divulgadas através dos depoimentos espontâneos de seus devotos.

Na hagiografia de São Longuinho, autores como Megale, Jacopo Varazze, João Batista Lehmann, Buther apresentam-no como Longino, soldado romano presente na crucificação de Jesus.

Segundo Megale (2003, p. 149), "Longuinho é uma versão vulgar do nome Longino, registrado no Martirológio Romano. Foi um santo do primeiro século, contemporâneo de Jesus".

No Livro de Ouro dos Santos, Megale (2003, p. 149) o apresenta como:

O soldado romano que perfurou o lado de Cristo com a lança e que, ao presenciar os estranhos acontecimentos ocorridos no momento de sua morte, como o tremor da terra seguido de trevas em pleno dia, as pedras que se quebraram sozinhas, o véu do templo que se rasgou de alto a baixo, os mortos que se ressuscitaram, reconheceu que Cristo era na verdade o Filho de Deus.

Ainda segundo relatado no Livro de Ouro dos Santos, após o suplício no Calvário, para que os corpos não ficassem na cruz no dia de sábado, os judeus pediram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas e que fossem tirados dali. Vendo, porém, que Jesus já estava morto, um dos soldados lhe abriu o peito com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. Conta a tradição que a água respingou nos olhos desse soldado curando-o de uma grave doença da vista.

O soldado romano converteu-se ao cristianismo, deixou o exército, a casa e transformou-se em monge, indo pregar o cristianismo na Capadócia e em Cesaréia, onde no ano de 58, aproximadamente, sofreu o martírio. Este soldado chama-se Cássio, e, depois de convertido, foi batizado com o nome de Longino. Quando pregava o Cristianismo, destruiu, na presença do oficial que o perseguia, imagens de ídolos com um machado e das imagens saíram espíritos malígnos que cegaram seu perseguidor. Longino avisou que ele só seria curado se aderisse à nova religião. Longino orou fervorosamente e o homem recuperou a vista e se converteu ao Cristianismo.

A Legenda Áurea, famoso livro que relata Vidas de Santos, ao se referir a São Longuinho, apresenta-o como Longino, um dos centuriões que vigiava a cruz do Senhor por ordem de Pilatos, sendo ele quem perfurou Jesus com a lança e que, vendo as mudanças repentinas ocorridas no tempo, a escuridão e o tremor da terra, arrependeu-se e passou a acreditar em Jesus. Segundo relatado no mencionado livro:

Dizem que isso se deveu ao fato de algumas gotas de sangue de Cristo terem escorrido pela lança e caído em seus olhos, até então turvados por doença ou por velhice, e que imediatamente passaram a ver com nitidez. Renunciou ele a condição de militar e, instruído pelos apóstolos, passou 28 anos de vida monástica em Cesaréia da Capadócia, convertendo muita gente à fé por sua palavra e seus exemplos (VARAZZE, 2003, p. 296).

O padre João Batista Lehmann, no livro Na Luz Perpétua, menciona que existem vários santos com o nome de Longino. Um deles foi Cássio, o soldado romano que abriu o coração de Cristo no Calvário e depois de convertido, foi batizado com o nome de Longino. "Suas relíquias estão em Mântua. É padroeiro dos ferreiros e sua intercessão é invocada contra moléstia dos olhos. Há também uma benção especial de São Longino para fazer parar hemorragias provocadas por ferimentos” (LEHMANN, 2002, p. 110).

A lança com a qual atravessou o peito de Jesus encontra-se atualmente no Vaticano, segundo o padre João Batista Lehmann. Ela estava em Constantinopla, guardada na Igreja de Santa Sofia e foi enviada ao Papa Inocêncio VIII (1484-1492) pelo sultão Bayazed. O dia festejado: 15 de março.

Lehmann cita outro São Longino, Bispo, martirizado na Numídia (norte da África), vítima da fúria do rei dos vândalos, Humérico, no ano de 489, e seu dia é 05 de maio. Um terceiro São Longino, ainda segundo Lehmann, foi martirizado junto com São Ciríaco e Santo Esmagardo no dia 08 de agosto. O administrador imperial, Maximiano, obrigou os cristãos a trabalhar na construção das termas dioclesianas, e estes foram ajudados pelo diácono Ciríaco, e os seus companheiros Longino e Esmagardo. Maximiano mandou prendê-los, e eles, no cárcere, realizaram várias conversões, tendo sido, por isso, decapitados. Seus corpos foram enterrados perto do lugar da execução e, em 08 de agosto de 303, transladados para Óstia. Ainda citando Lehmann, São Ciríaco é um dos santos invocados na França contra as

doenças dos olhos e ataques do demônio. "Talvez Longino, seu companheiro, tenha recebido, por associação, o poder de encontrar objetos perdidos".

Outro Longino ainda citado no livro Na Luz Perpétua é um monge que viveu no século V, num mosteiro próximo a Belém, na Palestina.

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 78-81)