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4 O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL COMO ELEMENTO DE ESTRATÉGIAS DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA NACIONAL.

4.2 REALIDADE DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

4.2.3 Iniciativas do governo relacionadas a indústria 4.0 no brasil

Há iniciativas em curso para promover a Indústria 4.0 no país a partir da concepção de que é preciso definir uma orientação estratégica de longo prazo:

1. Estratégia Nacional para Manufatura Avançada, publicada em 2016 pelo MCTIC.

9 Esse novo modelo se refere ao Open Innovation que representa o fenômeno de abertura do processo de inovação

das grandes empresas em oposição ao modelo tradicional de P&D fechado, que resultou no que hoje se denomina de Corporate Startup Engagement (CSE), com grandes empresas se abrindo para o relacionamento com startups e vice-versa na busca de novos modelos de interação para a co-criação de inovações (100 OPEN STARTUPS, 2017).

2. No final de 2014, o Ministério das Comunicações criou a Câmara de Gestão e Acompanhamento do Desenvolvimento de Sistemas de Comunicação Máquina a Máquina (M2M)10, com objetivo de desenvolver o “Plano Nacional de Comunicação

M2M e Internet das Coisas”. A Câmara reúne representantes do governo e da iniciativa privada e está dividida em diversos subgrupos, sendo um deles o de Produtividade Industrial e Indústria 4.0, com objetivo de elaborar plano de ação para essa indústria no país.

3. Grupo de trabalho da Indústria 4.0 (GTI 4.0) - é um grupo de trabalho interministerial, iniciado em 2017, coordenado pelo MDIC e ABDI que tem como uma de suas atribuições propor uma Estratégia Nacional para a Indústria 4.0. Para tanto, o grupo buscará desenvolver uma plataforma que possibilite a indústria identificar em qual nível de maturidade da 4.0 está.

Na Alemanha, por exemplo, que é um país que tem avançado muito nesta discussão, pouco mais de 10% da indústria é 4.0, então essa ainda é uma transformação que deve levar alguns anos. A questão é quanto o Brasil vai estar no timing correto disso ou não, sabendo que nos próximos dez anos, teremos uma atualização do maquinário entre 40% e 50% do nosso parque fabril, é uma atualização muito sensível e é uma atualização extremamente necessária. Se a gente conseguir casar essa atualização de maquinário, essa atualização tecnológica com os temas de 4.0, isso obviamente fará o Brasil dar um grande salto (BRASIL, 2017b).

4. O Programa Rumo a Indústria 4.0, lançado em 2017, derivado da parceria entre a ABDI, Fiesp, CIESP e SENAI-SP. Tem por objetivo definir o conceito e as tecnologias da Indústria 4.0 junto às indústrias e definir uma trajetória mais adequada para alcançar indústria 4.0. Um dos destaques do projeto é o 1º Congresso Brasileiro de Manufatura Avançada e a realização de workshops regionais.

5. Projeto Indústria 2027: riscos e oportunidades para o Brasil diante de inovações disruptivas. É uma iniciativa, lançada em 2017 pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e CNI em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que objetiva mapear como as tecnologias da indústria 4.0 vão impactar a economia brasileira nos próximos cinco e dez anos e desenvolver, a

10 Os aparelhos M2M, da sigla em inglês, têm a capacidade de se comunicar entre si sem a intervenção humana, com isso, um conjunto de terminais poderá monitorar as atividades em uma cidade ou em uma indústria, por exemplo. Essas informações são processadas e, a partir do cruzamento desses dados, pode haver uma melhoria nos processos. Isso abrange tanto a iniciativa privada quanto serviços públicos como transporte, mobilidade urbana, saúde, educação, entre outros (BRASIL, 2015).

partir disso, propostas e estratégias públicas e privadas para que o setor industrial brasileiro caminhe rumo a indústria 4.0.

6. Aliança Brasil 4.0, criada em 2018, é uma iniciativa do Comitê Brasileiro da Câmara de Comércio Internacional (ICC) em parceria com grandes indústrias brasileiras e internacionais com objetivo de “conectar o Brasil aos padrões internacionais de inovação, promover a democratização da Indústria 4.0 e estabelecer projetos e soluções que modernizem o parque fabril nacional” (CNI, 2018f, p.2).

7. Agenda Brasileira da Indústria 4.0 – lançada em 2018 pelo MDIC juntamente com a ABDI, cujas medidas pretendem auxiliar o setor produtivo, em especial as pequenas e médias indústrias, em direção a indústria 4.0. Dentre as ações previstas estão a própria difusão do conceito de Indústria 4.0, financiamentos acessíveis para que indústrias de todos os portes possam investir na adoção ou geração de novas tecnologias, financiamento de testbeds, fomentar um ambiente de conexão entre startups e indústrias, zeragem das alíquotas do imposto de importação de robôs, requalificação de trabalhadores, adequação regulatória e muitas outras.

8. Internet das Coisas: um plano de ação para o Brasil. É um grupo de estudo, criado em 2017 e apoiado pelo BNDES, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) que tem por objetivo realizar um diagnóstico e propor políticas públicas no tema Internet das Coisas para o Brasil.

9. Plano de CT&I para Manufatura Avançada no Brasil: ProFuturo Produção do Futuro, de 2016, do MCTIC pretende propiciar condições de inserção das empresas brasileiras na indústria 4.0, com suporte da ciência, tecnologia e inovação para desenvolvimento de cadeias produtivas de setores econômicos estratégicos e promissores para o País, que atendam a demandas de alcance social.

10. Brasil Mais Produtivo: Digitalização e competitividade. Programa realizado pela rede de Institutos SENAI de Inovação e com apoio inicial do MDIC, tem como objetivo introduzir técnicas da Indústria 4.0 em pequenas e médias empresas brasileiras.

Para financiar tais projetos e iniciativas, o governo Federal destina R$ 8,6 bilhões. O BNDES, será responsável por R$ 5 bilhões, a Finep concederá R$ 2,5 bilhões e Banco da Amazônia, R$ 1,1 bilhão.

O incentivo às empresas brasileiras para a implementação da indústria 4.0 por essas iniciativas decorre da busca por solução de seus gargalos em infraestrutura tecnológica, que são imprescindíveis para promoção da indústria 4.0, da busca por identificar setores industriais estratégicos e promissores. Portanto, é possível haver complementaridade entre as políticas e projetos.

Quando a busca pela indústria 4.0 passa a ser estratégia fundamental de empresas e de políticas públicas, torna-se necessário uma atuação coordenada entre o setor público e privado para que o Brasil consiga aproveitar as oportunidades associadas a ela, como também, de uma regulação que induza o processo de inovação e de mudança tecnológica.

O setor público, por meio de seus gastos, tem o poder de incentivar a geração e a adoção de tecnologias relativas à Indústria 4.0 pelas empresas. A CNI avalia:

O apoio à oferta de serviços tecnológicos voltados à difusão de tecnologias digitais, combinado com a oferta de financiamento em condições adequadas, sobretudo para PMEs, será decisivo para estimular a decisão da iniciativa privada de investir (CNI, 2018g, p. 1).

Mazzucato (2017) defende a centralidade da interação entre o setor público e privado no fomento de novas tecnologias disruptivas. Funcionaria como um novo arranjo institucional capaz de potencializar os esforços inovativos. Mas destaca a centralidade da atuação do Estado no direcionamento do desenvolvimento dos novos paradigmas e revoluções tecnológicas. Isso porque não há processo automático que seja capaz de, ao mesmo tempo, viabilizar a resolução de desafios tecnológicos e sociais, como também, é limitada a capacidade do capital de risco de financiar as novas tecnológicas disruptivas – devido à natureza de curto prazo de seus investimentos. Assim, tal atividade depende fundamentalmente de recursos públicos.

É importante levar em consideração que os cortes orçamentários nas áreas da ciência, tecnologia e inovação realizados pelo governo brasileiro nos últimos anos, e com previsão para mais nos seguintes, tende a comprometer o futuro competitivo brasileiro. A aprovação da PEC 241, que congela os gastos públicos por 20 anos e submete seus reajustes somente à inflação do ano anterior, representa um estrangulamento ainda maior dos já insuficientes recursos destinados à CT&I. O MCTI em 2018 sofreu um novo corte de orçamento, na ordem de 44% e instaura, segundo Klebis (2018), a existência de uma política de desvalorização da ciência e tecnologia do país. Com isso, os desafios em direção a indústria 4.0 no país parecem insuperáveis. O alcance, a concretização, os resultados das políticas e as iniciativas governamentais mencionadas no trabalho, estão seriamente comprometidos, de modo que os novos projetos e investimentos serão uma possibilidade cada vez mais distante.

5 INDÚSTRIA AUTOMOTIVA BRASILEIRA: SUA RELAÇÃO COM A INDÚSTRIA