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As representações sociais da «droga» segundo os consumidores de substâncias ilícitas

parece poder dissociar-se do objectivo de compreender e, mais longínquo, do objectivo de explicar Daí que a própria descrição deva

Capítulo 6 A análise temática

6.2 As representações sociais da «droga» segundo os consumidores de substâncias ilícitas

A caracterização dos indivíduos entrevistados no âmbito desta pesquisa justifica-se na medida em que permite evidenciar os atributos pessoais que virão a revelar-se significativos na análise das representações observadas na imprensa escrita acerca do fenómeno da droga. Assumiu-se o pressuposto que a toxicodependência não corresponderia a uma categoria homogénea, mas sim a uma diversidade de modos de vida, por um lado, e a representações sociais distintas, por outro, que se vão construindo e modificando em torno dos diferentes discursos que sobre elas discorrem. Não se poderá assim, falar dos toxicodependentes como um conjunto uniforme, mas antes como uma realidade complexa onde se entrecruzam contextos, sujeitos, substâncias e histórias de vida que a partir daí se vão construindo.

Tendo por base esta constatação de que os toxicodependentes não são todos iguais e que a toxicodependência se tem sobretudo constituído como um espaço privilegiado para uma projecção ideológica associada a determinados contextos, questionam-se os seus valores, representações e atitudes acerca das notícias sobre a «droga».

«uma representação í social via medida em que caraote/uza um determinado

aívida, ev^c\uaiAto preenche a função de construção da realidade, t orientação dos, ùo\M^orta\M.ev±os, e coiM.uiA,icações»11:i.

6.2.1 - Elementos de caracterização dos actores entrevistados

Quadro XXXII.

Sexo dos entrevistados

Sexo n % Feminino 3 15 Masculino 17 85 Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Ao nível da distribuição por sexos, os entrevistados apresentam valores acentuadamente distintos. Os homens continuam a ser o alvo predominante (85%), enquanto que as mulheres tem uma representação pouco expressiva (15%). O sexo feminino tem uma fraca representatividade neste meio social, a utilização de substâncias entre os indivíduos do sexo masculino continua a ser a tónica dominante.

Quadro XXXIII.

Idade dos entrevistados

Idade n % Até 25 anos 6 30 25 - 45 anos 14 70

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Em termos etários, apresentam-se apenas dois grupos classificatórios, o grupo de indivíduos com idades até aos 25 anos, que assume pouca expressão

BIDARRA; Maria da Graça Amaro, Separata da revista de Pedagogia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade de Coimbra, Ano XX, p.378.

neste universo (30%), e o grupo de indivíduos entre os 25 e os 45 anos de idade, que é o mais frequente (70%).

Quadro XXXIV.

Estado Civil dos entrevistados Estado civil n %

Solteiro 8 40

Separado 7 35

Divorciado 5 25

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

No que respeita ao estado civil dos inquiridos a distância entre os sujeitos solteiros, os separados e divorciados não é muito grande. Há uma aproximação dos valores. Todavia, o número de indivíduos separados conjuntamente com os divorciados, apresenta um valor significativo (60%). Quadro XXXV.

Com ou sem Filhos

Se tem filhos n %

Sim 8 40

Não 12 60

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Também neste tópico, 60% dos inquiridos não têm filhos. Embora, 40% dos sujeitos tenham já pelo menos um filho.

Quadro XXXVI.

a) Habilitações literárias dos entrevistados Habilitações literárias n % Ensino primário 4 20 Ensino secundário 14 70 Ensino superior 2 10

Total 20 100

A maior parte dos inquiridos (70%) tem um nível de instrução de nível médio (ensino secundário - 2.° e 3.° ciclo), com habilitações muitas vezes correspondentes ao ensino obrigatório. Em segundo lugar, está o nível de instrução correspondente ao 1.° ciclo (20%) e por último o ensino superior, que apenas representa dez por cento dos entrevistados.

Quadro XXXVII.

b) Habilitações literárias dos entrevistados segundo o sexo Habilitações literárias Sexo Feminino Sexo Masculino Total Ensino primário 0 4 4 Ensino secundário 2 12 14 Ensino superior 1 1 2 Total 3 17 20

Fonte: Elaborada pela autora. Quadro XXXVIII.

Tipo de habitação dos entrevistados Tipo de Habitação n % Reside em casa própria 10 50 Reside em casa alugada 10 50

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Neste tópico, existe uma igualdade de valores, isto é, metade dos inquiridos residiam em casa própria, e outra metade em casa alugada.

Quadro XXXIX.

Categoria sócio-profissional dos entrevistados Categoria sócio-profissional n % Operário fabril 5 25 Construção civil 4 20 Sapateiro 1 5 Operador de telemóveis 1 5 Operador de máquinas 1 5 Electricista 1 5 Não refere 7 35 Total 20 100

As categorias sócio-profissionais dos inquiridos centram-se em especial, dentro da classificação da designada "classe operária", 25% são operários fabris e 20% trabalham no sector da construção civil (serventes de pedreiro, trolhas, carpinteiros, etc). Cerca de 35% dos inquiridos não referiram a sua ocupação profissional, visto a mesma ser bastante flutuante, ou seja, foram tendo actividades / ocupações profissionais distintas, alguns como arrumadores de carros, outros em cafés nas limpezas, outros em actividades menos lícitas (por exemplo, a prostituição e o tráfico de drogas). Depois também existem dentro desta categoria aqueles que estão inscritos no centro de emprego e nas empresas de trabalho temporário, tendo assumido uma postura activa de procura de emprego. Outros ainda, dependendo do processo de tratamento a que aderiram voltam ou não a ter de imediato uma oportunidade de emprego.

Os indivíduos que optam por um tratamento em comunidade terapêutica, trabalham dentro das actividades/ ateliers desenvolvidos pela instituição, com o propósito de se manterem ocupados e de reiniciar um processo de integração na sociedade.

Quadro XL.

a) Situação profissional dos entrevistados

Situação profissional n %

Empregado 13 65

Desempregado 5 25

Biscates 2 10

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Do total de entrevistados, 65% refere estar empregado, embora ainda 25% se encontre desempregado. As oportunidades de regularizar a situação profissional destes indivíduos nem sempre é fácil, sendo neste domínio que mais sentem a discriminação pelo facto de já terem sido toxicodependentes.

Os entrevistados reforçam muito este campo da vida social, uma vez que, para além de se tornarem mais independentes, do ponto de vista económico-financeiro, também lhes permite manter o tempo ocupado. A proximidade das relações laborais tanto com colegas como com superiores foi

também bastante valorizado, não atribuindo igual valor ao vinculo laboral com a entidade patronal.

Quadro XLI.

b) Situação profissional dos entrevistados segundo o sexo

Situação profissional Sexo Masculino Sexo Feminino Total Empregado 12 1 13 Desempregado 3 2 5 Biscates 2 0 2 Total 17 3 20

Fonte: Elaborada pela autora.

No que respeita a situação profissional dos entrevistados mais de metade estão empregados (60%) e um terço dos inquiridos estão em situação de desemprego (25%). Apenas 10% estão em regime de biscates e 5% não refere qual a sua situação profissional.

Quadro XLII.

Rendimento mensal líquido dos entrevistados

Rendimento n %

€400 13 65

€ 400 a € 500 2 10 Sem rendimentos 5 25

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela aul ora.

Os rendimentos auferidos mensalmente em termos líquidos não excedem os € 400,00. Dos inquiridos, sessenta e cinco por cento, aufere uma média de € 400,00 do seu ordenado e apenas dez por cento auferem entre € 400,00 a € 500,00.

Quadro XLIII.

Local de residência dos entrevistados

Local de residência n %

Aveiro 10 50

São João da Madeira 1 5

Espinho 4 20

Gafanha da Nazaré 2 10 Santa Maria da Feira 3 15

Total 20 100

Os inquiridos têm todos o seu local de residência dentro dos limites do distrito de Aveiro114. Cerca de 50% dos inquiridos são residentes na capital do

distrito. Seguindo-se por ordem crescente, o concelho de Espinho (20%), Santa Maria da Feira (15%), Gafanha da Nazaré (10%) e por último, São João da Madeira (5%).

6.2.2- Perfis psicológicos dos entrevistados Quadro XLIV.

A definição de um toxicodependente

Termos referidos como primeira opção na definição

n %

Alguém que sofre de uma ausência de valores... 4 20 Sem organização... 1 5,0 Um dependente de drogas... 8 40 Um ser humano... 7 35 Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Os inquiridos quando confrontados com uma definição possível para caracterizar, dar uma opinião do que era um «toxicodependente», quarenta por cento, referiu ser "um dependente de drogas". Outros optaram por seguir parâmetros mais genéricos, referindo apenas serem "seres humanos" iguais a

todos os outros. Também com alguma expressão, encontra-se a designação "alguém que sofre de uma ausência de valores", (20%). Todos os inquiridos apresentaram uma clara consciência do seu passado, dos sabores de uma vida sob o efeito de drogas, e da forma como cada um a sentiu. Houve os que mantiveram desde sempre, ou seja, desde o início da sua dependência até há entrada num processo de tratamento, o apoio familiar, houve outros que enfrentaram e viveram o problema sem a ajuda directa dos familiares, contando apenas com a ajuda de pessoas exteriores ao seu grupo familiar e houve também aqueles que sozinhos munidos de um conjunto de serviços institucionais foram-se desenrascando/ sobrevivendo. Os sentimentos dos inquiridos uniam-se em torno da questão de como uma vida de drogas é vazia de valores, sendo a droga o centro do seu mundo e apenas a única realidade com sentido. Ao falarmos de «droga», observa-se um "triângulo social", constituído pela razão, o coração, as emoções e afectos.

Quadro XLV. Drogas consumidas

Drogas consumidas n %

Cocaína 2 10

Heroína 5 25

Mista (Heroína e cocaína) 8 40

Todas 5 25

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

A toxicodependência dos inquiridos situava-se em torno das designadas drogas-duras; heroína (25%) e cocaína (10%). Usualmente a mais consumida era a "mista" (a mistura explosiva da heroína com a cocaína) - quarenta por cento. Cerca de vinte e cinco por cento dos inquiridos referiu ter consumido todo o tipo de drogas.

Quadro XLVI.

A regularidade do uso de substâncias

Regularidade n % 2 x por dia 8 40 3 x por dia 7 35 4/5 x por dia 5 25

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

A dependência do consumo de drogas era bastante acentuada, cerca de 60% dos inquiridos, chegavam a fazer consumos de três vezes ao dia, outros quatro/ cinco vezes. Menos de metade dos inquiridos, referiram consumir apenas duas vezes por dia (40%).

Quadro XLVII.

Razões apontadas para o uso de substâncias

Razões n %

Prazer / novas emoções 5 25

Fuga 1 5

Noutro mundo 1 5

Alivio / necessidade 7 35

Curiosidade 2 10

Andar com o grupo 2 10

Outras 2 10

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Muitos dos entrevistados apontam como razão para a utilização de drogas o facto de estarem dependentes / agarrados. Esta necessidade física e psicológica, força-os a consumir, de forma a se sentirem aliviados (35%). Já vinte e cinco por cento dos entrevistados, referiram o prazer e a descoberta de

novas sensações. A curiosidade (10%) e o acompanhar o grupo (10%) foram

também algumas razões referidas pelos inquiridos como possíveis causas, para um consumo mais regular.

A verdade é que a heroína é uma substância - como de forma geral a maioria das drogas - capaz de criar nas pessoas uma sensação de prazer

automático e imediato conseguido pela manipulação do funcionamento bioquímico do sistema nervoso central e que diminui progressivamente a capacidade de continuar a experimentar os outros prazeres e a manter os outros prazeres. E é esta diminuição dos outros interesses e prazeres que acentua a dependência em relação à substância, tornando-se progressivamente num consumo obsessivo já sem prazer. È neste contexto que muitas vezes se passam novas barreiras e se iniciam os consumos por via endovenosa, os roubos e a prostituição.

Quadro XLVIII. Trajectória de vida

Percurso / trajectória n % Abandono das actividades sociais 4 20

Desemprego 1 5

Perda de auto - estima 7 35

Perda de tudo... 8 40

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Inquiriram-se igualmente os entrevistados no que se refere as suas trajectórias pessoais de vida, desde que os consumos começaram a fazer parte dos seus quotidianos. Olhando para os dados obtidos, fica-se com uma noção de como este problema trouxe reflexos imediatos nas diversas vertentes da vida dos indivíduos; familiar, social e profissional. Assim, 40% dos inquiridos assumem que foi um assistir lento e contínuo há "perda de tudo", outros referem que o que mais lhes custou foi sentir a "perda da sua auto-estima" (35%). Alguns inquiridos expuseram o que significava para eles este sentimento tão particular. Uns mencionaram que era o olharem-se ao espelho depois do efeito da droga passar e o terem que observar o seu estado físico presente contrapondo-o com o que tinham antes. Para outros, referia-se ao facto de fazerem uso do corpo (recurso à prostituição), ou aos abusos cometidos directamente com a família (roubos, mentiras, decepção). A consciência de tudo após o efeito da droga passar era sempre bastante

doloroso pelo que o consumo de uma nova dose tendia a ser uma anestesia, até o próximo consumo.

A maior parte dos inquiridos começou por consumir drogas leves com o grupo de amigos - e não por iniciativa ou pressão de traficantes como tantas vezes é dito - e as suas motivações estão associadas a valores hedonistas da sociedade, mais intensamente vividos no seio de uma cultura juvenil, em que se encontram perfeitamente legitimados e institucionalizados num contexto que

integra também, como refere João Sedas Nunes, «...a e.K?erie\A>úa$ão, a descoberta, a ousadia, a rebeldia, a revolta, a intranquilidade...»

Quadro XLIX.

Outros tipos de designações acerca do toxicodependente

Outras designações n %

E um «doente» 12 60

Alguém que necessita de ajuda 8 40

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Postos perante a possibilidade de encontrar uma designação menos negativa que: «toxicodependente; um criminoso / delinquente/ vadio/ problema social», os entrevistados na sua maioria aprovaram a opção - «Toxicodependente, um doente» (60%). Outros menos certos de qual a melhor afirmação a dar optaram, por algo mais genérico, - «alguém que necessita de ajuda» (40%).

115 NUNES, João Sedas, Consumo de Droga, in ALMEIDA, João Ferreira (et ai.), Jovens de Hoje e de

Aqui - Resultados do Inquérito à juventude do Concelho de Loures, Câmara Municipal de Loures - Departamento Sócio-Cultural, 1996, pp. 155 a 168.

Quadro L.

Avaliação das novas mudanças introduzidas em Portugal, através da "descriminalização do consumo de estupefacientes"

Avaliação das mudanças n %

Uma nova compreensão 3 15

As forças policiais mais solidárias 3 15 Mais serviços especializados 1 5 Aproximação às políticas europeias 2 10 Nova preocupação social 11 55

Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Na opinião dos inquiridos, a "Nova Lei da Droga", representa uma nova

preocupação social (55%). Outros vêem-na sobretudo como uma nova compreensão (15%), por parte, da sociedade civil e consequentemente uma

alteração nas formas de lidar com a toxicodependência a começar pelas próprias forças policiais (15%) que tendiam a ter atitudes muito repressivas e discriminatórias, para com os consumidores. O drogado deixa de ser visto como um delinquente, como já em tempos se acreditou. Em termos legislativos, o que a prisão conseguiu fazer por eles mostra bem o fracasso deste tipo de

heterocontrolo. Hoje com este novo tipo de lei em Portugal, acredita-se que o

toxicodependente (mero consumidor habitual de drogas-duras) necessita de um outro tipo de assistência e para tal procuram-se novos caminhos para não deixar de tentar resolver este drama social.

Quadro LI.

Ideias e projectos a implementar se fosse u m político

Ideias / projectos a implementar n % Legalização das «drogas leves» 4 20 Criação das salas de chuto assistidas 3 15 Prescrição médica da substância de que a pessoa é

dependente

9 45

Aumento das penas para os traficantes 1 5 Mais «unidades livres de droga» nas prisões 1 5

Outras 2 10

Total 20 100

Através da observação do quadro acima descrito, verificamos que os inquiridos têm uma percepção do mundo das drogas e de como o solucionar. A

prescrição médica da substância de que as pessoas são dependentes (45%) é

a solução mais apontada pelos inquiridos. Seguida da ideia quente, que é a

legalização das «drogas leves» (20%).

A diversificação de respostas apresentadas pelos entrevistados, testemunha uma deslocação do toxicodependente do seu estatuto de doente, para a de um actor dum estilo de vida próprio. Grupos de auto-ajuda, centros de dia, casas de acolhimento temporário, casas de injecção assistida, ou pontos de troca de seringas, distribuição de metadona e mesmo de heroína, não parecem por já em causa a toxicodependência enquanto sintoma ou estado psicopatológico, mas encaram-na como um «eLeiA4.eiA.to dum conjWto de

hábitos adquiridos, por sujeitos duv^ gmpo social a partir das suas condições \M.ateríais e Ideológicas de existência»

Quadro LM.

Os significados / percepções transmitidos pela imprensa escrita acerca da «droga» segundo as habilitações escolares dos entrevistados

Significados / percepções Ensino primário Ensino secundário Ensino Universitário Total A informação 1 5 1 7 Jornalistas profissionais 0 0 1 1 Pouco sensacionalismo, mais a realidade 0 6 0 6 Muito descriminatórios 3 3 0 6 Total 4 14 2 20

Fonte: Elaborada pela aul ora.

Os inquiridos com uma formação igual ao ensino primário têm uma percepção acerca da notícias sobre a «droga» como sendo muito descriminatórias. Por outro lado, os indivíduos com habilitações literárias iguais ao ensino secundário (2.° e 3.° ciclo) fazem prevalecer uma atitude positiva,

ROMANI, O., J. Paliares, e A. Díaz, Dependência o estilo de vida? La vida de un grupo de heroinómanos catalanes de los 80s, Trabajo Social e salud, n.° 39, ano de 2001, pp.205 a 206.

onde a "informação" e "realidade" são apontadas como dados objectivos e credíveis. Ao nível do ensino superior, continua-se a privilegiar a atitude profissional dos jornalistas e da qualidade da informação difundida.

Os indivíduos com uma maior educação formal têm previsivelmente, mais capacidades de leitura e de compreensão necessárias à aquisição de conhecimento sobre assuntos públicos e ciência. As pessoas que já se encontram melhor informadas têm uma maior probabilidade de tomar consciência de um tema, quando este aparece nos meios de comunicação de massa, e estão preparadas para o compreender. Igualmente, o grau de instrução delimita uma esfera mais ampla da actividade humana, isto é, os indivíduos mais activos e socialmente integrados, aceitam melhor algumas ideias do que se fosse ao contrário.

Quadro LUI.

Os significados / percepções difundidos pela imprensa escrita acerca da «droga» segundo a idade dos entrevistados

Significados / percepções Até os 25 anos de idade Dos 25 aos 45 anos de idade Total A informação 1 6 7 Jornalistas profissionais 0 1 1 Pouco sensacionalismo, mais a realidade 4 2 6 Muito discriminatórios 1 5 6 Total 6 14 20

Fonte: Elaborada pela autora.

Os entrevistados do grupo de idades entre os 25 e os 45 anos de idade, apresentam uma perspectiva mais critica em relação à informação que lêem. Ao mesmo tempo que afirmam obter informação nos media acerca do mundo das «drogas», também alertam para o facto que muitas vezes esta poderá estar a ser discriminatória. O factor idade vem chamar a atenção sobre aspectos sociais que se traduzem por exemplo, ao nível do momento histórico, da época em que se vive ou viveu, por outro lado, reflecte igualmente diferentes tipos de educação quer ao nível da primeira instância de socialização, a família, como ao nível da escola.

Quadro LIV.

Avaliação das mudanças segundo as habilitações literárias dos entrevistados

Avaliação das mudanças Ensino primário Ensino secundário Ensino Universitário Total Nova compreensão 1 2 0 3

As forças policiais mais solidárias

0 3 0 3

Mais serviços especializados 1 0 1

Aproximação às políticas europeias

1 0 1 2

Nova preocupação social 2 8 1 11

Total 4 14 2 20

Fonte: Elaborada pela autora.

Cerca de onze inquiridos, dos quais oito tinham habilitações literárias iguais ao ensino secundário, reforçaram a ideia de que as mudanças introduzidas em Portugal através da nova legislação, teve efeitos imediatos ao ponto de criar uma nova preocupação social com os que padecem desta doença. As notícias podem desempenhar um papel determinante ao nível da mudança social, ao relatarem actos desviantes «interessantes» sob a forma de notícias leves, as definições da notícia permanecem posteriormente, dependentes da estrutura social a que os indivíduos pertencem.

Quadro LV.

Ideias e Projectos a defender em matéria de «drogas» segundo as habilitações literárias dos entrevistados

Ideias / projectos Ensino primário Ensino secundário Ensino Universitário Total Legalizar a «droga» 1 3 0 4

Criação das salas de chuto assistidas

0 3 0 3

Prescrição médica da substância

2 6 1 9

Aumento das penas para os traficantes

0 1 0 1

Mais unidades livres de droga nas prisões

0 1 0 1

Outras 1 0 1 2

Total 4 14 2 20

Os vários projectos e ideias manifestados pelos inquiridos vem reforçar a ideia de que a sociedade em geral e os «ex-toxicodependentes» em específico, assumem actualmente, algum desinteresse pelas medidas repressivas do sistema de controlo da droga, o que gera elementos representacionais que favorecem uma absolutização das medidas de cariz humanitário e médico- sanitárias.

6.2.3 - A relação dos entrevistados com a imprensa escrita nacional Quadro LVI.

Os jornais periódicos que costuma 1er

Jornais periódicos n % JN 8 40 Público 1 5 Outros 5 25 Todos os mencionados + os desportivos 6 30 Total 20 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Os inquiridos têm todos um hábito de leitura no que toca à imprensa escrita nacional. O primeiro periódico de eleição é o JN (40%), seguido de

"outros" (Correio da Manhã, Diário de Notícias, A Bola, Comércio do Porto,

Primeiro de Janeiro), com vinte e cinco por cento das preferências. O jornal

Público, quase não tem expressão neste universo de inquiridos. Os inquiridos

sendo na sua maioria do sexo masculino, assumiram claramente um gosto especial pelos jornais diários do desporto.

Quadro LVII.

Leitura da imprensa regiona