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2 POLÍTICA INDUSTRIAL: O CONHECIMENTO E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO ELEMENTOS DINAMIZADORES DA ATIVIDADE INDUSTRIAL DO

3 INDÚSTRIA 4.0: TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

3.2 INDÚSTRIA 4.0: TENDÊNCIAS PARA AS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR

As Cadeias Globais de Valor (CGV) tem sido um importante motor da globalização desde a década de 1990. As cadeias em si são dinâmicas e estão em constante evolução em resposta a mudanças na demanda, mudanças na política de comércio, de investimento nacional e internacional e, sem dúvida, a avanços tecnológicos. No entanto, a OCDE (2017), tem observado em estudos recentes evidências de que a fragmentação internacional da produção tem perdido impulso. Nesse estudo, encontraram-se fatores que deverão promover a expansão de CGV e outros que podem reorientar e inibirem seu crescimento, principalmente considerando o cenário mundial com a Indústria 4.0. Tais fatores podem mudar efetivamente a perspectiva de CGV nos próximos 10 a 15 anos.

O crescimento da importância das tecnologias da quarta revolução industrial (como por exemplo, TI, robótica, inteligência artificial, automação, 3D e digitalização) tende a redesenhar significativamente as características da economia global e tem um impacto disruptivo em GVC. Decorrente disso, espera-se que reduza significativamente as importações de bens e serviços intermediários, bem como as exportações de produtos finais conduzindo a uma reestruturação da produção e do comércio global especialmente para as economias desenvolvidas.

O aumento dos custos salariais em algumas economias emergentes é outro fator que poderia afetar positivamente a competitividade dos países desenvolvidos e, portanto, tornar o deslocamento industrial (offshoring) para esses países menos atraentes. Embora esta questão

tenha atraído atenção nas discussões políticas a análise mostra, no entanto, que seu impacto em CGV vai ser limitado até 2030. Uma das razões é que os aumentos salariais em um país são tipicamente compensados até certo ponto pelo aumento da produtividade e grande oferta de mão-de-obra em outros países. A análise mostra ainda que o aumento dos custos de transporte pode atuar interrompendo a comercialização internacional de intermediários e as exportações de produtos finais e intermediários. Contudo, não se espera que os custos de transporte aumentem dramaticamente no futuro próximo, especialmente no transporte marítimo que representa cerca de 80% do transporte internacional de cargas.

Pensando nos fatores que facilitarão o crescimento de GVC notavelmente, a digitalização desempenha também um papel importante. A digitalização dos ativos das organizações e sua integração com parceiros da cadeia de valor em ecossistemas digitais facilitará as operações internacionais das organizações e, assim o offshoring no futuro.

Para Bamber e outros (2017) e Bluth (2017) as grandes mudanças que começaram a alterar a dinâmica das CGV existentes correspondem a tendências como: racionalização, reorientação para a Ásia, automação, manufatura aditiva e a participação dos serviços.

As empresas líderes globais estão consolidando mais ativamente suas cadeias de fornecimento para incluir fornecedores tecnologicamente mais capazes e estrategicamente localizados. Essas empresas entenderam que o gerenciamento da cadeia de suprimentos poderia ser feito de forma mais eficiente utilizando um número menor de fornecedores altamente capacitados, nisso consistiria a racionalização organizacional relacionada a cadeia de suprimentos.

A segunda tendência nas CGV está na reorientação da produção para os mercados asiáticos com resultado de uma base de mão-de-obra barata e crescente da região combinada com sua demanda doméstica em rápido crescimento. O rápido crescimento econômico dessa região tem desviado os centros de gravidade industrial global dos países do atlântico norte para os asiáticos, impulsionando também o comércio entre os países do sul. O Banco Asiático de Desenvolvimento prevê que a participação de comércio entre países emergentes e suas regiões devem aumentar de 33% em 2004 para 55% em 2030, com a participação da região sul no comércio global podendo ultrapassar a dos líderes comerciais tradicionais do hemisfério norte até 2030 (ANDERSON; STRUTT, 2011).

A terceira tendência é ascensão das tecnologias da Indústria 4.0. A produção industrial através de 3D tem um grande potencial para remodelar as GVC alterando sua extensão geográfica e

densidade. Com essa tecnologia, componentes físicos podem ser produzidos perto do local de montagem no país de consumo, reduzindo ainda mais o número de fornecedores. Para Deloitte (2018a) até 2020, 75% das operações de manufatura em todo o mundo poderiam usar ferramentas e acessórios impressos em 3D para a produção de produtos acabados. Os projetos automotivos, impressão rápida de protótipos e impressão de peças aeroespaciais e de defesa serão os maiores segmentos de fabricação. Por fim, tem sido evidente o crescente papel dos serviços no setor industrial.

Essas tendências estão alterando a dinâmica das CGV. Primeiro, as novas tecnologias e a ascensão dos serviços alteram a distribuição de valor dentro das CGV. Automação e impressão 3D podem resultar na reintegração dos processos de produção, e reduzir a dependência de operações de montagem intensivas em mão-de-obra, embora a absorção provavelmente varie de indústria e tipo de operação. Segundo, eles mudam o equilíbrio de poder dentro dessas cadeias. A mudança é sutil, mas afeta as empresas que podem obter acesso a essas cadeias. Empresas líderes tradicionais estão sendo desafiadas por fornecedores com novas tecnologias e capacidades que ganharam posições dominantes através da racionalização e modernização. A Amazon, Google, Uber e Akamai são exemplos de novos players que tem conseguido assumir importantes posições nas CGV devido ao sucesso com novas tecnologias de plataformas de serviços. Por fim, as tendências também alteram a distribuição geográfica das atividades das CGV. Embora a automação e a impressão 3D possam incentivar as atividades industriais para mais próximo de seus mercados, o aumento da digitalização possibilita a globalização dos serviços (BAMBER et al., 2017).

Uma nova era de dinâmica de GVC provavelmente resultará em uma reconfiguração do cenário de produção internacional com mudanças significativas na competitividade entre regiões e países. Questões sobre o futuro da globalização e, por conseguinte, das CGV no contexto de uma Quarta Revolução Industrial estão cada vez mais presentes nas discussões e anseios empresarias e governamentais.

O desenvolvimento da Indústria 4.0 está em curso em programas de órgãos governamentais de várias nações com o pioneirismo de países desenvolvidos como Alemanha, EUA e Japão. As iniciativas de tais governos objetivam incrementar a competitividade no cenário de revolução produtiva (DAUDT; WILLCOX, 2017). A indústria 4.0 tem sido liderada por consórcios de empresas internacionais especializadas em automação industrial, hardware e software e seu

desenvolvimento tem sido localizado nos países que possuem um ecossistema digital sofisticado e com alta relevância de parcerias pública-privada.

Dado que na literatura sobre a Indústria 4.0 a Alemanha é sempre colocada como um dos principais países pioneiros, cabe aqui apresentar alguns elementos estratégicos adotados pela Alemanha para avançar na Indústria 4.0. Isso contribui para uma maior compreensão do que é a indústria 4.0, sua dinâmica e tendências, dando mais elementos para se refletir sobre políticas industriais.