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As variáveis e a sua importância

parece poder dissociar-se do objectivo de compreender e, mais longínquo, do objectivo de explicar Daí que a própria descrição deva

5.6 As variáveis e a sua importância

Neste capítulo pretende-se constatar qual o destaque, a importância atribuída a cada uma das variáveis definidas, seguindo os elementos de destaque informativo, isto é; a dimensão do artigo, a dimensão do título, a chamada na primeira página e os elementos gráficos. No entanto, deve-se

relembrar, que no geral, não é grande a importância atribuída aos artigos sobre a droga, a não ser que se verifiquem dados extraordinários relativos ao fenómeno, por exemplo; o dia mundial de luta contra a droga, o dia mundial de luta contra a sida, as eleições legislativas, as eleições autárquicas, as histórias dos famosos e mediáticos, as alterações legislativas, os discursos do senso comum.

Assim, na dimensão «droga» como fenómeno médico, no âmbito da prevenção, os artigos referentes à prevenção primária e ao Instituto Português da Droga e da Toxicodependência110, possuíam chamada na primeira página,

em especial, quando se lançavam resultados de estudos nacionais, que caracterizavam o fenómeno da toxicodependência, o caso; das prevalências de consumo entre estudantes dos diferentes graus académicos; tipos de consumos nas prisões portuguesas, e outros. Quanto às dimensões dos títulos, quase sempre são de três a quatro colunas, dando-lhe dessa forma o destaque necessário. Dá-se também ênfase à questão da intervenção estatal através da chamada na primeira página111.

Quando cruzamos os resultados, verifica-se que ao nível da dimensão médico/ sanitária é o jornal Público que mais indicadores aborda (n = 46). No âmbito da dimensão do foro criminal, o jornal de Notícias tem o destaque por absoluto, (n = 111), já na dimensão jurídica, ambos os jornais diários apresentam valores muito coincidentes. Ao nível da dimensão sócio-política, e em comparação com as anteriores dimensões, parece apenas ter mais indicadores abordados, por parte do jornal Público. No que diz respeito ao indicador tratamento, é de mencionar o facto dos jornais optarem unicamente pela sua vertente médica; novos medicamentos, experiências com resultados positivos, curas milagrosas, o consumo das substâncias e os efeitos ao nível da saúde física.

Quanto aos efeitos físicos, o jornal Público, parece ter feito mais vezes referências a este indicador. Por exemplo, em artigos onde aborda: a morte por overdose, o perigo da condução de veículos sob o efeito de substâncias, ou os

110 Desde o dia 29 de Novembro de 2002, o IPDT passou a designar-se de IDT - Instituto da Droga e da

Toxicodependência, tendo-se feito a fusão do SPTT (Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência) e o IPDT, este único organismo assenta as suas bases legais no Decreto-lei n.°269- A72002 de 29 de Novembro.

testes de controlo ao consumo de haxixe na estrada à semelhança do álcool, a dependência física que algumas «drogas» provocam. O jornal Público, alerta e elucida mais os leitores para as consequências do consumo de drogas ilícitas.

As medidas de carácter mais preventivo, também são abordadas, como a luta contra a sida, nomeadamente, o protocolo existente entre a Associação de Farmácias de Portugal e o Ministério da Saúde. Ao nível das políticas do governo, discutem-se as políticas de redução de riscos e danos, nomeadamente, a criação das "salas de chuto", prescrição médica da Heroína, distribuição de seringas no meio prisional, tudo formas de combater a proliferação da sida.

O problema das mães - toxicodependentes, não tem sido focado pelos diferentes jornais, apenas o jornal Público, focou este assunto uma vez, num artigo de âmbito internacional, em que se discutia e analisava as condições e os riscos inerentes ao consumo de "drogas duras", tanto para a mãe como para o filho.

No fenómeno criminal, e mais especificamente no domínio da acção policial, o destaque vai para o tráfico, logo seguido pelo combate. Fala-se das quantidades de droga apreendidas (muitas vezes diferentes, de jornal para jornal), e das detenções efectuadas, até mesmo caracterizando o sexo, a naturalidade do actor do tráfico (raramente consumidores, a não ser pequenos traficantes, isto é, que traficam para sustentar o vicio). Pode-se igualmente, constatar que para o JN o tráfico é o assunto quente do dia, já para o Público é o combate, e aqui põe-se em destaque o sucesso das operações policiais se não totalmente, pelo menos parcialmente.

O JN menciona e relaciona algumas vezes o tráfico e o combate, com o tema do aumento da criminalidade, sobretudo enquanto questões de foro criminal e jurídico. A criminalidade associada acaba também por ser incluída nestes combates à «droga».

Os grandes grupos da droga, os cartéis da droga, do p.v. do tráfico mais organizado, aquele cujos tentáculos são tão grandes que quando descobertos, trazem outros problemas sociais ao de cima, como o branqueamento de dinheiro e as famílias inteiras que subsistem, tendo como única fonte de rendimentos o tráfico da droga. Surgem algumas vezes, a publicação de

notícias internacionais da captura de alguns "barões" da droga, dos juizes que julgaram chefes da máfia em processos de droga, etc.

Os roubos, as ameaças físicas realizadas por alguns jovens heroínodependentes «com seringas em punho», o aumento da insegurança por parte da população em algumas artérias das grandes cidades, como o Porto ou Lisboa, são notícia diária no JN, talvez por isso, mais sensacionalista, na medida, em que os testemunhos se repetem, acabando os leitores por fazer tábua rasa do descrito pela imprensa.

As acções mais negativas são em regra realizadas por indivíduos toxicodependentes. A abordagem deste tipo de indicadores e variáveis, pelo simples facto de existirem, revelam a importância contínua no tempo, que é atribuída às questões relacionadas com a violência, a agressividade, os desvios e os comportamentos sociais (uma das regras de atenção definidas pelo autor Backlemann).

Quanto aos julgamentos, na maior parte dos jornais relacionado com a matéria legislativa. Dado que se fazem referências às penas aplicadas e às acusações de que eram alvo os réus, e assim, ao processo de julgamento propriamente dito, mas também às provas, como sejam, os artigos/ objectos apreendidos no combate aos réus.

Ainda no que respeita à legislação, em Julho de 2001, entrou em vigor a

Nova Lei da Droga, e em funcionamento as designadas Comissões para a

Dissuasão da Toxicodependência, sendo por isso, um assunto de grande mediatismo. Os três jornais analisados apresentam vários artigos de opinião e de análise, neste período específico, que procuram dar ênfase aos diversos interventores da vida social.

A droga como fenómeno «sócio-político» foi observado, primeiro nos seus considerandos mais sociais, como sejam, as causas do consumo, os efeitos sociais, os media e a evolução do problema. Já a dimensão «política» estava mais vocacionada para os aspectos da "campanha eleitoral" (Legislativas 1999, Autárquicas 2001).

O toxicodependente é muitas vezes, visto como um «doente», as causas dessa doença, que parece na maior parte das vezes ser provocada (procura de bem-estar), para muitos continua a ser atribuída a um conjunto de factores de

carácter externo, como sejam; a pobreza, a desorganização familiar, a falta de emprego, etc. Nas entrevistas conduzidas, alguns dos entrevistados neste estudo, referiram que o primeiro objectivo dos consumidores é a procura de prazer e que o objectivo subsequente é a tentativa de não sentir dor provocada pela sua ausência. Depois, mencionavam algumas das razões atrás descritas, como causas possíveis para o consumo de estupefacientes.

Os efeitos sociais são mais abordados pelos jornais diários, estes reforçam a ideia da insegurança crescente, quer no que toca ao tráfico e consumo de drogas, como no que toca à sida, aos conflitos sociais e familiares desplotados pelo consumo, da família do toxicodependente e do suicídio112 (a

morte por overdose). Subjacente a esta tematização está o valor / notícia do tratamento de acontecimentos desastrosos (caso do suicídio) e da proximidade (ao tematizar a questão da insegurança da população face às consequências do consumo, os jornais estão a abordar um assunto que afecta a população em geral).

Quanto à questão do consumo, esta muitas vezes encontra-se relacionada com a exposição de figuras públicas mediáticas. Também aqui se encontra patente uma das regras de atenção definidas por Backlemann, a referência ao pessoal e ao intimo, a acontecimentos que apontam para a esfera privada de individualidades com carácter público.

O desinteresse que o jornal Expresso revela nos seus artigos, acerca dos itens atrás focados, permite conhecer as diferenças mais evidentes entre

uma escrita de carácter diário e outra de tipo semanal.

È interessante constatar que o jornal Público e Expresso são os jornais que tematizam a «droga» do p.v dos media. O Público, mais nas questões genéricas do fenómeno, o papel socializador, como quarto poder da sociedade e o Expresso mais numa vertente pedagógica e informativa.

Na dimensão política, verifica-se a referência há droga em casos meramente excepcionais, campanhas eleitorais e ou discussão de algum documento referente à política nacional da droga, em discussão na Assembleia da República.

A variável suicídio foi colocada na dimensão social, seguindo a linha de pensamento de E. Durkheim, que considerava o suicídio fruto das condições sociais e um fenómeno social.

Verifica-se que o jornal de Notícias é o jornal que mais géneros jornalísticos coloca em destaque no que respeita às drogas. Apresenta valores

superiores, quer nos artigos de análise (n=66), quer nas notícias (n=84), como também nas entrevistas (n=10). Apenas nos designados artigos de análise, é que vemos à frente o jornal Público (n=84).

Os artigos com título de duas colunas, é o mais frequente, sendo o jornal o Público, aquele que mais apresenta este tipo de estrutura de título (n=102), seguido do jornal de Notícias (n=92) e do Expresso (n=28). De seguida, surgem os títulos de uma coluna, sendo desta feita o JN o que apresenta um maior número de ocorrências (n=70).

Não é muito frequente os artigos de primeira página, o que vem confirmar que o tema da «droga» ainda não é assunto de destaque de primeira página. A prevalência ainda é de artigos "sem chamada na primeira página". Quando é destaque de primeira página, o enfoque privilegiado são os artigos de dimensão criminal e os de dimensão médico/ sanitária, que são colocados em evidência. O jornal de Notícias parece utilizar muitas vezes a chamada na última página, para os assuntos de foro criminal (n=41).

Confirma-se a liderança do JN como o diário que mais utiliza o suporte fotográfico nos artigos, em cujo conteúdo da notícia é de cariz institucional, à semelhança do que acontece no jornal Público, logo seguido, das notícias de cariz político. Em termos absolutos, verifica-se também a reduzida utilização dos recursos gráficos (fotografias e quadros/ dados estatísticos), sejam quais forem os assuntos / conteúdos abordados.

Capítulo 6