• Nenhum resultado encontrado

parece poder dissociar-se do objectivo de compreender e, mais longínquo, do objectivo de explicar Daí que a própria descrição deva

5.4 As dimensões da droga

A análise de conteúdo procura alcançar resultados que nos permitam concluir sobre a produção de representações e/ ou estereótipos, por parte dos

mass media, acerca da droga. Se estes transmitem opções diferentes

consoante a aposta política-partidária defendida pela redacção, se existe hoje uma preocupação pela informação e educação dos públicos, ou se prevalecem ainda há semelhança do passado, os assuntos relacionados com o medo, a insegurança e a delinquência. Neste sentido, construiu-se uma grelha de análise, composta por dimensões, umas mais genéricas outras mais restritas, indicadores e variáveis.

Quadro XII.

Dimensão dos artigos (%)

Dimensão JN - % P - % Exp. - % Total em linha Média % Médico 12,1 28,2 48,8 29,7 Criminal 58,4 31,3 29,3 39,6 Jurídico 15,8 19 4,9 13,2 Sócio - político 13,7 21,5 17,1 17,4 Total 100 100 100 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Jornal de Notícias: Média =2,31; Mediana = 2; Moda = 2; Desvio - Padrão = 0,857; Variância = 0,734

Jornal de Público: Média =2,34; Mediana = 2; Moda = 2; Desvio - Padrão = 1,107; Variância = 1,225

Jornal Expresso: Média =1,90; Mediana = 2; Moda = 1; Desvio - Padrão = 1,114; Variância = 1,240

Observa-se que há uma aproximação dos Jornais Público e Expresso, no que se reporta às dimensões privilegiadas nos artigos, contrariamente ao que verifica no jornal de Notícias. Isto é, apesar dos 31,3% de artigos no

Público com uma dimensão de foro criminal, os de dimensão médico têm cerca de 28,2%. O jornal de Notícias continua a fazer sobressair as dimensões criminal (58,4%) e jurídica (15,8%).

«A abordagem, dos aspectos mais de foro criminal/judicial, tem sempre como objectivo clarificar algumas das ideias pré-concebldas sobre o tratamento que os media faxem da questão da droqa. Multas vezes o senso comum é o fumeiro a

alimentar este tipo de ideias. Alguns estudos já evidenciaram que a ideia que o jovem

toxicodependente, por exemplo, é «arrumador de carros», um «delinquente», logo «perigoso» foi algo que \á se tornou consensual, claro que posteriormente quando os

media propagam estas mesmas histórias, dá-se um reforço da legitimação de uma realidade que carece ser incontornável»

De facto, observa-se uma mudança nas escolhas dos assuntos da droga e na forma de os olhar. O JN parece continuar a desenvolver os aspectos mais institucionalizados, isto é, olhar a droga como um fenómeno criminal e jurídico. Esta é de facto, uma dimensão privilegiada dado que têm uma relação directa com as normas jurídicas (e não morais), com a sua transgressão e respectiva punição. Parece assim, existir uma tentativa de reforçar as normas vigentes, como também demonstrar que a sua infracção é punida.

De seguida, observam-se os indicadores que permitem-nos comparar dados com esta variável da dimensão dos artigos, verifica-se uma coincidência nos destaques anunciados, isto é, nas dimensões preventivas e repressivas.

Dentro do leque de indicadores considerados, há um destaque dos denominados assuntos judiciais e criminais, nomeadamente, "combate" (17,9%) e do "tráfico" (22,1%). Surgem também novas áreas de interesse como "tratamento" (10,5%) a que podemos acrescentar os "efeitos físicos" (4,7%) a "sida" (5,3%) e os denominados "efeitos sociais" (10,5%).

O alvo privilegiado nas medidas preventivas continua a ser a juventude, este grupo etário é tido como o alvo da sensibilização. Nas medidas repressivas, isto é, no combate à droga, os protagonistas são as forças

PAIS, Machado José, Jovens «arrumadores de carros» - a sobrevivência nas teias da toxicodependência, Análise Social, Vol. XXXVI, 2001, p.380.

policias, algumas vezes, com a colaboração das instituições civis. Verificando- se a necessidade de "união de esforços para fazer frente ao combate".

Quadro XIII.

As Instâncias abordadas nos artigos consoante o jornal (%)

Instâncias J N % Público % Expresso %

Juventude 4,7 14,7 9,8

Escola/ meio escolar 1,1 4,3 4,9

CAT 10 15,3 22 Ministério da saúde 2,1 0,6 17,1 Universidade 0,5 1,8 0 Câmara Municipal 1,1 5,5 2,4 IDT 4,7 12,9 4,9 ONG 1,6 2,5 2,4 Tribunal 32,6 12,3 4,9 Parlamento 12,6 8 4,9 Família 3,7 6,1 7,3 Missing Values 25,3 16 19,5 Total 100 100 100

Fonte: Elaborada pela aul ora.

Jornal de Notícias: Média

Variância = 8,961 = 7,50 ; Mediana = 9; Moda = 9; Desvio - Padrão = 2,993; Jornal de Público: Média

Variância = 11,831 = 5,73; Mediana = 6; Moda = 3; Desvio -- Padrão = 3,440; Jornal Expresso: Média =

Variância = 10,398 4,91; Mediana = 4; Moda = 3; Desvio - Padrão = 3,225; Quadro. XIV.

Teor da notícia publicada por cada jornal

Teor da Notícia Jornal (Frequência / %) Teor da Notícia Jornal de Notícias n % Jornal Público n % Jornal Expresso N % Factual 99 52,1 58 35,6 3 7,3 Interpretativo 27 14,2 37 22,7 4 9,8 Valorativo 12 6,3 12 7,4 21 51,2 Informativo 44 23,2 56 34,4 13 31,7 Sensacionalista 8 4,2 0 0 0 0 Não classificado 0 0 0 0 0 0 Total 190 100 163 100 41 100

Fonte: Elaborada p^ia autora

Jornal de Notícias: Média = 2,13; Mediana = 1; Moda = 1; Desvio - Padrão = 1,372; Variância = 1,882

Jornal de Público: Média = 2,40; Mediana = 2; Moda = 1; Desvio - Padrão =1,284; Variância = 1,650

O teor das notícias mais utilizado por parte dos jornais diários é o factual (JN - 52,1%; P - 35,6%), contrariamente ao jornal Expresso que prefere o teor de notícia valorativo (51,2%) e o informativo (31,7%). Deve-se, no entanto, atender ao facto de que no jornal Público o teor informativo encontra-se a 1% de distância das notícias factuais (34,4%). Tal aproximação parece-nos indicar que independentemente deste ser um jornal diário, há uma tentativa de não descurar os aspectos informativos da notícia, de forma, a que esta tenha um grau superior de objectividade. Também o teor interpretativo, que permite obter uma informação técnica sobre a matéria em discussão, é neste jornal realçada (22,7%), o que demonstra bem a vontade em assumir um papel mais educativo e pedagógico, como forma de prevenção das toxicodependências. Há um contributo grande no que se reporta ao social e ao

individual, aproxima-se do acto pedagógico na perspectiva que a notícia cumpra também a sua missão de fonte de saber, de mudança social e comportamental que são já presentes no corpus analisado.

O Jornal de Notícias é o jornal que apresenta uma maior variedade de teores noticiosos, isto poderá ficar dever-se ao autor da notícia, o jornalista que elabora a peça. Dependendo da formação e do interesse do jornalista pelo tema, a forma e o conteúdo como a notícia é transposta para o conhecimento geral, tem na sua origem a aplicação de diferentes teores. Por outro lado, há sempre a ideia de que nestes jornais de edição diária, porque lutam contra a falta de tempo e porque os recursos técnicos e humanos, por vezes não são os mais aconselháveis, menosprezam uma elaboração cuidada e pormenorizada dos acontecimentos, dando especial relevo por seu turno, aos aspectos mais rotineiros, quotidianos e por isso, mais sensacionalistas.

As notícias de cariz factual nos diferentes jornais são aquelas que menos se encontram identificadas, o autor da peça não vem mencionado.

Quadro. XV.

Conteúdo da notícia por cada jornal Conteúdo da Notícia Jornal (Frequência / %) Conteúdo da Notícia Jornal de Notícias n % Jornal Público n % Jornal Expresso n % Tráfico 58 30,5 38 23,3 3 7,3 Consumo 13 6,8 5 3,1 1 2,4 Intervenção 37 19,5 9 5,5 2 4,9 Crime 12 6,3 1 0,6 1 2,4 Institucional 42 22,1 91 55,8 29 70,7 Político 28 14,7 17 10,4 5 12,2 Não classificado 0 0 2 1,2 0 0 Total 190 100 163 100 41 100

Fonte: Elaborada pela autora.

Jornal de Notícias Variância = 3,510

Média = 3,27 ; Mediana = 3; Moda = 1 ; Desvio - Padrão = 1,873; Jornal de Público:

Variância = 3,383 Média = 3,99; Mediana = 5; Moda

: = 5; Desvio -- Padrão : = 1,839;

Jornal Expresso: Média =

Variância = 1,638 4,63; Mediana = 5; Moda = 5; Desvio - Padrão = 1,280;

No que respeita aos conteúdos das notícias o tráfico é para o JN o conteúdo que adquire mais notoriedade (30,5%), seguido do conteúdo institucional (22,1%) e do intervenção (19,5%).

Já no jornal Público o conteúdo institucional abarca mais de metade dos conteúdos noticiosos (55,8%). Todavia não deixa também de ter conteúdos ligados ao tráfico (23,3%), no entanto, o crime quase não é exposto (0,6%).

O jornal Expresso apresenta, um tipo de conteúdo que é quase regra dado o valor que apresenta, que é o institucional (70,7%).

O jornal Expresso e o Público, tem conteúdos algo similares, pois quer o conteúdo institucional quer o conteúdo político são aqueles que parecem ser os mais "modernos", actuais, uma vez que frequentemente são objecto de notícia.

O tema da «droga» é um alvo privilegiado das conversas particulares, muitas vezes, a propósito das notícias diárias da comunicação social, ou dos casos mais ou menos dramáticos, conhecidos por cada cidadão de querelas públicas entre os "especialistas" sobre a melhor forma de a "combater", e de

tomadas de posição dos políticos que percebem claramente a necessidade de falar sobre a droga, especialmente, em períodos eleitorais, valendo­se da sua mais valia política.

O fenómeno das «drogas» é um fenómeno plurifacetado, abrangendo nomeadamente aspectos médicos, sociais, culturais e pessoais, a imagem que este estudo transmite centra­se nos aspectos mais sociais do problema.

As categorias da prevenção, saúde, doença, estudos, informações, etc., despertam hoje um interesse maior do que no passado, por parte dos media em geral, no entanto, continua ainda a dar­se relevo igualmente, às notícias que privilegiam o universo policial e judicial ou em última instância a política.

Quadro XVI.

Drogas agrupadas por cada jornal

Grupos de drogas Jornal (Frequência / %)

Grupos de drogas

Jornal de Notícias

n % n % Jornal Público Jornal Expresso n %

Drogas leves 27 14,2 6 3,7 0 0 Drogas duras 66 34,7 68 41,7 12 29,3 Psicofarmacos 0 0 0 0 1 2,4 Drogas legais 2 1,1 0 0 9 22 Drogas ilegais 18 9,5 12 7,4 8 19,5 Alucinogénios 6 3,2 2 1,2 0 0 Opiácios 11 5,8 4 2,5 0 0 Barbitúrios 0 0 0 0 0 0 Drogas de síntese 1 0,5 11 6,7 2 4,9 Inalantes 0 0 0 0 1 2,4 Derivados de coca 5 2,6 0 0 0 0

Não faz referência 54 28,4 60 36,8 8 19,5

Total 190 100 163 100 41 100

Fonte: Elaborada pela autora. Jornal de Notícias

Variância = 20,2

Média = 5,69; Mediana = 4,50; Moda = 2; Desvio ­ Padrão =4,501;

Jornal de Público: Variância = 21,4

Média =6,51; Mediana = 5; Moda = 2; Desvio ­­ Padrão = 4,629;

Jornal Expresso: Média = Variância = 4,468

3,97; Mediana = 4; Moda = --2; Desvio ­■ Padrão = = 2,114;

Os grupos de drogas, quando mencionados nos artigos dos diferentes jornais, como associação de «drogas», refere­se quase sempre as designadas drogas­duras (JN ­ 34,7%; P ­ 41,7%). Aqui as drogas duras, dizem respeito às drogas que fisicamente tornam inconfundível aquele que vive dependente

do uso e consumo de droga, as que "agarram" o indivíduo a uma vida que não é vida, o caso das substâncias heroína e cocaína.

Independentemente das diversas formas como as «drogas» poderiam ser agrupadas, as notícias nos três jornais optam quase sempre, pelo recurso à exposição da substância em causa, daí o não faz referência ter um índice tão elevado. Poder-se-á pressupor duas explicações para tal facto; primeiro, os jornalistas apresentam uma falta de vocabulário no que respeita às «drogas»; segundo, a chamada de atenção sobre a designação específica da droga em causa, produz um impacto superior. Isto é, a maioria do público/ leitor acede de uma forma rápida e instantânea aquilo que é exposto. As «drogas» são por isso, tratadas de uma maneira geral.

Há uma indefinição de conceitos, através da utilização do termo «droga», os media parecem referir-se só as substâncias ilegais / ilícitas, marginalizando outro tipo de substâncias aditivas como o álcool e o tabagismo.