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2 POLÍTICA INDUSTRIAL: O CONHECIMENTO E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO ELEMENTOS DINAMIZADORES DA ATIVIDADE INDUSTRIAL DO

3 INDÚSTRIA 4.0: TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

3.1 AS VÁRIAS DIMENSÕES DO DEBATE EM TORNO DA INDÚSTRIA 4

O setor industrial continua a ser o mais dinâmico para a incorporação dos avanços tecnológicos e a ideia de sua importância para o desenvolvimento econômico é reforçada pelas economias avançadas e em desenvolvimento. No entanto, embora o mundo esteja inserido em um amplo debate em torno das transformações que indústria 4.0 tende a promover na estrutura industrial mundial, simultaneamente tem-se a discussão sobre o processo de desindustrialização, com o emprego industrial apresentando uma tendência de queda e a participação da indústria na produção total tem diminuído na última década (ver GRÁFICOS 1 e 2).

Gráfico 1 – Valor adicionado da indústria (% do PIB mundial) – 1998 a 2016.

Gráfico 2 – Participação de trabalhadores da indústria no emprego mundial (%) – 1991 a 2014.

Fonte: UNIDO, 2017, p. 29.

Além disso, no início dos anos 1990, mais de 60% do valor adicionado da indústria podia ser atribuído a grandes nações industriais como EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Nesse período países emergentes produziam apenas 21% do valor agregado da produção. Entre 1990 e 2011, essas nações desenvolvidas tiveram um aumento de 17% no valor adicionado da indústria enquanto os países emergentes obtiveram um aumento de 179% representando agora 40% do total de valor adicionado em todo o mundo (BLANCHET et al., 2014).

Segundo Castillo (2017) essa situação representa uma desindustrialização acelerada experimentada pelas economias avançadas desde os anos 2000 sendo uma consequência do deslocamento da produção industrial para a China que, a partir do ano de 2010 se consolidou como o principal centro de produção industrial global. No período de 2000 a 2014 o gigante asiático multiplicou por oito sua participação na produção manufatureira mundial, em detrimento dos Estados Unidos, Japão, Itália, França e Reino Unido.

A tendência para a desindustrialização em alguns países europeus coloca a Europa em risco de perder atividades de alto valor. A mudança estrutural pode causar um desajuste de oferta e demanda no mercado de trabalho. Embora alguns argumentem que os serviços podem substituir a fabricação, isso é improvável porque os dois setores estão intimamente interligados, são dois lados da mesma moeda. Desindustrialização em alguns países europeus é, portanto, um motivo de preocupação porque afeta mais do que apenas indústria, poderia impactar competitividade como um todo. Inovação, automação e processos sofisticados estão na raiz das estratégias de sucesso industrial e provaram ser críticos na manutenção de uma posição de liderança. Os

governos e a Comissão Europeia lançam a discussão sobre a necessidade de desenvolver tal setor levando em conta o ambiente em mudanças proporcionado por uma nova revolução industrial.

Segundo Schwab (2016a), a velocidade e o impacto das transformações tecnológicas geradas no século XXI propiciará transformações em várias dimensões:

Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes (SCHWAB, 2016a, p.4).

Para ele não se trata de mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico ou extensão da Terceira Revolução Industrial. A Quarta Revolução Industrial é uma transição em direção a novos sistemas que estão sendo construídos sobre a infraestrutura da revolução anterior, capazes de interferir em todas as atividades econômicas nos mais diferentes países do mundo. Ela se diferencia em termos de custo, expansibilidade, poder computacional, inteligência, interconectividade e integração com objetos materiais. Segundo Herman, Pentek e Otto (2015), é a primeira vez que uma revolução industrial é predita, não sendo apenas observada ex-post, permitindo aos países moldarem suas estratégias de inserção nessa nova revolução. Se for considerado que, de fato, a economia internacional atravessa por uma nova revolução, pode-se observar uma sequência de transformações tecnológicas entre os séculos XVIII e XXI, com profundos impactos na estrutura produtiva mundial, sempre promovendo deslocamentos nas fronteiras tecnológicas.

Quando se observa as trajetórias das revoluções industriais, atesta-se a afirmação de Herman, Pentek e Otto (2015), pois a Primeira Revolução Industrial teve início em meados do século XVIII com sucessivas ondas de inovações com a substituição progressiva dos métodos artesanais por máquinas e equipamentos, de novas formas de organização da produção e do desenvolvimento de novas fontes de energia. O novo conceito de fábrica organizada de forma a permitir a automação e a divisão do trabalho é observado em tecelagem movida pela energia a vapor construída em 1719 na Inglaterra (FREEMAN; SOETE, 2008).

Na segunda metade do século XIX ocorre a Segunda Revolução Industrial. A difusão da máquina a vapor deu origem a um boom sem precedentes na indústria manufatureira e nos transportes ferroviários e marítimos. As indústrias dominantes dessa revolução são as de eletricidade e de siderurgia que tiveram inúmeras implicações em quase todos os demais ramos industriais. Elas foram especialmente importantes nos EUA, cuja economia e produtividade

cresceram mais rapidamente que as dos demais países e alcançaram a liderança tecnológica mundial no decorrer do século XIX. O surgimento de novas indústrias não se limitou a de produtos elétricos e siderúrgicos. Desenvolvimento semelhante ocorreu com o aço, química e petróleo, tanto nos EUA como na Europa. O oligopólio se tornou a estrutura característica de tais segmentos industriais. As inovações organizacionais, conhecidas como “fordistas- tayloristas”, também contribuíram significamente para alterar a estrutura da indústria, gerando novos modelos de firmas e mercados (TIGRE, 2006; FREEMAN; SOETE, 2008).

O período a partir da década de 1970 corresponde a Terceira Revolução Industrial, Revolução Digital ou Revolução da Informação marcada pela introdução de computadores eletrônicos eficientes e de baixo custo e de sua relação com as telecomunicações, conhecida como Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Assim, a nova onda de destruição criadora - usando uma concepção schumpeteriana - é intensiva em informação e conhecimento. Todo conhecimento gerado em pesquisas é destinado ao desenvolvimento industrial, agregando elevados valores no produto final (TIGRE, 2006; FREEMAN; SOETE, 2008). A Figura 1 ilustra bem as revoluções tecnológicas ao longo do desenvolvimento da economia capitalista mundial.

Figura 1 – Evolução tecnológica da produção.

Fonte: Kagermann; Wahlster; Helbig, 2013, p.13.

Neste momento, o debate em torno das novas tendências da dinâmica da indústria global é sustentado nos elementos que caracterizam o que se chama de Quarta Revolução Industrial, marcado por um novo cenário no qual

[...] as empresas estabelecerão redes globais que incorporarão suas máquinas, sistemas de armazenagem e instalações de produção em Sistemas Ciberfísicos (CPSs), que serão capazes de controlar o sistema de produção de forma independente” (BRASIL, 2016a, p. 16).

Esses sistemas compreendem máquinas inteligentes que trocam informações de forma autônoma e em tempo real por meio da Internet das Coisas (IoT). Os CPSs monitoram os processos físicos, cria uma cópia virtual deles e toma decisões descentralizadas. Isso facilita melhorias fundamentais nos processos industriais envolvidos na fabricação, engenharia, uso de material, cadeia de suprimentos e gerenciamento do ciclo de vida.

Diante disso, a indústria 4.0 pode ser melhor compreendida quando se observa certas tendências:

Interoperabilidade: objetos, máquinas e pessoas precisam ser capazes de se comunicar através da Internet das Coisas e da Internet das Pessoas. Este é o princípio mais essencial que realmente torna uma fábrica inteligente.

Virtualização: os CPSs devem ser capazes de simular e criar uma cópia virtual do mundo real. Os CPSs também devem poder monitorar objetos existentes no ambiente ao redor.

Descentralização: a capacidade dos CPSs de trabalhar de forma independente. Isso dá espaço para produtos personalizados e resolução de problemas. Cria também, um ambiente mais flexível para a produção. Em casos de falha ou com metas conflitantes, o problema é delegado a um nível mais alto.

Capacidade de tempo real: uma fábrica inteligente precisa coletar dados em tempo real, armazená-los ou analisá-los e tomar decisões de acordo com as novas descobertas. Isso não se limita apenas à pesquisa de mercado, mas também a processos internos, como a falha de uma máquina na linha de produção. Os objetos inteligentes devem poder identificar o defeito e delegar novamente as tarefas a outras máquinas operacionais. Isso também contribui muito para a flexibilidade e a otimização da produção.

Orientação para serviço: a produção deve ser orientada para o cliente. Pessoas e objetos / dispositivos inteligentes devem ser capazes de se conectar de forma eficiente através da Internet de Serviços para criar produtos com base nas especificações do cliente. É aqui que a Internet dos Serviços se torna essencial.

Modularidade: produção de acordo com a demanda, acoplamento e desacoplamento de módulos na produção. O que oferece flexibilidade para alterar as tarefas das máquinas facilmente. Em um mercado dinâmico, a capacidade da fábrica inteligente deve ser capaz de se adaptar rápida e suavemente às mudanças sazonais e às tendências do mercado (HERMANN; PENTEK; OTTO, 2015, p.11-13).

Segundo Pilat e Nolan (2016) o termo Indústria 4.0, ou Quarta Revolução Industrial, refere-se ao uso na produção industrial de tecnologias digitais recentes e muitas vezes interligadas, que permitem processos novos, mais eficientes e, em alguns casos, produzem novos bens e serviços. As tecnologias associadas são muitas, permitem sistemas cada vez mais autônomos e inteligentes.

Bloem e outros (2014), ao levarem em consideração a visão da General Eletric, IBM e McKinsey sobre o futuro da indústria alemã, sugerem que a indústria está passando por uma mudança de paradigma técnico-econômico e a caracteriza de Revolução Digital, em referência ao que seria a Quarta Revolução Industrial.

Uma mudança de paradigma técnico-econômico envolve inovações não apenas tecnológicas, mas também mudanças organizacionais e institucionais para se consolidar. Isso não ocorre com frequência e sua influência é duradoura, afetando quase todos os ramos da economia (FREEMAN apud TIGRE, 2006, p.74-75). Inovações como máquina a vapor, a eletricidade e microeletrônica, constituíram em diferentes épocas os fatores-chave ou inovações-chave de um paradigma, as quais estavam na raiz das transformações tecnológicas e econômicas mundiais, criando paradigmas tecnológicos.

O uso do conceito de paradigma tecnológico permite a compreensão da evolução do capitalismo em grandes ciclos determinados pela inovação tecnológica. A cada novo ciclo surgem novos produtos e novos mercados, e os desafios apresentados às organizações precisam ser solucionados com a introdução de novas tecnologias e novas estruturas administrativas. Segundo Conceição (2014), as nações que estiverem mais suscetíveis às mudanças institucionais necessárias ao novo paradigma tenderão a ingressarem em uma trajetória de

catching up e desenvolvimento.

Essas transformações fazem com que a Indústria 4.0 seja um tema bastante discutido dado seu potencial de impactar diretamente diversos segmentos das indústrias e de ser visto como fundamental para reflexões sobre estratégias de desenvolvimento econômico e social dos países (HOFMANN; RÜSCH, 2017).

Para Kagermann e outros (2016), a Indústria 4.0 indica a transformação das indústrias “tradicionais” pela Internet das Coisas1 (Internet of Things- IoT), com tudo conectado via

internet tornando as fábricas inteligentes (smart factory). O principal benefício quantitativo, de acordo com Geissbauer e outros (2014), estaria relacionado à otimização das linhas de produção que permitiria um aumento médio de eficiência de 17,9% (isso corresponde a um aumento anual na eficiência de 3.3%), a uma redução de custos de manutenção e de energia em média de 13,8% (correspondendo a 2,6% ao ano).

Para Geissbauer e outros (2014, p. 10), “o termo Indústria 4.0 representa a quarta revolução industrial, um novo nível de organização e controle de toda a cadeia de valor ao longo do ciclo de vida dos produtos”. Este ciclo estaria voltado para os desejos e necessidade dos clientes, tornando a customização mais presente a cada etapa da produção. A base da indústria 4.0 se constituiu pela disponibilidade de todas as informações relevantes em tempo real, conectando todos os envolvidos da cadeia de valor, podendo melhorar, assim, a eficiência, reduzir custos, aumentar receita e, consequentemente, reforçar a competitividade da indústria (ver FIGURA 2).

1 O termo Internet das Coisas foi usado pela primeira vez por volta de 1999, por Kevin Ashton, durante uma

apresentação na Procter&Gamble (P&G), na qual foi feita a ligação da ideia de Radio-frequency Identification (RFID) dentro da cadeia de suprimentos com o tema foco na época, que era a Internet. Posteriormente, IoT foi formalmente introduzida pelo Internatio Telecommunication Union (ITU) através do ITU Internet Report de 2005. Em 2012, IoT foi definida por meio da ITU como uma infraestrutura global para a sociedade da informação, permitindo que serviços avançados sejam fornecidos através de coisas (físicas e virtuais) com base na já existente tecnologia de informação e comunicação, bem como em sua evolução (AZEVEDO, 2017).

Figura 2 - Como a indústria 4.0 gera ganhos de receita, custo e eficiência.

Fonte: PWC, 2016a, p.16.

Segundo o World Economic Forum (WEF, 2017a), a quarta revolução industrial é marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Ela traz consigo a tendência à automatização total das indústrias. O sistema integrado de produção ciberfísico, que articula sistemas virtuais e físicos por meio da Internet das Coisas e de plataformas digitais, será o responsável por permitir uma produção de abrangência global, revolucionando as cadeias de valor e os modelos de negócios.

A indústria 4.0 para De Weck e outros (2013) seria a criação de soluções integradas que exigem a produção de bens físicos juntamente com serviços e software que agregam valor, propiciando a exploração de materiais personalizados e reciclados com o uso de processos ultra eficientes. Para a PwC (2016a, p. 8) “as atividades de gerar, analisar e comunicar dados sustentam os ganhos prometidos pela indústria 4.0 que engloba diversas novas tecnologias para criar valor”. Em sua visão, Big Data e Analystics são capacidades essenciais da indústria 4.0 impulsionada pela digitalização2, que permitem a integração vertical e horizontal da cadeia de valor e novos

modelos de negócios digitais. A Figura 3 representa esses pontos.

2 “Digitalização” é o termo utilizado pela PwC para representar a transformação das empresas por meio das

Figura 3 - Indústria 4.0: framework e tecnologias digitais.

Fonte: PwC, 2016a, p. 8.

Estima-se que o setor industrial invista 5% anualmente em digitalização, com foco em tecnologias como sensores e dispositivos de conectividade, o que equivale a US$ 907 bilhões até 2020. Os investimentos também serão direcionados a treinamento e a mudanças organizacionais necessárias a digitalização. Espera-se, em todo o mundo, que esses investimentos tragam cerca de US$ 493 bilhões de receita adicional (PWC, 2016a). A Figura 4 evidencia o planejamento de empresas de vários setores da economia em investir na indústria 4.0 até 2020.

Figura 4 – Investimento na Indústria 4.0 como porcentagem da receita anual.

Pensando na “indústria do futuro”, Kupper e outros (2016) elaboram uma visão de que a indústria em 2030 se caracterizará por melhorias em três dimensões. A primeira delas é referente à estrutura da planta, que terá um layout multidirecional e mais flexível (com módulos intercambiáveis e com máquinas que podem ser facilmente reconfiguradas), e ambientalmente sustentável (é projetada para produção ecologicamente sustentável, incluindo o uso eficiente de energia e materiais). A segunda é a digitalização, que permitirá uma automação mais inteligente e, por consequência, aumento de eficiência. Para tanto, será necessário a adoção das seguintes tecnologias: instalação de smart robots, que podem realizar tarefas mais complexas como coletar informações de cada peça da produção e ajustar automaticamente a essas informações, além de interagir de forma mais cooperativa com o homem; instalação de manufatura aditiva ou impressão em 3D, permitindo que os moldes da produção de peças sejam feitos por meio de impressoras 3D, sem o uso de moldes físicos. Por exemplo, umas das vantagens desse uso na indústria automotiva é a criação de peças mais leves e rápidas, chegando a reduzir os custos de produção; emprego de realidade aumentada por meio de óculos inteligentes que permite que os funcionários vejam a informação como uma sobreposição em seu campo visual; aplicação de simulação - utilizam representações em 3D em tempo real para otimizar processos e fluxos de materiais; uso de Big Data e Analytics - os fabricantes estão usando sistemas para analisar automaticamente grandes quantidades de dados.

A terceira dimensão refere-se à gestão centrada na criação de valor para a empresa por meio da redução de desperdícios.

O uso combinado dessas tecnologias possibilitará maior flexibilidade, autonomia, integração na produção e em sua cadeia de valor, gerando produtos customizados, redução de perdas e aumento da produtividade (HERMAN; PENTEK; OTTO, 2015).

Como essas tecnologias transformam a produção, estima-se que terão consequências de longo alcance na produtividade, emprego, habilidades, distribuição de renda, comércio internacional, bem-estar e meio ambiente, de modo que isso está despertando a atenção dos acadêmicos, policy

makers e do restante da sociedade em todo o mundo (PILAT; NOLAN, 2016).

Em particular, os efeitos possíveis dessas tecnologias na produtividade são de grande interesse político atual. Isso porque, segundo a OCDE (2017), a necessidade de aumentar a produtividade do trabalho dado o envelhecimento de seus países força um foco na tecnologia e na inovação,

colocando-os como os principais determinantes do crescimento da produtividade e do padrão de vida.

De acordo com a OCDE (2017), as tecnologias emergentes de produção podem afetar a produtividade de muitas formas: a) a combinação de novos sensores, dispositivos de controle, análise de dados, computação em nuvem e IoT está permitindo máquinas e sistemas cada vez mais inteligentes e autônomos; b) esses sistemas podem eliminar quase completamente os erros em alguns processos de produção por meio de sensores que permitem que cada item seja monitorado e o tempo de inatividade da máquina e os custos de reparo podem ser bastante reduzidos quando os sistemas inteligentes preveem manutenção; d) a robótica poderia melhorar a logística e reduzir o preço de alimentos e outros bens; e) a combinação de biotecnologia industrial com química de última geração pode aumentar a eficiência dos bioprocessos (a maioria dos processos biológicos têm baixos rendimentos); f) ao imprimir mecanismos já montados, a impressão em 3D pode remover a necessidade de montagem em alguns estágios de produção e a nanotecnologia pode tornar os plásticos eletricamente condutores.

Um ponto relevante que tem sido levantado no debate sobre a indústria 4.0 é a sua relação com a geração de empregos. O aumento da produtividade impulsionado pela tecnologia pode beneficiar a relação entre tecnologia e emprego, dependendo, em grande medida, dos processos de ajuste que estão condicionados à eficiência das instituições e a uma série de políticas micro e macroeconômicas (OCDE, 2017).

Segundo WEF (2016) as tecnologias formadoras da indústria 4.0 tem o potencial de mudar rapidamente a dinâmica do cenário global de emprego. Elas mudarão os conjuntos de habilidades exigidos em ocupações antigas e novas na maioria das indústrias e, transformarão como e onde as pessoas trabalham, levando a novos desafios administrativos e regulatórios. Nesse sentido, o estudo analisa não só as tendências tecnológicas, mas também as demográficas e socioeconômicas, como por exemplo, a demanda por flexibilidade e novos formatos de trabalho, o aumento da classe média em mercados emergentes e aspectos ambientais.

De acordo com OCDE (2017) um dos grandes desafios da indústria 4.0 está relacionado ao emprego. A preocupação existe porque o uso das novas tecnologias não está criando o grande número de empregos criados pelas indústrias do passado. Nessa relação entre tecnologia e emprego as questões-chave dizem respeito ao equilíbrio quantitativo entre os empregos

perdidos e os empregos criados, a características desses empregos e os processos de ajuste econômico envolvidos.

Para a CNI (2017a) as tecnologias emergentes podem alterar a natureza do mercado de trabalho através de novos postos de trabalho e profissões demandadas pelas novas tecnologias, principalmente aquelas que exigirão habilidades comportamentais, como por exemplo as relacionadas a comunicação, criatividade e negociação, como também capacidades técnicas no campo de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Neste caso, para Castillo (2017) existem dois principais desafios sociais: primeiro, a necessidade de educar e treinar trabalhadores para aproveitar a mudança; em segundo lugar, garantir que os benefícios dos ganhos de produtividade sejam amplamente compartilhados na sociedade.

Muitos policy makers também estão preocupados com o despreparo relacionado a deficiências em habilidades, infraestrutura e sistema regulatório, em particular nos países periféricos da América Latina. Segundo Melguizo (2018) há mais de uma década - ou seja, durante o boom econômico dos anos 2000, a desaceleração desde 2012, a recessão de 2015 e 2016 e a recuperação atual - a América Latina se classificou como a região com a mais ampla lacuna em habilidades do mundo. Empresas na Argentina são as mais atingidas, com 59% lutando para contratar pessoal com as habilidades certas; na Colômbia esse número é de 50% e Peru 49%. As habilidades decorreriam do aprendizado em ciência, tecnologia, robótica, engenharia, artes, matemática e design. A autora ressalta a necessidade de desenvolver profissionais nessas áreas para criar oportunidades e diminuir a lacuna de habilidades da região.

Castillo (2017) analisaram os riscos e oportunidades da indústria 4.0 na América Latina.