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As Mudanças no Mundo do Trabalho e as suas Influências na Educação: uma leitura

Ao analisar questões que cercam o fator emprego num sentido amplo, deve-se ter em mente que este fator está essencialmente conectado com o modo de produção capitalista. Desse

modo, genericamente, o emprego pode ser assumido como sendo a utilização do fator de produção trabalho por uma empresa.

Entretanto, num enfoque mais específico, estrito, pode o emprego também ser encarado como sendo a função, o cargo ou a ocupação remunerada exercida por um indivíduo no atual sistema de produção. Verifica-se que a oferta total de empregos que um sistema econômico pode proporcionar depende do que se produz, da tecnologia empregada e da política econômica governamental e empresarial.

Quanto ao emprego, pode-se dizer que, numa economia de mercado, se distinguem três categorias socioeconômicas entre a população economicamente ativa: os empregadores, os empregados e os trabalhadores autônomos. Via de regra, os empregadores e, por vezes, os autônomos, são aqueles que possuem capitais próprios, ou tomados de empréstimo, que lhes permite empregar outras pessoas e utilizá-las na realização de serviços, atividades primárias ou secundárias, e terciárias da economia. Já os que são empregados não necessitam dispor de recursos próprios, pois necessitam apenas da sua força de trabalho e de algum empregador que os contrate, para inserir-se no sistema.

Deste modo, o nível de emprego atual consiste na relação que se estabelece entre aqueles que podem e desejam trabalhar e os que efetivamente conseguem, isto é, aqueles que, em tese, são necessários para criar o produto social. Nesse processo, os que possuem condições físicas e mentais e o desejo de se enquadrar na divisão social do trabalho constituem a oferta da força de trabalho.

Esta oferta depende do punch, ou seja, da capacidade de arranque e crescimento econômico do país, ou região em questão, o que implica que a oferta de emprego dependa diretamente da situação econômica e social do país ou região. Ocorre que diversos aspectos influem na oferta da força de trabalho, na medida em que determinam a idade em que uma pessoa estaria habilitada ao desempenho de determinada atividade específica, a participação das mulheres no trabalho, o prestígio conferido a certas funções, entre outros aspectos. A procura de força de trabalho é o resultado da demanda de bens e serviços, do volume de mão-de-obra necessária para produzi-los e do grau em que a capacidade de produção das empresas é utilizada.

Esses fatores e o nível de emprego em geral dependem assim da existência de uma demanda e de consumo por parte da população. Se a demanda for relativamente baixa, parte da capacidade instalada das empresas ficará ociosa e parte da força de trabalho ficara desempregada.

Para evitar que isso aconteça, os governos de países capitalistas adotam certas medidas para elevar o consumo de mercadorias de modo a conduzir a economia à situação de pleno emprego, situação na qual os que têm capacidade, aptidão e desejo de trabalhar possam efetivamente fazê- lo (SANDRONI, 2003).

Todos estes fatos eram verídicos até o advento da globalização da economia, que acarretou uma profunda reestruturação do sistema econômico mundial. Ocorre que, com essa reestruturação produtiva, componentes macroestratégicos que configuram a acumulação flexível e o próprio modelo de desenvolvimento econômico hegemônico nas últimas duas décadas mudaram completamente este panorama (HARVEY, 1999). Diante disto, verifica-se que o atual panorama econômico-produtivo e social internacional, e no que se refere ao mercado de trabalho em geral, e ao emprego em particular, é preocupante. Isto assim se dá porque, depois de décadas nas quais o fordismo foi a estrutura básica do sistema produtivo, em que o trabalhador era fundamental, o sistema chegou a um ponto de inflexão que evidenciou a necessidade da busca de novas estruturas, como forma de garantir a manutenção do processo de acumulação, e a própria sobrevivência do capitalismo.

Depois deste momento de inflexão na década de 1970, o modo de produção capitalista se ajusta à nova realidade, passando a investir de forma acintosa em novas tecnologias e inovações científicas capazes de alterar a sua configuração produtiva, diminuindo a importância do trabalho humano simples no processo e estimulando o surgimento de estruturas produtivas diferenciadas, que deixam de ser montadas em grandes escalas fordistas, e passam a ser flexibilizadas, em plantas produtivas menores e mais eficientes, estruturas produtivas novas nas quais o trabalho já não é mais simples execução de tarefas repetitivas desprendidas de maior preparo que parte do trabalhador, mas, sim, é um trabalho necessariamente mais complexo e integrado à planta como um todo, demandando, assim, um trabalhador mais preparado (HARVEY, 1999).

Percebe-se, então, que o tratamento da questão do emprego, no contexto atual do capitalismo, envolve diversos aspectos importantes e essenciais para a própria sobrevivência dos trabalhadores e do sistema. A produção científica acadêmica, durante mais de uma década, foi dedicada prioritariamente à discussão da tendência à difusão do trabalho estável, qualificado e bem remunerado (que, de acordo com muitos estudiosos, deveria ser provocada pela expansão do novo paradigma produtivo); porém a Sociologia do Trabalho atual vem lançando cada vez mais o seu olhar sobre o conjunto da força de trabalho, buscando entender não só o que vem

acontecendo na atividade econômica como um todo, mas, mais do que isso, tem procurado compreender as complexas relações que se estabelecem entre os diferentes setores do mercado de trabalho.

Atualmente se faz necessário analisar o mercado de trabalho no todo, pois não é suficiente estudar só o trabalho qualificado bem remunerado que vem se difundindo nas grandes empresas. É fundamental eleger, também, o trabalho precário, instável e desqualificado, que se multiplica continuamente nos pequenos negócios, sobretudo no mercado informal como foco de análise.

Não se trata mais de investigar apenas o trabalho masculino, branco e adulto, que predomina nas empresas de ponta, mas de buscar dar conta das segmentações do mercado de trabalho e tentar compreender as inúmeras dificuldades que se vêm colocando para os setores discriminados. Já não se trata mais de buscar entender tão-somente o emprego, mas também o seu reverso, qual seja, o desemprego.

Com efeito, quando se analisa o conjunto dos dados relativos ao mercado de trabalho nas economias globalizadas, o que se destaca é o aumento significativo do emprego precário, a queda generalizada dos salários e o aumento do trabalho informal,28 bem como a significativa elevação das taxas de desemprego.

A pressuposição de que as novas tendências da atividade produtiva levariam a um constante aumento dos requisitos de qualificação para o conjunto da mão-de-obra, ao lado do contínuo aumento do desemprego, levou os analistas à criação do conceito de empregabilidade, entendido como a capacidade da mão-de-obra de se manter empregada ou encontrar novo emprego quando demitida. O princípio que está por trás do conceito é o de que o desemprego tem FRPRFDXVDDEDL[D³HPSUHJDELOLGDGH´GDPmR-de-obra, ou seja, a sua inadequação em face das exigências do mercado. O conceito carrega, entretanto, um conjunto de problemas que não podem ser desconsiderados quando se pensa numa análise mais acurada sobre o mercado de trabalho (LEITE, 1997).

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Se a situação é mais ou menos generalizada, a tendência nos países menos industrializados é ainda pior. Com efeito, os últimos dados da OIT sobre emprego na América Latina são mais do que preocupantes: entre 1980 e 1990, os salários apresentaram uma acentuada deterioração, que variou de 28% no setor agrícola a 14% na construção civil e 13% no setor industrial (OIT, 1994). Por outro lado, vem ocorrendo um significativo aumento GDV IRUPDV GH WUDEDOKR FRQVLGHUDGDV ³DWtSLFDV´ TXH FRQVLVWHP QDTXHODV GH PDLRU HVWDELOLGDGH  TXH SDVVDP D representar 34% do emprego na Argentina, 30% na Bolívia, 20% na Colômbia, Costa rica e México e mais de 50% no Peru (OIT, 1995 apud ABRAMO, 1997).

Em primeiro lugar, o conceito parte do falso pressuposto de que o desemprego não é causado por um desequilíbrio entre as dimensões da população economicamente ativa e as ofertas de trabalho no contexto das atuais relações de trabalho e de produção, mas, sim, por inadequações dessa população às exigências de qualificação colocadas pelo novo paradigma produtivo pós-moderno.

Isto implica a suposição de que há oferta de trabalho para toda a população economicamente ativa e que se trata, portanto, de adaptar a demanda de emprego por parte dos trabalhadores às exigências da oferta. Ou seja, parte-se do princípio de que os trabalhadores que estão desempregados encontram-se nessa situação não porque haja falta de emprego, mas porque não se adequariam às novas exigências de qualificação das empresas ou, em outras palavras, porque não apresentariam o perfil de qualificação exigido pelos novos conceitos de produção.

No início dos anos 1980, o processo de inovação tecnológica na indústria tinha alcance bastante limitado. Inovar era sinônimo de trocar máquinas e equipamentos, ou seja, substituir meios de produção de base eletromecânica por outros similares, de base microeletrônica.

Nos últimos anos, porém, com as mudanças econômicas, a aceleração tecnológica vem crescendo, a preocupação com a modernização sistêmica, ou seja, com a integração entre mudanças na base técnica, na organização e no processo de trabalho. Este fato se tem dado de maneira agressiva, impondo grande mudança no perfil demandado de trabalhadores, impondo requisitos de formação profissional, de escolaridade e atividades, que se configuram em novas e maiores exigências de qualificação, do ponto de vista dos empregadores. Assim, as empresas e indústrias, pela necessidade de garantir melhor desempenho e maior segurança, tendo em vista a complexidade, alto custo e relativa fragilidade dos novos equipamentos/sistemas, vêm exigindo melhor qualificação da sua mão-de-obra. Além disso, os controladores do capital têm-se orientado também pela busca de cultivar e difundir uma nova mentalidade, calcada em conceitos como valorização, envolvimento e participação do trabalhador.

De tal forma isto ocorre que, em relação à escolaridade, qualquer empresa exige pelo menos o ensino fundamental (antigo primeiro grau) completo por parte do trabalhador como a sua formação básica, visto que a escolaridade é condição tanto para melhor desempenho profissional como para desenvolvimento daquela nova mentalidade, e, particularmente, de atitudes mais receptivas às mudanças produtivas julgadas necessárias.

Percebe-se, então, que as empresas buscam um trabalhador com um novo perfil de produção, caracterizado, em maior ou menor grau, pela participação, responsável, maduro, equilibrado, motivado, criativo com percepção mais global do processo, ágil de raciocínio, de fácil relacionamento (SENAI apud CARUSO, 1994, p. 211). Na prática, esse perfil se traduz na seleção de pessoal testado e aprovado na própria empresa, conhecido e confiável. Predomina, assim, o recrutamento interno para as áreas de maior inovação e de trabalho mais qualificado.

Parece que se generaliza, no entanto, nas empresas como nas indústrias, a demanda por um profissional não só tecnicamente mais competente, mas dotado de maior flexibilidade operacional e de todo um desenvolvimento operacional e de atitudes em matéria de cooperação, iniciativa, envolvimento e mesmo liderança dentro das empresas.

Segundo Caruso (1994), a emergência desse novo perfil de qualificação profissional exige mudanças nas relações de trabalho. Podem-se considerar três dimensões estritamente interligadas: a estruturação do conteúdo formativo, a metodologia de ensino e a organização do processo de ensino. Para estruturar o conteúdo formativo deste novo perfil de qualificações, podemos valer-nos do conceito de transferibilidade.

De acordo com este conceito, a estruturação do conteúdo formativo deve levar em conta dois aspectos: a) a possibilidade de o trabalhador percorrer vias profissionalizantes que conduzam ao seu crescimento profissional; b) a capacidade de o trabalhador adaptar o conteúdo formativo aprendido a contextos diversos, caracterizados atualmente pela instabilidade e mutabilidade acentuadas. Esse aspecto se relaciona com a definição da amplitude e abrangência dos conhecimentos técnicos da educação geral, que deverão compor a grade curricular.

No que se refere à metodologia de ensino, as teorias psico-pedagógicas que mais se aproximam do novo perfil de qualificação são orientadas pelo construtivismo, capacitando melhor o trabalhador a enfrentar o processo de obsolescência do seu saber e a adaptar-se mais rapidamente às mudanças. Conforme Depresbiteris (1997), na abordagem construtivista, o conhecimento é considerado como uma construção contínua e o objetivo da educação é o de que o aluno aprenda, por si próprio, a conquistar verdades, e a sua aplicação requer uma profunda alteração nas concepções de ensino/aprendizagem, da relação professor/aluno e da avaliação.

Para a organização do processo de ensino existe uma forte correlação entre a forma de transmissão de conhecimentos e o modo pelo qual é organizado o processo de ensino. Na prática efetiva do ensino, essa correlação se manifesta na transmissão de valores e atitudes implícitos na

atuação do docente e em relação com os estudantes com outros docentes, com os seus supervisores, com os materiais instrucionais, dentre outros fatores presentes no processo de ensino. Ou seja, é pouco provável que se consiga obter um perfil de saída do aluno que preconize a autonomia, a iniciativa e a participação, se o próprio docente for excluído do processo de elaboração do material instrucional, da definição do conteúdo a ser transmitido, em suma, que não haja espaço para que ele mesmo mobilize o seu saber. Nos dizeres de Marx (1984), os educadores precisam ser educados a partir das novas circunstâncias, para que possam desempenhar a sua função no processo de construção da nova sociedade.

Ora, tais pressupostos não resistem ao fato de que os investimentos em qualificação profissional não têm sido suficientes para contrabalançar as tendências ao desemprego. Na verdade, não só os princípios sobre os quais se apóia o conceito são falsos como a solução que se propõe para o problema, a educação, não tem capacidade de resolvê-lo, haja vista a grande quantidade de pessoas experientes e com formação de 3º grau que estão desempregadas.

Segundo Silva (2000), o que parece estar ocorrendo é que boa parte da força de trabalho está oferecendo competências que as empresas não querem comprar. E boa parte das empresas não estão encontrando na força de trabalho os atributos que procuram. Esse desencontro histórico tem dois pilares. O primeiro é a deficiência de formação da mão-de-obra brasileira, resultado direto dos problemas crônicos de educação do país. De um lado, há um número muito grande de pessoas sem nível mínimo de instrução. De outro, há um número igualmente grande de pessoas com diplomas que não garantem o grau de conhecimento que deveriam garantir.

Neste contexto, é fundamental levar-se em consideração que, apesar de ser um elemento muito importante para a análise do emprego, a educação não pode resolver problemas que fogem da sua alçada, como o da crescente utilização de tecnologias altamente poupadoras da mão-de- obra.

É evidente que não é a nova base técnica em si que provoca o desemprego, mas antes a maneira como ela vem sendo utilizada. Nesse sentido, mais do que discutir a empregabilidade dos trabalhadores, deveriam ser postas em questão as relações de trabalho autoritárias, cada vez mais disseminadas mundialmente, e que conferem às empresas o poder de decidir unilateralmente sobre: a) jornada de trabalho; b) admissões e demissões de pessoal; c) formas de organização do trabalho; d) condições de trabalho de maneira geral; f) e as relações sociais que presidem a sua utilização (as quais, ao se basearem no aumento do lucro e na busca de maior autonomia do

capital em relação ao trabalho, levam as empresas a valorizar exatamente os equipamentos mais poupadores de mão-de-obra) (LEITE, 1997).

Em segundo lugar, não se pode deixar de levar em conta que o conceito joga sobre o trabalhador a responsabilidade pelo desemprego, ao trazer implícito que o mesmo se deve a uma inadequação da mão-de-obra às ofertas existentes no mercado de trabalho, e isso ocorre seja no que se refere à qualificação, escolaridade e habilidade que detém, seja no que diz respeito às suas exigências de salário, de condições de trabalho, de tipo de contrato, etc., o que é ainda pior, pois significa uma postura totalmente acrítica em relação às tendências de precarização do trabalho, que forçam o trabalhador a aceitar qualquer condição de trabalho como forma de escapar ao desemprego.

A precarização do trabalho, revertida em exclusão, inviabiliza o acesso aos direitos mínimos de cidadania, desaparecendo as condições para acesso generalizado à educação, reforçando-se a tese da polarização das competências, a ser concretizada por meio de sistemas educacionais seletivos, nos quais apenas a pequena minoria com os postos de trabalho vinculados à criação de ciência e tecnologia, à manutenção e à direção, terá direito à educação de novo tipo, nos níveis superiores e em boas escolas (KUENZER, 1998).

É esse conjunto de equívocos que explica por que os estudos sobre mercado de trabalho praticamente não discutem, ou discutem cada vez menos, propostas de adoção de políticas de geração de emprego e renda, única forma de se pensar alguma solução mais efetiva para o problema do emprego nas condições atuais.

Na verdade, se se levar em consideração o conjunto de questões aqui levantadas, torna- se evidente que qualquer proposta de qualificação ou reciclagem da mão-de-obra que vise, seja à diminuição do número de desempregados, seja a melhoria dos empregos existentes, só tem sentido em conexão com uma política de geração de empregos e renda que efetivamente se proponha a enfrentar as tendências disruptivas do mercado de trabalho atual. Esta política, por sua vez, para ser efetiva, teria que se equacionar com uma política industrial e de desenvolvimento econômico que leve em conta o mercado, que, por si só, é incapaz de se auto- regular na questão do emprego.

Evidentemente, essa não é a única concepção segundo a qual o conceito vem sendo empregado. De fato, há uma vertente importante de estudiosos que reconhece a existência do problema da escassez de emprego enquanto um efeito da atual revolução tecnológica e considera

que, frente à inevitalidade do processo, as pessoas deveriam ser instrumentalizadas para enfrentar o acirramento da competição, de forma a garantir a sua empregabilidade, mesmo que isto possa não significar uma real garantia de emprego. Ainda que essa concepção parta de um princípio mais real, ela apresenta os mesmos problemas da versão anterior, ao considerar o desemprego como uma fatalidade do atual processo de desenvolvimento tecnológico e ao pressupor que, frente a esse quadro, não há nada a fazer senão tornar a mão-de-obra mais adequada aos requisitos do mercado de trabalho, ainda que isso não seja suficiente para diminuir as taxas de desemprego (LEITE, 1997).

Uma das principais questões a ser levada em conta quando se pensa na relação entre emprego e formação da mão-de-obra se refere à distinção entre as diferentes habilidades ou tipos de competência requeridos pelo mercado de trabalho. Escolaridade e qualificação técnica, por exemplo, constituem duas formas diferentes de competência, formas que, embora sejam comumente confundidas, devem ser analisadas separadamente no mercado de trabalho, que é bastante distinto.

No que diz respeito às exigências de maior escolaridade no atual mercado de trabalho, isto parece ser consenso entre os estudiosos, difícil de ser questionado seja qual for o país, o setor, a empresa ou o tipo de atividade econômica a que se faça referência. Esse tipo de conclusão coloca em primeiro plano a questão da melhoria do ensino formal, especialmente em países como o nosso, onde a quantidade/qualidade desse ensino é questionável, seja do ponto de vista do aprendizado, seja do ponto de vista da capacidade de reter os estudantes na escola.

Já, a discussão sobre qualificação técnica é mais complexa. Embora também haja consenso, na bibliografia especializada, de que as empresas estão exigindo uma mão-de-obra com novas habilidades, essa discussão não pode ser pensada sem levar em consideração um conjunto de questões que são discutidas nas páginas seguintes.

A primeira dessas questões refere-se às distintas conotações do conceito de flexibilidade. Com efeito, a bibliografia tem insistido no fato de que um dos principais elementos a provocar uma maior exigência de qualificação é o aumento da flexibilidade do aparato produtivo, o que tem a ver com a capacidade das empresas de produzirem de acordo com as flutuações e variações do mercado, seja no que se refere à quantidade ou à qualidade. A questão é que esses dois tipos de flexibilidade têm conteúdos diferentes e distintos efeitos sobre o mercado de trabalho.

Enquanto a flexibilidade relacionada à qualidade (também chamada de flexibilidade