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A problemática desta tese originou-se da vivência desta pesquisadora como professora do PCF em Toledo nos anos de 1997/98, que resultou na sua dissertação de mestrado, com o WHPD³2V&DPLQKRVGD(GXFDomR3URMHWR&RUUHomRGH)OX[Rum estudo de caso de Toledo ± PR. 2002. PUC ± &DPSLQDV´30 Ressalta-se, portanto, o conhecimento da documentação à respeito desta proposta.

Antes de definir o objetivo e problema da tese, fomos a três escolas para verificar quais documentos estavam arquivados na pasta individual de cada estudante, detectando que variavam de escola para escola. Após a identificação dos documentos, percebeu-se que seria necessário fazer um mapeamento dos estudantes do PCF, visto que seria necessário padronizar os dados para viabilizar uma visualização mais ampla dos mesmos, pois não havia uma organização mais precisa das informações referentes aos estudantes, tanto nas escolas como no próprio Núcleo Regional de Educação. Esta falta de precisão das informações, embora a proposta do projeto fosse única, deve-se ao fato de que os dirigentes (diretores e equipe pedagógica), ao implantá-la, adequavam-na à sua realidade e ao sistema organizacional existente em cada escola.

Importa colocar que, em abril de 2003, juntamente com o orientador da pesquisa, elaboramos uma tabela na qual se levantaram as informações que seriam coletadas para o mapeamento dos estudantes, e, no intuito de aligeirar a pesquisa nesta etapa, ela deveria ser efetuada por meio eletrônico, visto que solicitaríamos às escolas que preenchessem os dados.

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Na qual realizei uma análise do Projeto Correção de Fluxo, a partir da visão dos professores que nele atuaram, tentando observar a sua concepção de avaliação, as vantagens e limites, a comparação da avaliação do projeto com o sistema tradicional, o material de subsídio, e opinião do entrevistado sobre o referido projeto. A investigação de abordagem qualitativa centrou-se em levantamento bibliográfico e entrevistas com 17 professores de Matemática que atuaram do Projeto do Núcleo Regional de Educação de Toledo ± PR.

Com uma carta de apresentação do orientador, apresentamo-nos no NRE, pois, do período de mestrado ao doutorado, havia mudado a direção. Recebeu-nos o chefe do NRE. Conversamos sobre a dissertação de mestrado, falamos do projeto de tese, deixando bem claro o objetivo. Assim, o chefe do NRE nos forneceu uma carta-ofício solicitando às escolas as informações necessárias. Deste modo, encaminhamos, pelo malote do NRE, um envelope contendo o ofício, o disquete e uma carta explicativa.

Passado o prazo combinado, fomos ao NRE retirar o material. Duas escolas haviam preenchido as tabelas, sobre as demais somente retornaram cartas expedidas pelas secretárias justificando que não poderiam realizar a coleta dos dados, alegando acúmulo de trabalho e a falta de pessoal nas secretarias, mas colocando as informações à disposição. Desta forma, optamos por fazer pessoalmente o mapeamento31 dos estudantes.

Para fazer o mapeamento dos dados referentes ao ensino fundamental, foram analisados os documentos listados no Quadro 4.1, apresentado a seguir.

Quadro 4.1: Referente aos documentos pesquisados

1- PASTA INDIVIDUAL DO ALUNO Ficha de matrícula

Certidão de nascimento

Documentos pessoais (RG e CPF) Declaração de origem para a matrícula Ficha individual

Histórico

Relatório Final ± Ensino de 1º Grau Regular - Lei Federal nº 5692, de 11/8/71 1.1 - PROGRAMA SERE

Cadastro do aluno Situação da matrícula Notas

Situação anual

Fonte: Elaborado pela Pesquisadora (2003).

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Ressalta-se que foi muito difícil coletar os dados, visto que as escolas criavam muitos obstáculos. Esta resistência foi encontrada em quase todas as escolas, com raras exceções. Entretanto, com o andamento dos trabalhos, a relação entre pesquisadora e secretárias acarretou em amizade e conseqüente interesse pela pesquisa, originando uma melhor colaboração no fornecimento dos dados.

Os fatores que mais dificultaram a realização do mapeamento foram: a diversidade de documentação arquivada nas escolas e as especificidades constatadas para cada indivíduo, pois eles apresentavam diversas situações, como: desistente, transferido, e retorno, num mesmo ano.

Nesta etapa, observou-se, nas escolas que ofertam o ensino médio, o percurso desses estudantes. Percebeu-se que havia um grande número de desistentes e de reprovados. Decidiu-se, então, fazer esta etapa por meio do SERE (Sistema Estadual de Registro Escolar), no NRE, uma vez que este sistema apresenta o histórico do estudante em nível estadual. Examinaram-se, para tanto, as informações contidas no Quadro 4.2.

Quadro 4.2: Sistema SERE

INFORMAÇÕES Aluno

Endereço atual Telefone

Colégio anterior ao PCF Ano anterior à matrícula no PCF Histórico anual de 1997 a 2002 Matrícula de Ensino Médio Conclusão de Ensino Médio

Modalidade cursada (Supletivo ou Regular) Transferências

Destino

Desistências e anos especificados Informações adicionais

Fonte: Elaborado pela Pesquisadora (2003).

Os dados coletados nesta etapa foram comprovados por amostragem por duas testemunhas do Núcleo Regional de Educação32. Estes dados foram comparados aos do Quadro 4.1, sendo constatada a existência de situações incongruentes entre uma etapa e outra, revelando disparidade entre as informações na documentação, apontando falhas nos dados existentes no NRE. Este fato complicou a coleta, resultando na necessidade de retorno às pastas individuais dos estudantes afetos para a conferência nos documentos oficiais, onde se verificou que alguns deles, que constavam no relatório de participação no projeto, não estavam cadastrados ainda no SERE.

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Esta etapa foi repetida em 2004 para obtermos os registros referentes ao ano de 2002, que ainda não estavam cadastrados na coleta anterior, e, como acessamos novamente cada aluno, conferimos novamente todos os dados.

Com estas informações em mãos, sabendo que um total de 2.849 estudantes haviam participado do projeto nos anos de 1997 e 1998 nas 16 escolas sob análise, partimos para o desenvolvimento do modelo estatístico que permitisse determinar o tamanho da amostra e identificar quantos sujeitos teriam que ser entrevistados. Para tanto, estabelecemos agrupamentos de estudantes em cinco estratos: concluintes, desistentes, repetentes, transferidos, e outros. Para determinar o tamanho da amostra a ser pesquisada, faziam-se necessários alguns procedimentos. Deste modo, partimos de duas naturezas: a primeira considerando cada escola e cada estrato, assim, inicialmente, para saber a proporção do total de estudantes correspondente a cada estrato, dividiu-se o total de estudantes de cada estrato pelo total da população. Em seguida, calculou-se o percentual de estudantes que deveriam ser entrevistados por escola e em cada estrato. Verificamos que, para atender ao propósito do nosso estudo, seria necessário fazer um total de 332 entrevistas.

Os sujeitos da amostra foram escolhidos aleatoriamente. Segundo Kazmier (1982, p. 125-126), este procedimento considera que:

[...] cada elemento da população tenha a mesma probabilidade conhecida de ser escolhido e que não possua nenhuma fonte conhecida de erro sistemático. Amostras aleatórias são também chamadas de amostras probabilísticas ou amostras científicas e podem ser obtidas através de várias técnicas específicas de amostragem. Uma técnica bastante comum é a amostragem

aleatória simples, na qual cada elemento da população tem igual probabilidade de integrar a

amostra. [...] os elementos são escolhidos com base no acaso [...].(Grifos do autor).

Na nossa pesquisa, realizamos entrevistas considerando o percentual de sujeitos que deveriam ser entrevistados por estrado e em cada escola. Cabe destacar que, antes de iniciar as entrevistas, realizamos um teste piloto, com dez entrevistas, duas de cada estrato, para verificar a eficiência do protocolo de conversa na obtenção das informações. Percebeu-se que teríamos que fazer alguns ajustes no instrumento, que foram efetuados antes de darmos continuidade no

trabalho33. Importa ressaltar que a validação do instrumento foi feita pelo orientador da tese em questão.

Iniciamos, intencionalmente34, as 48 entrevistas na escola do Jardim Maracanã. Num primeiro momento, a escola divulgou em edital o nome de todos os participantes do projeto35, convocando-os para comparecer à escola para participarem da entrevista. A coordenadora passou nas salas de aula convidando os estudantes que ainda estudavam na escola e que haviam participado do projeto para a entrevista. Também solicitou a todos os estudantes que verificassem no edital o conhecimento de alguém, e que, se possível, transmitissem o convite.

Simultaneamente, convidamos os estudantes, através de emissora de rádio local, num programa que, segundo a direção da escola, era bastante ouvido na comunidade. Marcamos dois dias em que permanecemos na escola nos três períodos fazendo as entrevistas. A escola cedeu uma sala, em que as entrevistas foram realizadas (este procedimento aplica-se às demais escolas, com algumas diferenças, que serão registradas posteriormente).

Foram realizadas entrevistas com os estudantes que ainda estavam estudando, e outros que foram convidados por telefone e demais divulgações. Chegamos a uma média de 26,32% das entrevistas que deveriam ser realizadas nesta escola. Após esta tentativa, com o pouco sucesso obtido, optamos em localizá-los pelo endereço residencial. Foi frustrante, pois os endereços coletados no mapeamento da pesquisa eram de 1997/98, o bairro havia passado por uma reestruturação com mudança da numeração das casas, sendo que, além de existirem dois números na mesma casa, existiam lotes com duas a três casas, e só a casa da frente possuía número36.

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Mesmo tendo realizado o teste piloto, ao longo da realização das entrevistas constatou-se que algumas questões não estavam claras o suficiente, todavia isto não comprometeu a coleta de dados, uma vez que o instrumento era utilizado como protocolo de conversa e, quando necessário, a pesquisadora esclarecia o questionamento, em alguns casos apenas prestava-se atenção na percepção dos sujeitos ao responderem as questões.

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Um dos motivadores da escolha é o fato de a pesquisadora ter ministrado aulas nesta escola. Outro motivador é que esta escola fica entre as escolas que atenderam mais estudantes.

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Listagem dos estudantes realizada pela pesquisadora no mapeamento dos estudantes em cada escola.

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Foram momentos de grande frustração, em que andei horas e horas para localizar um aluno, batendo em duas, três, ou mais casas. Percebi que havia grande resistência das famílias (moradores do bairro) para dar uma informação. Mesmo me apresentando como professora e falando do que se tratava, às vezes, o aluno procurado era o vizinho do lado, mas falavam que não o conheciam. Percebi, então, que não bastava me apresentar como professora, e usar um crachá (improvisado) como professora da escola do bairro. Era necessário falar algumas características do aluno obtidas nos registros da escola para provar que realmente eu era professora. Assim, com muita insistência, consegui obter algumas informações. Surpreendeu-me a atitude das pessoas, a proteção informal que existe entre eles, pois, como inicialmente achavam que se tratava de algum agente da Justiça, ou cobradora, não davam qualquer informação que auxiliasse na localização do sujeito.

Na terceira escola, optamos por só verificar direto na secretaria se alguns estudantes estavam estudando na escola, e estes eram procurados para entrevistar na escola. Somente depois dessa tentativa se partia para as residências. E, também, nos outros bairros a história se repetiu, pois a maior parte das casas tinha dois números37.

Em duas escolas os diretores aconselharam a inventar os sujeitos, alegando que facilitaria a pesquisa, que ninguém o saberia. Fiquei perplexa com esta atitude, com a falta de ética, principalmente em se tratando da direção de uma escola, de onde se pressupõe que deveria vir à educação e um estímulo ético. Assim, esta pesquisadora lhes disse que ela o saberia, que isto tiraria todo mérito da pesquisa, que não precisaria que outros soubessem, bastava que ela o soubesse e aquilo não teria valor. Que, neste caso, a pesquisadora preferiria assumir o seu fracasso, e estudar um outro objeto. Foi um momento de perda de rumo da pesquisadora. No entanto, no dia seguinte voltamos ao bairro e fomos buscar informações em pontos comerciais, mostrando a lista, mas novamente conseguindo apenas uma entrevista. As pessoas não conheciam alguém do bairro pelos nomes da lista.

Ressalta-se que, por momentos, parecia que não seria possível realizar as entrevistas, com uma pesquisadora desanimada e cansada, sentei no meio-fio da rua para decidir o que fazer diante desta situação tão difícil e obscura38.

Outro complicador que dificultou muito a pesquisa de campo foi o fato de muitos estudantes serem conhecidos apenas pela sua alcunha ou apelido. Assim, quando era mostrada a lista de nomes dos estudantes, ninguém os identificava, não os conheciam, às vezes sendo até colegas ou amigos. Chegou-se até a ir à residência de alguns estudantes para verificar se o apelido pelo qual o aluno era identificado pelos colegas seria o sujeito da lista.

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Foram momentos difíceis, de horas que andava sem direção. Até que achava um aluno que me ajudava a localizar os demais. Em outras escolas, em outros bairros não consegui localizar um aluno que me ajudasse. Os poucos que localizei diziam não conhecer ou mesmo lembrar de ninguém da lista. Tentei procurar pela lista telefônica pelo sobrenome, e também não obtive êxito, consegui um ou dois estudantes. Voltei, então, a entrar em contato com as escolas pedindo auxílio, e me falaram que não tinham me avisado antes por pena, mas que esta pesquisa de entrevistar estudantes egressos estava fadada ao insucesso, que, pela experiência de anos na educação, seria praticamente impossível encontrá-los, citando, como exemplo, aqueles transferidos, pois ninguém sabia o destino, o rumo que haviam tomado, visto que a escola não dispunha e ainda não dispõe destas informações.

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Conversei com uns meninos que rondavam com suas bicicletas por ali, e lhes mostrando a lista dos estudantes que estava procurando, eles conheciam alguns estudantes e me ajudavam a localizá-los. Às vezes estava com dois ou três meninos, tia, vizinho ou conhecido no meu carro localizando colegas e conhecidos, e era necessário ir até outro bairro distante atrás de um aluno, mas com a ajuda deles eu ia localizando sempre o próximo. Ressalto que, entre todas as tentativas, esta, não imaginada e nem planejada, foi a mais eficaz.

Importa ainda informar que, nos distritos de Novo Sarandi e de Vila Nova, por serem distantes da sede do município de Toledo e por muitos estudantes residirem na zona rural, e também por a maioria deles não possuir telefone residencial que possibilitasse entrar em contato, optamos por entrevistá-los diretamente na sua residência ou local de trabalho.