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Precedentes das políticas públicas de empregos para mulheres

No Brasil e em outros países foram adotadas políticas públicas de emprego como uma ferramenta do Estado para fomentar a economia e, a princípio, elevar a produtividade do mercado nacional. A partir da crise do fordismo, as políticas de emprego adotadas no Brasil foram diferentes das adotadas até então. Em particular, a partir da década de 1990 elas adotaram um caráter de desregulamentação do mercado de trabalho como parte de um discurso de “desenvolvimento” e de redução do desemprego em massa. Essas políticas de emprego implicaram na flexibilização do tempo de trabalho e nas formas de contratação do trabalhador, prejudicando com mais intensidade a força de trabalho feminina. Elas incidiram

2391 também nas demissões e na redução dos custos do trabalho. A partir de uma análise de dados estatísticos sobre a evolução da flexibilização do emprego no Brasil, constatamos que, nos últimos anos, o progresso na precarização do emprego continuou. Isto ocorreu para o emprego em geral e para o emprego feminino em particular.

É importante fazer uma ressalva. No Brasil a partir da segunda metade da década de 2000, o desemprego vem sendo controlado e o avanço da mulher no mercado de trabalho tem aumentado. Contudo, os dados que comprovam essas afirmações não deixam de explicitar o aumento da precariedade no emprego para o conjunto dos trabalhadores.

Nesta pesquisa, uma análise dos dados relativos a esse progresso conduz a enfatizar a discriminação contra o emprego das mulheres que ainda hoje persiste e a evolução da flexibilização no Brasil. Observa-se ainda as consequências dessa flexibilização enquanto principal condição para a sustentação de um “‘novo’ regime de acumulação” (HIRATA, 1998, p. 07). Processo este sexuado, haja vista que utilizam das construções sociais para justificar as relações salariais, que promovem entre os sexos, hierarquia e segregação entre os empregos ditos femininos e empregos ditos masculinos.

No aspecto de políticas de emprego no Brasil deve-se considerar a estruturação do mercado de trabalho, ou seja, a composição desse mercado no que tange a sua parcela de trabalhadores formais e informais, tal aspecto deve ser observado para que se verifique até que ponto as políticas de emprego voltadas para as mulheres surtem algum efeito, neste sentido destaca-se duas das principais políticas públicas observadas que repercutem no mercado de trabalho feminino. Trata-se da política de microempreendedor individual e da emenda constitucional nº 72.

O programa Microempreendedor Individual foi criado para atender trabalhadores brasileiros que exerciam atividades geradoras de renda por conta própria, e que desejam uma formalização que lhes classificasse de algum modo, e garantisse alguma seguridade profissional. Os trabalhadores que se encaixam no referido perfil poderiam, a partir do dia 19/12/2008, entrar na categoria de pequeno empresário, ou nos termos da lei complementar nº 128, Microempreendedor Individual (MEI). Para que um trabalhador possa participar dessa classe deve ter a receita bruta anual de até no máximo R$ 60.000,00, e não apresentar participação ou vínculo em outra empresa como titular ou sócio, o trabalhador MEI pode ter até um empregado contratado que receba o salário mínimo ou peso da categoria.

2392 As vantagens oferecidas pela lei do Microempreendedor Individual ao trabalhador que se caracteriza como pequeno empresário são registros no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), o que confere ao trabalhador a abertura de conta bancária, o acesso a empréstimo e emissão de notas fiscais, há também a vantagem de que o MEI pode ser enquadrado no Sistema Integrado de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples) ficando isento dos tributos federais, tais como, imposto de renda, Programa de Integração Social (PIS), contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) , Imposto sobre produto industrializado (IPI) e a Contribuição sobre o Lucro Líquido. Desta maneira, o que o trabalhado MEI paga é valores fixos mensais de R$ 40,40, referente à prestação de serviços, ou R$ 45,40 referente a comércio e serviço, esses valores referentes aos trabalhos que podem ser exercidos pelo MEI são destinados a Previdência Social e ao Imposto Sobre Circulação de Mercados e Serviços (ICMS) ou ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza, tais valores, são atualizados anualmente, seguindo as respectivas alterações do valor do salário mínimo.

O programa microempreendedor Individual pode ser analisado como parte do processo de precarização, ou seja, o Estado se envolve para alargar os limites do regime de emprego através do fomento e de estratégias e planos para a redução do desemprego, o que consideravelmente ocorre por meio das políticas publica de emprego, que dentro de um regime neoliberal precisa articular os antagonismos entre a geração de renda e as condições de trabalho. Para que estas estruturas de redução das taxas de desemprego atuem no cenário econômico era preciso que as camadas que geravam alguma renda pudessem ser inseridas dentro de aspectos de legalidade, o que não significaria a extinção da precarização do emprego, embora o microempreendedorismo possa contar com determinadas ferramentas de consultoria oferecidas pela própria política dos MEI, resta refletir sobre as condições de estabilidade de produção de renda que para esses trabalhadores considerados como “autônomos legalizados” ainda é relativa.

A emenda constitucional de número 72 é referente aos direitos dos trabalhadores domésticos. Sendo complementar ao artigo 7º da Constituição Federal, esta emenda conferiu maior seguridade aos trabalhadores domésticos, pois a partir da mesma, a empregada doméstica passa a ter jornada de trabalho e pagamento de horas extras definidos em lei. Através da emenda, a jornada diária de trabalho não pode ser superior a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, e o pagamento de horas extras e adicional noturno deve

2393 estar de acordo com a legislação vigente, ou seja, o valor de uma hora normal de trabalho acrescido de 50%. A emenda trouxe também normas de saúde, proibição de diferenças salariais, e reforçou a proibição de discriminação, no que diz respeito a gênero, a salários e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência.

O emprego doméstico é um serviço muito utilizado no Brasil, é uma categoria que abriga grande contingente de trabalhadores, especialmente do sexo feminino. De acordo com o IBGE em 2011, estimava-se que 6,6 milhões de trabalhadores estavam inseridos no segmento de serviços domésticos no Brasil. Antes da Emenda, o trabalho realizado por esta categoria enfrentava a desigualdade de vivência no acesso a direitos garantidos as outras categorias socioprofissionais. Essa disparidade entre direitos relativos à trabalhadora doméstica e aos demais trabalhadores se justificava pela desvalorização do trabalho doméstico, naturalizado como uma atividade feminina e, frequentemente, realizada no espaço privado, isto é, longe dos espaços públicos de valorização e produção (direta) de riqueza.

De acordo com o MTE as ocupações que podem ser enquadradas nesta categoria abarcam atividades como: cozinheiro (a), governanta, babá, lavadeira, faxineiro (a), vigia, motorista particular, jardineiro (a), acompanhante de idoso. Permanecem fora desta proteção as trabalhadoras diaristas.

O trabalho doméstico é exercido em sua maioria por mulheres em situação de vulnerabilidade. Um percentual considerável é composto por mulheres negras. Entre os anos de 2004 e 2011 o percentual de trabalhadoras domésticas elevou-se de 56, 9% para 61% de acordo com dados do IBGE e da Pnad (IBGE, 2011). Quando se observa os dados de escolaridade e faixa etária, nota-se que mulheres acima de 60 anos correspondem à faixa de trabalhadoras com maior proporção de analfabetas ou com o ensino fundamental incompleto. Em 2011 o IBGE divulgou dados que demonstram níveis de analfabetismo verificados em 19,5% para ocupadas entre 60 a 64 anos e em 24,6% para as ocupadas com 65 anos ou mais (IBGE, 2011).

O trabalhado doméstico no Brasil permanece marcado pela informalidade. No nível nacional o percentual de contribuição das domésticas aumentou de 26,9%, em 2004, para 34,9% em 2011. Existe, porém, uma disparidade entre as regiões do país. A região norte foi a que registrou o menor percentual de contribuição desta categoria socioprofissional, passando de 10,5% em 2004 para 18,0% em 2011 (IBGE, 2011).

O volume de trabalhadoras domésticas no Brasil denota, por um lado, a importância dessa atividade enquanto grande empregadora e geradora de renda para um contingente

2394 substancial de mulheres e, por outro lado, a desigual repartição das tarefas domésticas no seio da instituição familiar.

Dessa forma, embora o recurso ao trabalho doméstico permita a um número substancial de mulheres (empregadoras) a inserção no mundo do trabalho produtivo e público, portanto, valorizado, este recurso ocorre a partir da externalização das atividades domésticas de reprodução familiar que se faz mediante um exército de servidoras que, na maioria das vezes, vivem em condições precárias de emprego e de trabalho.