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Breve apresentação do fenómeno da droga em Portugal

A experiência com as situações consideradas como de «toxicodependência» só atinge directamente, em termos de vivência familiar ou

1.4 Breve apresentação do fenómeno da droga em Portugal

Em Portugal, segundo o psicólogo Carlos Amaral Dias, ainda que a «droga» fizesse parte do vocabulário e dos medos dos portugueses, não restam dúvidas, que é depois do 25 de Abril de 1974 que a palavra «droga» e os alvos respectivos, os drogados, passaram a constituir e a constituírem­se como objecto central no contexto de então e no contexto actual.

O uso de cannabis, LSD e o consumo toxicómano de anorexigenios18,

anfetaminas, metadona e outras «drogas» terá começado a generalizar­se no nosso país, nos anos setenta.

Nos anos oitenta, começou­se a assistir em Portugal a alterações no consumo de drogas. Para além do aumento do número de consumidores, o uso de substâncias cada vez mais tóxicas, aumentava assustadoramente devido à sua oferta no mercado. Cada vez mais jovens iniciavam o seu consumo com Heroína e Cocaína e já não com Haxixe.

Segundo Domingos Neto, "desde a introdução da Heroína em. Portugal, ■parece c\ue o fe^ón/ie^o v^ão tem. parado de aumentar, o com.su.nAo começou mas

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Progressivamente, a droga começava a estar presente e a assustar, deixando os indivíduos impressionados com a dimensão do fenómeno, incessantemente publicitado pelos meios de comunicação social, pelo que esta mediatização do fenómeno contribui-o para a sua dimensão "persecutória".

Já nos fins dos anos noventa, existiam em Portugal cerca de 50 a 100 mil toxicodependentes20. Sabe-se ainda que: a situação era mais grave nos

centros urbanos; que havia mais homens do que mulheres envolvidas; as faixas etárias mais atingidas situavam-se entre os 24 anos e os 37 anos, embora estivessem a aumentar o número de jovens; o medo da sida fazia com que cada vez mais a administração da substância fosse sob a forma fumada e não injectada; - a droga mais consumida era o Haxixe; - a toxicodependência era assumida como um fenómeno democrático e epidémico que atingia todos os estratos sociais e todas as idades.

Tendo por fonte de informação o livro a Estratégia Nacional de Luta

Contra a Droga, no capítulo referente à situação do fenómeno da droga em

Portugal21, podem-se extrair três conclusões: em primeiro lugar, e apesar da

persistente gravidade do fenómeno da droga em Portugal, parece verificar-se uma relativa estabilização dos índices de consumo de drogas ilícitas clássicas, senão mesmo uma descida desses valores, mais acentuada para a heroína, acompanhadas de uma tendência para uma alteração qualitativa expressa no preocupante crescimento do consumo das novas drogas sintéticas, designadamente do ecstasy. Em segundo lugar, os dados disponíveis revelam que a heroína é, sem margem para dúvida, a droga de mais nefastos efeitos sociais e sanitários, responsável pela quase totalidade das consultas nos CAT, pelos elevados índices de seropositividade e de hepatites, pelo crescente número de casos de toxicodependentes, pela maior parte das intervenções das autoridades junto de presumíveis infractores, pela maioria das condenações

19 NETO, Domingos, Tratamento combinado e por etapas de heroínodependentes. Características e

evolução de uma amostra. Dissertação de Doutoramento, Universitária Editora, 1996.

20 A informação de seguida exposta foi retirada da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga,

Presidência do Conselho de Ministros, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, Dezembro de 2001, pp. 23 a 30.

por violação da Lei da Droga e ainda pelo contínuo crescimento dos casos de overdose. Se o consumo da heroína se pode dizer tendencialmente em decréscimo, não deixa de ser preocupante o aumento da quantidade de heroína apreendida em 1998, e o aumento do respectivo número de apreensões. Por último, em terceiro lugar, de referir que o haxixe continua a ser, de longe, a droga ilícita mais consumida entre nós, não obstante a diminuição desta droga apreendida em 1998.

Presentemente, e com base no relatório anual sobre a situação do país em matéria de drogas e toxicodependências de 200122, verifica-se uma

prevalência do consumo de drogas inferior às médias europeias, colocando Portugal numa situação bastante favorável no contexto europeu: cerca de 8% dos portugueses entre os 15-64 anos afirmaram já ter tido pelo menos uma experiência de consumo de drogas ao longo das suas vidas e 14% da população escolar do 3.° ciclo do ensino básico também reportou esse tipo de experiência. Entre a população reclusa, 62% afirmaram já ter tido pelo menos uma experiência de consumo de drogas ao longo das suas vidas. Neste grupo, tem também vindo a diminuir a utilização das drogas duras.

A cannabis continua a ser a droga preferencialmente consumida pelos portugueses. As outras drogas apresentam prevalências de consumo bastante inferiores, seja ao nível da população escolar do ensino secundário e/ ou da população escolar do ensino superior. Evidenciam-se consumos elevados nos grupos masculinos, bem como nos grupos mais jovens. O consumo da heroína adquire maior importância nos grupos masculinos dos 25-34 anos de idade e 35-44 anos. De realçar que ao nível dos consumidores problemáticos desta substância, continua-se a utilizar predominantemente a via endovenosa. Os grupos mais jovens optam pelo consumo de cannabis, ecstasy e da cocaína.

Tem-se verificado um alastramento do consumo de drogas às zonas menos urbanas e do interior do país.

Para além desse fenómeno, existe um aumento de utentes em tratamento, em relação aos anos anteriores e uma maior retenção destes, a que não serão alheias a oferta e adesão aos programas de substituição

22 O Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências de 2001, foi

emitido pelo Instituto Português da Droga e da Toxicodependência/ Ministério da Saúde, em 15 de Outubro de 2002.

opiácia. Neste campo, também se denotou uma estabilidade das percentagens de positividade para o VIH. Paralelamente, houve um aumento das percentagens de seropositivos com terapêutica antiretrovírica. Ao nível da positividade na hepatite B e C, as situações foram, de um modo geral, inferiores as registadas no ano anterior. Em contrapartida, as taxas de positividade da tuberculose aumentaram.

Ao nível dos mercados, houve uma diminuição do número de apreensões de todas as drogas, com excepção do ecstasy, continuando a heroína e o haxixe, a ser as drogas que registaram maior número de apreensões. As quantidades de droga apreendidas também registaram um significativo aumento.