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Trabalho/renda da mulher e a rede de apoio

MULHERES COM FILHO(A) DEFICIENTE RECEPTORA DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC

3 DOS ACHADOS DE CAMPO

3.3 Trabalho/renda da mulher e a rede de apoio

O desemprego aparece disfarçado de crítica, pois, afirma a entrevistada 2 que muitos não trabalham por estarem acomodados, mas refere-se ao trabalho como bico e mercado informal. A entrevistada 4 trata das dificuldades de sobrevivência das famílias empobrecidas, do trabalho informal desenvolvido como forma de conseguir renda, tal como a entrevistada (6) aponta o trabalho do filho adolescente como alternativa à não empregabilidade.

Porque o desemprego tá demais, não tem emprego. Mas também, tem uns que é mal folgado, que tem emprego sim, é porque não quer trabalhar. Tem uns que é. Se acomoda, fica acomodado. Tem assim, tá difícil tá, mas procura pra tu vê se num acha um biquinho. Porque toda vida eu trabalhei, registrada. Toda vida eu trabalhei (E2).

A minha renda, juntando a minha renda, do meu marido, é a gente tamo tentando vê o que a gente faz, porque eu não ganho ruim não, mas não dá. Eu não ganho ruim gente, mas não dá. Se você botar na ponta do lápis, não é falta de administração, é que não dá pra você juntar [passar] o mês (E4).

Meu fio [filho] trabalha, faz bico lá no CAMPS. Mas não é registrado em nada (E6).

As entrevistadas 3, 5 e 9 apontam como impeditivo para acesso ao trabalho a baixa ou inexistência de formação/qualificação e entrevistada (5) relata também a falta de experiência.

É que [...] estudo né. A gente não tem estudo, [...] isso que é minha briga lá em casa com minhas filhas. Tem que estudar, tem que estudar (E3).

Não tem [...] e tem que ter curso né, ter experiência. Eu tenho vontade de trabalhar né (E5).

Acho que é, é qualificação mesmo. Tanto no grau de escolaridade, quanto até um curso que você não conseguiu fazer (E9).

Abordasse também, neste estudo sobre as justificativas que ter filho com deficiência impede o acesso ao mercado de trabalho, como as entrevistadas 2 e 3 relacionam o não acesso

ao trabalho formal por “ [...] medo assim deu arrumar emprego registrada e cortar [BPC]” (E2), pois “se eu arrumar emprego, eu perco o Loas [BPC]” (E3), ou seja, já a entrevistada (4) é categórica em afirmar, “eu não posso ser registrada. Porque senão eu perco, BPC” (E4).

Há também as justificativas nos cuidados com os filhos para não acessar o mercado de trabalho, pois como relatam as entrevistadas 7 e 8 “eu não tô vivendo, eu vivendo pra mim. Tô vivendo pra ele [filho]” (E7), uma vez que, o “meu filho necessita de mim” (E8).

Registramos relato de trabalho anterior ao nascimento do filho deficiente, nas palavras da entrevistada (9) que, assim se expressa: “até antes de ter o meu filho que tem síndrome de down. Eu trabalhava na época. Aí sai e não voltei mais. Não, consegui mais um emprego fixo” (E9).

O BPC, portanto, constitui a principal renda da família. O perfil da mulher deste estudo é daquela que se encontra fora do mercado formal de trabalho e que por medo de perder o BPC, por não possuir formação ou pelo tempo que dedica aos cuidados com o filho(a) deficiente o tornam impeditivos da busca de outro tipo de renda.

Ampliando para a rede de apoio à mulher, identificamos dificuldades que essas mulheres vivenciam na tarefa de cuidar de um filho deficiente, manifestação registrada no relato da entrevistada 4 que afirma “sabe que é difícil” e das entrevistadas 5 e 6 “é muito difícil”, também expresso na fala da entrevistada 9 que diz, “a gente vive dia após dia, nas dificuldades [...] [e] você acorda, dorme, pensando no que você vai fazer pelos seus”, são relatos que reafirmam a opção destas mulheres polo cuidados com os filhos, tal qual, o relato da entrevista 6 e 9.

Ah pra mim é muito difícil. Não posso sair pra canto nenhum, não posso ficar doente. Que só quem cuida dela sou eu, tendeu? (E6).

A gente vive dia após dia, nas dificuldades, enfrentando, as barreiras que, que vem desde a saúde e outros serviços públicos, né. É isso [...]. Você acorda, dorme, pensando no que você vai fazer pelos seus (E9).

Por outro lado, a rede de vizinhança pode se constituir em uma rede de apoio composta por vizinhos e pessoas de fora da família. As entrevistadas efetivaram ponderações sobre os vizinhos e sobre os de fora da família que demonstram apoio quanto as necessidades diárias de sobrevivência.

Temos afirmativas como as das entrevistadas 1, 2 e 6 que “vizinhos ajudam, não vou dizer que não. Tem vizinhos que ajudam em alimentação” (E1), pois “quando ela pode me ajudar” (E2). Solidariedade de vizinhança é reafirmada pela entrevistada 6 que relata, “todo fim de semana me dá um pacote de batata, dá um pacote de brócolis, dá um pacote de arroz” (E6).

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Aqui emerge junto aos relatos da solidariedade de vizinhança e uma crítica à ausência dos familiares, apontado nas entrevistadas 2, 5, 6 e 9, pois segundo os relatos destacados, pode- se identificar que “mas, antes os outros de fora ajudar, do que os da família” (E2), bem como “às vezes as pessoas estranhas ajudam mais que a família” (E5), ou seja, “os de fora mais ajuda [que] um monte [da família]” (E6). Já a entrevistada 9 chama para si ao afirmar que “a gente considera as vezes, mais as pessoas de fora do que as de dentro [da família]” (E9).

Finalizado os trechos destacados das entrevistas, podemos afirmar que ao longo da análise os relatos das interlocutoras revelam uma família submetida ao sofrimento, demonstrando-se impotente e sobrecarregada, frente às dificuldades da exclusão e das necessidades não satisfeitas por uma sociedade capitalista desigual e excludente.

Encontramos uma mulher sozinha e sobrecarregada que, sofre frente à impotência de cuidar de sua prole; as tarefas ligadas à sobrevivência consomem seu tempo, pois, nesta tarefa pouco contribui o companheiro ou pai de seus filhos e, todavia, na sua maioria são mulheres com pouco ou nenhum acesso a trabalho. Para essas mulheres, lutar por sobrevivência é a mola que impulsiona suas vidas.