Bardin, «vião é a transposição transparente de opiniões, ale atitudes, de representações existentes de n-ianelra acabada antes de a linguagem, lhes dar ~forw.a. o discurso é
um. momento v^um processo de elaboração, com. tudo o c\ut isso Implica de
contradições, Incoerências e lacunas, o discurso é a palavra em acto» . Em toda a comunicação a palavra ordena-se a partir de três pólos: o locutor, o seu objecto de referência e o terceiro que põe a pergunta-problema.
A linguagem não é um reflexo da realidade, mas o melhor meio de se conhecer. Ela não é uma "porta", são as acções que realizam as pessoas.
B. Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é uma técnica de observação indirecta, mediatizada pelos textos. Visa isolar na massa dos textos as linhas mestras ou as tendências que lhes dão o seu sentido real. Trata-se de seguir nos comentários publicados na imprensa das diferentes tendências, o aparecimento de certas palavras e ideias capazes de revelar as correntes de opinião, dissimuladas na apresentação aparentemente objectiva dos factos.
Com base nos objectivos da investigação, é predeterminada uma grelha
interpretativa, que individualiza as categorias com base nas quais o texto deve
ser analisado (imagens, definições de papel, critérios de avaliação, estética ou moral, etc.), mas também o carácter do contexto no qual tais unidades são utilizadas. Finalmente é previsto um esquema de codificação que permita traduzir os dados obtidos em frequência numérica e, eventualmente, articular uma tipologia.
A análise de conteúdo não é um método de investigação, é somente uma técnica de tratamento de informação. «É um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição, dos conteúdos das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção (variáveis inferidas) destas mensagens».95
4.4 Procedimento - Definição do Corpus
O universo em estudo é constituído por um jornal semanário - Expresso (edição de âmbito nacional) e dois jornais diários - Jornal Público (edição Norte) e o Jornal de Notícias (edição Norte). Esta escolha foi feita de forma a permitir uma comparação entre diários e semanário, entre jornais de referência e jornais de âmbito mais popular, não obstante o "peso comercial" que estes jornais assumem no universo da imprensa portuguesa.
A amostra é constituída a partir do período de 26 Maio de 1999, altura em que é publicada a Resolução do Conselho de Ministros (n.°46/99 de 26 de Maio), que define toda a Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, (documento considerado por muitos especialistas em toxicodependência como «um documento voltado para o futuro...»)96, a 31 de Maio de 2002, altura em
que se verificará o fim da recolha de dados para análise. Assim, foram recolhidos um total de 394 artigos, num período de análise correspondente a três anos, e durante seis meses de pesquisa.
Para a constituição do corpus da amostra retiveram-se todas as notícias em cujo título se referia à palavra «droga», «toxicodependência» e outros sinónimos, bem como títulos que apontavam claramente ser esse o teor da notícia, isto é, embora a droga não fosse o objecto central, aparecia em destaque. As não referências a este campo - "droga" - nas tiragens da imprensa não foram contabilizadas. As notícias portadoras de tratamento fotográfico, as mais «reveladoras de uma proposta de realidade», foram também um dos objectos privilegiados da pesquisa.
A amostra utilizada foi aleatória e apresentou a seguinte estrutura: na 1.°, 3.° e 5.° semana de um mês eram observadas as notícias do jornal diário - Público, e na 2.° e 4.° semana do mês eram observadas as notícias do diário -
Idem, p.42.
Jornal de Notícias 97. Em relação ao semanário Expresso, foram analisados por
sorteio alguns meses dos anos em questão, retendo-se apenas as notícias presentes quer na Revista, quer na secção Vidas, não se tendo prolongado a pesquisa no que toca ao jornal, propriamente dito. Esta opção ficou a dever-se à falta de tempo e de material disponível para consulta na Biblioteca Nacional do Porto, local escolhido para levar a cabo a recolha dos documentos.
De referir, que se por impossibilidade do arquivo, não existisse um jornal, era pesquisado outro no dia imediatamente anterior ou posterior.
A análise dos textos jornalísticos decompôs-se, em três fases: na primeira, analisaram-se as características morfológicas dos artigos, verificando simultaneamente qual o destaque atribuído ao tema - droga - pelos três jornais
escolhidos; na segunda fase, elaborou-se uma grelha de observação da análise de conteúdo98, tendo por unidade de análise o artigo. Inicialmente, na
fase exploratória, esta grelha foi testada, tendo sido validada em alguns casos e noutros infirmada, procurou-se aproximá-la o mais possível da realidade desejada. Efectuou-se um tipo de análise de conteúdo de cariz temático, isto é, optou-se por dar prevalência à temática central do artigo. Na terceira fase, foi
escolhido um artigo de cada jornal, de cada ano em análise, (total de 12 artigos), para se realizar uma análise de conteúdo mais aprofundada. Os
artigos escolhidos tiveram como critério de selecção o facto de serem todos eles "portadores de imagens" umas positivas outras negativas, mas que realçam acima de tudo a temática da toxicodependência como uma "pedra no
charco" que a todos diz respeito, pela magnitude que assume na vida social.
Nesta última fase tem-se por objectivo, constatar como cada artigo nos diferentes jornais era descrito, isto é, a que perspectivas atribuíam maior relevância, a que estilos jornalísticos recorriam e que destaque lhe reconheciam, e se em termos temporais houve um retrocesso ou um avanço nestas matérias, por parte da imprensa. Mais uma vez, empreendeu-se uma análise temática que permitiu inferir sobre a importância que cada assunto (sub-temática) usufruía no corpo do texto. Através da unidade de análise o parágrafo, analisou-se que posicionamento dispunha cada uma das temáticas
Ver anexo, quadro II - Selecção de artigos por jornal.
abordados no corpo do artigo, conhecendo desse modo, qual a importância que tinham, partiu-se igualmente do pressuposto que a posição e o número de linhas de cada parágrafo determina o grau de importância da temática no contexto do artigo.
Para este trabalho, o conceito droga tem duas vertentes: uma, abstracta, diz respeito ao emprego da palavra «droga» em sentido genérico, sem estar relacionada com o produto em si, com a sua produção ou consumo. A vertente específica diz respeito ao emprego da palavra «droga» em sentido estrito, ao produto em si, há sua produção ou ao seu consumo.
O conceito de indivíduo refere-se quer à pessoa que consome droga, quer à pessoa que a trafica. Ao desdobrar a dimensão indivíduo na componente indivíduo, propriamente dito, e toxicodependente, teve-se a preocupação de observar a importância dada à pessoa humana, tanto através do número de vezes em que ela é citada como através do lugar que ela ocupa na hierarquia do conjunto das dimensões e das componentes.
O conceito de sociedade é aqui apresentado no sentido sociológico comum, enquanto sistema social. Para efeito deste estudo, o conceito sociedade é tomado como conjunto de condições exteriores ao indivíduo que consome droga e que influenciam os seus consumos e/ ou a sua dependência.
Neste sentido, a dimensão sociedade desdobra-se nas componentes efeitos sociais, consumo, causas do consumo, media, evolução do problema, e política.
Relativamente ao fenómeno médico da droga, este teve como componentes a prevenção, o tratamento, os efeitos físicos, a sida e a gravidez.
No fenómeno jurídico, retiveram-se as componentes relativas aos julgamentos e à legislação.
Por último, no fenómeno criminal das drogas, apresentaram-se as componentes; tráfico, combate, abuso de poder, acções policiais e cartéis da máfia. O aspecto criminal inclui ainda os assassinatos, branqueamento de capitais, contrabando, falsificação, etc.
Em relação às entrevistas semidirectivas, usadas com o objectivo de conhecer quais as opiniões e sentimentos que os indivíduos situados neste universo atribuem a essas análises construídas, foi elaborado um guião de
entrevista. Esta técnica foi aplicada num contexto formal, uma vez que teve lugar numa instituição ligada a toxicodependência", todavia não nos parece que tal facto tenha constituído qualquer entrave para uma obtenção objectiva e fiel dos dados pretendidos. Aqui optou-se por uma amostragem de tipo intencional, cuja relevância não reside na pretensão de assegurar uma representatividade estatística da população inquirida, mas na de aprofundar um nível de conhecimento de realidades cuja singularidade é, de per si, significativa. A objectividade não tem, necessariamente de ficar amarrada à obsessão do mensurável e do quantificável: pode perfeitamente ser assegurada por outros meios, como os que implicam a análise cruzada de informação.
A entrevista foi aplicada a indivíduos em remissão de consumos de drogas, em processo de abstinência e/ou em tratamento especializado. No fundo, trata-se de um grupo de indivíduos que já viveu o problema, que fez as suas opções de vida a certa altura, que hoje procura um novo projecto de vida, tendo por isso, uma consciência real do seu passado, presente e esperança de um novo futuro. Acreditou-se que desta forma, se obtinham conclusões mais fiéis de acordo com o objecto de estudo em análise. Num prazo de 31 dias, conseguiu-se realizar 20 entrevistas.
4.5 Tratamento dos dados
O tratamento dos dados foi realizado com o programa SPSS 11.0
(Statistical Package for Social Sciences). Através de um conjunto de
variáveis100 seleccionadas, que permitiam conhecer a fundo a notícia no seu
todo. Com o intuito de analisar os dados recorri a médias, medianas, modas, máximos, mínimos, percentis, frequências, percentagens, histogramas, intervalos de confiança a 95% para a média, "error-bar."
Explicitados os procedimentos metodológicos adoptados para o desenvolvimento da pesquisa, importa agora iniciar a apresentação dos resultados obtidos.
A realização das entrevistas semi-directivas, tiveram lugar, na Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência do distrito de Aveiro. Existem em todas as capitais de distrito do país e estão regulamentadas pala Lei n.°30/2000 de 29 de Novembro e pelo decreto - Lei n.°l 30 - A / 2001 de 23 de Abril.
III PARTE
OS RESULTADOS