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As políticas públicas e os impactos sobre o emprego das mulheres

As políticas públicas e as ações do mercado econômico estão relacionadas e afetam o mercado de trabalho de variadas formas, mas, para compreensão dos elementos relacionados aos impactos sobre o trabalho feminino, evidencia-se a análise a partir de três aspectos, que neste estudo podem ser considerados básicos, estes aspectos são a entrada no mercado de trabalho, cuidados com a saúde ou o controle de natalidade, e a mobilização social feminina. É preciso ressaltar que estas são bases para construção de um entendimento, e que a partir de outros prismas essa atividade de reflexão pode adquirir outros elementos.

A entrada no mercado de trabalho deve-se principalmente ao desenvolvimento tecnológico e a propagação desses instrumentos que contraíram funcionalidades relativas ao mundo do trabalho e suas produções, pode-se dizer que algumas das regiões brasileiras contam com um processo de produção informatizado, aspecto que se deve ao fato da economia mundializada exigir uma acelerada e constante produção. Este elemento proporciona o aumento de empregos femininos, principalmente pelo fato de muitos desses trabalhos estarem envolvidos a trabalhos manuais, atividades estas que através da visão patriarcalista costumam ser visualizadas como “adequadas” às mulheres. A entrada feminina no mercado de trabalho é construída e envolta em noções que lhes posiciona em cargos mais inferiorizados e em situações de trabalho de tempo parcial, precarizado e casos de trabalho informal, estas características passam pelo que se pode denominar de representações sociais acerca das mulheres, algo que é inserido, organizado e naturalizado nas consciências individuais e ganham abrangência na esfera pública limitando as atividades sociais e profissionais das mulheres a ambientes e funções mais específicas no mercado de trabalho. A respeito deste aspecto, Tânia Mourão argumenta:

2395 Nas relações no âmbito do trabalho, entretanto, ainda prevalece à velha dicotomia que tornaria natural, por exemplo, as diferenças entre papeis sociais e competências atribuindo-as às diferenças sexuais e justificando, assim, as desigualdades entre homens e mulheres trabalhadores. Em meio a tantas transformações, permanecem antigas representações que se mostram resistentes a mudanças e se expressam nas relações de trabalho e na maneira como o trabalho feminino e o masculino são percebidos e valorizados (MOURÃO, 2006, p. 28).

O aspecto dos cuidados com a saúde ou o controle de natalidade está relacionado aos instrumentos empregados pelas mulheres para facilitar ou favorecer seu estado físico no mercado de trabalho, em outras palavras, os cuidados que as mulheres costumam empregar para seu bem estar colaboram para seu rendimento profissional e favorece a manutenção de suas atividades empregatícias, o que pode ser observado dentro desse elemento que comporta a questão de saúde feminina é também o controle sobre sua reprodutividade que é controlada por meio de usos de anticoncepcionais e dos métodos contraceptivos, esses métodos são empregados pelas mulheres no que se refere ao mercado de trabalho para organização e planejamento reprodutivo, sem que este aspecto afete as questões relacionadas à sua produção. É interessante ressaltar que embora haja uma legislação voltada para o amparo legal das trabalhadoras gestantes, há a ideia de que tais trabalhadoras, por causa de suas gravidezes, custariam mais caro ao sistema de produção, essa característica afeta a remuneração e os índices de contratação feminina no país. Mourão descreve que:

A ideia de que é mais caro contratar uma mulher do que um homem devido, basicamente, aos custos indiretos associados à maternidade e ao cuidado infantil, apesar dos seus salários serem em média inferiores, tem uma forte presença no imaginário social e empresarial. [...] esses supostos maiores custos justificariam as desigualdades salariais que continuam existindo entre homens e mulheres (MOURÃO, 2006, p. 19).

A questão das mobilizações femininas está relacionada a itens como a saúde da mulher, a luta contra a discriminação de gênero e pelo direito de exercício da liberdade, essas mobilizações estão envolvidas também na questão da empregabilidade e melhores condições de trabalho para as categorias de trabalho com contingentes significativos de trabalhadoras. Trata-se de mulheres organizadas através dos movimentos sociais e de representações políticas que adentram no espaço público com a intenção de desnaturalizar concepções que afetem as suas condições de trabalho, bem como, os índices de empregabilidade feminina e suas condições de trabalho. Este pode ser considerado um significativo elemento de

2396 visualização das questões que envolvem o trabalho feminino e as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras, pois os movimentos são instrumentos sociais que gestam espaços de apresentação, de reivindicações, de debates e de possibilidades, gerando a tomada de posicionamento e de luta por institucionalizações e legalizações das demandas empregatícias femininas. Em sua análise Mourão argumenta:

Avanços alcançados nas últimas décadas, desde os movimentos das sufragistas, dos movimentos feministas e outros processos de inclusão social, ainda não foram suficientes para a eliminação de traços marcantes do sistema patriarcal que por tanto tempo dominou a mentalidade de nossa sociedade ocidental. Entendemos que tais desigualdades se manifestam de formas diversas em diferentes contextos socioculturais, locais e regionais e suscitam, por parte de mulheres e homens, diferentes reações, resistências e estratégias (MOURÃO, 2006, p. 23).

Entende-se que a intensidade das questões apresentadas pelos movimentos precisa está em constante ação, pois as lutas que referem as questões de desigualdade entre os gêneros é, também, a luta por mudança de mentalidade, por desconstrução de realidades desiguais e pela aceitação de diferenças, que por sua vez, não denotam incapacidade de ação relativa a qualquer atividade social, política e econômica.

Este esquema de reflexão possibilita itens básicos para a análise dos impactos das políticas públicas de emprego sobre o emprego das mulheres, pois a partir da identificação das políticas de emprego, do estudo da condição feminina relacionada ao mercado de trabalho, pode-se colocar que as alterações realizadas na política do seguro- desemprego fragilizaram a seguridade da classe trabalhadora e exercem sobre esta classe uma forma de controle, a partir do momento, em que esta classe se perceber obrigada a permanecer ligada a um vínculo empregatício por maior quantidade de tempo.

Sobre estas condições ocorre uma rotatividade considerada negativa, pois a permanência no vínculo contratual se dá em virtude da redução de oportunidades de emprego. É preciso atentar para duas características, a primeira é que nestas situações econômicas de recessão as mulheres costumam serem as primeiras a serem demitidas, pois como já foi dito, costumam ser vistas como mãos de obras mais caras; a segunda é a de que o seguro- desemprego é uma política, inicialmente, pensada para atendimento dos trabalhadores com vínculo contratual e que outras categorias de trabalhadores acabassem não sendo alcançadas. Para casos de contratos por tempo determinado, instrumentos de contratação muito empregados para contratação feminina, as alterações no seguro-desemprego fragmentam as

2397 classes de trabalhadoras, incentivando além da permanência no posto de trabalho já precarizado, uma competição elevada por vagas de emprego mais ainda terceirizadas.

O Serviço Público de Emprego é uma política relacionada à intermediação de emprego, assim pode-se dizer que os Sines, espalhados pelo país, juntam ofertas de emprego e apresentam estas oportunidades contratuais e suas condições, oferecendo um acompanhamento através da oferta de cursos que qualifiquem, minimamente, o trabalhador, em observância às questões desempenhadas pelos Sines e no que diz respeito à empregabilidade feminina, notou-se que a oferta de cargos e o processo de qualificação da trabalhadora são ainda demasiados voltados para atividades socialmente desvalorizadas, dentre os cargos que os Sines, normalmente, apresentam em suas listas para diferentes estados brasileiros. As atividades de empregada doméstica, babá, serviços gerais, vendedor interno ou externos e recepcionistas, que em sua maioria são ocupados por mulheres, estão sempre presentes, e este elemento pode ser também percebido como uma problemática relacionada a aspectos de qualificação e especialização das trabalhadoras, no que diz respeito ao acesso das mulheres a condições educacionais qualificadas.

A qualificação social e profissional articuladas a órgãos como os Sines constroem um perfil de trabalhadoras mais tecnicistas, com um processo de qualificação voltado para atividades empregatícias que engrossam o contingente de trabalhadoras em atividades relacionadas a condições precárias, de movimentos repetitivos e determinado esforço, o que comunga como uma espécie de dificuldade que as trabalhadoras possuem para alcançar cargos de chefia. De modo geral, o processo de qualificação oferecido não prepara a sua clientela para postos que exigem mais atividade reflexiva, tomada de decisões, de iniciativas exigidas pelo mercado de trabalho nacional, deste modo, o capital transpõe o tempo de trabalho e ocupa o tempo livre da trabalhadora, pois é neste ínterim que os processos de busca por melhores qualificações acontecem. Esta é uma forma de aumento do rastro de produção, pois o tempo livre seria aquele em que não se produz, e que com as transformações na produção do capital passou a ser empregado indiretamente para a geração de mais capital. O que na condição das trabalhadoras se mescla com as tarefas domésticas, o cuidado com a família e a busca por melhor qualificação e ascensão profissional.

A política do microempreendedorismo individual entra em acesso com uma grande quantidade de trabalhadoras que estão em situação informal, que exerce atividades que não apresentam vínculo contratual, mas gera renda para manutenção de suas necessidades. Essas trabalhadoras do mercado considerado “informal” são alcançadas por uma proposta de política

2398 pública que lhes retira da desregulamentação, oferecendo benefícios semelhantes aos de trabalhadores com vínculo contratual, mas que em contrapartida não incide sobre as condições e instrumentos de trabalho desta classe. A política voltada para essa atividade pode ter sido elaborada no intento de proporcionar a garantia de uma determinada seguridade a essa classe de trabalhadores, mas essas características de seguridade não modificaram tanto as condições de precariedade das funções desenvolvidas por esta categoria, o que se nota é que ocorreu uma inserção da lógica empresarial, que está associada a uma racionalidade instrumental da produção do capital, o que produz mais flexibilização, geração de subcontratos e terceirização, uma elevação dos aspectos de competição e a fragmentação da classe que consisti no público alvo desta política. Dentro desta análise, é preciso ressaltar a emenda constitucional de nº 72 como um dos aspectos de relevância do mercado de trabalho feminino, essa emenda que trata dos trabalhadores domésticos além de reafirmar a definição legal de trabalhadores domésticos, favoreceu alterações na aquisição de direitos e no reconhecimento valorativo de uma categoria profissional ocupada em sua grande maioria por mulheres. As mudanças descritas nessa emenda podem ter estabelecidos pontos que antes o sistema legal deixava em aberto, mas paira sobre essa legalização mais específica de contratação a forma flexibilizada que ocorre através dos serviços prestados por diaristas, pois esse regime de trabalho torna acordos entre os que contratam e os contratados mais fluídos e com pouca seguridade, permitindo uma rede crescente de precarização dos serviços prestados por essa classe de trabalhadoras. Pode-se dizer que embora esta emenda possa significar para a classe das trabalhadoras domésticas uma estratégia de enfrentamento à precariedade inerente a maior parte da categoria, ressalta-se que, uma real mudança no que tange à categoria de trabalhadoras domésticas requer o combate à desvalorização que recai sobre sua atividade. Portanto, torna-se necessária uma mudança de postura quanto à divisão do trabalho doméstico no seio familiar.

As políticas analisadas se relacionam por apresentarem em suas propostas o enfrentamento de questões relacionadas à precarização do trabalho, as questões de ilegalidade de atividades e de alteração do perfil do trabalhador brasileiro, mas por conviverem com aspectos da realidade sob os quais não conseguem adquirir controle podem vir a sinalizar esgotamento, e, posteriormente, enfraquecer-se no processo de qualificação dos trabalhadores, o que fica muito mais visível dentro de um cenário de crise ou recessão, em que os gastos governamentais são reduzidos e a segregação existente dentro dessas categorias políticas vão se tornando evidentes no que tange à raça, à idade e ao gênero. Ao

2399 mesmo tempo, é preciso refletir que o eixo de conexão dessas políticas é a manutenção do sistema capital, e suas atividades ficam sempre comprometidas quando o regime de produção apresenta-se abalado. Elevando, desta forma, tendências de contratação pouco permanentes e mais flexibilizadas, que se aproximam do aumento da terceirização. Este aspecto tornou- se visível com a proposta de terceirização que tramitou na câmara e que se dirigiu ao senado no primeiro semestre do ano de 2015, uma das principais marcas dessa proposta seria a possibilidade das empresas poderem terceirizar todas as funções empregatícias em seu quadro de serviços, e não somente em atividades de apoio, como são percebidas as categorias segurança, manutenção e limpeza. Esta onda de terceirização pode, significativamente, afetar o nível de empregabilidade das mulheres e suas atividades tendem a se tornar mais precarizadas, assim como de todas as classes trabalhadoras.