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Atribuições do santo

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 138-142)

PARTE II – A TRAJETÓRIA DE SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA: DA GAVETA

5 DA DESCOBERTA DO SANTO À CONQUISTA DO ALTAR

6.2 Atribuições do santo

Para se definirem os atributos de São Longuinho, viu-se a necessidade de pesquisar qual a visão que os moradores da Freguesia e os devotos que lá comparecem têm sobre o santo, ou melhor, quem é São Longuinho para essas pessoas. Qual a visão que estas pessoas têm sobre São Longuinho? Quais as qualidades do santo mencionadas por seus devotos?

Tentou-se responder a tais questões a partir das informações obtidas nas entrevistas feitas com os moradores de Freguesia e os devotos, bem como por meio da análise dos bilhetes deixados no oratório do santo, e das informações prestadas por visitantes e moradores. As pessoas, ao responderem as perguntas sobre São Longuinho, apresentaram exemplos de intervenção do santo na vida delas ou de parentes, amigos ou conhecidos. Referiram como iniciou a devoção, mencionando relatos que escutaram de pessoas mais velhas, devotas do santo.

Alguns entrevistados apresentaram São Longuinho a partir de elementos relacionados à idéia de santo de um modo geral:

Por ser São Longuinho muito bom. Ele atende tudo que é pedido com fé, se a pessoa acreditar nele vai conseguir tudo (Anexo 4 – Entrevista III).

Alguns entrevistados mencionam São Longuinho como um santo com capacidade para lidar com diferentes situações, principalmente em momentos de aflição:

É um santo muito bom ... Sempre que se precisar de dinheiro, curar doença, achar coisas perdidas, para qualquer coisa, é só rezar para ele com fé (Anexo VIII - Devoto nº 5).

Alguns citam São Longuinho como um soldado romano e justificam os atos dele tendo em vista o fato de que cumpria ordens.

São Longuinho vem do latim Longinus, soldado romano que na crucificação fincou a lança em Jesus. Se converteu, se arrependeu. Ele era um soldado, um guerreiro (Devoto na II Festa de S. Longuinho).

Se converteu, se arrependeu. Ele era um soldado, um guerreiro e obedecia ordens (Devoto na II Festa de S. Longuinho).

São Longuinho também é apontado como aquele com quem podem contar em qualquer situação difícil, conforme demonstram as expressões “santo das causas impossíveis”, “santo das situações difíceis”.

Outros entrevistados consideram São Longuinho um franciscano, com base na crença de ele haver feito votos de pobreza, conforme mencionado:

Com o convento dos franciscanos ao lado da Igreja, os frades cuidavam da Igreja, dos santos ... Dizem também que após a conversão, São Longuinho fez votos de pobreza e virou franciscano (Anexo 4.IV – Entrevista 1).

Uma entrevistada mencionou ser São Longuinho um santo espírita. Houve também quem o relacionasse com São Francisco, uma maneira talvez de mencionar a importância dele no panteão de santos católicos:

São Francisco é considerado um santo popular, um santo amigo e São Longuinho é visto assim. Por isso, a imagem de São Longuinho franciscano (Anexo 4.IV – Entrevista 1).

Na breve análise feita para se saber a visão dos devotos sobre São Longuinho, encontra-se a existência de múltiplas competências e atributos. São Longuinho é um santo guerreiro, um soldado que, após sua conversão ao cristianismo, fez votos de pobreza, tornando-se um monge ou franciscano. É um santo popular, amigo de seus devotos, protetor dos necessitados. Recorre-se a ele para achar coisas perdidas, sendo acionado nas situações difíceis, nos pedidos de coisas impossíveis, enfim, invocado em qualquer situação. Tornou-se uma pessoa boa após sua conversão, passando por muito sofrimento, tornando-se um mártir. Fé, confiança, amizade, bondade estão presentes nos depoimentos no que tange à relação entre o devoto e o santo. A questão da tradição oral também está presente em vários relatos, pois alguns dizem conhecer São Longuinho desde criancinha através da mãe ou da avó.

Em síntese, pode-se dizer que São Longuinho, em Freguesia, é visto como um soldado romano que, presente na crucificação de Jesus, fincou-lhe uma lança no peito, converteu-se, fez votos de pobreza e a partir daí, começou a ajudar os necessitados. É um santo muito bom, que atende tudo que é pedido com fé. É o santo, invocado nas situações difíceis e sempre presente na vida dos moradores, que comemoram com ele as alegrias e compartilham as tristezas. E a força de São Longuinho é tanta que, aos poucos, tornou-se a figura central da Igreja de Nossa Senhora da Escada.

SÍNTESE

Nesta segunda parte – A trajetória de São Longuinho em Freguesia: da gaveta ao altar –, abordamos desde o “descobrimento” da imagem por moradores de Freguesia em um armário localizado em uma cômoda que estava desativada nos fundos da Igreja até a chegada desta imagem no altar-mor da Igreja, próximo à imagem da Padroeira, Nossa Senhora da Escada. Foi composta pelos capítulos 4, 5 e 6, sendo mencionada no capítulo 4 a história da Igreja, a configuração atual da Igreja, que está em processo de restauração e também a devoção a São Longuinho. Devoção esta que é tradição em Freguesia, sendo transmitida oralmente pelos moradores e devotos de São Longuinho na localidade.

O capítulo 5, além de mencionar a descoberta da imagem e sua trajetória até o altar, descreveu também o culto à imagem achada, apresentando os rituais dos devotos perante esta imagem, as promessas e relatos de milagres atribuídos ao santo, enfim, as práticas devocionais a São Longuinho em Freguesia.

Por fim, no capítulo 6, apresentamos como São Longuinho foi sendo composto em Freguesia, descrevendo-se as características da imagem achada, as roupas e pertences do santo, os cartazes colocados próximo ao oratório e os depoimentos de alguns devotos. Apresentamos também os atributos de São Longuinho em Freguesia. A intenção neste capítulo foi mostrar como São Longuinho se apropriou da Igreja de Nossa Senhora da Escada, demonstrando a força do Santo da Freguesia.

Houve na localidade um processo de “empoderamento” de São Longuinho, que vai da descoberta da imagem até São Longuinho tornar-se a figura central da Igreja de Nossa Senhora da Escada e de Freguesia.

Nessa trajetória, muitos elementos estão implicados e vão formando um movimento com uma dinâmica própria, a qual será o tema abordado na próxima parte do estudo.

No documento elamdealmeidapimentel (páginas 138-142)