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A CONTRIBUIÇÃO FREIREANA PARA O DIÁLOGO ENTRE OS GESTORES DE RESTAURANTES COMERCIAIS E A VIGILÂNCIA SANITÁRIA SOBRE A

2.2 Círculo de cultura

Iniciou-se o desenvolvimento da proposta com o convite para que todos os gestores se sentassem em um círculo de maneira que cada um fosse visto face a face, sendo esta a organização assumida em toda a prática com exceção dos momentos de discussões em pequenos grupos.

1ª fase: Levantamento do universo vocabular dos grupos com quem se trabalhará

É um momento de pesquisa e de conhecimento, feito por meio de uma observação pormenorizada da realidade dos indivíduos, ressaltando os falares típicos, para assim se ter a Leitura do problema, identificação e esclarecimento de termos desconhecidos (FREIRE, 1967). De acordo com Berbel (1998), nessa fase o educador e os educandos possuem uma relação mais informal, intensa no sentido existencial e, por isso, de maior conteúdo emocional.

Como estratégia para viabilizar a leitura da realidade, solicitou-se aos gestores listar todos os problemas do seu cotidiano que dificultem a gestão da segurança dos alimentos, sendo este o único critério para serem elencadas as palavras.

Cada subgrupo, composto de três a quatro gestores, recebeu uma folha de cartolina e canetas hidrográficas coloridas. Esta etapa propiciou a integração entre então desconhecidos que se reconheciam como pares, dialogando sobre os seus problemas e angústias.

2ª fase: Escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado

A seleção foi feita sob os critérios: a) da sua riqueza fonética; b) das dificuldades fonéticas (as palavras escolhidas devem responder às dificuldades fonéticas da língua, colocadas numa sequência que vá gradativamente das menores às maiores dificuldades); c) o teor pragmático da palavra, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra em uma dada realidade social, cultural, política (FREIRE, 1967).

Nessa prática, a partir da seleção dos problemas, gerou-se as situações desafiadoras, as quais tinham elementos que necessitavam ser (re)significados pelo grupo com o auxílio mediador.

O grupo deveria caracterizar os problemas considerando seu impacto na gestão da segurança dos alimentos em seu restaurante, determinando se seu impacto seria: a) alto, b) médio ou c) baixo.

Listados os problemas nas cartolinas as palavras começaram a ganhar significados. Os subgrupos tiveram 20 minutos para qualificar os problemas discutidos considerando a realidade de todos e como estes impactam no desenvolvimento das atividades dos restaurantes comerciais. Esta atividade encerrou o primeiro dia do encontro, deixando o desafio de como poderiam ser resolvidos.

3ª fase: Criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar

São situações desafiadoras, situações-problema, codificadas guardando em si elementos que serão descodificados pelos grupos, com a colaboração do mediador. São situações locais que, discutidas, abrem perspectivas para a análise de problemas locais, regionais e nacionais (FREIRE, 1967).

Freire escreve que:

Ao descodificarem a codificação, com a participação do educador, [os educandos] analisam sua realidade e expressam, em seu discurso, os níveis de percepção de si mesmos em suas relações com a objetividade. Revelam os condicionamentos ideológicos a que estiveram submetidos em sua experiência [...] (FREIRE, 2011, p. 38).

A CONTRIBUIÇÃO FREIREANA PARA O DIÁLOGO ENTRE OS GESTORES DE RESTAURANTES COMERCIAIS E A VIGILÂNCIA SANITÁRIA SOBRE A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

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Nesse momento, iniciou-se o segundo dia dos encontros, com a eleição dos problemas de maior impacto e os gestores refletiram sobre o principal problema observado pelo subgrupo considerando: a) quais eram as consequências da persistência deste problema, b) quais foram suas causas e, c) qual seria o centro/maior gravidade que este problema poderia gerar.

4ª fase: Elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho

Esta fase, consistiu na elaboração de fichas-roteiro, que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho. Estas fichas-roteiro devem ser meros subsídios orientadores para os coordenadores, jamais uma prescrição rígida a que devam obedecer e seguir (FREIRE, 1967).

Schaurich (2007) escreve que este olhar/agir criativo e reflexivo, propicia aos educandos e educador uma percepção do problema, de sua gênese, de seu entorno e repercussões individuais e coletivas.

Na ação educativa com os gestores as fichas-roteiros receberam o nome de plano de ação e, serviram como subsídios, mas sem uma prescrição rígida a seguir, de serem alternativas para adequações na gestão do seu restaurante.

Foi realizado um plano de ação para o problema eleito na fase anterior, informando: a) o problema verificado, b) a ação corretiva, c) o início da resolução, d) o término da resolução e, e) o responsável pela resolução do problema.

5ª fase: Elaboração de fichas para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes aos vocábulos geradores

É a fase na qual ocorre a concretização das fichas com a decomposição das famílias fonéticas, correspondentes aos vocábulos geradores, momento em que os contextos abstratos se tornam concretos (FREIRE, 1967).

Os conceitos são discutidos a partir da prática e as hipóteses são construídas como resultado do estudo e da compreensão pormenorizada dos problemas (BERBEL, 1998).

Nesta última fase, cada subgrupo escreveu em cartolina sua proposta do plano de ação considerando os problemas observados nos restaurantes representados no grupo, os dados foram obtidos por meio das informações do último relatório de inspeção higiênico sanitária realizada pela equipe técnica de Vigilância Sanitária local.

Todas as informações foram compiladas e o restaurante que apresentou o problema foi mantido em sigilo.

Do mesmo modo que no plano de ação anteriormente realizado, este também informou: a) o problema verificado, b) a ação corretiva, c) o início da resolução, d) o término da resolução e, e) o responsável pela resolução do problema.

Assim, os encontros foram finalizados com uma apresentação oral do plano de ação de cada subgrupo para todos os presentes.