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Frente a este cenário, oferece-se a seguir um panorama da reorientação das políticas públicas para a educação básica e superior, enfocando o papel da avaliação na reorganização do trabalho pedagógico4. Para tanto, torna-se necessário explicitar o contexto político e econômico no qual o Estado se insere, pois esta relação permitirá a interpretação dos significados de fundo das diretrizes das políticas educacionais, que é o caso do Projeto Correção de Fluxo.

A transformação histórica da sociedade mundial pós-Segunda Guerra Mundial revela a astúcia do Estado em firmar pactos sociais que lhe permitem, ao mesmo tempo, expandir-se economicamente e postergar os conflitos nocivos à sua legitimidade. Neste sentido, o momento atual, caracterizado pelo neoliberalismo, representa uma luta política e ideológica para que outros papéis e funções do Estado se firmem como vontade consensual pela modernização da sociedade. Obviamente, o Estado, na sua ação contraditória, deverá representar as tensões que marcam os interesses dos mais variados grupos, ao mesmo tempo em que assegura a manutenção da relação entre as classes, bem como o sistema de acumulação e apropriação privada da mais-valia. Neste

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contexto, no âmbito educacional, os ditames das políticas estatais de um Estado mínimo e avaliador exigirão uma reengenharia na conscientização dos professores e estudantes que não podem ser muito reflexivos para não quebrar o sistema.

Assim, faz-se necessário analisar os meios através dos quais os interesses do sistema capitalista devem ser transformados em políticas que resultem no controle e monitoramento do processo educativo, com vistas à formação de contingentes humanos adaptados às condições de exploração e aptos a empregar a sua mão-de-obra num processo produtivo em intensa transformação. O que é possível por meio de um currículo (e, portanto, de uma escola) que instrua o trabalhador em competências (PERRENOUD, 2000).

A reorganização neoliberal do trabalho pedagógico tenta promover o conformismo do trabalhador como parte de um exército de reserva qualificado, ou como um eterno maratonista atrás das suas competências nos shoppings das qualificações. E, neste panorama, a avaliação, mola-mestra do processo, deve ser usada para culpabilizar o indivíduo e des-responsabilizar o Estado pelos problemas educacionais e sociais existentes, que constrói a imagem de uma escola que funciona, pois não reprova e dá condições às eventuais correções de fluxo. Ao melhor estilo neoliberal, quem fracassa é porque merece.

Vejamos, de forma mais clara, o que é o neoliberalismo e as suas implicações na educação. O neoliberalismo, como modelo orientador das políticas públicas e das responsabilidades estatais, pode ser analisado sob duas óticas. De um lado, temos concepções que vão à direção apontada por Draibe (1993), a qual sustenta inexistir, até o momento, um corpo teórico neoliberal específico, próprio, original e coerente, capaz de distingui-lo de outras correntes do pensamento político liberal.

Nesta acepção, admite-se o caráter híbrido e fragmentado do neoliberalismo, que reinventa o liberalismo. Isso significa reproduzir o seu conjunto heterogêneo de conceitos e argumentos e ainda introduzir formulações e propostas conservadoras que nos remetem a um darwinismo social. As mutações, devidas tanto à combinação diferenciada dos seus elementos quanto à alteração das suas propostas ao longo do tempo, são um outro fator que dificulta uma caracterização definitiva deste modelo. A autora considera, assim, que o neoliberalismo pode ser definido como um conjunto de regras práticas de que o liberalismo lança mão, neste novo contexto de crise, para a manutenção do sistema capitalista.

Por outro lado, há também a percepção de que o neoliberalismo constitui uma doutrina completa e coerente, que tem em Friedman e Hayek os seus pensadores e ideólogos fundamentais, para os quais o neoliberalismo pressupõe uma política de mercado como cerne ideológico central, cuja hegemonia deveria neutralizar os legados de Keynes e Beveridge ± respectivamente a intervenção anticíclica e a redistribuição social ±, as quais haviam desastrosamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. Este é o entendimento de Anderson (1995), que considera o neoliberalismo um fenômeno distinto do simples liberalismo clássico do século passado.

Na ideologia neoliberal, o mercado, livre das suas amarras sociais impostas por um Estado agigantado, propagaria o crescimento da economia e, em função disto, um maior rendimento da superestrutura do Estado. Esse princípio pressupõe uma intervenção mínima sobre as desigualdades sociais, vistas como necessárias ao movimento competitivo que levará naturalmente a sociedade ao seu progresso material.

Deste modo, o neoliberalismo constitui-se numa doutrina que propõem um projeto global de organização da sociedade e de redefinição da relação entre classes sociais através da aplicação de uma política social conceitualmente articulada, cuja hegemonia começou a se realizar quando governos com programas neoliberais foram eleitos nos países de capitalismo avançado.

De acordo com Sandroni (2003), os neoliberais diferem da escola liberal clássica, que prevaleceu até 1930, com relação ao papel do Estado no disciplinamento da economia de mercado. Enquanto o liberalismo clássico atribuía ao sistema uma autodisciplina espontânea, capaz de manter a ordem natural da vida econômica regida pelo mecanismo de preços, os neoliberais acreditam que, para manter as condições de igualdade aos capitalistas, possibilitando a concorrência das forças de mercado, é preciso assegurar a estabilidade econômica (financeira e monetária) do sistema. No plano social pregam o fim do intervencionismo do Estado, a privatização das empresas estatais, de alguns serviços públicos essenciais e a globalização da economia.

Para a interpretação da orientação das políticas públicas, é necessário analisar que tipos de exigências o sistema de acumulação capitalista faz ao Estado. As transformações estruturais do Estado refletem na definição do seu papel para com a sociedade civil e devem os seus

princípios às políticas de ajuste com as quais o modelo capitalista de acumulação conta, na tentativa de superar as suas crises.

Pode-se dizer que o neoliberalismo é uma resposta ao declínio da economia mundial, situado na década de 1970, para o qual, como se verá adiante, diversas explicações inscrevem-se em interesses específicos de classe. Esta crise impôs um limite à expansão econômica que vinha VHGHVHQYROYHQGRGHVGHRILQDOGD6HJXQGD*XHUUD0XQGLDO&KDPDGRGHRV³DQRVGRXUDGRV´GR capitalismo, HVWHSHUtRGRVHJXQGR6LQJHU S ´>@FDUDFWHUL]RX-se por taxas elevadas, historicamente as mais altas, de crescimento da produção e da produtividade, por pleno emprego HLQWHQVRDXPHQWRGRFRQVXPR´

A respeito das origens do fenômeno neoliberal, Baía (2001) explica que esse desenvolvimento pós-guerra transformou os Estados de Bem-Estar Social em grandes países capitalistas (ou Estado mínimo). Esse processo deu-se, contudo, às custas do subdesenvolvimento dos países explorados, mediante um desenvolvimento desigual do mercado e da imposição de condições rígidas e desfavoráveis às sociedades retardatárias.

Esse período é marcado pela teoria keynesiana de intervenção econômica, como forma de evitar os problemas sociais estruturais decorrentes da política de mercado e, no aspecto produtivo, e pelo fordismo enquanto modelo de racionalização do trabalho e do consumo. Pode- se entender que a relação entre as técnicas keynesianas anticíclicas e o fordismo constituíam um instrumento do qual o capital podia se servir para garantir a sua expansão na época e, ao mesmo tempo, legitimar os seus mecanismos, evitando conflitos sociais profundos.

Tal instrumento procurava equacionar os problemas crônicos do sistema político e econômico, buscando, no âmbito do Estado nacional liberal, assistir os miseráveis, garantir a força de reprodução da classe trabalhadora e proporcionar recursos suficientes ao consumo através do trabalho assalariado em massa. Mas, como nos explica Laurell (1997), mesmo havendo os benefícios assegurados, como saúde, educação, previdência, entre outros, o liberalismo permitia, na realidade, um mínimo da sua desmercantilização, o que continuaria a provocar uma estratificação social, pois o Estado proveria o cidadão na medida dos seus ganhos enquanto assalariado.

Deste modo, esta aparente estabilização social proporcionada pelo desenvolvimento econômico de corte keynesiano não levou, como advogam os ideólogos do fordismo, à superação do antagonismo de classes, mas a fomentou até que eclodisse em outros conflitos, caracterizando

o movimento do capital em direção às suas possibilidades renovadas de exploração. Como Farias S SRQGHUD³>@a dinâmica do fordismo permanece alimentada pelas contradições de classes, embora suas mediações assumam novas formas. As mutações fordistas nas gestões estatais da moeda e da força de trabalho não eliminam a natureza da opressão e da exploração FDSLWDOLVWD´

Assim, na fase de desenvolvimento capitalista situada entre 1945 e 1975, intensificaram- se as lutas operárias e sociais centradas na crítica do trabalho, que se manifestaram, segundo Hardt e Negri apud Farias (2001), através de determinadas recusas.

Na tentativa de explicitar este conflito, apresenta-se, no Quadro 2.1, a relação entre estas recusas as ações favoráveis à reestruturação do capital:

Quadro 2.1: Recusas ao capital

RECUSA RESPOSTA

Individual do trabalho submetido ao sistema salarial e

disciplinar da grande indústria. O capital introduziu a automação na fábrica. Da massa da relação entre o trabalho abstrato da fábrica

e o regime de necessidades controlados pelo sistema de relações fordistas (recusa coletiva que rompe com as relações cooperativas do trabalho associado).

O capital incitou o avanço da informatização das relações sociais produtivas.

Generalizada da regulação da reprodução social normalizada do Estado keynesiano (recusa geral da disciplina social do salário).

O capital introduziu um regime de consumo controlado pelos fluxos monetários de maneira a privilegiar a grande empresa.

Fonte: Quadro elaborado por Mesko e Rippel (2003).

Para compreender este processo, podemos nos apoiar em Tumolo (2001), que, ao trabalhar a questão da reestruturação produtiva, indica o significado de tal movimento5, determinando a construção de todo um aparato técnico e científico, também ao nível da gestão, que culminará na intensificação do ritmo de trabalho e na diminuição dos seus postos, na neutralização e afastamento da ação sindical e na tendência de diminuição do preço do salário.

Esta ofensiva do capital contra a classe trabalhadora caracteriza as medidas que são tomadas dentro do contexto de crise que o modelo de acumulação vigente estaria por enfrentar, crise a qual pode ser caracterizada como:

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[...] o crescimento da produção e da produtividade caiu a níveis muito mais baixos, sendo periodicamente interrompido por recessões mais longas e severas; o desemprego voltou cada vez mais até atingir níveis acima de 10% em grande número de nações industrializadas. Finalmente, a piora do desempenho econômico limitou a arrecadação tributária; as reformas neoliberais que reduziram impostos que recaíam sobre as camadas mais ricas, contribuíram para o crescimento dos déficits nas contas públicas, ao mesmo tempo em que as pressões inflacionárias, desconhecidas em épocas de paz nos países adiantados, levaram pânico aos meios empresariais (SINGER, 1996, p. 9).

Na visão de alguns teóricos marxianos, a exemplo de Saviani (1991), esta crise seria conseqüência do desenvolvimento tecnológico pressionado pelo aumento da concorrência intercapitalista, ocasionando uma queda tendencial da taxa de lucro. Estas condições, aliadas à crise financeira e do comércio internacional, deram origem a um novo fenômeno chamado estagflação, caracterizado pela combinação de baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação. E, neste processo, o choque do petróleo, ocorrido em 1973, encerra definitivamente o período de prosperidade econômica mundial do pós-Segunda Guerra Mundial e prepara o cenário político para uma nova direita.

Neste contexto de descrédito da política econômica, governos neoliberais assumem o poder com a promessa de retomada do crescimento. Coerente com os seus princípios, grande parte das suas ações econômicas são compostas por medidas monetaristas que trouxeram conseqüências sociais importantes. Tanto que, segundo Anderson (1995), pode-se sintetizar, a partir do que ele considera o modelo neoliberal mais puro, o thatcheriano e, mais atualmente, o modelo Blair, as medidas que são adotadas por este tipo de governo: contenção de emissão monetária; elevação das taxas de juros; diminuição de impostos sobre rendimentos altos; eliminação de controles sobre os fluxos financeiros; criação de níveis de desemprego massivos; combate às greves; imposição de legislação anti-sindical; corte de gastos públicos e implementação de amplo programa de privatização.

Como ressaltado, o modelo neoliberal adapta-se tanto às transformações econômicas imediatas quanto às condições específicas das regiões onde atua, e este é o fator que lhe dificulta uma caracterização mais precisa. Julga-se, contudo, importante traçar-lhe o modus operandi genérico, para possibilitar a avaliação dos seus efeitos no nosso contexto.

Segundo Soares (2002, p. 12-13), a ofensiva neoliberal diante da crise de acumulação LQFOXL SRU GHILQLomR ³>@ D LQIRUPDOLGDGH QR WUDEDOKR R GHVHPSUHJR R VXEHPSUHJR D desproteção trabalhista e, conseqüentemente, uma µnova pobreza¶. Esta seria a contraface do

funcionamento correto deste modelo, e não uma manifestação do seu mau funcionamento, como qualquer juízo ético poderia concluir´(VWHQRYRPRGHORLPSOLFDULDDLQGDTXH³>@RVGLUHLWRV sociais perdem identidade e a concepção de cidadania se restringe; aprofunda-se a separação público/privado e a reprodução é inteiramente devolvida para este último âmbito; a legislação trabalhista evolui para uma maior mercantilização (e, portanto, desproteção) da força de trabalho; DOHJLWLPDomR GR(VWDGR VHUHGX]jDPSOLDomRGRDVVLVWHQFLDOLVPR´

Este redirecionamento dos investimentos do Estado e da própria redefinição do seu papel nos países subdesenvolvidos, que sequer possuíam um Estado de Bem-Estar solidamente instituído, implicou o agravamento da precária rede de proteção social que começava se insinuar nestes países. É o que aponta Singer (1996, p. 10), ao analisar as repercussões da crise econômica no Brasil:

'XUDQWHR³PLODJUHHFRQ{PLFR´ -1976), sistemas abrangentes, tendentes à universalidade, de ensino básico, saúde e previdência foram criados. A partir da recessão de 1981-1983, a pior já registrada em nossa história, todos esses sistemas entraram em crise. O aumento brutal do desemprego levou finalmente à criação de um seguro-desemprego, mas com abrangência tão restrita que ficou mais como testemunha do esgotamento prematuro do modelo. O aumento da demanda por serviços de saúde pública, assim como de vagas escolares da rede pública, foi respondido com cortes sucessivos de verbas para essas atividades. O que resultou não em encolhimento da rede ou dos equipamentos que a compõe, mas em arrocho brutal dos salários dos profissionais: professores, médicos, enfermeiras, etc.

Ao analisar tal processo, Soares (2002, p. 72) cunha um outro adjetivo ao Estado para caracterizar o seu desmonte frente às condições específicas da América Latina para o ajuste QHROLEHUDO ³>@ SURGX]-se um Estado de Mal-Estar mediante a desintegração do incipiente

Estado de Bem-Estar existente na região, o que traz uma redução significativa da quantidade e

qualidade de serviços e benefícios sociais prestados pelo setor público, com a exclusão crescente GRVHJPHQWRGDSRSXODomRTXHPDLVQHFHVVLWDGHOHV´ (grifos da autora).

Numa tentativa de sintetizar esse contexto, apoiamo-nos em Chauí (1993), que pondera que o neoliberalismo age sobre dois pilares: num observa-se a dispersão da produção e dos serviços, e noutro a exclusão crescente de grupos e classes sociais da esfera do trabalho e, portanto, do consumo. Como resultado, são retirados dos trabalhadores os seus referenciais de classe, tornando-os indefesos diante da exclusão e do desemprego. Pode-se observar, no Quadro 2.2, uma síntese do mecanismo de reação política-econômica à crise:

Quadro 2.2: Reação política-econômica à crise

Ao modelo fordista: A economia responde com a terceirização, a desregulação, o predomínio do capital financeiro, a dispersão e fragmentação da produção e a centralização/velocidade da informação e a velocidade das mudanças tecnológicas.

Ao modelo político-econômico Keynesiano do Estado de Bem-Estar:

A política neoliberal responde com a idéia do Estado mínimo, a desregulação do mercado, a competitividade e a privatização da esfera pública.

Fonte: Baseado em Chauí (1993).

Antunes (1999) acrescenta que a discussão sobre o trabalho na sociedade capitalista oferece um panorama que ressalta as relações entre capital, trabalho e consumo na configuração da crise a partir dos anos 1970, tal como indica o Quadro 2.3.

Quadro 2.3: Relações entre capital, trabalho e consumo

Queda da taxa de lucro: Aumento do preço da força de trabalho, conquistado durante o período pós-1945 e pela intensificação das lutas sociais dos anos 1960.

Esgotamento do padrão taylorista/fordista:

Incapacidade de responder à retração do consumo, que seria uma resposta ao desemprego estrutural que se iniciava. Hipertrofia da esfera financeira: Relativa autonomia frente aos capitalistas produtivos,

colocando-se o capital financeiro como um campo prioritário para a especulação.

Maior concentração de capitais: Fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas. Crise do welfare state ou do

³(VWDGRGREHP-HVWDUVRFLDO´

Crise fiscal do Estado capitalista e necessidade de retração dos gastos públicos e a sua transferência para o capital privado.

Incremento acentuado das privatizações, tendência generalizada às desregulamentações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho, entre tantos outros elementos.

Fonte: Quadro elaborado por Mesko e Rippel (2003).

Este quadro conjunto nos permite entender o movimento do capital na constituição de novas formas de exploração da classe trabalhadora, ou seja, de apropriação privada da mais-valia. É preciso, contudo, observar que as estratégias do capital constituem-se também como reação à luta dos trabalhadores pela socialização da riqueza que lhes é expropriada. Assim, verifica-se que a queda da taxa de lucro, devida em parte às conquistas sociais pela valorização da força de trabalho, implicou a destruição do capital variável, que se traduz na demissão voluntária e na

extinção de postos de trabalho ± o que foi possível por meio do incremento de tecnologia e desenvolvimento de formas alternativas de controle do processo produtivo.

Nesta lógica, pode-se interpretar que a incapacidade do sistema em responder à retração do consumo, incapacidade causada pelo desemprego estrutural de uma época que assistia ao fim GR³SOHQRHPSUHJR´GHWHUPLQDRHVJRWDPHQWRGRSDGUmRWD\ORULVWDIRUGLVWDID]HQGRFRPTXHR capital reorganizasse tanto o sistema empregatício quanto as estratégias de consumo/produção do consumidor. E a mesma crise que provocou concentração de capitais, através da fusão entre as empresas devido à destruição do capital constante, no âmbito do Estado se configurou como crise fiscal, determinando a retração dos gastos públicos e a sua privatização, ou seja, a crise do

welfare state, que tem profundos rebatimentos nas estruturas sociais e nos sistemas educacionais

dos países ditos em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Neste quadro de insegurança generalizada, a situação se fecha, então, com uma hipertrofia da esfera financeira e a sua relativa autonomia frente aos capitalistas produtivos, provocando um processo de globalização no mínimo sarcástico, subordinando as nações dependentes ao fluxo de capital dos grandes investidores. Questiona-se, desta forma, como governos com esta orientação obtêm legitimidade para a sua atuação, vez que as suas políticas determinam uma pauperização dos direitos sociais. Sobre isso, Draibe (1993) observa que o tecnocratismo neoliberal declara-se acima dos particularismos, corporativismos e popularismos de toda ordem, instaurando uma certa cultura de resolução de problema aparentemente despolitizada, que visa migrar para a atuação do Estado, o qual deve se adaptar para que se torne

moderno, flexível e eficiente.

Schneider apud Draibe (1993, p. 89) afortunadamente oferece uma visão do tipo de pensamento que legitima a tomada de decisões nestes termos, encobrindo ao mesmo tempo LQWHUHVVHV HVSHFtILFRV ³(P OXJDU GD LGHRORJLD RV QHROLEHUDLV WrP FRQFHLWRV *DVWDU p ruim. É bom ter prioridades. É ruim exigir programas. Precisamos de parcerias, não de governo forte. Falem de necessidades nacionais, não de demandas de interesses especiais. Exijam crescimento, não distribuição. Acima de tudo, tratem do futuro. Repudiem o passado. Ao cabo de pouco WHPSRDVLGpLDVQHROLEHUDLVFRPHoDPDVRDUFRPRFRPELQDo}HVDOHDWyULDVGHSDODYUDVPiJLFDV´

Tais conceitos são bem conhecidos por certa camada da sociedade, pois os meios empresariais, interessados em restabelecer as suas taxas de crescimento e lucro, lançam mão dos seus intelectuais orgânicos para levar adiante o intenso processo de redefinição do papel do

Estado, cujo compromisso com as classes populares, ainda que deficitário, foi construído a duras