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MULHERES COM FILHO(A) DEFICIENTE RECEPTORA DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC

4 DIALOGO COM OS ACHADOS DE CAMPO

Diante a necessidade de encerrar o percurso, e das imposições da materialização da vida a que todos estamos submetidos, encontramos uma família em situação de vulnerabilidade decorrente da pobreza e das necessidades materiais de sobrevivência minimizados pelo BPC. Ainda verificamos as vulnerabilidades relacionais às quais estão expostas as mulheres por pautarem suas relações em função a dos filhos.

Nesse sentido, consideramos que essas mulheres se encontram fragilizadas diante das dificuldades em viver com filho deficiente que recebe o BPC.

Os achados de campo, nestes recortes abordados, revelam uma família extensa e em rede que considera uma amplitude de integrantes, tais como, vizinhos, amigos e até conhecidos são considerados da família. Contudo, encontramos predominância de famílias monoparentais, chefiadas por mulheres.

Quanto à realidade vivenciada por essas mulheres, há relatos do referencial simbólico que a casa e a família são deveres da mulher, cabendo a ela manter a família unida como grupo e cuidar para que todos estejam bem, principalmente os filhos. Entretanto, o feminino vivencia a ausência do masculino nestes deveres familiares, pois elas na maioria vivem sem um companheiro.

A família beneficiaria do BPC, se revela excluída dos bens produzidos socialmente, apresenta-se em sofrimento, sobrecarregada e impotente; não nos parece que o BPC e as políticas públicas têm atendido às necessidades destas famílias que vivenciam uma sociedade desigual e excludente.

Por outro lado, ao não possuírem formação escolar e ou profissionalizante tendo dificuldades de empregabilidade e medo de perder o BPC, razão pela qual ficam desempregadas ou com subempregos.

A família é constituída por redes de relações em que os sujeitos se movem por necessidades de sobrevivência e laços de afetividade; submetem-se ao auxílio de familiares, amigos e vizinhança e também se inclui neste bojo as ofertas das políticas sociais, neste recorte excluída a assistência social, das quais as mais lembradas por essas famílias é Saúde, seguida da Educação.

Nesta perspectiva a mulher responsável pela unidade familiar, visto que, o companheiro não aparece no seu discurso, retrata a sua condição como trágica, pois sozinha continua cuidando da família e do filho deficiente, possuindo como única renda o BPC. Essa mulher se revela cuidadora do filho deficiente, pois vive em função deste. Quando demos voz a estas mulheres, relataram sua indignação e sofrimento na trajetória de exclusão, condição típica de uma sociedade capitalista que traduz a exclusão vivenciada.

Frente à árdua tarefa de ser mulher em uma sociedade machista, agravada por ser mãe de criança/adolescente deficiente, o que tornar-se impeditivo de acesso ao mercado de trabalho. Desta forma, acessa o BPC como forma de garantia de renda para a família. Contudo, a proteção da família se torna ausência de proteção para mulher, pois a retira do mercado formal de trabalho, privando-a da proteção da seguridade social, visto que, não tem acesso às proteções sociais advindas do ingresso ao mercado formal de trabalho.

Para essa mulher cuidadora do deficiente, remunerada pelo conjunto da sociedade através do BPC do filho, não há auxilio maternidade se tiver outro filho, não há auxilio doença se dele necessitar no processo de adoecimento, não há acesso à aposentadoria pela interrupção das contribuições. Portanto, a garantia de renda para família se torna uma armadilha para a mulher que não se apercebe da exclusão a que está subordinada, tal qual, das privações a que é submetida por viver em função do filho(a) deficiente.

Ao longo do percurso reconhece-se à família descrita por Mioto, Campos e Carloto (2015, p. 9) que discorre sobre o retorno do familismo nas políticas públicas e tal como o conceito de família como rede de relações (enredada) de Sarti, (2018, p. 28) para chamar à família a oferta de bem-estar, caso das famílias com um deficiente que o amparo do Estado às vezes se restringe ao atendimento de saúde e o fornecimento do BPC.

MULHERES COM FILHO(A) DEFICIENTE RECEPTORA DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC

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Por fim, nesta dialética pela vida consideramos verdadeira a afirmativa de Sawaia (2018, p. 46) que, referindo-se às mulheres afirma que “o seu principal sofrimento [...] é gerado pelo sentimento de incompetência para proteger os seus”. Portanto, a mulher/mãe é a mulher forte que sofre, mas não abandona os seus; segue excluída, sem consciência da exclusão dos benefícios advindos do mercado de trabalho, os quais não acessam.

REFERÊNCIAS

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE E DIABETES MELLITUS: PRÁTICAS NA