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4 O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL COMO ELEMENTO DE ESTRATÉGIAS DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA NACIONAL.

4.2 REALIDADE DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

4.2.2 Estrutura de oferta das tecnologias da indústria 4.0 brasileira

A estrutura de oferta de soluções digitais da indústria 4.0 no Brasil, segundo a CNI (2017b) é formada pela interação entre:

4. Empresas produtoras - podem oferecer os sistemas digitais completos ou parciais que caracterizam a indústria 4.0, incluindo máquinas, equipamentos, sensores e softwares; detêm capacitação tecnológica e produtiva reconhecida internacionalmente.

5. Empresas integradoras – capacitação predominantemente na manipulação de softwares e automação de processos; são empresas prestadoras de serviços que fazem adaptações e customizações em programas ou desenvolvem programas que integram partes dos processos produtivos e de gestão das empresas industriais; podem ser fornecedoras de um produto ou serviço que se constitui parte de uma solução da Indústria 4.0; desempenham um papel fundamental como difusoras das tecnologias.

6. Startups – possuem competência técnica para o desenvolvimento de soluções parciais e

muito específicas; têm grande potencial no desenvolvimento de produtos com tecnologias embarcadas; uma importante fonte de soluções tecnológicas para as grandes empresas; custos de produção desse segmento são relativamente os mais baixos; são importante fonte geradora de conhecimento e de inovações.

7. Universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) - apesar de não atuarem diretamente na implementação das tecnologias nas empresas, são instituições fundamentais no desenvolvimento de recursos humanos e da ciência básica; relacionam- se de forma estratégica com as empresas produtoras e são, em grande parte dos casos, o lugar de origem das startups.

8. Empresas de consultorias especializadas - focadas em planejar a implementação das tecnologias nas empresas e identificar as mais relevantes; para efetivar as soluções essas empresas associam-se a outras produtoras e/ou integradoras de acordo com a dimensão do projeto. Cabe destacar o papel do Sistema SENAI, com os 25 Institutos SENAI de Inovação e os 57 Institutos SENAI de Tecnologia.

As empresas produtoras no Brasil, em sua maioria, são formadas pelas multinacionais e quase todo o desenvolvimento tecnológico e concepção de projetos estão localizados no exterior, de modo que no Brasil ocorrem apenas adaptações dos seus produtos globais para venda no

mercado interno. As empresas integradoras de capital nacional sofrem, assim como as produtoras nacionais de menor porte, concorrência das soluções externa adotadas pelas filiais de grupos estrangeiros. São empresas que contam com condições limitadas para atender o mercado potencial de usuários da indústria 4.0. No Brasil são poucas as grandes empresas integradoras que possuem capacidade de criar soluções customizadas que se aproximem de processos verdadeiramente inovadores. Normalmente, são empresas de TIC ou do segmento de bens de capital, dois importantes setores da Quarta Revolução Industrial que precisam de políticas industriais direcionadas para seu fomento.

No caso das startups, o Brasil precisa desenvolver uma cultura empresarial na qual exista um interesse para interação entre as startups e a indústria, criando um ambiente que seja mais favorável a estabilidade e desenvolvimento das startups. Segundo a Sondagem de Inovação da ABDI (2017b), a conexão entre startup e indústria ainda é muito incipiente sendo que mais de 70% das empresas nacionais nunca contrataram startups e 60% não conhecem sua definição formal. No entanto, aos poucos, assim como em outros países, a indústria e outros setores brasileiros tem reconhecido que as startups contam com profissionais mais atualizados nas tecnologias de fronteira para a indústria 4.0 e que a interação entre eles pode ser um dos caminhos mais promissores no enfrentamento dos desafios da Indústria 4.0. Entre as empresas que já contrataram e pretendem contratar as startups, tem buscado exatamente a agilidade em soluções específicas que não são encontradas no mercado, buscando novos modelos de negócio, soluções mais baratas que ajudem a impulsionar o aumento de eficiência e velocidade no processo de inovação.

Uma outra pesquisa realizada no Brasil sobre o assunto é o da Liga Ventures (2017). O estudo identificou que das 7.512 startups brasileiras, 193 estão relacionadas as tecnologias da quarta revolução industrial (realidade virtual/aumentada, inteligência artificial, drones, blockchain,

IoT, Big Data e Analytics) sendo que 25% delas (48 startups) estão direcionadas a IoT, seguida

de soluções de Big Data e analytics (20% - 39 startups). Mais de 60% dessas startups estão concentradas nos estados de São Paulo e Minas Gerais e em outras cidades que dispõem de polos tecnológicos8, que são fundamentais para a criação e amadurecimento dessas empresas,

que propiciam o acesso a financiamento de projetos, profissionais qualificados, laboratórios de

8 Como principais polos tecnológicos temos: Porto Digital (Recife- PE), San Pedro Valley (Belo Horizonte –

MG), Parque Tecnológico de São José dos Campos (São Jose dos Campo – SP), Acate (Florianópolis – SC), Vale da Eletrônica (Santa Rita do Sapucaí – MG), TecnoPuc (Porto Alegre – RS).

ponta e exposição para o mercado. Diante disso, para consolidar esse novo modelo9 de

inovação no mercado brasileiro se torna necessário melhorar a estrutura de relações entre as corporações e startups para que se permita as corporações impulsionarem suas estratégias de inovação, como também as startups possam aperfeiçoar o desenvolvimento de soluções inovadoras sem que para isso comprometa sua agilidade, de modo a viabilizar e impulsionar o benefício mútuo entre as partes (100 OPEN STARTUPS, 2017).

O governo, em seus diversos níveis, tem sinalizado compreender o papel das startups na nova revolução industrial, tentando estimular parcerias com objetivo de aumentar a produtividade da indústria e acelerar o desenvolvimento econômico brasileiro. Em 2017 dois editais foram laçados: a Agência Brasileira de Inovação (Finep), lançou edital para aporte de capital em

startups atuantes nas tecnologias habilitadoras da indústria 4.0 no valor de R$ 1 milhão; o

BNDES, com o Fundo de Coinvestimento Anjo, disponibilizou crédito de R$100 milhões à

startups com receita líquida anual de até R$ 1 milhão e que atuem, principalmente, nos setores

de agronegócio, biotecnologia, cidades inteligentes, economia criativa, nanotecnologia, novos materiais, saúde, Tecnologias da Informação e Comunicação; a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao MDIC, lançou o Programa Nacional Conexão

Startup Indústria em 2017, cujo objetivo é ser a ponte entre indústrias e startups na produção

de inteligência e soluções para a competitividade brasileira. O programa pretende investir mais de R$ 50 milhões até 2020.

Reconhecer a estrutura de oferta e compreender as peculiaridades das empresas de cada segmento de atuação, se torna relevante para a assertividade e elaboração de políticas públicas e de estratégias empresariais direcionadas a promoção do desenvolvimento da indústria 4.0 no Brasil.